{"id":12855,"date":"2019-06-14T17:00:11","date_gmt":"2019-06-14T17:00:11","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=12855"},"modified":"2019-06-14T17:00:11","modified_gmt":"2019-06-14T17:00:11","slug":"ambiente-digital-de-difusao-por-onde-circula-a-cultura-online","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2019\/06\/14\/ambiente-digital-de-difusao-por-onde-circula-a-cultura-online\/","title":{"rendered":"Ambiente digital de difus\u00e3o: por onde circula a cultura online?"},"content":{"rendered":"
*Fizemos esse texto eu, Leonardo Foletto, editor do BaixaCultura, e Andr\u00e9 Deak, diretor do Liquid Media Lab<\/a>, professor da ESPM-SP e parceiro de longa data na CCD em SP, sob encomenda para um livro de uma pesquisa chamada “Panorama Setorial da Cultura Brasileira 2017\/2018”. A proposta era discutir principalmente a circula\u00e7\u00e3o da cultura na internet nas \u00faltimas d\u00e9cadas, sobretudo dos 2000 pra c\u00e1. Fizemos ent\u00e3o um panorama particular e afetivo de plataformas, servi\u00e7os e redes por onde a cultura digital circulou nesses tempos. Nada muito sistem\u00e1tico e r\u00edgido, mas bem apurado e com fontes pra tudo. Ficou grand\u00e3o, saiu no livro*, mas tamb\u00e9m est\u00e1 agora no site e aqui<\/a>. No princ\u00edpio da web, eram os sites. Uma das coisas mais interessantes em 1994 era visitar o endere\u00e7o das enciclop\u00e9dias, como a Barsa ou a Britannica, e perceber que n\u00e3o era mais necess\u00e1rio ter uma parede cheia de livros gigantes, capa dura, pesados. Nove em cada dez reportagens diziam que ent\u00e3o todo aquele conte\u00fado estava \u00e0 dist\u00e2ncia de um clique.<\/p>\n Passados dez anos, no in\u00edcio do s\u00e9culo 21, e j\u00e1 estava claro que qualquer institui\u00e7\u00e3o ou empresa que n\u00e3o tivesse um site n\u00e3o existiria. Ou melhor, n\u00e3o apareceria nas buscas, e n\u00e3o seria encontrada, portanto\u200a\u2014\u200ao que dava no mesmo que n\u00e3o existir. Foi quando museus e institutos culturais come\u00e7aram a tratar das suas fachadas digitais, com mais ou menos afinco. Alguns acervos levariam ainda mais de uma d\u00e9cada para entrar na rede, sendo que a maioria deles segue ainda hoje sem ter nem mesmo um projeto de digitaliza\u00e7\u00e3o. Na verdade, a situa\u00e7\u00e3o de pen\u00faria dos museus \u00e9 bastante conhecida, mesmo antes de o Museu Nacional do Rio de Janeiro ser reduzido \u00e0 cinzas em setembro de 2018<\/a>.<\/p>\n De qualquer forma, a cultura nunca circulou apenas dentro de museus, institutos culturais e enciclop\u00e9dias, mas nos lugares mais diversos. Durante a pavimenta\u00e7\u00e3o digital da internet, conforme a infraestrutura era constru\u00edda, a cultura tamb\u00e9m se mostrava em todos os cantos poss\u00edveis. Nesse texto trazemos detalhes de alguns desses cantos, em especial aqueles que que milhares de pessoas escolheram como os seus espa\u00e7os para consumir, produzir e fazer circular cultura ao longo dos pouco mais de 20 anos de internet comercial no mundo. Acreditamos que contar suas hist\u00f3rias nos permite entender melhor como se deu o impacto de produzir e consumir cultura com a jun\u00e7\u00e3o das tecnologias digitais e a rede mundial dos computadores.<\/p>\n WIKIPEDIA<\/strong><\/p>\n S\u00e3o poucos os websites que foram t\u00e3o discutidos e que geraram tanto debate sobre quebras de paradigmas quanto aquele criado por Jimmy Wales e Larry Sanger em janeiro de 2001. Em 2018 a Wikipedia tem mais de 43 milh\u00f5es de artigos, sendo mais de 1 milh\u00e3o deles em portugu\u00eas, o que nos coloca apenas no 15\u00ba entre 298 idiomas em termos de quantidade de artigos<\/a>. Em 2014, calcularam que seriam necess\u00e1rias mais de 1 milh\u00e3o de p\u00e1ginas, divididas em 1.000 volumes de 1.200 p\u00e1ginas cada, para imprimir o conte\u00fado que estava l\u00e1\u200a\u2014\u200aocupando cerca de 80 metros de estantes. A \u00faltima edi\u00e7\u00e3o em ingl\u00eas da Enciclop\u00e9dia Britannica foi distribu\u00edda em 32 volumes com cerca de mil p\u00e1ginas cada<\/a>.