{"id":12800,"date":"2019-04-15T11:58:40","date_gmt":"2019-04-15T11:58:40","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=12800"},"modified":"2019-04-15T11:58:40","modified_gmt":"2019-04-15T11:58:40","slug":"pela-liberdade-de-julian-assange-e-ola-bini","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2019\/04\/15\/pela-liberdade-de-julian-assange-e-ola-bini\/","title":{"rendered":"Pela liberdade de Julian Assange e Ola Bini"},"content":{"rendered":"
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Julian Assange foi preso pela pol\u00edcia brit\u00e2nica na quinta-feira 11 de abril, na Embaixada do Equador em Londres, onde o hacker australiano de 47 anos estava abrigado desde 2012. A pol\u00edcia disse que prendeu Assange depois de ser \u201cconvidada a entrar na embaixada pelo embaixador, ap\u00f3s a retirada do asilo pelo governo equatoriano\u201d. H\u00e1 muita coisa envolvida nessa pris\u00e3o que vamos explicar (ou tentar) aqui nesse texto.<\/p>\n
ACUSA\u00c7\u00c3O<\/strong><\/p>\n Glenn Greenwald e Micah Lee, no The Intercept<\/a>, explicam que o conte\u00fado da acusa\u00e7\u00e3o contra Julian Assange, revelado<\/a> pelo Departamento de Justi\u00e7a dos EUA de Trump, \u201crepresenta grande amea\u00e7a \u00e0 liberdade de imprensa, n\u00e3o apenas nos EUA, mas em todo o mundo\u201d. O documento de den\u00fancia<\/a>, acompanhado do pedido de extradi\u00e7\u00e3o pelo governo dos EUA, que foi usado pela pol\u00edcia do Reino Unido<\/a> para prender Assange t\u00e3o logo o Equador suspendeu oficialmente o asilo diplom\u00e1tico, pretende criminalizar diversas atividades que fazem parte da ess\u00eancia do jornalismo investigativo. Por exemplo: Assange \u00e9 diretamente acusado de tentar ajudar Chelsea Manning a se conectar aos computadores do Departamento de Defesa empregando um nome de usu\u00e1rio diferente, para que ela pudesse manter seu anonimato enquanto fazia o download de documentos de interesse p\u00fablico e os encaminhava ao WikiLeaks para publica\u00e7\u00e3o. Na pr\u00e1tica, \u00e9 uma acusa\u00e7\u00e3o que caracteriza como condutas criminosas a\u00e7\u00f5es como a prote\u00e7\u00e3o do anonimato, algo que os jornalistas n\u00e3o apenas podem, mas devem tomar para praticar uma atividade jornal\u00edstica sens\u00edvel na era digital.<\/p>\n Muitos ve\u00edculos de m\u00eddia, explica o The Intercept, \u201crepercutiram sem pensar a manchete do comunicado de imprensa do DOJ, que alegava que Assange estaria sendo acusado por condutas criminosas de \u201chacker\u201d, muito embora a den\u00fancia n\u00e3o contenha nenhuma acusa\u00e7\u00e3o nesse sentido. Assange est\u00e1 sendo acusado simplesmente de tentar ajudar Manning a escapar da identifica\u00e7\u00e3o. Isso n\u00e3o \u00e9 \u201chackear\u201d, \u00e9 simplesmente uma obriga\u00e7\u00e3o fundamental do jornalismo.\u201d<\/p>\n EXTRADI\u00c7\u00c3O<\/strong><\/p>\n Continuam Greenwald e Lee: \u201cO governo dos EUA est\u00e1 determinado a indiciar Julian Assange e o WikiLeaks pelo menos desde 2010, quando o grupo publicou centenas de milhares de documentos de guerra e telegramas diplom\u00e1ticos que revelavam in\u00fameros crimes de guerra e outros atos de corrup\u00e7\u00e3o cometidos pelos EUA, pelo Reino Unido e por outros governos de todo o mundo. Para atingir esse objetivo, o Departamento de Justi\u00e7a dos EUA (DOJ) do per\u00edodo Obama convocou um j\u00fari em 2011 e conduziu uma investiga\u00e7\u00e3o aprofundada sobre o WikiLeaks, Assange e Manning. Em 2013, por\u00e9m, o DOJ de Obama concluiu que n\u00e3o poderia acusar criminalmente Assange pela publica\u00e7\u00e3o dos documentos, porque n\u00e3o havia forma de distinguir o que o WikiLeaks fazia daquilo que o New York Times, o Guardian e diversos ve\u00edculos de m\u00eddia do mundo inteiro fazem regularmente: a saber, trabalhar com fontes para publicar documentos confidenciais.