{"id":13357,"date":"2021-01-20T11:57:52","date_gmt":"2021-01-20T11:57:52","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=13357"},"modified":"2021-01-20T11:57:52","modified_gmt":"2021-01-20T11:57:52","slug":"quebrar-patentes-e-liberar-o-conhecimento-na-pandemia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2021\/01\/20\/quebrar-patentes-e-liberar-o-conhecimento-na-pandemia\/","title":{"rendered":"Quebrar patentes e liberar o conhecimento na pandemia"},"content":{"rendered":"\n
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Estamos chegando a quase um ano de pandemia e uma pergunta ainda n\u00e3o foi respondida: por que n\u00e3o estamos discutindo intensamente a quebra compuls\u00f3ria de patentes para as vacinas contra a covid-19? Por que n\u00e3o estamos falando de flexibiliza\u00e7\u00e3o de direitos de propriedade intelectual em equipamentos\/produtos que auxiliam o combate \u00e0 pandemia ou ao acesso \u00e0 literatura acad\u00eamica que possibilita o avan\u00e7o de pesquisas cient\u00edficas que estudem o novo coronav\u00edrus e suas implica\u00e7\u00f5es?\u00a0<\/p>\n\n\n\n

A quebra de patentes poderia possibilitar a produ\u00e7\u00e3o descentralizada das vacinas e desmistificar seu processo de produ\u00e7\u00e3o, uma vez que seu c\u00f3digo \u00e9 aberto e pode ser visto e remixado por qualquer um*. Poderia, tamb\u00e9m, dar um impulso \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de produtos como ventiladores, m\u00e1scaras e equipamentos de prote\u00e7\u00e3o usados na preven\u00e7\u00e3o e no tratamento da covid-19. J\u00e1 a flexibiliza\u00e7\u00e3o de licen\u00e7as de direito autoral na produ\u00e7\u00e3o de conhecimento espalharia a informa\u00e7\u00e3o cient\u00edfica, especialmente para aquelas pessoas – notadamente pesquisadoras\/es do Sul Global – que t\u00eam menos possibilidade de pagar por acesso a livros e revistas cient\u00edficas caras.<\/p>\n\n\n\n

Cabe dizer que, se n\u00e3o estamos discutindo como dever\u00edamos, h\u00e1 algumas a\u00e7\u00f5es. J\u00e1 falamos em nossa newsletter que o Creative Commons puxou uma proposta global de liberar as patentes das tecnologias e medicamentos ligados ao tratamento da Covid, chamada Open Covid Pledge<\/a>, que j\u00e1 obteve bons resultados no licenciamento aberto de produtos<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

Mas duas situa\u00e7\u00f5es recentes sugerem que, mesmo em uma pandemia, o lucro ainda parece prevalecer ante \u00e0 sa\u00fade da popula\u00e7\u00e3o e o livre acesso ao conhecimento.<\/p>\n\n\n\n