<\/p>\n Muitos anos foram gastos em faculdades de jornalismo e metros de p\u00e1ginas de revistas e jornais discutiram se o conte\u00fado da Wikipedia era confi\u00e1vel, e se seria uma enciclop\u00e9dia melhor ou pior que uma Britannica, em que ocorre a tradicional curadoria e revis\u00e3o por pares acad\u00eamicos. Em 2006 a revista Nature<\/em> publicou o primeiro estudo em que comparava as duas enciclop\u00e9dias, observando 42 artigos cient\u00edficos de acordo com os padr\u00f5es mais elevados, e concluindo que \u201ca diferen\u00e7a de acuidade entre as duas enciclop\u00e9dias n\u00e3o era particularmente grande\u201d (BENKLER, Yochai, p.71 de “The Wealth of Networks” – PDF aqui<\/a>).<\/p>\n O debate que at\u00e9 hoje \u00e0s vezes se escuta \u00e9 que \u201cn\u00e3o s\u00e3o profissionais que editam a Wikipedia\u201d. No Brasil, por conta do debate sobre o fim da necessidade do diploma de jornalismo para exercer profissionalmente a fun\u00e7\u00e3o, tamb\u00e9m circulou esse debate com o mesmo moto<\/em>: \u201cn\u00e3o s\u00e3o jornalistas profissionais que est\u00e3o produzindo essas not\u00edcias\u201d. Hoje, a defesa do \u201cprofissional\u201d em detrimento do \u201camador\u201d j\u00e1 n\u00e3o est\u00e1 na lista de prioridades do debate. No caso da Wikipedia, ainda, uma das conclus\u00f5es mais interessantes \u00e9 a de que se trata n\u00e3o de um produto, mas de um processo<\/a>. Com sistemas complexos de debate sobre a validade das revis\u00f5es, os artigos est\u00e3o o tempo todo sendo reescritos e revisados. Ningu\u00e9m duvida hoje que a Wikipedia seja um ponto crucial de distribui\u00e7\u00e3o de cultura, normalmente o primeiro lugar onde estudantes encontram informa\u00e7\u00f5es sobre qualquer coisa.<\/p>\n O fato \u00e9 que a possibilidade da produ\u00e7\u00e3o colaborativa, coletiva, e a facilidade com que os meios de produ\u00e7\u00e3o e distribui\u00e7\u00e3o cresceram nos primeiros 10 anos da web fizeram com que conte\u00fados culturais circulassem muito mais livremente do que jamais haviam circulado antes. Clay Shirky sintetizou bem em “Here Comes Everybody<\/a>” (p.40, 2008) : \u201cO futuro que a internet apresentou \u00e9 a publica\u00e7\u00e3o em massa de conte\u00fados amadores, o que mudou o modo de compreender o que deveria ou n\u00e3o ser publicado. Antes, se a pergunta era \u2018por que publicar isso?\u2019, agora passou a ser \u2018por que n\u00e3o publicar isso?\u2019\u201d<\/p>\n Esse fato mudou o cen\u00e1rio e o mercado de maneira bastante dr\u00e1stica. Jornais, outro \u00edcone da cultura, antes tidos como o \u201cped\u00e1gio\u201d entre a informa\u00e7\u00e3o e o leitor, perceberam que cedo ou tarde teriam que rever conceitos, porque os anunciantes n\u00e3o mais necessariamente teriam que colocar suas propagandas ali para serem vistos. N\u00e3o demorou muito para a crise financeira chegar: \u201co Google deve ficar com 42% do mercado de an\u00fancios digitais em 2018 nos Estados Unidos; o Facebook, a concorr\u00eancia mais pr\u00f3xima, deve ficar com 23% do mercado de an\u00fancios digitais\u201d, segundo o Washington Post<\/a>. Enquanto isso, os investimentos em an\u00fancios impressos\u200a\u2014\u200ae mesmo nos digitais, em empresas de jornalismo\u200a\u2014\u200aseguem em queda. O New York Times, grande par\u00e2metro para a imprensa mundial, que fez um movimento em dire\u00e7\u00e3o a assinaturas digitais, anunciou em 2018 queda de mais 10% nos an\u00fancios<\/a>. E, apesar de ter funcionado o modelo de paywall para o NYT, isso n\u00e3o quer dizer que as pessoas estejam dispostas de modo geral a bancar o jornalismo em qualquer parte do mundo com o pr\u00f3prio bolso. Conforme apostava em 2009 Chris Anderson em “Free – o Futuro dos Pre\u00e7os<\/a>“, \u201cse \u00e9 digital, cedo ou tarde vai ser gr\u00e1tis\u201d.\u00b9\u2070<\/p>\n Praticamente ao mesmo tempo em que ocorria o impacto do digital nos meios impressos, com a livre circula\u00e7\u00e3o da informa\u00e7\u00e3o e da cultura por cabos ainda sem banda larga disseminada (o 3G chegaria apenas na segunda metade da primeira d\u00e9cada de 2000, o 4G no in\u00edcio da d\u00e9cada de 2010), e com os celulares inteligentes tamb\u00e9m no in\u00edcio de seu processo de conquista mundial dos mercados (o primeiro Iphone \u00e9 de 2007), vimos outro mercado cultural sofrer um abalo s\u00edsmico que mudaria os rumos de uma cadeia produtiva inteira. E o nome deste terremoto em espec\u00edfico era Napster.