{"id":12947,"date":"2019-08-30T19:56:18","date_gmt":"2019-08-30T19:56:18","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=12947"},"modified":"2019-08-30T19:56:18","modified_gmt":"2019-08-30T19:56:18","slug":"baixacharla-ao-vivo-3-depois-do-futuro-bifo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2019\/08\/30\/baixacharla-ao-vivo-3-depois-do-futuro-bifo\/","title":{"rendered":"BaixaCharla ao vivo #3: Depois do Futuro, Bifo"},"content":{"rendered":"

\"\"<\/p>\n

Nossa terceira BaixaCharla falou de “Depois do Futuro”, de Franco Berardi, vulgo Bifo, publicado em 2009 na It\u00e1lia e no Brasil este ano, na \u00f3tima cole\u00e7\u00e3o “Exit” da Ubu<\/a>. J\u00e1 citado nesse post<\/a> e guia de nosso curso-experimento “Tecnopol\u00edtica e Contracultura<\/a>“, o livro repassa as vanguardas do s\u00e9culo XX para mostrar como o futuro, at\u00e9 os anos 1970, era visto com esperan\u00e7a e confian\u00e7a. Depois de 1977, por\u00e9m, o progresso como uma linha evolutiva para um mundo melhor, com mais conhecimento e tecnologia, se mostrou uma fantasia. Em vez de promissor e brilhante, o porvir que aguarda as novas\u00a0gera\u00e7\u00f5es nascidas em ber\u00e7o digital, precarizadas e altamente conectadas, \u00e9 incerto e\u00a0amedrontador.<\/p>\n

Como o texto de apresenta\u00e7\u00e3o da obra comenta, “articulando refer\u00eancias\u00a0culturais de arte, cinema e literatura e pensamento cr\u00edtico, o fil\u00f3sofo e ativista italiano Franco \u201cBifo\u201d Berardi, veterano do\u00a0Maio de 1968, passa pelo Manifesto Futurista,\u00a0pelo movimento punk do anos 1970 e pela revolu\u00e7\u00e3o digital dos anos 1990 para concluir\u00a0algo sobre o presente: somos incapazes de conceber o que ainda est\u00e1 por vir”. Bifo mistura em seu caldeir\u00e3o de refer\u00eancias psican\u00e1lise, semi\u00f3tica, filosofia, jornalismo, cr\u00edtica cultural e da tecnologia, traz exemplos de situa\u00e7\u00f5es e autores do Jap\u00e3o, Estados Unidos, R\u00fassia e de sua p\u00e1tria-m\u00e3e italiana para detalhar a perda de no\u00e7\u00e3o de que “no futuro ser\u00e1 melhor”, t\u00e3o em voga na modernidade, e que se exacerba com o zeitgeist de ressaca da internet<\/a> que vivemos hoje.<\/p>\n

Nessa charla, o editor do BaixaCultura, Leonardo Foletto, destrinchou a obra, especialmente seus cap\u00edtulos 3 e 4, em que Bifo p\u00f5e pra dialogar hackers, cyberpunks, pensadores e cr\u00edticos da ideologia californiana do Vale do Sil\u00edcio. \u201cQuando a disciplina industrial se dissolve, os indiv\u00edduos se encontram numa condi\u00e7\u00e3o de aparente liberdade\u201d. Nenhuma lei os obriga a se submeter \u00e0s obriga\u00e7\u00f5es e \u00e0 depend\u00eancia. Mas \u00e0quela altura as obriga\u00e7\u00f5es foram introjetadas, e o controle social se exerce pela volunt\u00e1ria mas inevit\u00e1vel submiss\u00e3o a uma rede de automatismos”, escreve o fil\u00f3sofo italiano na p\u00e1gina\u00a0 do livro, e n\u00e3o poder\u00edamos concordar mais.<\/p>\n

\"\"

Febbraio 1976. Iniziano le trasmissioni di Radio Alice dalla sede di via del Pratello. Una rara fotografia di Franco \u0093Bifo\u0094 Berardi in diretta da via del PratelloArchivio Studio Camera Chiara<\/p><\/div>\n