Quebra de patentes durante a pandemia<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Em setembro de 2020, a Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio (OMC) debateu uma proposta da \u00cdndia e \u00c1frica do Sul<\/a>, depois apoiada pela China, sobre a quebra tempor\u00e1ria das patentes de todas as tecnologias de sa\u00fade necess\u00e1rias ao enfrentamento da pandemia. O argumento foi o que nos soa \u00f3bvio: deve prevalecer a prote\u00e7\u00e3o da sa\u00fade da popula\u00e7\u00e3o durante uma pandemia e de que o conhecimento envolvendo o combate \u00e0 doen\u00e7a deve circular, e n\u00e3o ficar preso em propriedades intelectuais. Nas palavras de Mustaqeem De Gama<\/a>, conselheiro da Miss\u00e3o Permanente da \u00c1frica do Sul (chamada MSF) junto \u00e0 OMC, que ajudou a redigir a proposta: \u201cO que essa proposta de ren\u00fancia faz \u00e9 abrir espa\u00e7o para mais colabora\u00e7\u00e3o, para transfer\u00eancia de tecnologia e para que mais produtores venham para garantir que tenhamos escalabilidade em um per\u00edodo de tempo muito mais curto\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Dezenas de pa\u00edses de renda baixa e m\u00e9dia (em ingl\u00eas, Low-income and middle-income countries <\/em>LMICs) apoiam a proposta. Mas o Brasil \u2013 que j\u00e1 foi vanguarda nessa discuss\u00e3o com a quebra de patentes dos medicamentos contra a AIDS<\/a>, em 2001, com o ent\u00e3o ministro da Sa\u00fade Jos\u00e9 Serra \u2013 e alguns pa\u00edses ditos desenvolvidos n\u00e3o. Reino Unido, Estados Unidos, Canad\u00e1, Noruega e a Uni\u00e3o Europ\u00e9ia rejeitaram a proposta argumentando que o sistema de propriedade intelectual \u00e9 necess\u00e1rio para incentivar novas inven\u00e7\u00f5es de vacinas, diagn\u00f3sticos e tratamentos, que podem secar em sua aus\u00eancia. Eles negaram a alega\u00e7\u00e3o de que a propriedade intelectual \u00e9 uma barreira ao acesso dizendo que o acesso igualit\u00e1rio pode ser alcan\u00e7ado por meio de licenciamento volunt\u00e1rio, acordos de transfer\u00eancia de tecnologia e um compromisso assumido perante o mercado (!) por financiadores ou doadores para vacinas. Para estes pa\u00edses, quebra de patentes \u00e9 a abordagem errada para a produ\u00e7\u00e3o de vacinas porque vacinas \u201cs\u00e3o produtos biol\u00f3gicos complexos em que as principais barreiras s\u00e3o as instala\u00e7\u00f5es de produ\u00e7\u00e3o, a infraestrutura e o know-how<\/em>, n\u00e3o a propriedade intelectual\u201d, afirmou o noruegu\u00eas John-Arne R\u00f8ttingen, que preside a Solidarity Trial of COVID-19 treatments<\/a>, iniciativa que ajuda a encontrar um tratamento eficaz para COVID-19, lan\u00e7ado pela Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade e parceiros.<\/p>\n\n\n\n

Em uma das duas reuni\u00f5es na OMC no fim do ano passado, um porta-voz da Uni\u00e3o Europeia disse: \u201cn\u00e3o h\u00e1 evid\u00eancias de que os direitos de propriedade intelectual dificultam o acesso a medicamentos e tecnologias relacionadas ao COVID-19\u201d. Na mesma ocasi\u00e3o, o governo do Reino Unido declarou: \u201co mundo precisa urgentemente de acesso a esses novos produtos para combater a pandemia, raz\u00e3o pela qual um sistema de propriedade multilateral forte e robusto que possa enfrentar esse desafio \u00e9 vital\u201d. Reino Unido e Uni\u00e3o Europ\u00e9ia s\u00e3o dois dos maiores financiadores do COVAX (The COVID-19 Vaccines Global Access Facility<\/a>), iniciativa de colabora\u00e7\u00e3o global que apoia a pesquisa e o desenvolvimento de novas vacinas, com investimentos e negocia\u00e7\u00e3o de pre\u00e7os com empresas farmac\u00eauticas. A meta da COVAX \u00e9 ter 2 bilh\u00f5es de doses para distribuir at\u00e9 o final de 2021, o que deve ser suficiente para ajudar os pa\u00edses (membros e doadores) a vacinar 20% de suas popula\u00e7\u00f5es. Para os pa\u00edses que ficam de fora, a meta mal chega a 3% da popula\u00e7\u00e3o, segundo informa\u00e7\u00e3o do The Conversation<\/a>.<\/p>\n\n\n\n