<\/p>\n NAPSTER, O PRIMEIRO DESAFIANTE DO COPYRIGHT NA INTERNET<\/strong><\/p>\n Criado por Shawn Fanning e Sean Parker como um programa de compartilhamento de arquivos em rede P2P em 1999, o Napster protagonizou a primeira luta importante entre a ind\u00fastria fonogr\u00e1fica e as ent\u00e3o nascentes iniciativas de distribui\u00e7\u00e3o de informa\u00e7\u00e3o (e cultura) na internet. A sacada de Fanning e Parker (que depois seria um dos primeiros acionistas do Facebook e ganharia a cara de Justin Timberlake no filme \u201cA Rede Social\u201d, de 2010) foi criar um software de interface gr\u00e1fica amig\u00e1vel, facilmente baix\u00e1vel nos computadores rudimentares da \u00e9poca, para que qualquer pessoa pudesse buscar suas m\u00fasicas, em MP3, por nome do artista, disco, faixas e at\u00e9 g\u00eaneros inteiros, e fazer o download <\/em>de uma c\u00f3pia para suas m\u00e1quinas. Era o velho h\u00e1bito de compartilhar m\u00fasicas, popularizado desde as fitas K7, levado \u00e0 uma escala global sem precedentes, facilitado por um formato que permitia ao mesmo tempo compartilhar a m\u00fasica e mant\u00ea-la consigo nos HDs, CDs e disquetes da \u00e9poca. Uma m\u00fasica em MP3 baixada no Napster era um \u201cbem n\u00e3o-rival\u201d [Imre Simon e Miguel Said Vieira, desenvolveram um conceito que detalha melhor este exemplo: \u201crossio n\u00e3o-rival<\/a>\u201d<\/em>], que poderia coexistir em diferentes c\u00f3pias e ser obtida de forma gratuita, o que quebrava o sistema industrial que as grandes gravadoras mantiveram como o seu modelo de comercializa\u00e7\u00e3o de produtos durante d\u00e9cadas, ao mesmo tempo em que n\u00e3o remunerava os autores das m\u00fasicas agora encontradas em diversos computadores de jovens mundo afora. Problema na certa.<\/p>\n Um ano depois de ter sido criado, em 2000, o Napster se tornou uma empresa, com diversas vers\u00f5es de seu software sendo lan\u00e7adas quase mensalmente, n\u00famero de usu\u00e1rios quadruplicando a cada semana, chegando a um pico de 8 milh\u00f5es de pessoas conectadas simultaneamente. Mesmo com o sucesso obtido, os processos das gravadoras por quebra de copyright fizeram o Napster fechar j\u00e1 em 2001. Um dos mais not\u00f3rios desses processos foi o do Metallica, com seu baterista Lars Ulrich \u00e0 frente, que manifestou diversas vezes sua indigna\u00e7\u00e3o com as pessoas que escutavam suas m\u00fasicas sem pagar, embora ele mesmo tenha assumido que fez isso alguns anos depois, como escrevemos aqui no BaixaCultura em mar\u00e7o de 2019<\/a>.<\/p>\n Apesar do site de trocas ter perdido a batalha judicial, as pessoas passaram a considerar que a troca\u200a\u2014\u200aou o download\u200a\u2014\u200ade m\u00fasicas era algo t\u00e3o natural quanto navegar na internet. Outra coisa ficou clara nesse processo: quando os donos do Napster disseram ser capazes de impedir 99,4% de trocas de materiais protegidos por leis de direitos autorais, a outra parte (as gravadoras) disse que n\u00e3o era o bastante. Lawrence Lessig, advogado, um dos criadores de um conjunto de licen\u00e7as mais flex\u00edveis que o direito autoral (o Creative Commons<\/a>), notou que \u201cse 99,4% n\u00e3o \u00e9 o bastante, ent\u00e3o essa \u00e9 uma guerra contra o compartilhamento de arquivos e n\u00e3o a favor do direito autoral\u201d, como escreveu no livro “Free Culture”, de 2006, traduzido no Brasil como “Cultura Livre – Como a grande m\u00eddia usa a tecnologia e a lei para controlar a cultura e bloquear a criatividade<\/em><\/a>“.<\/p>\n Lessig esteve no Brasil algumas vezes e foi pr\u00f3ximo da gest\u00e3o de Gilberto Gil no Minist\u00e9rio da Cultura, entre 2003 e 2008, durante o governo Lula. A licen\u00e7a que ele foi um dos inventores, Creative Commons, \u00e9 uma varia\u00e7\u00e3o do direito autoral que permite, de antem\u00e3o, que outros utilizem a obra criada, sem permitir a a\u00e7\u00e3o de intermedi\u00e1rios legais. Foi o conjunto de licen\u00e7as que mais se popularizou mundo afora baseada no copyleft<\/em><\/a>, um conceito jur\u00eddico usado pelo criador do movimento do software livre, Richard Stallman, para permitir que determinadas obras, como softwares, continuem livres.<\/p>\n Poucos sabem que o Brasil \u00e9 pioneiro na mudan\u00e7a ocorrida em rela\u00e7\u00e3o ao direito autoral na m\u00fasica, ao compartilhamento de arquivos, ao reposicionamento mundial da ind\u00fastria musical. Em Bel\u00e9m do Par\u00e1, o tecnobrega, que surge a partir das tecnologias de sampler, uma mistura do brega tradicional com batidas eletr\u00f4nicas, desde o in\u00edcio abriu m\u00e3o de fazer dinheiro vendendo CDs. Em nome da livre circula\u00e7\u00e3o, em feiras de CDs \u201cpiratas\u201d distribu\u00eddos pelos pr\u00f3prios autores para que camel\u00f4s vendessem a R$ 1 ou R$ 2, os m\u00fasicos estavam mais interessados na forma\u00e7\u00e3o de p\u00fablico. Assim, conhecidos por uma massa de f\u00e3s, podiam depois vender ingressos para shows e ganhar com apresenta\u00e7\u00f5es em v\u00e1rias cidades, ao inv\u00e9s de tentar proteger sua obra e ganhar com o produto CD. Quanto mais circulasse a m\u00fasica, melhor.