{"id":12811,"date":"2019-05-16T12:18:52","date_gmt":"2019-05-16T12:18:52","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=12811"},"modified":"2019-05-16T12:18:52","modified_gmt":"2019-05-16T12:18:52","slug":"cryptorave-2019-e-a-distopia-ideologica-da-california","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2019\/05\/16\/cryptorave-2019-e-a-distopia-ideologica-da-california\/","title":{"rendered":"Cryptorave 2019 e a distopia ideol\u00f3gica da Calif\u00f3rnia"},"content":{"rendered":"
\"\"

Cr\u00e9dito: S\u00e9rgio Amadeu<\/p><\/div>\n

A Cryptorave 2019<\/a> ocorreu em S\u00e3o Paulo, dia 3 e 4 de maio, num local diferente dos \u00faltimos anos: a biblioteca M\u00e1rio de Andrade, pr\u00f3ximo ao Vale do Anhangaba\u00fa, bem no centro de S\u00e3o Paulo. Como nos \u00faltimos anos, teve uma programa\u00e7\u00e3o intensa e robusta – pra ter uma no\u00e7\u00e3o, acesse aqui ela completa<\/a>. O encerramento rolou tamb\u00e9m no dia 04 de maio, com o DJ Craca<\/a>. E ainda teve o after party da CryptoRave 2019, na Trackers, fester\u00ea que seguiu madrugada adentro no centr\u00e3o de SP com o projeto Dispers\u00e3o e muito Pure Data.<\/p>\n

Tr\u1ebds impress\u00f5es gerais dessa edi\u00e7\u00e3o:<\/p>\n

1. Muita gente em (quase) todas as atividades<\/strong>;
\nO fato da Biblioteca estar situada no centro de SP, pr\u00f3ximo de esta\u00e7\u00f5es de 3 linhas de metr\u00f4 e de outras tantas de \u00f4nibus ajudou. Tamb\u00e9m colaborou o fato do espa\u00e7o ser grudado em diversos outros locais de muito p\u00fablico, o que misturou p\u00fablicos – notoriamente no s\u00e1bado, onde no mesmo hall ocorria uma feira de publica\u00e7\u00f5es independentes de poesia. Nas \u00faltimas duas edi\u00e7\u00f5es n\u00e3o havia tanto movimento perto do local do evento, o que dessa vez ocorreu: \u00e9 como se a Crypto, na M\u00e1rio de Andrade, estivesse mais integrada \u00e0 cidade, o que pode ter propiciado a circula\u00e7\u00e3o de pessoas diferentes nos diversos espa\u00e7os de oficinas, debates e palestras. \u00c9 claro que ajudou a ter grande p\u00fablico a popularidade que o tema da tecnopol\u00edtica e da vigil\u00e2ncia tem ganhado nos \u00faltimos anos. E a credibilidade constru\u00edda pela organiza\u00e7\u00e3o do evento, que esse ano bateu recorde de valor (n\u00e3o de pessoas colaborando) arrecadado (94 K)
via financiamento coletivo<\/a>.<\/p>\n

Apesar das dificuldades para conseguir lugar, dada que o anterior (a Cinemateca Brasileira, palco da de 2018) cancelou pouco mais de 1 m\u00eas antes do evento, a escolha da Biblioteca nos pareceu acertada pelos motivos j\u00e1 falados. Os poucos problemas (de comunica\u00e7\u00e3o das altera\u00e7\u00f5es das salas, do calor em algumas delas) podem ser corrigidos com maior tempo de organiza\u00e7\u00e3o para a pr\u00f3xima edi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

2. Mais variedade de palestras filos\u00f3ficas, contextuais, hist\u00f3ricas;<\/strong>
\nEssa \u00e9 uma impress\u00e3o nossa e de algumas pessoas com quem conversamos: poderia ter tido mais discuss\u00f5es conceituais mais densas na programa\u00e7\u00e3o. \u00c9 uma impress\u00e3o que pode parecer pol\u00eamica e parcial, dado que trabalhamos justamente nessa seara de informa\u00e7\u00e3o e conhecimento sobre cultura livre e tecnopol\u00edtica, e \u00e9 mesmo parcial. Mas percebemos uma curiosidade genu\u00edna de muitas pessoas em saber mais sobre conceitos, pr\u00e1ticas e hist\u00f3rias ligadas \u00e0 vigil\u00e2ncia, criptografia, seguran\u00e7a digital, espionagem, tecnopol\u00edtica. Al\u00e9m das conversas com algumas pessoas durante e depois do evento, tomamos como base a nossa mesa de discuss\u00e3o sobre “A Ideologia Californiana”, que esteve lotada e com muita gente (nova) querendo saber mais sobre o termo, as hist\u00f3rias por tr\u00e1s desse debate e os conceitos que brotam dele (logo abaixo um relato mais detalhado da mesa). Dir\u00edamos que h\u00e1 um interesse em saber sobre as hist\u00f3rias das tecnologias, dos debates pol\u00edticos envolvendo as redes sociais e os aplicativos de mensagens instant\u00e2neas e mesmo das ferramentas antivigil\u00e2ncia. Hist\u00f3rias de iniciativas que est\u00e3o se alinhando contra a vigil\u00e2ncia global das empresas e dos governos, mesmo que em pequena escala; ideias um pouco mais gerais que organizem certas impress\u00f5es dispersas e isoladas sobre o mundo do ciberativismo.<\/p>\n