A argumenta\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica de que as vacinas s\u00e3o complexas demais para se produzir e quebrar as patentes n\u00e3o ajudaria esconde preconceito e perversidade. \u00c9 l\u00f3gico que produzir uma vacina \u00e9 um processo custoso, que envolve muitas informa\u00e7\u00f5es, processos e amostras biol\u00f3gicas, linhas de c\u00e9lulas ou bact\u00e9rias, que, para serem comprovadas pelas ag\u00eancias reguladoras cient\u00edficas, precisam ser testadas em diferentes situa\u00e7\u00f5es com bons resultados, como a ci\u00eancia nos ensina desde o s\u00e9culo XIX. Mas, em se tratando de uma pandemia que j\u00e1 chegou a casa do milh\u00e3o de mortes, qual o problema de tamb\u00e9m<\/em> se quebrar patentes? Liberar a patente n\u00e3o vai fazer com que qualquer um produza vacinas; os mesmos crit\u00e9rios de valida\u00e7\u00e3o da ci\u00eancia tamb\u00e9m valem sem <\/em>patentes, assim como tamb\u00e9m vale sem <\/em>patentes a fiscaliza\u00e7\u00e3o das ag\u00eancias reguladoras como a brasileira Anvisa, por exemplo. Como afirmou Yuanqiong Hu, conselheiro na \u00e1rea legal e de pol\u00edticas da MSF, n\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o de \u201cou \/ ou\u201d, mas de \u201cE\/ E\u201d. \u201cOs governos precisam de um pacote completo de kits de ferramentas, incluindo acordos de transfer\u00eancia de tecnologia e medidas legais, como a proibi\u00e7\u00e3o de patentes\u201d.\u00a0<\/p>\n

Vale lembrar tamb\u00e9m que, segundo as regras internacionais da OMC chamadas TRIPS<\/a> (sigla em ingl\u00eas para “Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Com\u00e9rcio”), a possibilidade da quebra de patentes \u00e9 restrita aos pa\u00edses em desenvolvimento – em anos anteriores, as regras do tratado foram usadas inclusive pelo Brasil, como mostra esse artigo cient\u00edfico de 2020 no Journal of International Business Policy<\/a>. Portanto, a quebra de patentes ainda n\u00e3o afetaria tanto o lucro das farmac\u00eauticas, em sua maior parte obtido na venda de produtos para os Estados Unidos e a Uni\u00e3o Europ\u00e9ia, como exemplifica esse gr\u00e1fico das receitas da Pfizer<\/a>, uma das principais empresas mundiais na \u00e1rea.<\/p>\n\n\n\n

Em defesa pela quebra de patentes, a miss\u00e3o liderada pela \u00c1frica do Sul e a \u00cdndia na OMC trouxe exemplos de como a propriedade intelectual tem criado barreiras ao acesso a medicamentos e \u00e0 vacinas no mundo. Citou a batalha legal na \u00cdndia entre M\u00e9dicos Sem Fronteiras e Pfizer sobre sua vacina pneumoc\u00f3cica<\/a>, onde uma patente bloqueou o desenvolvimento de vers\u00f5es alternativas do imunizante. Na Cor\u00e9ia do Sul, a Pfizer processou a SK Bioscience, que havia desenvolvido uma vacina pneumoc\u00f3cica conjugada, for\u00e7ando o desenvolvedor coreano a encerrar a produ\u00e7\u00e3o de PCV-13. A miss\u00e3o sul-africana\/indiana argumentou ainda, segundo o artigo de Ann Danaiya Usher\u00a0 no peri\u00f3dico Lancet<\/a>, que uma situa\u00e7\u00e3o semelhante surgir\u00e1 com as vacinas contra a COVID-19, a menos que sejam tomadas medidas para lidar com as barreiras de propriedade intelectual. Pode ocorrer tamb\u00e9m outro problema ainda mais grave:\u00a0 n\u00e3o ter vacinas para todos, como o representante indiano na OMC falou em reuni\u00e3o fechada nesta \u00faltima semana<\/a>, principalmente devido \u00e0 falta de imunizantes, componente essencial da vacina e que poderia ser produzido em diferentes lugares se houvesse a quebra de patentes.<\/p>\n\n\n\n

