{"id":13274,"date":"2020-10-20T17:30:14","date_gmt":"2020-10-20T17:30:14","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=13274"},"modified":"2020-10-20T17:30:14","modified_gmt":"2020-10-20T17:30:14","slug":"os-dilemas-e-as-solucoes-das-redes","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2020\/10\/20\/os-dilemas-e-as-solucoes-das-redes\/","title":{"rendered":"Os dilemas e as solu\u00e7\u00f5es das redes"},"content":{"rendered":"
Foto: Reprodu\u00e7\u00e3o\/Document\u00e1rio “Dilema das redes” – Netflix<\/p><\/div>\n
N\u00e3o se fala em outra coisa na bolha: o dilema das redes. Claro, tamb\u00e9m se fala em muitas outros assuntos no grupo de intera\u00e7\u00e3o mais pr\u00f3ximo nas redes sociais que convencionamos chamar de bolha, mas o fato \u00e9 que \u201cThe Social Dilemma<\/a>\u201d, document\u00e1rio de Jeff Orlowski estreado em setembro no Netflix e traduzido aqui como \u201cO Dilema das Redes\u201d, tem gerado debate. Tanto tem que j\u00e1 h\u00e1 uma s\u00e9rie de textos, de diversas perspectivas e lugares distintos, que refletem sobre a nossa sociedade e as tecnologias, especialmente as redes sociais na internet, a partir do document\u00e1rio. Por que ser\u00e1 que se fala, se pensa e se escreve tanto desse dilema?<\/p>\n H\u00e1 diversos fatores, e nos pr\u00f3ximos par\u00e1grafos vamos resumir alguns deles a partir de quatro diferentes textos que abordam o filme. Gostando ou n\u00e3o, parece que o document\u00e1rio tem conseguido, em primeiro lugar, reunir diferentes t\u00f3picos que n\u00f3s aqui do BaixaCultura e in\u00fameros outros projetos, pessoas e organiza\u00e7\u00f5es falam com frequ\u00eancia h\u00e1 pelo menos 10 anos: a manipula\u00e7\u00e3o\/modula\u00e7\u00e3o que as redes sociais t\u00eam feito no comportamento de milhares de pessoas e a necessidade de entender e agir contra isso; a dissemina\u00e7\u00e3o de informa\u00e7\u00e3o falsa a partir das mesmas redes sociais e o efeito nefasto disso na sociedade e especialmente na pol\u00edtica; a transforma\u00e7\u00e3o da internet de um lugar libert\u00e1rio e descentralizado em um grande shopping center controlado por algumas poucas empresas gigantes; os aspectos pol\u00edticos das tecnologias e o que elas podem ajudar a perpetuar se n\u00e3o forem transparentes e auditadas de modo coletivo; o desejo e os benef\u00edcios na sa\u00fade emocional (e tamb\u00e9m corporal) de sair das redes sociais, ou pelo menos limitar a \u201cdieta da informa\u00e7\u00e3o\u201d na rede; entre outros fatores correlatos.<\/p>\n Em segundo lugar, o document\u00e1rio parece ter embalado tudo isso em um produto audiovisual bem acabado para um p\u00fablico muito maior que do que at\u00e9 ent\u00e3o tratava desses temas. Esse parece ser um m\u00e9rito quase inquestion\u00e1vel do document\u00e1rio: tornar um assunto de nicho, uma preocupa\u00e7\u00e3o de pessoas que lidam com a tecnologia e suas implica\u00e7\u00f5es sociais, culturais, pol\u00edticas, econ\u00f4micas, num assunto popular presente em diversas rodas de discuss\u00e3o. \u00c9 not\u00f3rio que o potencial de circula\u00e7\u00e3o que o Netflix traz, com seus quase 190 milh\u00f5es de assinantes no mundo inteiro<\/a>, tem papel central em tornar a preocupa\u00e7\u00e3o outrora somente de ativistas em um debate global. O que pode vir da\u00ed \u2013 leis de regula\u00e7\u00e3o, mudan\u00e7as de comportamento, novos projetos que buscam um \u201cbem-estar digital\u201d, etc \u2013 ainda \u00e9 inc\u00f3gnita. Entretanto, podemos dizer: se o filme capturou um certo zeitgeist<\/em> (esp\u00edrito do tempo) dessa \u00e9poca de euforia e preocupa\u00e7\u00e3o com as redes sociais online, ele tamb\u00e9m pode ajudar a fomentar iniciativas que possam mudar as regras do jogo tal como conhecemos hoje de<\/em> dentro do sistema<\/em>.