A nossa impress\u00e3o \u00e9 de que pode haver, nas palestras ditas mais “t\u00e9cnicas”, uma comunica\u00e7\u00e3o maior sobre o porqu\u00ea aquela ferramenta, pr\u00e1tica, c\u00f3digo, iniciativa \u00e9 importante, relacionando-a com o contexto pessoal (e cotidiano) da vida de cada um, o que pode furar bolhas de interesse e popularizar o enorme conhecimento que circula num evento como a Crypto. E de que, nas ditas mais “filos\u00f3ficas”, pode ocorrer um aprofundamento maior de certas ideias, relacionando-as com as t\u00e9cnicas e ferramentas dispon\u00edveis e abordando quest\u00f5es relacionadas \u00e0 subjetividade, arte e filosofia. Utopicamente desejamos uma mistura maior entre t\u00e9cnica e pol\u00edtica a ponto de n\u00e3o precisar fazer essa distin\u00e7\u00e3o. Mas para deixar claro: isso \u00e9 um desejo particular. O evento \u00e9 constru\u00eddo pelas propostas de atividades das pessoas, quem d\u00e1 o equil\u00edbrio tem\u00e1tico s\u00e3o elas (n\u00f3s).<\/p>\n

3. \u00c9 um dos grande encontros nacionais da tecnopol\u00edtica no Brasil<\/strong>
\nComo costuma acontecer na maioria dos eventos como a CryptoRave, tanto quanto o conte\u00fado em si das palestras, os encontros entre as pessoas s\u00e3o importantes. \u00c9 o dia da comunidade se ver, conversar, saber o que x outrx est\u00e1 fazendo, o que, em se tratando de uma \u00e1rea t\u00e3o \u00e1rida quanto a seguran\u00e7a digital e a pol\u00edtica das tecnologias, \u00e9 ainda mais importante. E nesse aspecto tamb\u00e9m reside a import\u00e2ncia do evento: buscar ser um encontro em que \u00e9 poss\u00edvel falar de tecnologia e pol\u00edtica ao mesmo tempo, um a alimentar o outro. S\u00e3o raros os eventos de tecnologia em que se fala tanto de pol\u00edtica como na Crypto, assim como ainda mais raro s\u00e3o eventos pol\u00edticos\/ativistas em que se discute tanto tecnologia. Esse \u00e9 um dos pontos fortes, que j\u00e1 diferencia o evento de diversos outros do calend\u00e1rio brasileiro e sul-americano.<\/p>\n

 <\/p>\n

**<\/p>\n

\"\"<\/p>\n

Esse ano propusemos uma atividade para o evento tamb\u00e9m. A mesa (roda de conversa) se chamou “A Ideologia Californiana e o capitalismo de vigil\u00e3ncia: 24 anos depois, a distopia \u00e9 real?<\/a>” e ocorreu no s\u00e1bado, 4\/5, \u00e0s 16h10, no espa\u00e7o Ian Murdock, 1\u00ba andar da Biblioteca (Hemeroteca). Apresentamos assim a atividade:<\/p>\n

“Hoje considerado um cl\u00e1ssico da tecnopol\u00edtica, “A Ideologia Californiana” \u00e9 o guia para esta mesa discutir o cen\u00e1rio atual do capitalismo de vigil\u00e2ncia e das megacorpora\u00e7\u00f5es que cada vez mais dominam a internet. Para isso, participam da mesa:
\n_
Aracele Torres<\/a>, doutora em Hist\u00f3ria pela Universidade de S\u00e3o Paulo (USP), atuando na \u00e1rea de Hist\u00f3ria da Ci\u00eancia e da Tecnologia e desenvolvendo trabalhos sobre hist\u00f3ria da tecnologia digital, software livre, ciber-libertarianismo, ideologias e utopias relacionadas \u00e0s tecnologias da informa\u00e7\u00e3o;
\n_ Camila Montagner, jornalista e pesquisadora, doutoranda em Ci\u00eancias Sociais na Unicamp;
\n_
Tiago Soares<\/a>, doutorando em Hist\u00f3ria Econ\u00f4mica pela USP, mestre em Divulga\u00e7\u00e3o Cient\u00edfica e Cultural pela Unicamp;”<\/p>\n