Embora a miss\u00e3o n\u00e3o tenha tido sucesso ainda, h\u00e1 a expectativa de levar a quest\u00e3o ao Conselho Geral da OMC e estimular um debate mais amplo sobre quest\u00f5es de sa\u00fade p\u00fablica. Como afirma o conselheiro da miss\u00e3o, Mustageem De Gama: \u201cPercebemos que essa ren\u00fancia [da discuss\u00e3o] n\u00e3o \u00e9 uma bala de prata. A COVID provou que o sistema de propriedade intelectual n\u00e3o funciona. N\u00e3o foi projetado para lidar com pandemias. Tenho esperan\u00e7as que isso nos colocar\u00e1 no caminho para falar sobre como reformar o sistema de propriedade intelectual para reagir \u00e0s necessidades das pessoas dos pa\u00edses membros. Porque esta n\u00e3o \u00e9 a \u00fanica pandemia que enfrentaremos.\u201d<\/p>\n\n\n\n

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Fechamento do conhecimento cient\u00edfico sobre a covid-19<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A segunda situa\u00e7\u00e3o ocorreu no final de 2020. No dia 21 de dezembro, as editoras cient\u00edficas Elsevier, Wiley e American Chemical Society ajuizaram uma a\u00e7\u00e3o na Alta Corte de Nova D\u00e9li<\/a>, na \u00cdndia, pedindo que os provedores de internet bloqueassem o Sci-Hub<\/a> e a Libgen<\/a>, sites que disponibilizam livremente o acesso a livros e artigos acad\u00eamicos protegidos por paywall. A acusa\u00e7\u00e3o era de que as plataformas violavam os direitos autorais em grande escala e que, devido \u00e0 natureza das plataformas (conhecidas como \u201cPirate Bay da Ci\u00eancia\u201d), o bloqueio de acesso pelos provedores de internet seria a \u00fanica solu\u00e7\u00e3o eficaz dispon\u00edvel. Segundo informa\u00e7\u00f5es do Torrent Freak<\/a>, a a\u00e7\u00e3o, de 2.169 p\u00e1ginas, foi recebida pelo Sci-Hub, que, com pouqu\u00edssimo tempo para a avalia\u00e7\u00e3o, solicitou uma prorroga\u00e7\u00e3o, garantindo ao tribunal (pdf<\/a>) que \u201cnenhum novo artigo ou publica\u00e7\u00e3o, em que os demandantes t\u00eam direitos autorais, seria inserido\u201d. O juiz presidente da Corte ouviu os apelos e concordou que um atraso para permitir uma an\u00e1lise mais detalhada seria apropriado. Com mais tempo para responder, o Sci-Hub come\u00e7ou uma campanha para angariar apoio entre pesquisadores, acad\u00eamicos e cientistas \u2013 entre eles a Breakthrough Science Society, organiza\u00e7\u00e3o cient\u00edfica indiana, que manifestou apoio em uma nota p\u00fablica<\/a> que denuncia o jeito de operar de editoras acad\u00eamicas como a Elsevier:\u00a0<\/p>\n\n\n\n

\u201cEditores internacionais (como a Elsevier) criaram um modelo de neg\u00f3cios no qual tratam o conhecimento criado por pesquisas acad\u00eamicas financiadas pelo dinheiro dos contribuintes como sua propriedade privada. Aqueles que produzem esse conhecimento \u2013 os autores e revisores de artigos de pesquisa \u2013 n\u00e3o s\u00e3o pagos e, ainda assim, essas editoras ganham bilh\u00f5es de d\u00f3lares com a venda de assinaturas para bibliotecas em todo o mundo a taxas exorbitantemente infladas que a maioria das bibliotecas institucionais na \u00cdndia, e at\u00e9 mesmo em pa\u00edses desenvolvidos, n\u00e3o podem pagar. Sem uma assinatura, um pesquisador tem que pagar entre US$ 30 e US$ 50 para fazer o download de cada artigo, o que a maioria dos pesquisadores indianos n\u00e3o pode pagar. Em vez de facilitar o fluxo de informa\u00e7\u00f5es de pesquisa, essas empresas o est\u00e3o restringindo.\u201d<\/em><\/p>\n\n\n\n