<\/p>\n Na pr\u00e1tica, e sendo talvez um tanto otimista e inocente, o document\u00e1rio pode fomentar um cen\u00e1rio na sociedade civil de maior press\u00e3o para mais e melhores leis de regula\u00e7\u00e3o, j\u00e1 que essa parece ser uma receita cada vez mais retomada (porque proposta j\u00e1 h\u00e1 muito tempo) para cuidar dessa extrema liberdade que as big tech possu\u00edram para construir seus imp\u00e9rios e criar o tal “dilema das redes” apresentado. Certamente h\u00e1 outras receitas para solucionar o dilema: a autonomia e a auto-organiza\u00e7\u00e3o da intelig\u00eancia coletiva, a tomada dos meios de produ\u00e7\u00e3o para a constru\u00e7\u00e3o de tecnologias mais sens\u00edveis e menos padronizadoras de comportamentos, o n\u00e3o esquecimento dos aspectos pol\u00edticos, sociais e econ\u00f4micos dos aparatos tecnol\u00f3gicos. Mas por enquanto mesmo anarquistas, centristas, comunistas ou liberais podem concordar que pelo menos algum tipo de regula\u00e7\u00e3o, fiscaliza\u00e7\u00e3o e ou controle para essas empresas pode ser desej\u00e1vel e inevit\u00e1vel.<\/p>\n Foto: Reprodu\u00e7\u00e3o\/Document\u00e1rio “Dilema das redes” – Netflix<\/p><\/div>\n Vamos aos textos, seguindo a ordem em que foram publicados no Brasil. O primeiro \u00e9 de Tatiana Dias<\/a>, rep\u00f3rter e editora que cobre a \u00e1rea faz mais de 10 anos, publicado no The Intercept Brasil em 14 de setembro (de 2020). Como quase todos os textos posteriores (e esse nosso), h\u00e1 um reconhecimento dos m\u00e9ritos do document\u00e1rio – ele \u201cefetivamente desenhou o funcionamento dos algoritmos e da manipula\u00e7\u00e3o a que somos submetidos como ratos de laborat\u00f3rio\u201d – e uma cr\u00edtica \u00e0 simplifica\u00e7\u00e3o de alguns temas e ao que o filme escolhe ocultar. H\u00e1 dois aspectos principais da cr\u00edtica, que dizem respeito aos encaminhamentos propostos no document\u00e1rio. O primeiro fala da escolha individual como uma solu\u00e7\u00e3o para o \u201cdilema das redes”.<\/p>\n \u201cN\u00e3o se trata de \u201cescolher sair das redes\u201d, mas de se opor a essa l\u00f3gica e pressionar por regula\u00e7\u00e3o e transpar\u00eancia. Parece simples para um ex-executivo das big techs proibir o filho de ter qualquer contato com tecnologia (eles de fato fazem isso). Mas como falar isso para as crian\u00e7as cada vez mais dependentes da tecnologia at\u00e9 mesmo para estudar num mundo que atravessa uma pandemia? Se os pr\u00f3prios governos usam essas plataformas para servi\u00e7os p\u00fablicos?\u201d<\/p><\/blockquote>\n O texto de Tatiana tamb\u00e9m aponta uma particularidade brasileira na quest\u00e3o do acesso. \u201cO Facebook teve uma estrat\u00e9gia agressiva de expans\u00e3o, com parcerias com empresas de telecom para oferecer acesso gr\u00e1tis aos seus servi\u00e7os para a popula\u00e7\u00e3o de baixa renda. A pessoa contrata um plano de celular e leva o qu\u00ea? Acesso ao Facebook, Insta e Zap de gra\u00e7a. Sem dados para outro tipo de navega\u00e7\u00e3o, para muita gente a internet se torna s\u00f3 isso. Criou-se um mercado do qual \u00e9 praticamente imposs\u00edvel sair: as pessoas confundem internet com as intera\u00e7\u00f5es que acontecem nessas plataformas, e toda a vida acontece ali<\/strong>.