{"id":12910,"date":"2019-08-02T23:42:13","date_gmt":"2019-08-02T23:42:13","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=12910"},"modified":"2019-08-02T23:42:13","modified_gmt":"2019-08-02T23:42:13","slug":"politizar-as-tecnologias-pistas-para-reinventar-a-internet","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2019\/08\/02\/politizar-as-tecnologias-pistas-para-reinventar-a-internet\/","title":{"rendered":"Politizar as tecnologias & pistas para reinventar a internet"},"content":{"rendered":"

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A quinta palestra de 2019 do \u00f3timo programa “Politizar as tecnologias”<\/a>, do Centro Universit\u00e1rio Maria Ant\u00f4nia (USP), foi uma vers\u00e3o resumida de nosso curso “Tecnopol\u00edtica e Contracultura: um breve passeio por autonomistas, altermundistas, hackers e outros rebeldes”. Ocorreu na quarta-feira, 31 de julho, das 19 \u00e0s 21h30, foi conduzida por Leonardo Foletto e teve um p\u00fablico atento e animado \u00e0s diversas discuss\u00f5es que apontamos e aos questionamentos instigados pelo texto abaixo:<\/p>\n

Se nos anos 1990, com o casamento do digital com a internet, enxerg\u00e1vamos enormes possibilidades de liberta\u00e7\u00e3o (da informa\u00e7\u00e3o de grandes grupos midi\u00e1ticos, de liberdade de falar o que bem quiser, de criar tecnologias e mundos novos), hoje parece que estamos a lidar com consequ\u00eancias nefastas, representadas em uma palavra na moda nestes tempos: distopia.<\/em><\/p>\n

Nos descuidamos \u2013 ou n\u00e3o conseguimos? \u2013 prestar aten\u00e7\u00e3o na ascens\u00e3o de plataformas globais de tecnologia, que por sua vez constru\u00edram bolhas de informa\u00e7\u00e3o que confirmam pontos de vista, espalham mentiras e criam realidades alternativas que em muitos casos n\u00e3o h\u00e1 informa\u00e7\u00e3o comprovada que consiga mudar. Como podemos compreender o contexto tecnopol\u00edtico hoje? Que caminhos podemos apontar para discutirmos e transformarmos a pol\u00edtica que sempre est\u00e1 junto na constru\u00e7\u00e3o de tecnologias?”<\/em>.<\/p>\n

Uma not\u00edcia breve no site do evento est\u00e1 aqui<\/a>. Abaixo e na abertura da postagem, algumas fotos, feitas pela equipe de comunica\u00e7\u00e3o do Maria Ant\u00f4nia, um centro cultural hist\u00f3rico pra SP, palco de uma das mais conhecidas batalhas na Ditadura Militar Brasileira<\/a>, em 1968, entre estudantes do Mackenzie e da USP.<\/p>\n

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uma parte do povo, antes de come\u00e7ar a fala<\/p><\/div>\n

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Os “chap\u00e9us” do nosso editor, Leonardo Foletto<\/p><\/div>\n

Aqui est\u00e1 a apresenta\u00e7\u00e3o<\/a> que guiou a conversa. Destacamos aqui uma parte final da conversa:<\/p>\n

A IDEOLOGIA CALIFORNIANA VENCEU<\/strong><\/p>\n

Sua vis\u00e3o ut\u00f3pica da Calif\u00f3rnia depende de uma cegueira volunt\u00e1ria frente a outras \u2013 e muito menos positivas \u2013 caracter\u00edsticas da vida na costa oeste: racismo, pobreza e degrada\u00e7\u00e3o do meio ambiente\u201d<\/p>\n