Como disse Alexandre Abdo<\/a>, pesquisador no laborat\u00f3rio LISIS-IFRIS em Paris e facilitador da rede Ci\u00eancia Aberta, as editoras Elsevier, Wiley e a American Chemical Society decidiram que o meio da pandemia de Covid-19 \u00e9 o momento acertado para entrar com uma a\u00e7\u00e3o para bloquear o Sci-Hub num pa\u00eds pobre e vulner\u00e1vel. O agravante vem em v\u00e1rios sentidos pois, segundo Abdo, “cientistas precisam de acesso \u00e0 literatura mais do que nunca para lidar com a crise; m\u00e9dicos nem se fala, e a maioria das institui\u00e7\u00f5es de sa\u00fade n\u00e3o tem como pagar acesso; muitos pesquisadores est\u00e3o em home-office, de forma que mesmo quem teria acesso pela universidade est\u00e1 com esse acesso dificultado, se n\u00e3o impossibilitado; grandes n\u00fameros de grupos cidad\u00e3os mobilizados para contribuir aos esfor\u00e7os cient\u00edficos dependem do Sci-Hub; para n\u00e3o falar de cidad\u00e3os buscando se manterem informados e melhor combater falsidades\u201d.<\/p>\n\n\n\n

O Twitter do Sci-Hub<\/a>, com mais de 187 mil seguidores, estava sendo usada pela criadora do site, Alexandra Elbakyan, para receber declara\u00e7\u00f5es de apoio da comunidade cient\u00edfica para o processo<\/a> contra as editoras. Mas, no dia 8 de janeiro deste 2021, a rede social suspendeu a conta do Sci-Hub. O motivo est\u00e1 relacionado \u00e0 “pol\u00edtica de falsifica\u00e7\u00e3o” do Twitter, uma verdadeira caixa-preta: n\u00e3o lista nenhum pedido de remo\u00e7\u00e3o concreto, mas simplesmente menciona a viola\u00e7\u00e3o da pol\u00edtica e o fato de que sua decis\u00e3o n\u00e3o pode ser apelada. \u201cSua conta foi permanentemente suspensa devido a uma viola\u00e7\u00e3o das pol\u00edticas do Twitter, em particular a \u201cCounterfeit policy<\/a>\u201d [Pol\u00edtica de falsifica\u00e7\u00e3o].Esta decis\u00e3o n\u00e3o est\u00e1 sujeita a apela\u00e7\u00e3o\u201d, escreveu o Twitter para a Sci-Hub, segundo o Torrent Freak<\/a>. Vale lembrar que, nessa mesma semana, o Twitter tamb\u00e9m suspendeu a conta de Donald Trump, por incitar viol\u00eancia nos protestos do Capit\u00f3lio \u2013 depois de anos de mentiras espalhadas e viola\u00e7\u00e3o sistem\u00e1tica dos Termos de Conduta da plataforma<\/a>.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

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Voltamos \u00e0s perguntas que abrem esse texto: Por que n\u00e3o estamos discutindo a quebra compuls\u00f3ria de patentes para as vacinas contra a covid-19? Por que n\u00e3o falamos da flexibiliza\u00e7\u00e3o de direitos de propriedade intelectual ou do livre e amplo acesso ao conhecimento em meio a pandemia?\u00a0<\/p>\n\n\n\n

A primeira resposta que surge a ambas \u00e9 at\u00e9 \u00f3bvia: porque n\u00e3o interessa aos pa\u00edses desenvolvidos e \u00e0 ind\u00fastria farmac\u00eautica, que v\u00e3o lucrar muito com as vacinas \u2013 seja em iniciativas de acelera\u00e7\u00e3o como a COVAX ou em vendas \u00e0 pa\u00edses mais pobres do sul global. As editoras cient\u00edficas predat\u00f3rias como a Elsevier tamb\u00e9m v\u00e3o lucrar (j\u00e1 est\u00e3o) com a produ\u00e7\u00e3o acad\u00eamica global, potencializada pelo desejo coletivo de buscar entender melhor esse micro ser t\u00e3o mortal. <\/span>Como sabemos, a desigualdade \u2013<\/strong> social, pol\u00edtica, econ\u00f4mica, informacional \u2013<\/strong> \u00e9 um projeto que se perpetua porque poucos enriquecem ao custo da explora\u00e7\u00e3o de muitos, e aqui est\u00e1 mais um exemplo cristalino, caso algum lapso de otimismo nos fa\u00e7a esquecer de como funciona o capitalismo.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