<\/p>\n \u201cA aus\u00eancia de aplica\u00e7\u00e3o de leis de propriedade intelectual contribui fortemente para a constru\u00e7\u00e3o de um mercado com din\u00e2mica muito diferente daquele da ind\u00fastria cultural formal e tradicional\u201d.<\/p><\/blockquote>\n apontavam os pesquisadores Ronaldo Lemos e Oona Castro em livro de 2008 (Tecnobrega: O Par\u00e1 reinventando o neg\u00f3cio da m\u00fasica<\/a>), resultado de pesquisa de anos anteriores.<\/p>\n Um ano antes, 2007, dois fatos importantes ocorreram na hist\u00f3ria da ind\u00fastria musical: o Radiohead lan\u00e7ou seu disco \u201cIn Rainbows\u201d direto na rede para download no modelo \u201cpague-quanto-quiser\u201d, e arrecadou mais do que se vendesse ao pre\u00e7o normal da \u00e9poca; e Madonna, ao perceber que a venda de CDs n\u00e3o sustentaria mais os artistas como no s\u00e9culo passado, assinou um contrato \u201csem precedentes\u201d com uma produtora de shows, passando a se importar mais com a venda de ingressos do que com a venda de m\u00fasica.<\/p>\n Depois de a m\u00fasica se tornar livre, e com uma banda mais larga, que j\u00e1 permitia o download de arquivos maiores, foi a vez de outra ind\u00fastria ver seus pilares abalados: as produtoras de v\u00eddeo. Mas Hollywood e toda a multimilion\u00e1ria ind\u00fastria do cinema norte-americano n\u00e3o ficariam sentados vendo seus conte\u00fados escorrerem pelos torrents.<\/p>\n PIRATE BAY, A NAVE-M\u00c3O DOS TORRENTS<\/strong><\/p>\n J\u00e1 \u00e9 razoavelmente conhecida a hist\u00f3ria de que a Disney e a Universal Studios tentaram impedir o desenvolvimento do v\u00eddeo cassete, sob a alega\u00e7\u00e3o de que isso iria acabar com o copyright quando as pessoas gravassem programas de TV (aqui em detalhes<\/a>). O caso Betamax, como ficou conhecido, foi vencido pela Sony, dona da nova tecnologia, em 1984, e nem a TV nem o cinema acabaram ent\u00e3o.<\/p>\n Assim, quando surgiu a nova tecnologia chamada torrent<\/em>, uma evolu\u00e7\u00e3o do P2P que agora quebrava os arquivos em partes m\u00ednimas e permitia a troca n\u00e3o apenas do arquivo completo, mas mesmo das pequenas partes sem que o usu\u00e1rio tivesse o arquivo completo, tornando o processo muito mais eficaz, um conglomerado de empresas de entretenimento mundiais, entre elas a pr\u00f3pria Sony, entrou com um processo contra a Ba\u00eda Pirata por quebra de copyright<\/em> de milhares de arquivos de produtos culturais. Em 2009, na Su\u00e9cia, os respons\u00e1veis que haviam criado e mantinham o site de trocas de torrents The Pirate Bay<\/em> fazia seis anos perderam a causa, receberam uma multa recorde (8 milh\u00f5es de d\u00f3lares) e foram para a pris\u00e3o (o que muitos consideraram bastante fora do comum e exagerado\u200a\u2014\u200ao tribunal virou um filme document\u00e1rio, The Pirate Bay AFK – Away From Keyboard<\/em>, dispon\u00edvel no YouTube<\/a>).<\/p>\n Por\u00e9m, assim como o Napster, podemos dizer que venceram a \u201cbatalha na hist\u00f3ria\u201d: as trocas de arquivos torrent<\/em> continuam, ainda que em bem menor n\u00famero do que antes, e mesmo o The Pirate Bay\u00a0<\/em>, o site que agregava links mas n\u00e3o hospedava os conte\u00fados protegidos por copyright alegados, se mant\u00e9m na ativa, assim como diversos outros buscadores de torrents<\/em>. Os respons\u00e1veis pelo site sueco, Frederik Neij, Gottfrid Svartholm Warg, Carl Lundstrom, Peter Sunde, est\u00e3o soltos e tocando outros projetos\u200a\u2014\u200aSunde, inclusive, esteve muitas vezes no Brasil em eventos de cultura e software livre, como o F\u00f3rum internacional do Software Livre e o Conex\u00f5es Globais, em Porto Alegre, al\u00e9m de ter criado, ainda em 2010, uma promissora plataforma de micropagamentos, Flattr<\/em><\/a>. Nos \u00faltimos anos, os torrents<\/em> entraram numa nova era tecnol\u00f3gica: o streaming de arquivos. N\u00e3o apenas a troca das partes se tornou poss\u00edvel, mas assistir a um filme em torrent<\/em>, sem nem mesmo ter o arquivo completo baixado em seu computador, j\u00e1 \u00e9 poss\u00edvel em algumas plataformas que mostraremos a seguir. Mas antes do streaming por torrents, vejamos os distribuidores de v\u00eddeo online que chegaram primeiro.