{"id":13257,"date":"2020-09-28T19:46:17","date_gmt":"2020-09-28T19:46:17","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=13257"},"modified":"2020-09-28T19:46:17","modified_gmt":"2020-09-28T19:46:17","slug":"por-uma-cultura-e-livre-no-futuro-do-trabalho","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2020\/09\/28\/por-uma-cultura-e-livre-no-futuro-do-trabalho\/","title":{"rendered":"Por uma cultura livre no futuro do trabalho"},"content":{"rendered":"
Cultura livre pelas ruas de Barcelona, projeto Enfrenta.org<\/a><\/p><\/div>\n Como equilibrar a balan\u00e7a entre o acesso \u00e0 informa\u00e7\u00e3o\/conhecimento\/bens culturais X remunera\u00e7\u00e3o dos autores? Pergunta sem resposta \u00fanica e definitiva, que necessita ser vista em cada situa\u00e7\u00e3o que se quer analisar, foi um dos temas debatido na mesa\u00a0“Os servi\u00e7os sofisticados: Cultura e Conhecimento”, do Outras Palavras.<\/em><\/p>\n [Leonardo Foletto, editor do BaixaCultura]<\/strong><\/p>\n Semana passada, \u00e0 convite do Outras Palavras, participei do ciclo de debate “O Futuro do Trabalho no Brasil<\/a>” na mesa chamada “Os servi\u00e7os sofisticados: Cultura e Conhecimento<\/strong>“. Ao lado de duas pessoas que admiro bastante: Tatiana Roque<\/a>, professora do Instituto Matem\u00e1tica da UFRJ, ativista da Renda B\u00e1sica e ativa pensadora feminista e das subjetividades na esquerda brasileira; e C\u00e9lio Turino<\/a>, historiador, escritor, agente cultural, espons\u00e1vel pelo conceito e implanta\u00e7\u00e3o dos Pontos de Cultura no Minist\u00e9rio da Cultura de GIlberto Gil nos anos 2000.<\/p>\n A ementa da mesa tinha tr\u00eas perguntas-provoca\u00e7\u00f5es t\u00e3o instigantes quanto (de respostas) complexas: como o Brasil pode aproveitar e estimular, numa requalifica\u00e7\u00e3o de sua economia, tra\u00e7os socioculturais not\u00e1veis, como a criatividade, a irrever\u00eancia, a versatilidade? Como construir uma Economia da Cultura, do Conhecimento, da Ci\u00eancia e dos Afetos avan\u00e7ada, inclusiva e redistributiva? Como seus ritmos pr\u00f3prios, ligados \u00e0 cria\u00e7\u00e3o e \u00e0 inventividade, podem abrir caminho para uma proposta essencial no s\u00e9culo XXI: a redu\u00e7\u00e3o geral das jornadas de trabalho?<\/p>\n Pensei em fazer uma fala que tratasse de cultura livre, claro, e de que fomentar o acesso ao conhecimento e a cultura num pa\u00eds como o Brasil \u00e9 condi\u00e7\u00e3o essencial para pensar em uma economia da cultura e do conhecimento inclusiva e redistribuitiva. Um pouco antes, por\u00e9m, fui atravessado, por uma leitura recente que fala de utopia – e n\u00e3o distopia, palavra da moda e t\u00e3o real pra esses tempos – e pensei que seria bom inserir alguns trechos dessa leitura para trazer um pouco de ideias que nos ajudem a repensar o futuro mesmo (ou principalmente) com as iminentes discuss\u00f5es sobre o fim do mundo, Antropoceno, Instrus\u00e3o de Gaia, entre outros termos que falam da destrui\u00e7\u00e3o do que chamamos de natureza de forma irrevers\u00edvel pela a\u00e7\u00e3o humana, ainda mais v\u00edsivel em 2020 no Brasil de Bolsonaro.<\/p>\n Por motivos diversos, acabei n\u00e3o usando na mesa o trecho resgatado da leitura em quest\u00e3o: “Utopia Brasil<\/a>“, livro de Darcy Ribeiro, mais precisamente um texto desse livro chamado “IVY-MARA\u1ebcN, TERRA SEM MALES, 2997”, uma ficc\u00e3o ut\u00f3pica do antrop\u00f3logo (e tamb\u00e9m escritor de fic\u00e7\u00e3o) criador da Universidade de Bras\u00edlia. Mesmo o debate indo para outros lugares, resolvi resgatar o que tinha pensado em falar a partir de “Ivy-Mar\u00e3en” e editei para transform\u00e1-lo em outro texto, publicado aqui no meu blog pessoal<\/a>. Talvez n\u00e3o dialogue muito com o restante da mesa e mesmo do que eu anotei e acabei falando, mas sigo achando importante lembrar do que n\u00f3s, brasileiros e latino-americanos, somos capazes quando criamos entornos sociais que potencializem nosso modo de vida tradicional.