A segunda resposta n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o \u00f3bvia. Desde sua inven\u00e7\u00e3o, no s\u00e9culo XVIII, a partir dos primeiros copyrights <\/em>ingleses e dos direitos de autor franc\u00eas, a propriedade intelectual se consolidou de tal forma que hoje, tr\u00eas s\u00e9culos depois, ela se parece ter se transformado no \u00fanico sistema de media\u00e7\u00e3o de posse legal entre o ser humano e suas inven\u00e7\u00f5es. Naturalizamos a tal ponto a exist\u00eancia de uma propriedade intelectual que temos dificuldade de imaginar possibilidades que n\u00e3o sejam dentro <\/em>da propriedade. O fato de pouco falarmos sobre alternativas (ou de suspens\u00e3o) da propriedade intelectual em meio \u00e0 pandemia indica uma derrota como humanidade: aceitamos o pensamento dominante de que, de fato, o direito de quem produz as vacinas \u00e9 maior do que o acesso a ela; que quem faz algo complexo como uma vacina deve, em primeiro lugar, receber pelo trabalho, e s\u00f3 em segundo lugar, o acesso a este produto deve ser p\u00fablico e gratuito, amplo e irrestrito. Que o direito \u00e0 propriedade \u00e9 maior que o direito \u00e0 vida.<\/p>\n\n\n\n

O fracasso das tentativas de discutirmos, como op\u00e7\u00e3o real e coletiva, a suspens\u00e3o completa da propriedade intelectual de produtos de claro benef\u00edcio coletivo como as vacinas parece ser tamb\u00e9m reflexo da aceita\u00e7\u00e3o desse destino do fim (do mundo, n\u00e3o do capitalismo informacional do s\u00e9culo XXI). Diz muito tamb\u00e9m sobre nossas escolhas destrutivas enquanto humanidade. Se, como afirmou Franco Berardi \u201cBifo\u201d em entrevista ao The Intercept Brasil<\/a>, \u201cou fundamos uma nova sociedade ou acabaremos com a esp\u00e9cie humana\u201d, parece mais claro, depois da pandemia do novo coronav\u00edrus, que essa sociedade s\u00f3 ser\u00e1 poss\u00edvel se n\u00e3o existir propriedade intelectual.<\/p>\n\n

 <\/p>\n\n

Leonardo Foletto<\/strong><\/p>\n\n\n\n

[Com informa\u00e7\u00f5es e colabora\u00e7\u00e3o de The Lancet, InternetLab, Ci\u00eancia Aberta, Alexandre Abdo, Andr\u00e9 Houang, Elias Maroso e Tatiana Dias]<\/em><\/p>\n

*O texto da patente \u00e9, a princ\u00edpio, acess\u00edvel num registro de patentes. O que a quebra permitiria \u00e9 o uso efetivo, a adapta\u00e7\u00e3o e o aprimoramento, al\u00e9m da produ\u00e7\u00e3o por um n\u00famero maior de atores.<\/em><\/p>\n

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Estamos chegando a quase um ano de pandemia e uma pergunta ainda n\u00e3o foi respondida: por que n\u00e3o estamos discutindo intensamente a quebra compuls\u00f3ria de patentes para as vacinas contra a covid-19? Por que n\u00e3o estamos falando de flexibiliza\u00e7\u00e3o de direitos de propriedade intelectual em equipamentos\/produtos que auxiliam o combate \u00e0 pandemia ou ao acesso […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":13363,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[122],"tags":[2113,2114,2055,558,410,925,2115,1944,2105,115,197,2116,2117,2118],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13357"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=13357"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/13357\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=13357"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=13357"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=13357"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=13357"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}