<\/p>\n YOUTUBE, UM GIGANTE PARADIGM\u00c1TICO NO CONSUMO ONLINE<\/strong><\/p>\n Surgido em 2005, foi criado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, ent\u00e3o funcion\u00e1rios da PayPal<\/em> que vislumbraram o crescimento da circula\u00e7\u00e3o de v\u00eddeos na rede a partir do aumento da velocidade de acesso \u00e0 internet e a dos dispositivos m\u00f3veis para elaborar uma plataforma que qualquer um pudesse publicar seu v\u00eddeo de forma f\u00e1cil. Foi comprado pelo Google um ano depois por US$ 1,65 bilh\u00f5es, um investimento gigantesco que consolidou o site como a principal plataforma de exibi\u00e7\u00e3o e compartilhamento de v\u00eddeos na internet e uma \u201crevolu\u00e7\u00e3o na cultura participativa na internet\u201d, como afirmaram Jean Burgess e Joshua Green em “YouTube e a Revolu\u00e7\u00e3o Digital: como o maior fen\u00f4meno da cultura participativa transformou a m\u00eddia e a sociedade<\/a>“, De 2009. \u00c9 dif\u00edcil de medir o tamanho da influ\u00eancia do YouTube na produ\u00e7\u00e3o e no consumo de cultura online, mas alguns dados s\u00e3o importantes: \u00e9 o 3\u00ba site mais acessado via web no Brasil em setembro de 2018 e o 2\u00ba do mundo nesse mesmo per\u00edodo, segundo dados da Alexa<\/a>, empresa ligada \u00e0 Amazon\u2014\u200aos primeiros, em ambos os casos, \u00e9 o Google (.com<\/em> em 1\u00ba lugar mundial e 2\u00ba no Brasil, e\u00a0.com.br<\/em> o 1\u00ba aqui). O Android<\/em>, sistema operacional mais utilizado em smartphones <\/em>no mundo, vem em sua instala\u00e7\u00e3o padr\u00e3o com o YouTube, o que significa que 85,9% dos dispositivos m\u00f3veis vendidos no Brasil hoje trazem a plataforma de v\u00eddeos do Google, segundo dados do CanalTech<\/a>.<\/p>\n NETFLIX, A REINVEN\u00c7\u00c3O DA IND\u00daSTRIA NA CONSOLIDA\u00c7\u00c3O DO STREAMING<\/strong><\/p>\n Talvez poucos se lembrem, mas a Netflix come\u00e7ou, ainda em 1997, como um servi\u00e7o de aluguel de filmes em que voc\u00ea levava em sua casa os DVDs e depois retirava, tal como uma locadora. Durou 10 anos e em 2007 passou a oferecer streaming de conte\u00fados diversos, o in\u00edcio do que seria hoje um acervo online com mais de 124 milh\u00f5es de assinantes no mundo<\/a>, que ajudou a enterrou de vez o modelo de neg\u00f3cio de aluguel de filmes das videoocadoras\u200a\u2014\u200ao Napster e <\/em>os torrents <\/em>j\u00e1 haviam come\u00e7ado este t\u00e9rmino, lembremos.<\/p>\n Em determinado momento, o Netflix percebeu que seria mais barato criar conte\u00fado p\u0155oprio do que licenciar conte\u00fados com direitos autorais pr\u00e9-existentes para o mundo todo. Assim, come\u00e7ou a investir boa parte da sua receita em novas produ\u00e7\u00f5es, com um detalhe: a escolha do que seria produzido \u00e9 feita com base nas previs\u00f5es do que seus usu\u00e1rios j\u00e1 gostariam de ver, mas ainda n\u00e3o existia na plataforma. O primeiro grande exemplo de sucesso dessa estrat\u00e9gia foi \u201cHouse of Cards\u201d, uma s\u00e9rie sobre os bastidores da pol\u00edtica institucional dos Estados Unidos lan\u00e7ada em fevereiro de 2013. Havia demanda por s\u00e9ries sobre pol\u00edtica, com cenas de sexo, algo de viol\u00eancia. Claro, o algoritmo criado para coletar, processar e analisar os dados dos interesses dos assinantes n\u00e3o determina o sucesso de uma s\u00e9rie\u200a\u2014\u200amas pode auxiliar ao menos a atirar no lugar certo. \u201cStranger Things\u201d, s\u00e9rie original Netflix lan\u00e7ada em julho de 2016, traz at\u00e9 hoje especula\u00e7\u00f5es (aqui uma delas<\/a>) de que teria sido o primeiro caso de um produto audiovisual produzido a partir dos algoritmos de recomenda\u00e7\u00e3o da plataforma, tamanho a quantidade de refer\u00eancias (dos anos 1980, sobretudo) que fizeram a s\u00e9rie cair no gosto do p\u00fablico.