\u201d<\/p>\n O segundo aspecto da cr\u00edtica do texto publicado no The Intercept \u00e9 a de que a solu\u00e7\u00e3o para o tal dilema \u201cn\u00e3o vai vir de centros para tecnologia humanizada em Stanford, mas de uma internet descentralizada e diversa por ess\u00eancia, feita por pessoas diferentes, baseada em outra l\u00f3gica: redes comunit\u00e1rias ou reposit\u00f3rios de conte\u00fados livres\u201d, como apontamos aqui no BaixaCultura recentemente<\/a>. \u201c\u00c9 um contrassenso\u201d, afirma Tatiana, querer construir uma unidade ou senso de coletividade, ou mesmo ter uma conversa, se a plataforma naturalmente transforma um debate em uma rinha para lucrar com isso. Como tamb\u00e9m j\u00e1 sinalizamos aqui<\/a>: o modelo de neg\u00f3cio de venda de dados e da economia de aten\u00e7\u00e3o, que ganha com o tempo que as pessoas passam em uma dada plataforma e a quantidade de intera\u00e7\u00f5es (dados) produzidas, precisa ser alterado para que alguma mudan\u00e7a seja vista. Os esfor\u00e7os coletivos de constru\u00e7\u00e3o de uma internet mais saud\u00e1vel s\u00e3o importantes, mas paliativos se esse problema estrutural n\u00e3o for atacado de alguma forma.<\/p>\n Foto: Reprodu\u00e7\u00e3o\/Document\u00e1rio “Dilema das redes” – Netflix<\/p><\/div>\n Atacar esse problema estrutural \u00e9 o que, precisamente, faz tanto o segundo quanto o terceiro aqui citado: respectivamente, \u201cN\u00e3o, as redes sociais n\u00e3o est\u00e3o destruindo a civiliza\u00e7\u00e3o<\/a>\u201d, de Richard Seymour, e \u201c N\u00e3o culpe as redes sociais, culpe o capitalismo<\/a>\u201c, de Paris Marx, ambos publicados na revista de esquerda Jacobin entre o final de setembro e o in\u00edcio de outubro \u2013 o segundo traduzido por Rafael Grohmann e Victor Wolffenbuttel, parceiro de muitos textos aqui. No primeiro texto, a cr\u00edtica \u00e0 \u201cThe Social Dilemma\u201d \u00e9, primeiramente, ir\u00f4nica:<\/p>\n \u201cQue mal as redes sociais podem fazer? Guerra civil! O fim da civiliza\u00e7\u00e3o como conhecemos! Esse \u00e9 o veredito dos luminares renegados do Vale do Sil\u00edcio, reunidos no novo document\u00e1rio da Netflix O Dilema das Redes (The Social Dilemma). Como o ex-empregado do Google, Tristan Harris coloca a quest\u00e3o, em um axioma bastante TED Talk, as redes sociais amea\u00e7am dar um \u201cxeque-mate na humanidade\u201d. (\u2026) Todos os vil\u00f5es do techlash dos liberais est\u00e3o aqui: fake news, ciberataque russo, ditadores estrangeiros, \u201catores ruins\u201d, polariza\u00e7\u00e3o pol\u00edtica e adolescentes deprimidos. O Dilema das Redes p\u00f5e um diretos de plataforma desiludido atr\u00e1s do outro para entregar a mesma hom\u00edlia familiar, encenada atrav\u00e9s da hist\u00f3ria de fundo de uma fam\u00edlia suburbana, que vive nos EUA, e vem sendo despeda\u00e7ada pelo v\u00edcio em redes sociais.\u201d<\/p><\/blockquote>\n E, depois, com vi\u00e9s marxista: \u201cO que foi distorcido e tirado do lugar n\u2019O Dilema das Redes para produzir esse p\u00e2nico moral cinematogr\u00e1fico? O Capital<\/strong>. O document\u00e1rio \u00e9 bastante l\u00facido sobre os aspectos da ind\u00fastria social e como ela funciona. Trata-se de \u201cuma esp\u00e9cie de poder totalmente nova\u201d. A ind\u00fastria social n\u00e3o apenas nos monitora e nos manipula. Quanto mais nossas vidas sociais s\u00e3o gastas nestas plataformas, mais nossa vida social \u00e9 programada.