A media\u00e7\u00e3o foi do editor do BaixaCultura, Leonardo Foletto, que apresentou a edi\u00e7\u00e3o, o contexto atual de sua publica\u00e7\u00e3o e leu alguns trechos da introdu\u00e7\u00e3o. Perguntou tamb\u00e9m sobre quem conhecia o texto, que foi escrito em 1995 e circula pela internet j\u00e1 faz uns bons anos. Para surpresa geral, poucos disseram que conheciam.<\/p>\n

Primeira a falar, Aracele abordou a hist\u00f3ria da ideologia conhecida como Californiana (ou da Calif\u00f3rnia), um misto de romantismo na cren\u00e7a da liberta\u00e7\u00e3o do ser humano a partir das tecnologias somado ao neoliberalismo dos livres mercados que se auto-regulam. Sua tese estudou a quest\u00e3o da neutralidade da rede nos EUA e no Brasil<\/a> e recuperou um tanto da hist\u00f3ria da Ideologia Californiana que d\u00e1 base a atua\u00e7\u00e3o das grandes empresas da internet hoje.<\/p>\n

Camila abordou, entre outros aspectos, algumas ideias de “Futuros Imagin\u00e1rios”, livro de barrbook, co-autor de “A Ideologia”, que retoma alguns eventos da hist\u00f3ria das tecnologias do s\u00e9culo XX para discutir o futuro em seus aspectos sociais, econ\u00f4micos e pol\u00edticos. “Devemos deixar o futuro para depois, em modo de espera das suas promessas, ou presentear o futuro com a imagina\u00e7\u00e3o da realidade que deve ser vivida j\u00e1?\u201d pergunta o livro, dispon\u00edvel em PDF para download<\/a> (e bastante raro em sua vers\u00e3o f\u00edsica) quest\u00e3o que tamb\u00e9m ecoa no debate sobre o que fazer hoje para dar um fim ao monop\u00f3lio criado pelas empresas que seguem \u00e0 risca a Ideologia Californiana.<\/p>\n

Tiago, por fim, fez uma fala sobre a globaliza\u00e7\u00e3o, cultura online e as transforma\u00e7\u00f5es infraestruturais das redes de comunica\u00e7\u00e3o e processamento de informa\u00e7\u00e3o a partir da perspectiva da economia pol\u00edtica. Comentou que, de modo ir\u00f4nico, a cr\u00edtica ao Capitalismo de Vigil\u00e2ncia \u00e9 de certo modo uma nostalgia das promessas criticadas em “A Ideologia Californiana”: “o ponto \u00e9 menos sobre a cr\u00edtica do neoliberalismo do que sobre sua captura”. O Capitalismo de Vigil\u00e2ncia (conceito desenvolvido por Shoshana Zubofff; aqui uma boa explica\u00e7\u00e3o<\/a>, via Projeto Draft) \u00e9 uma outra fase, irm\u00e3 ou filha, das ideias presentes na ideologia originada na Calif\u00f3rnia, algo que foi perguntado no debate ao final da mesa.<\/p>\n

Outra quest\u00e3o levantada na parte final continua ecoando por estas p\u00e1ginas: quais alternativas ao capitalismo de vigil\u00e2ncia? existe futuro alternativo \u00e0 vigil\u00e2ncia onipresente? Se a ideologia californiana “venceu” e predomina hoje na base das principais empresas de tecnologia mundiais, qual a resposta a ela? Existe alguma? Talvez o Cooperativismo de Plataforma<\/a>? Se a ideia do software e da cultura livre, que em algum momento se mostrou como alternativa v\u00ed\u00e1vel para a manuten\u00e7\u00e3o de uma internet livre, n\u00e3o tem se mostrado mais fact\u00edvel, ent\u00e3o qual seriam as alternativas? Ali\u00e1s, ser\u00e1 mesmo que perdemos a batalha pela internet livre e ainda estamos na Ressaca da Internet<\/a> e n\u00e3o conseguimos nos recuperar nem mesmo para imaginar um futuro que n\u00e3o seja dist\u00f3pico?<\/p>\n

Quest\u00f5es que ficam para um pr\u00f3ximo texto, conversa, curso.<\/p>\n

**
\nAlguns breves coment\u00e1rios sobre duas iniciativas acompanhadas na CryptoRave 2019. “Seguran\u00e7a de p\u00e9 descal\u00e7os” \u00e9 um projeto e uma estrat\u00e9gia que visa estruturar a\u00e7\u00f5es pr\u00e1ticas de modo a manter ou expandir a ideia de seguran\u00e7a hol\u00edstica – total, integrada.
Vale acompanhar<\/a>.<\/p>\n

Quer tornar seu roteador dom\u00e9stico mais seguro? Aqui um passo a passo<\/a> de Douglas Esteves, que esteve no evento com uma palestra sobre o assunto.<\/p>\n

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