<\/p>\n O fato \u00e9 que, em 2018, podemos dizer que a Netflix \u00e9 um dos principais lugares que as pessoas v\u00e3o na internet (na web<\/em> ou nos aplicativos em smartphones<\/em>, tablets,<\/em> smart TVs<\/em>, ) para consumir cultura online. Virou a principal refer\u00eancia quando se fala de plataformas de streaming de conte\u00fado, ainda que esteja enfrentado a concorr\u00eancia, cada vez mais acirrada, de plataformas como Hulu<\/em> e Amazon Prime<\/em>, e das criadas pelos outroras somentes canais de televis\u00e3o, como Globo (Globo Play<\/em>), HBO (HBO Go<\/em>), ou operadoras de TV a Cabo (NET Now<\/em>, Globosat Play<\/em>), sem falar do j\u00e1 comentado YouTube, da Google Play<\/em> e da Apple TV<\/em>.<\/p>\n Para descren\u00e7a daqueles que sempre baixaram seus conte\u00fados na internet (como os autores desse ensaio), o streaming<\/em> virou realidade e n\u00e3o apenas uma tend\u00eancia vaga que se imaginava com incredulidade em 2008, 2009. Milhares de fam\u00edlias de classe m\u00e9dia no Brasil tem o valor mensal para ter acesso \u00e0s produ\u00e7\u00f5es da plataforma como um dos gastos cotidianos da casa, como luz, \u00e1gua e internet, para n\u00e3o mencionar aqueles v\u00e1rios que dividem uma \u00fanica conta, \u00e0s vezes n\u00e3o necessariamente de forma legal. A ind\u00fastria, e especialmente o Netflix, soube ouvir uma demanda de quem usava os torrents<\/em> para ter acesso \u00e0 diversas produ\u00e7\u00f5es culturais mundiais: fa\u00e7a melhor que eu pago<\/em><\/a>. Criaram uma plataforma com muitos produtos \u00e0 disposi\u00e7\u00e3o de forma f\u00e1cil, numa interface amig\u00e1vel, j\u00e1 legendados e que funciona em diversos dispositivos, e com isso conseguiram tanto ganhar aqueles que tinham pregui\u00e7a de baixar um filme e suas legendas como conseguiram legalizar o consumo cultural online, j\u00e1 que tudo aquilo que est\u00e1 no Netflix<\/em> e seus concorrentes \u00e9 disponibilizado de forma legal. Uma jogada de mestre, que contou com o consider\u00e1vel crescimento da velocidade na rede, com fibra \u00f3ticas capazes de entregar mais de 100 Megabits por segundo de download e upload para muitos lugares do mundo, inclusive no Brasil.<\/p>\n Al\u00e9m de ser o principal servi\u00e7o de streaming de produ\u00e7\u00e3o audiovisual no mundo, o Netflix tamb\u00e9m influenciou outros projetos menores e igualmente importantes no Brasil.<\/p>\n O primeiro \u00e9 o Afroflix<\/em><\/a>, plataforma criada em outubro de 2015 traz produ\u00e7\u00f5es que possuem pelo menos uma \u00e1rea de atua\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica\/art\u00edstica assinada por uma pessoa negra. S\u00e3o filmes, s\u00e9ries, web s\u00e9ries, programas diversos, vlogs e clipes que s\u00e3o produzidos ou escritos ou dirigidos ou protagonizados por pessoas negras. Por enquanto s\u00f3 audiovisuais brasileiros. E o segundo \u00e9 o Libreflix<\/em><\/a>, projeto criado pelo jovem programador Guilmour Rossi, de Curitiba, uma plataforma de streaming<\/em> aberta e colaborativa \u201cque re\u00fane produ\u00e7\u00f5es audiovisuais independentes, de livre exibi\u00e7\u00e3o e que fazem pensar\u201d numa interface parecida com a de sua principal influ\u00eancia. A proposta do Libreflix<\/em>, como eles mesmo comentam em seu FAQ<\/em>, est\u00e1 diretamente ligada com a ideia de cultura livre, que defende a liberdade para modificar e principalmente distribuir obras criativas. Criado em 2017, o projeto n\u00e3o deixa de ser uma hackeamento <\/em>do Netflix e da pr\u00f3pria ind\u00fastria do entretenimento online; se estes, como falamos, souberam bem se reinventar e legalizar o consumo audiovisual online na rede, o Libreflix<\/em> mostra que os projetos desviantes e em prol da distribui\u00e7\u00e3o livre da informa\u00e7\u00e3o sempre v\u00e3o existir enquanto houver internet.<\/p>\n POP CORN TIME E STREMIO, OS TORRENTS AGORA TAMB\u00c9M S\u00c3O STREAMING<\/strong><\/p>\n Pop Corn Time \u00e9 um software livre, criado em 2014, com uma interface simples que permite assistir filmes ou s\u00e9ries compartilhando arquivos, mas sem necessariamente deix\u00e1-los no seu computador ap\u00f3s serem vistos. Os pr\u00f3prios desenvolvedores tiraram o software de circula\u00e7\u00e3o quando foram amea\u00e7ados pela ind\u00fastria do cinema, mas como era um software livre, foi copiado e replicado em in\u00fameras vers\u00f5es. Stremio<\/em> \u00e9 uma das vers\u00f5es, de 2016, que inclusive insere legendas de outros sites nos torrents.