\u201d<\/p>\n De uma perspectiva pr\u00f3xima, mas menos ir\u00f4nica, \u00e9 o segundo texto publicado na Jacobin. Paris Marx fala do document\u00e1rio como uma narrativa tecnodeterminista que acaba por inflar as capacidades de captura de dados e algoritmos<\/strong> e, assim, atribuir \u00e0 tecnologia uma s\u00e9rie de problemas que t\u00eam suas ra\u00edzes nas condi\u00e7\u00f5es sociais e econ\u00f4micas mais fundamentais da sociedade moderna. Ao contr\u00e1rio do que normalmente se espera em uma narrativa tecnodeterminista, aqui a premissa b\u00e1sica \u00e9 invertida: \u201cEm vez da tecnologia tornar o mundo melhor, a maioria das pessoas do filme reconhece que coisas ruins est\u00e3o acontecendo, mas dada a perspectiva que elas enxergam o mundo, o problema principal tamb\u00e9m deve ser tecnol\u00f3gico.\u201d<\/p>\n Mesmo pessimista, a vis\u00e3o tecnodeterminista do document\u00e1rio endossa a ideia do solucionismo tecnol\u00f3gico j\u00e1 abordada aqui:<\/a> de que mais tecnologia vai resolver tudo, inclusive os pr\u00f3prios problemas causados pela tecnologia\u2026Assim, Marx (o autor do texto) afirma que O Dilema das Redes exagera ao apontar que os efeitos negativos das redes sociais na sociedade s\u00e3o derivados apenas das plataformas que utilizam modelos de captura de dados e curadoria por algoritmos.<\/p>\n \u201cDevemos acreditar que a polariza\u00e7\u00e3o social \u00e9 resultado do Facebook e n\u00e3o do fato de que a desigualdade de renda retrocedeu a n\u00edveis anteriores \u00e0 Grande Depress\u00e3o (e que possivelmente ficar\u00e3o muito piores devido \u00e0 pandemia)? Devemos acreditar que a desconfian\u00e7a com as elites e com os pol\u00edticos \u00e9 fruto dos resultados de busca do Google, e n\u00e3o do fato de que o sistema pol\u00edtico n\u00e3o est\u00e1 respondendo \u00e0s necessidades da vasta maioria da popula\u00e7\u00e3o, enquanto o governo deixa a ind\u00fastria se autorregular, acarretando em trag\u00e9dias como o Boeing 737 MAX?\u201d<\/p><\/blockquote>\n A cr\u00edtica de Marx na Jacobin chega a uma solu\u00e7\u00e3o para o dilema das redes: destruir (ou modificar?) o capitalismo. Uma resposta, como se sabe, que \u00e9 muito comum nos diagn\u00f3sticos dos diversos problemas que acometem o mundo neste 2020, mas que, em alguns casos, pode paralisar diante do tamanho e da dificuldade da tarefa: ser\u00e1 mesmo poss\u00edvel<\/em> acabar com o capitalismo e salvar a internet? Felizmente Marx aponta alguns caminhos, pr\u00f3ximos aos mencionados por Tatiana e por n\u00f3s mesmos aqui no BaixaCultura: \u201cprecisamos reconhecer que a internet foi um produto de pesquisa e financiamento p\u00fablico. Para melhor\u00e1-la, talvez seja necess\u00e1rio retornar a uma estrutura n\u00e3o comercial<\/strong>, em que as empresas p\u00fablicas possuam as infraestruturas-chave, as cooperativas operem uma variedade de plataformas com incentivos muito diferentes e sem fins lucrativos, e as pessoas comuns possam colaborar em novas ferramentas digitais sem que haja um imperativo comercial. Mas isso tamb\u00e9m exigir\u00e1 mudan\u00e7as nas estruturas pol\u00edticas e econ\u00f4micas mais amplas.