<\/p>\n A conversa na mesa enveredou por caminhos mais pragm\u00e1ticos na tentativa de responder as quest\u00f5es disparadoras da mesa – embora nem eu nem Tatiana e C\u00e9lio nos atentamos em somente responder a elas, como voc\u00eas podem ver no v\u00eddeo ao findl do post, com a \u00edntegra dos quase 2h de debate. Falamos sobre a desmercantiliza\u00e7\u00e3o dos chamados servi\u00e7os sofisticados (cultura e conhecimento); a monetiza\u00e7\u00e3o crescente dos nossos desejos potencializado pelas cada vez mais vigilantes tecnologias digitais; a redu\u00e7\u00e3o da jornada de trabalho (com a boa lembran\u00e7a por C\u00e8lio do livro “Direito \u00e0 Pregui\u00e7a<\/a>“, de Paul Lafargue, publicado em 1880) e a refer\u00eancia \u00e0 outras culturas que n\u00e3o tem o trabalho como eixo organizador da vida, como a de alguns povos amer\u00edndios; a invisbiliza\u00e7\u00e3o daquele trabalho que \u00e9 feito durante todos os outros (inclusive os sofisticados): o trabalho reprodutivo, que suscitou a boa ideia de Tatiana de submeter a produ\u00e7\u00e3o \u00e0 reprodu\u00e7\u00e3o, na linha que dialoga com historiadoras como Silvia Federici; como o estado pode visibilizar a produ\u00e7\u00e3o cultural, entre outros t\u00f3picos. Trago aqui o restante que anotei para minha fala na mesa, com alguns acr\u00e9scimos de edi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n CULTURA LIVRE E A REMUNERA\u00c7\u00c3O DE ARTISTAS<\/strong><\/p>\n Agrade\u00e7o o convite de Antonio por participar do debate e por poder dialogar com duas pessoas que admiro e acompanho o trabalho h\u00e1 anos, que fizeram, ou est\u00e3o fazendo, pol\u00edticas p\u00fablicas que s\u00e3o fundamentais para o Brasil, caso do Cultura Viva e dos pontos de cultura que C\u00e9lio Turino foi um dos criadores; e da Renda B\u00e1sica, que Tatiana \u00e9 uma das principais articuladoras da Rede Brasileira de Renda B\u00e1sica.<\/em><\/p>\n Bueno, queria come\u00e7ar por uma quest\u00e3o que Ant\u00f4nio e outras pessoas j\u00e1 colocaram quando falo de cultura livre: como remunerar os artistas na cultura livre? como licenciar de forma livre e pagar aos artistas por suas cria\u00e7\u00f5es? Teria que come\u00e7ar com a explica\u00e7\u00e3o do que \u00e9 cultura livre e do que s\u00e3o licen\u00e7as livres, e de como elas buscam equilibrar a balan\u00e7a entre o acesso \u00e0 informa\u00e7\u00e3o\/conhecimento\/bens culturais X \u00e0 remunera\u00e7\u00e3o dos autores – nesse caso, remunera\u00e7\u00e3o que acaba ficando mais com os intermedi\u00e1rios, quem \u00e9 quem mais abocanha no valor de venda de uma dada obra.<\/em><\/p>\n Eu terminei agora um livro sobre cultura livre e a resist\u00eancia anti propriedade atrav\u00e9s dos tempos – dos gregos \u00e0 tecnologia digital, passando pela inven\u00e7\u00e3o do copyright, do direito autoral e das vanguardas do s\u00e9culo XX – que vai sair pela editora Autonomia Liter\u00e1ria em co-edi\u00e7\u00e3o com a Funda\u00e7\u00e3o Rosa Luxemburgo. Creio que final de novembro ou in\u00edcio de dezembro j\u00e1 estar\u00e1 pronto e voc\u00eas poder\u00e3o, se quiserem, ter acesso com muito mais detalhes do que falo quando trato de cultura livre.<\/em><\/p>\n No livro, trabalho com uma defini\u00e7\u00e3o de Cultura livre como uma cultura que posta em circula\u00e7\u00e3o a partir de certos bens culturais em um dado mercado, s\u00e3o de livre acesso, difus\u00e3o, adapta\u00e7\u00e3o e valor. Parto da defini\u00e7\u00e3o do software livre, claro, que inspirou a ado\u00e7\u00e3o do termo no final dos anos 1990 e sua propaga\u00e7\u00e3o nos primeiros anos da internet, e adapto aos bens culturais, em di\u00e1logo com pessoas que discutiram e trabalham com esse termo, de Lawrence Lessig \u00e0 Anna Nimus, de C\u00e9sar Rendueles a Dimitry Klainer. Nesse sentido, a primeira quest\u00e3o que se fala \u00e9 que, assim como o software livre, cultura livre nao \u00e9 necessariamente gr\u00e1tis.<\/em><\/p>\n<\/p>\n
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