\u201cAs \u00a0 tecnologias \u00a0 da informa\u00e7\u00e3o d\u00e3o poder ao indiv\u00edduo, aumentam a liberdade pessoal e radicalmente reduzem a for\u00e7a do estado-na\u00e7\u00e3o. As estruturas de poder social, pol\u00edtico e legal existentes ir\u00e3o murchar, para serem substitu\u00eddas por intera\u00e7\u00f5es irrestritas entre indiv\u00edduos aut\u00f4nomos e seus softwares.\u201d<\/p>\n

DEPOIS DO FUTURO, BIFO
\n<\/strong>
\n“A sociedade internaliza a regra em formas tecnol\u00f3gicas. O capital pode renunciar a regra jur\u00eddica, \u00e0 racionalidade pol\u00edtica e se deixar conduzir pela aparente anarquia dos automatismos internalizados da biopol\u00edtica.”<\/p>\n

“Quando a disciplina industrial se dissolve, os indiv\u00edduos se encontram numa condi\u00e7\u00e3o de aparente liberdade”. “Nenhuma lei os obriga a se submeter \u00e0s obriga\u00e7\u00f5es e \u00e0 depend\u00eancia. Mas \u00e0quela altura as obriga\u00e7\u00f5es foram introjetadas, e o controle social se exerce pela volunt\u00e1ria mas inevit\u00e1vel submiss\u00e3o a uma rede de automatismos.”<\/p>\n

EM FRENTE RUMO AO PASSADO
\n<\/strong>
\n\u201cMembros da \u201cclasse virtual\u201d e outros profissionais podem brincar de ser cyberpunks dentro da hiperrealidade sem ter de encontrar algum de seus vizinhos empobrecidos.\u201d<\/p>\n

\u201cAs tecnologias da liberdade est\u00e3o se tornando os instrumentos da domina\u00e7\u00e3o\u201d.<\/p>\n

\u201c N\u00e3o impe\u00e7o voc\u00ea de fazer outra coisa e n\u00e3o o obrigo a fazer o que eu quero, simplesmente facilito para quem faz as coisas que me conv\u00eam\u201d (Bifo)<\/p>\n

DIANTE DISSO, O QUE FAZER? PISTAS PARA REINVENTAR A INTERNET<\/strong><\/p>\n

_ Regula\u00e7\u00e3o (Barbrook & Cameron)<\/strong>
\nA discuss\u00e3o sobre regular ou n\u00e3o a internet, uso de aplicativos, dados em redes sociais e outras no mundo intern\u00e9tico ainda engatinha no Brasil, mas tem sido uma das frentes mais debatidas nos \u00faltimos tempos ao redor do mundo. Alugar um quarto por meio do AirBnB, por exemplo, estaria menos relacionado a pr\u00e1ticas de consumo coletivo e consciente ou \u00e0 cria\u00e7\u00e3o de novos la\u00e7os de confian\u00e7a e muito mais ao consumo de um bem por um pre\u00e7o mais baixo e, claro, ao lucro da transa\u00e7\u00e3o comercial. Na Fran\u00e7a, h\u00e1 uma lei,
aprovada no primeiro semestre de 2019,<\/a> que exigir\u00e1 o pagamento de 3% sobre a receita que Google, Facebook e Apple, entre outras gigantes do Vale do Sil\u00edcio, tiverem em seu territ\u00f3rio. Barbrook e Cameron falava disso j\u00e1 ao final de “A Ideologia Californiana”, em 1995:<\/p>\n

\n

“O futuro digital ser\u00e1 um h\u00edbrido de interven\u00e7\u00e3o estatal, empreendedorismo capitalista e cultura fa\u00e7a-voc\u00ea-mesmo. Decisivamente, se o estado puder fomentar o desenvolvimento da hiperm\u00eddia, a\u00e7\u00f5es conscientes poderiam tamb\u00e9m ser tomadas para evitar o surgimento do apartheid social entre os \u201cricos de informa\u00e7\u00e3o\u201d e os \u201cpobres de informa\u00e7\u00e3o\u201d.<\/p>\n<\/blockquote>\n