\u201d<\/p>\n Foto por Oladimeji Ajegbile em Pexels.com<\/p><\/div>\n Por fim, o quarto texto que trazemos aqui para tratar de \u201cO Dilema das Redes\u201d \u00e9 de Clara Lage, filha do jornalista e conhecido te\u00f3rico do jornalismo Nilson Lage, em seu blog Moinho<\/a>. Matem\u00e1tica, p\u00f3s doutoranda na \u00c9cole Polytechnique de Paris com trabalho com Otimiza\u00e7\u00e3o e Estat\u00edstica, Clara tamb\u00e9m fala do \u201cm\u00e9rito t\u00e9cnico e da f\u00e1cil compreens\u00e3o\u201d do document\u00e1rio, que apresenta ex-engenheiros de altos cargos em grandes empresas de tecnologia, especialmente as GAFA (Google, Apple, Facebook, Amazon), que testemunham seus impasses \u00e9ticos com seus antigos trabalhos. Nesse aspecto, ela traz uma observa\u00e7\u00e3o interessante: \u201cembora os engenheiros programem os algoritmos que regem as redes, eles n\u00e3o s\u00e3o capazes de prever seu comportamento quando apresentados \u00e0 quantidade colossal de dados que recebem<\/strong>. Nesse ponto, a pr\u00f3pria estrutura de funcionamento do chamado deep learning dificulta o diagn\u00f3stico sobre os efeitos sociais desses algoritmos. A consci\u00eancia do potencial destrutivo dessa ferramenta chega pelas pr\u00f3prias consequ\u00eancias sociais e individuais, e a percep\u00e7\u00e3o negativa das empresas cresce \u00e0 medida que esses problemas ganham notoriedade.\u201d<\/p>\n Depois, Clara faz cr\u00edticas pol\u00edticas parecidas \u00e0 dos textos anteriores sobre as escolhas do filme, a come\u00e7ar pelos pr\u00f3prios personagens ouvidos: \u201cAo priorizar ex-engenheiros (brancos e do norte global) que ajudaram a criar os tais aparatos tecnol\u00f3gicos, a impress\u00e3o que deixa o document\u00e1rio \u00e9 de que a percep\u00e7\u00e3o do potencial danoso na atual configura\u00e7\u00e3o das grandes empresas de tecnologia \u00e9 recente e que a descoberta parte essencialmente das pr\u00f3prias pessoas que criaram esses algoritmos\u201d. Sabemos que n\u00e3o \u00e9 uma descoberta recente: a luta por algoritmos\/c\u00f3digos transparentes remete pelo menos ao final dos anos 1970 com o software livre, citado por ela no texto, que h\u00e1 quase 40 anos vem falando que programas de computador \u2013 como certos bens culturais, e os comuns \u2013 n\u00e3o podem ser fechados e privatizados com vias de apenas explorar o lucro poss\u00edvel esquecendo sua fun\u00e7\u00e3o social como conhecimento produzido pela humanidade.<\/p>\n Clara cita a quest\u00e3o tamb\u00e9m a quest\u00e3o dos monop\u00f3lios de comunica\u00e7\u00e3o e tecnologia, propulsionados pela desregula\u00e7\u00e3o neoliberal dos anos 1980, e que formam o caldo que resultaria na constru\u00e7\u00e3o geopol\u00edtica da internet tal qual conhecemos hoje \u2013 e, bom retomar, criticada de modo quase pioneiro em \u201cA Ideologia Californiana<\/a>\u201d de Barbrook & Cameron em 1995.<\/p>\n Por fim, o texto aponta para como \u00e9 sintom\u00e1tico o fato de restar t\u00e3o pouco tempo para a \u00faltima parte, em que o document\u00e1rio pretende desenvolver as solu\u00e7\u00f5es para o caos apresentado. \u201cSem um horizonte possivelmente mais ut\u00f3pico, mas mais instigante, de \u201csoftwares livres\u201d, ou mesmo a esperan\u00e7a de um ambiente menos feudal para as redes \u2013 onde a terra \u00e9 dividida entre gigantes \u2013 restam algumas palavras sobre regulamenta\u00e7\u00e3o, mudan\u00e7a no bussiness model e importantes atitudes individuais, como desativar as notifica\u00e7\u00f5es dos aplicativos\u201d. \u00c9 certo que n\u00e3o h\u00e1 horizontes f\u00e1ceis e prontos para serem apontados, mas ao olhar para o passado poder\u00edamos aprender a n\u00e3o apostar em um uma sa\u00edda que n\u00e3o seja pol\u00edtica e coletiva e a n\u00e3o esperar da tecnologia somente solu\u00e7\u00f5es m\u00e1gicas e falsamente neutras.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" N\u00e3o se fala em outra coisa na bolha: o dilema das redes. 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