<\/p>\n Com Trump, o DOJ n\u00e3o escondeu esfor\u00e7os para criminalizar o jornalismo em geral e foi assim, que, depois de dois anos de esfor\u00e7os em coagir o Equador a terminar com o asilo diplom\u00e1tico de Assange, conseguiu o que queria. Encontrou em Lenin Moreno, atual presidente equatoriano, um submisso aliado, e a partir da\u00ed n\u00e3o foi dif\u00edcil encontrar motivos para tirar Assange da embaixada, o que permitiria que o Reino Unido realizasse a pris\u00e3o sob acusa\u00e7\u00f5es de descumprimento de intima\u00e7\u00e3o judicial em um processo em Londres. A acusa\u00e7\u00e3o de abuso sexual que Assange tinha na Su\u00e9cia foi encerrado<\/a> n\u00e3o vale mais, , n\u00e3o por terem conclu\u00eddo que ele era inocente, mas porque passaram anos tentando extradit\u00e1-lo sem sucesso. Mesmo dizendo que n\u00e3o vai, o governo brit\u00e2nico pode acatar um pedido de extradi\u00e7\u00e3o do governo dos EUA para deport\u00e1-lo para um pa\u00eds com o qual ele n\u00e3o tem rela\u00e7\u00e3o (os EUA) para ser julgado pelos documentos vazados.<\/p>\n \u201cTrata-se de um pedido de extradi\u00e7\u00e3o para os Estados Unidos, com a possibilidade de Julian enfrentar muitos anos na pris\u00e3o por ter publicado documentos que revelaram crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos no Iraque e no Afeganist\u00e3o\u201d, diz em entrevista \u00e0 P\u00fablica o editor-chefe do WikiLeaks<\/a>, o jornalista island\u00eas Kristinn Hrafnsson.”<\/p>\n Outra quest\u00e3o importante nesse caso foi levantada em reportagem da MotherBoard<\/a>: Um membro da equipe que examinou as condi\u00e7\u00f5es m\u00e9dicas de Julian Assange nos \u00faltimos dois anos disse a tr\u00eas grupos internacionais de direitos humanos que ele apresentava \u201cefeitos negativos psicol\u00f3gicos e f\u00edsicos\u201d, de seus sete anos de deten\u00e7\u00e3o na embaixada equatoriana em Londres. A m\u00e9dica acredita que a \u201cseveridade acumulada da dor e sofrimento infligidos ao Sr. Assange \u2013 tanto f\u00edsicos quanto psicol\u00f3gicos \u2013 \u00e9 uma viola\u00e7\u00e3o da Conven\u00e7\u00e3o Contra a Tortura de 1984\u201d.<\/p>\n LIBERDADE \u00c9 ESCRAVID\u00c3O<\/strong><\/p>\n Slavoj Zizek, fil\u00f3sofo esloveno, fez um texto certeiro sobre a pris\u00e3o de Assange<\/a>. Escreve ele: “Agora podemos ver porqu\u00ea Assange precisou ser silenciado: depois do esc\u00e2ndalo da Cambrigde Analytica vir \u00e0 tona, todos os esfor\u00e7os dos que est\u00e3o no poder se voltaram a reduzir o caso a um \u201cmau uso\u201d particular, de algumas empresas privadas e partidos pol\u00edticos. (…) Hoje sabemos que n\u00e3o foram hackers russos (com Assange) que empurraram o povo para Trump. Em vez disso, eles foram impulsados por pr\u00f3prias ag\u00eancias ocidentais de processamento de dados, que se uniram a for\u00e7as pol\u00edticas”. Algo que Assange, o Wikileaks e diversos outros hackers e criptopunks chamados de paran\u00f3icos denunciam faz mais de uma d\u00e9cada.<\/p>\n \u201cA maior conquista do novo complexo cognitivo-militar”, continua Zizek, “\u00e9 que a opress\u00e3o direta e \u00f3bvia n\u00e3o \u00e9 mais necess\u00e1ria: os indiv\u00edduos podem ser muito melhor controlados e orientados na dire\u00e7\u00e3o desejada, quando continuam a se enxergar como pessoas livres e como agentes aut\u00f4nomos de suas pr\u00f3prias vidas. Esta \u00e9 mais uma li\u00e7\u00e3o-chave do Wikileaks: nossa falta de liberdade \u00e9 mais perigosa quando vivenciada como o pr\u00f3prio meio de nossa liberdade<\/strong>. O que poderia ser mais livre do que o incessante fluxo de comunica\u00e7\u00e3o que permite que cada indiv\u00edduo possa popularizar sua opini\u00e3o e formar comunidades virtuais por vontade pr\u00f3pria?. O que pode ser mais livre que nossa navega\u00e7\u00e3o irrestrita na rede?” Em nossas sociedades, permissividade e livre escolha foram elevadas a valores supremos. Por isso, o controle social e a domina\u00e7\u00e3o n\u00e3o parecem infringir a liberdade subjetiva. Aparecem (e s\u00e3o sustentadas) como a pr\u00f3pria auto-experi\u00eancia de indiv\u00edduos livres.