Ademais de um fil\u00f3sofo e pensador da arte, cultura e tecnologia contempor\u00e2nea, Bifo tamb\u00e9m \u00e9 um ativista e um ser da pr\u00e1tica. Por isso, vamos tamb\u00e9m percorrer um pouco de sua trajet\u00f3ria enquanto ativista do “maio de 1968 que durou 10 anos” italiano, passando pelo coletivo A\/Traverso<\/a>, revista de ef\u00eamera e potente influ\u00eancia nos 1970; cria\u00e7\u00e3o da R\u00e1dio Alice, em 1976, uma das primeiras r\u00e1dios-livres europeias, que foi fechada em mar\u00e7o de 1977, quando o est\u00fadio foi invadido pelos carabinieri<\/a>, <\/i>como era conhecida pol\u00edcia italiana. A R\u00e1dio influenciou muita gente da \u00e9poca e tem seu acervo parcialmente documentado online<\/a>, al\u00e9m de ter uma base de sua hist\u00f3ria contada neste filme, Lavorare con Lentezza<\/em><\/a>, lan\u00e7ado em 2004.<\/p>\n

E seguimos falando um pouco de Bifo em sua estada em Paris, na Fran\u00e7a, onde conviveu com F\u00e9lix Guattari e aprendeu muito da esquizonan\u00e1lise que influenciaria sua abordagem te\u00f3rica desde ent\u00e3o. Viveu nos Estados Unidos, na d\u00e9cada de 1980, onde escreveu sobre m\u00fasica, acompanhou de perto o movimento cyberpunk e a discuss\u00e3o sobre tecnologia no Vale do Sil\u00edcio, at\u00e9 voltar para sua Bologna natal, na It\u00e1lia, nos 1990, onde esteve envolvido na cria\u00e7\u00e3o de outro experimento midi\u00e1tico, a Orfeo TV, “a street television breaks the Italian regimented broadcasting network<\/a>“, e do Rekombinant, um e-zine (j\u00e1 extinto, mas com parte do acervo aqui<\/a>) que circulou entre 2000 e 2009, desenvolvido junto com Matteo Pasquinelli, outro autor importante italiano contempor\u00e2neo. Atualmente, leciona no Istituto Aldini Valeriani, uma institui\u00e7\u00e3o de ensino m\u00e9dio de Bolonha, e na Academia de Belas Artes de Brera, Mil\u00e3o.<\/p>\n

Bifo tem mais de duas dezena de livros publicados em italiano, ingl\u00eas e espanhol, de seu primeiro “Contra il lavoro”, de 1970, at\u00e9 seu mais recente, “Futurabilidade”, de 2019, publicado em italiano e em espanhol (pela Caja Negra<\/a>, bel\u00edssima editora argentina), passando por “Ciberfilosfia” (1995), A F\u00e1brica da Infelicidade” (2001), “Skizomedia. Trent’anni di mediattivismo” (2006), entre outros. No Brasil, at\u00e9 “Depois do Futuro”, s\u00f3 havia um \u00fanico livro publicado, “A F\u00e1brica da Infelicidade<\/a>“, lan\u00e7ado em 2005 pela DP&A e hoje um tanto raro de se encontrar em livrarias f\u00edsicas. Nos outros pa\u00edses da Am\u00e9rica Latina, por\u00e9m, h\u00e1 mais tradu\u00e7\u00f5es, das quais destacados tamb\u00e9m “Generaci\u00f3n Post-Alfa”, da Tinta Lim\u00f3n, uma colet\u00e2nea de textos lan\u00e7ada em 2007 que traz v\u00e1rios insights que est\u00e3o em “Depois do Futuro” – vamos trazer alguns trechos deste livro tamb\u00e9m na charla, que est\u00e1 dispon\u00edvel para baixar em PDF<\/a> de gr\u00e1tis.<\/p>\n

H\u00e1 um interesse crescente nos \u00faltimos anos na obra de Bifo, o que tem proporcionado muitas entrevistas em ve\u00edculos jornal\u00edsticos, inclusive brasileiros, e algumas palestras que, transmitidas ao vivo, est\u00e3o dispon\u00edveis na rede. Destacamos aqui duas entrevistas publicadas no IHU da Unisinos, no RS: \u201cO que pode a vontade pol\u00edtica contra a f\u00faria financeira?<\/a>“, de agosto de 2019; e “Para entender o fascismo dos impotentes<\/a>“, de junho de 2019. E dois v\u00eddeos, tamb\u00e9m de 2019:<\/p>\n