<\/p>\n Tanto uma quanto a outra representam uma outra forma de consumo e compartilhamento de produtos online: o streaming via torrents<\/em>. S\u00e3o sistemas automatizados que rastreiam as partes dos arquivos torrents<\/em> em diversos computadores mundo afora e que apresentam o arquivo completo para um usu\u00e1rio final a partir da soma das partes. \u00c9 a jun\u00e7\u00e3o do compartilhamento P2P com um player<\/em>\u200a\u2014\u200aum software de visualiza\u00e7\u00e3o de arquivos multim\u00eddia\u200a\u2014\u200anum \u00fanico produto, seja um site na web como um aplicativo a ser baixado em dispositivos m\u00f3veis. Uma solu\u00e7\u00e3o \u00e0 margem da legalidade, como os torrents<\/em>, mas com uma interface que lembra os melhores servi\u00e7os de streaming<\/em>, com os sistemas de recomenda\u00e7\u00e3o, a imagem dos cartazes dos filmes e s\u00e9ries e outras facilidades que n\u00e3o s\u00e3o encontradas quando se procura um arquivo para baixar nos buscadores de torrent<\/em>.<\/p>\n Entramos de fato num per\u00edodo de distribui\u00e7\u00e3o de \u00e1udio e v\u00eddeo em tempo real, sem a necessidade do download. Todas as perspectivas apontam que a transmiss\u00e3o de v\u00eddeo online \u00e9 o futuro, o tr\u00e1fego que mais aumenta na internet. Por exemplo: no Brasil, 84% das pessoas que usam internet assistem v\u00eddeos; entre estes, o consumo \u00e9 de 38 horas por semana. Sete em cada 10 brasileiros tem um smartphone, e quase 90% deles consome audiovisual no celular, segundo pesquisa do Google<\/a>. Produ\u00e7\u00e3o audiovisual, sem d\u00favida, \u00e9 a aposta para distribui\u00e7\u00e3o e consumo de cultura nos pr\u00f3ximos anos.<\/p>\n REDES SOCIAIS,\u00a0 DE COMUNIDADES DE NICHOS \u00c0 MANIPULA\u00c7\u00c3O MASSIVA PELOS ALGORITMOS Redes sociais existem desde que foi criado o mundo, mas as redes sociais online no Brasil tem um marco importante: o Orkut, uma plataforma que durou 10 anos\u200a\u2014\u200alan\u00e7ada em 2004, encerrada em 2014\u200a\u2014\u200ae que marcou a internet brasileira na primeira d\u00e9cada do s\u00e9culo XXI. Seu projetista chefe, Orkut B\u00fcy\u00fckk\u00f6kten, engenheiro turco do Google, pensou no p\u00fablico norte-americano, mas acertou em cheio no brasileiro. O Brasil chegou a 30 milh\u00f5es de usu\u00e1rios no auge da rede social, entre 2006 e 2009, antes de cair em vertiginosa queda com a ascens\u00e3o do Facebook, lan\u00e7ada em 2004 mas s\u00f3 popularizada para milh\u00f5es no final da d\u00e9cada passada. Uma hist\u00f3ria conhecida por pouca gente no Brasil \u00e9 que o estopim da explos\u00e3o do Orkut no pa\u00eds teve como respons\u00e1vel o ativista da internet livre\u200a\u2014\u200ae letrista da legend\u00e1ria banda Grateful Dead\u200a\u2014\u200aJohn Perry Barlow. Ocorre que, no in\u00edcio, como estrat\u00e9gia, s\u00f3 entrava na rede quem tinha um convite. Orkut deu 100 convites a Barlow, que distribuiu estes convites quase todos a brasileiros que ele conhecia<\/a>. A teoria de Barlow, um dos fundadores da Electronic Frontier Foundation<\/a>, \u00e9 que o Brasil seria uma sociedade em rede pronta para receber uma rede social, porque as redes sociais j\u00e1 existiriam no pa\u00eds de maneira anal\u00f3gica com muita for\u00e7a.<\/p>\n Sem entrar no m\u00e9rito da raz\u00e3o do brasileiro aderir com tanta vontade \u00e0s redes sociais, o fato \u00e9 que o Brasil tem um uso diferenciado das redes. Mergulhou no Orkut, e depois no Facebook, com milh\u00f5es de usu\u00e1rios que passam l\u00e1 mais horas do que outros pa\u00edses<\/a>.<\/p>\n Grupos de compartilhamento de produtos culturais, de discografias inteiras de artistas \u00e0s obras completas de fil\u00f3sofos, j\u00e1 foram um dos principais motivos que fizeram os brasileiros passarem horas nessas plataformas, em especial no Orkut, onde o grande fluxo de informa\u00e7\u00e3o se dava nos grupos, dos mais diversos assuntos poss\u00edveis, um mosaico de t\u00e3o incr\u00edveis diversidades que, na \u00e9poca que come\u00e7ou a queda da plataforma criada pelo engenheiro turco, em 2011, alguns pesquisadores, como o brasileiro Ronaldo Lemos, chegaram a levantar a possibilidade de salvar a mem\u00f3ria da plataforma dada \u00e0 sua import\u00e2ncia no Brasil. \u201cSe a nossa Biblioteca Nacional tiver um m\u00ednimo de vis\u00e3o e conex\u00e3o com o presente, deveria come\u00e7ar a agir j\u00e1. \u00c9 preciso preservar o conte\u00fado integral do Orkut, criar um espelho p\u00fablico do site que registrou boa parte do que aconteceu nessa incr\u00edvel d\u00e9cada passada\u201d, escreveu Lemos em “Salvem a Mem\u00f3ria do Orkut!