_ Abrir as caixas-pretas<\/strong> (hackers);<\/strong>
\nAs linhas de fuga para muitos dos caminhos dist\u00f3picos que nos encontramos hoje, em \u00e9poca de ressaca da internet, passa por nos tornarmos uma potente multid\u00e3o em busca de abrir as caixas-pretas da tecnologia e entender como se d\u00e1 essa louca composi\u00e7\u00e3o humana+objetos que nos causa esperan\u00e7a e sofrimento, depress\u00e3o e euforia, liberdade e pris\u00e3o.
Algo que hackers buscam<\/a> fazer, reparadores tamb\u00e9m<\/a>, como j\u00e1 comentamos e escrevemos.<\/p>\n

_ Ressensibilizar a humanidade (Bifo)<\/strong>
\nInfluenciados pela recente leitura do nem t\u00e3o recente “
Depois do Futuro<\/a>” (2009, edi\u00e7\u00e3o brasileira de 2019), de Franco Berardi “Bifo”, incorporamos a ideia do fil\u00f3sofo italiano.<\/p>\n

\n

“Podemos levantar a hip\u00f3tese de uma rela\u00e7\u00e3o direta entre a expans\u00e3o da infoesfera, a acelera\u00e7\u00e3o dos est\u00edmulos, das solicita\u00e7\u00f5es nervosas e dos tempos de resposta cognitiva, e a desintegra\u00e7\u00e3o da pel\u00edcula sens\u00edvel que permite ao seres humanos entender o que n\u00e3o pode ser verbalizado, reduzido a sinais codificados?” (p.164)
\n“Sentimos-nos presos em uma armadilha de automatismos tecnolingu\u00edsticos, as finan\u00e7as, a competi\u00e7\u00e3o global, a exalta\u00e7\u00e3o militar. Mas o presente \u00e9 mais rico que o formato que o capital imp\u00f5e, e as muitas possibilidades inscritas no presente n\u00e3o s\u00e3o canceladas, embora no momento pare\u00e7am inertes”. (p.183)<\/p>\n<\/blockquote>\n

_ Autonomia, criptografia, cuidados digitais (criptopunks\/anarquistas);<\/strong>
\nSaber lidar com as tecnologias que nos rodeiam, n\u00e3o perder de vista o v\u00ednculo entre processo e produto, mat\u00e9ria-prima e forma final, compreender os meandros do fazer e da diferen\u00e7a, eis um bom programa de vida & a\u00e7\u00e3o. Como diz Bifo em seu Manifesto P\u00f3s-Futurista:<\/p>\n

“Afirmamos que a grandiosidade do mundo enriqueceu-se com uma beleza nova, a beleza da autonomia. Cada um tem seu ritmo e ningu\u00e9m deve ser obrigado a correr em velocidade uniforme; sobretudo, n\u00e3o podem mais desempenhar a tarefa para a qual foram concebidos. A velocidade se tornou lenta. Os autom\u00f3veis est\u00e3o im\u00f3veis como est\u00fapidas tartarugas no tr\u00e1fego das cidades. Apenas a lentid\u00e3o \u00e9 veloz.”<\/p><\/blockquote>\n

_ Politizar as tecnologias;<\/strong>
\nSignifica uma combina\u00e7\u00e3o: abrir as caixas-pretas, ver como funciona, como se monta, como se reproduz, como se transforma e perceber que a pol\u00edtica est\u00e1 nos embutidas em c\u00f3digos, em vieses que reproduzem preconceitos e desinforma\u00e7\u00e3o generalizada, na elabora\u00e7\u00e3o de algoritmos que funcionam com mais inputs<\/em>, seja eles \u00f3dios destilados ou fake news absurdas. Politizar as tecnologias \u00e9 perceber isso, tamb\u00e9m tentar modificar, agir para tomar os meios de produ\u00e7\u00e3o – ou pelo menos hacke\u00e1-los.<\/p>\n

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