<\/a>“. N\u00e3o houve interesse da Biblioteca Nacional nem de nenhuma outra institui\u00e7\u00e3o de mem\u00f3ria brasileira nem internacional, e o que circulou no Orkut l\u00e1 morreu.<\/p>\n A queda do Orkut e a ascens\u00e3o do Facebook como principal rede social mundial, em 2018 com a impressionante marca de mais de 2 bilh\u00f5es de usu\u00e1rios em todo o planeta, tamb\u00e9m marca o aumento de uma internet que, por falta de termo melhor, podemos chamar de \u201calgoritmizada\u201d. Com cada vez mais pessoas conectadas \u00e0 internet, mais rastros digitais foram sendo deixados, o que permitiu a cria\u00e7\u00e3o de algoritmos\u200a\u2014\u200aprocessos que automatizam outros processos, \u00e0 grosso modo\u200a\u2014\u200ade monitoramento, cruzamento e apresenta\u00e7\u00e3o de informa\u00e7\u00f5es de nosso comportamento online. O resultado dessa mudan\u00e7a \u00e9 amplamente conhecido: mais conforto para n\u00f3s, que n\u00e3o precisamos mais nos esfor\u00e7ar para encontrar produtos e informa\u00e7\u00e3o na rede, basta deixar as pr\u00f3prias plataformas sugerirem o que queremos a partir de nossos dados de navega\u00e7\u00e3o na web ou em aplicativos. E tamb\u00e9m mais facilidade para a manipula\u00e7\u00e3o de grandes massas de popula\u00e7\u00e3o atrav\u00e9s de m\u00e9todos psicol\u00f3gicos baseados no comportamento online dos indiv\u00edduos, vide o esc\u00e2ndalo da Cambridge Analytica, caso que mostrou ao mundo at\u00e9 que ponto o uso de big data\u200a\u2014\u200aoutro termo popularizado p\u00f3s-Orkut\u200a\u2014\u200apode ser usado para influenciar elei\u00e7\u00f5es, seja a de Donald Trump nos EUA ou o processo do Brexit <\/em>na Inglaterra<\/a>.<\/p>\n Vale lembrar que, simultaneamente ao desenvolvimento e \u00e0 massifica\u00e7\u00e3o dos smartphones vimos surgir tamb\u00e9m uma infinidade de aplicativos para celular, os chamados apps. Atualmente, o maior uso que se faz dos apps est\u00e1 diretamente relacionado a redes sociais ou varia\u00e7\u00f5es disso, grupos de troca de mensagens que podem ser considerados micro-redes sociais (\u00e0s vezes com centenas de pessoas). A lista dos apps mais populares em 2017 tanto para Android quanto Iphone, no mundo, feita pela Fortune, inclu\u00eda Whatsapp, Snapchat, YouTube, Facebook Messenger, Instagram, Facebook, Google Maps, Netflix, Spotify e Uber. Nos EUA, Twitter e Pinterest tamb\u00e9m integram a lista com o maior n\u00famero de usu\u00e1rios ativos em 2018<\/a>.<\/p>\n Para finalizar e resumir nossa discuss\u00e3o aqui, podemos dizer que a quest\u00e3o que d\u00e1 origem a este ensaio, \u201cpor onde circula a cultura na internet\u201d, talvez j\u00e1 n\u00e3o seja a maior preocupa\u00e7\u00e3o atual, no entanto. A cultura e a informa\u00e7\u00e3o em geral circulam mais pela internet do que jamais circularam antes, por m\u00faltiplos canais, produzidas em todas as partes, por todo mundo, com as mais variadas qualidades. Outras quest\u00f5es agora come\u00e7am a ser formuladas. Quando o acesso \u00e9 praticamente ilimitado, como encontrar qualidade? Como ter acesso \u00e0 diversidade, dentro dos filtros-bolha? Quem far\u00e1 a curadoria de tal massa cultural mundial? Quem programa os algoritmos que escolhem por voc\u00ea? Quem determina as sugest\u00f5es que ser\u00e3o oferecidas a voc\u00ea pelas intelig\u00eancias artificiais, e quais s\u00e3o os verdadeiros prop\u00f3sitos dessas sugest\u00f5es? S\u00e3o as perguntas que, em 2018, dominam as pesquisas acad\u00eamicas em m\u00faltiplas \u00e1reas (da computa\u00e7\u00e3o \u00e0 antropologia, da sociologia ao design) e dominam o notici\u00e1rio mundial, preocupando todos aqueles que se importam em escolher o que consomem na rede mais do que serem escolhidos pelos pr\u00f3prios produtos a serem consumidos.<\/p>\n
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\nO acesso \u00e0 produtos culturais via P2P \u00e9 uma pr\u00e1tica comum na rede h\u00e1 quase duas d\u00e9cadas, mas ainda considerada, em sua maior parte, ilegal, o que a faz ser mais subterr\u00e2nea do que outras e dif\u00edcil de ser quantific\u00e1vel, j\u00e1 que n\u00e3o h\u00e1 dados atualizados e precisos sobre a quantidade de pessoas que se utilizam dessa forma para consumir cultura online.<\/p>\n<\/div>\n<\/div>
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