<\/p>\n \u00c9 por isso, finaliza o esloveno, “que se torna absolutamente imperativo manter as redes digitais longe do controle do capital privado e do poder do Estado”. Se n\u00e3o privado nem estatal, ent\u00e3o comum? Ta\u00ed: fortalecer a ideia de que as redes digitais e a internet tornem-se um comum, como chegaram a ser nos primeiros anos, onde quem organiza e controla s\u00e3o as pr\u00f3prias pessoas, a partir de diversas inst\u00e2ncias de participa\u00e7\u00e3o e cuidado, \u00e9 uma boa e dif\u00edcil (aposta de) luta para os pr\u00f3ximos tempos.<\/p>\n **<\/p>\n Ola Bini, desenvolvedor de software livre e ativista pela liberdade na rede, foi detido no aeroporto de Quito, Equador, no mesmo 11 de abril em que Assange foi preso, quando embarcava para o Jap\u00e3o. Ap\u00f3s mais de 24 horas sem direito a acesso a int\u00e9rprete, advogado e sem notificar o seu pa\u00eds de origem (Su\u00e9cia), a deten\u00e7\u00e3o foi convertida em pris\u00e3o preventiva, que pode chegar at\u00e9 90 dias. Sem uma acusa\u00e7\u00e3o concreta, as autoridades do Equador anunciaram que o caso seria de um ‘hacker ligado ao Wikileaks’ e divulgaram em redes sociais o que seriam as evid\u00eancias apreendidas em sua casa: laptops, tablets, celulares, hds e livros como “Cyber War” de Richard A. Clarke… Equipamentos que muitos profissionais da \u00e1rea da seguran\u00e7a da informa\u00e7\u00e3o usam no dia a dia.<\/p>\n Desde 2015 Ola Bini participa como palestrante e apoiador da Cryptorave<\/a>. Na sexta edi\u00e7\u00e3o, que vai ocorrer 3 e 4 de maio deste ano, ele participaria com uma atividade sobre desenvolvimento de software com seguran\u00e7a por padr\u00e3o. Familiares, colegas de trabalho, amigos e ativistas ao redor do mundo est\u00e3o organizando uma rede por sua liberdade e um site: FreeOlaBini<\/a>. Abaixo uma carta do pr\u00f3prio:<\/p>\n Carta de Ola Bini da pris\u00e3o de El Inca, Equador<\/strong><\/em><\/p>\n 1. Primeiro, quero agradecer a todas as pessoas que est\u00e3o me apoiando a\u00ed fora. Me contaram da aten\u00e7\u00e3o que este caso despertou no mundo todo e isso \u00e9 algo que agrade\u00e7o mais do posso expressar com palavras. A minha fam\u00edlia, meus amigos, a todos os que est\u00e3o pr\u00f3ximos, mando todo meu amor. Tenho sempre em meus pensamentos.<\/em><\/p>\n 2. Acredito firmemente no direito a privacidade. Sem privacidade n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel agir e sem agir, somos escravos. Por isso dediquei a minha vida a esta luta. A vigil\u00e2ncia \u00e9 uma amea\u00e7a para todos n\u00f3s, e n\u00f3s devemos par\u00e1-la.<\/em><\/p>\n 3. Os l\u00edderes do mundo est\u00e3o promovendo uma guerra contra o conhecimento. O caso contra mim \u00e9 baseado nos livros que eu tenho lido e da tecnologia que eu tenho. Isso \u00e9 algo Orwelliano – uma Crimideia. N\u00e3o podemos deixar que isso aconte\u00e7a. O mundo se fechar\u00e1 mais e mais ao nosso redor at\u00e9 que n\u00e3o nos reste mais nada. Se o Equador pode fazer isso, outros tamb\u00e9m podem. Temos que parar essa ideia agora, antes que isso seja tarde demais.<\/em><\/p>\n 4. Eu tenho confian\u00e7a que ser\u00e1 \u00f3bvio que n\u00e3o h\u00e1 subst\u00e2ncia para esse caso, e que isso acabar\u00e1 em nada.<\/em><\/p>\n 5. N\u00e3o posso evitar de falar algo sobre o sistema penal equatoriano. Eu estou sendo detido nas melhores circunst\u00e2ncias e ainda assim \u00e9 terr\u00edvel. \u00c9 necess\u00e1rio uma s\u00e9ria reforma. Meus pensamentos v\u00e3o para todos os demais presos no Equador.<\/em><\/p>\n Ola Bini<\/strong><\/em><\/p>\n <\/p><\/blockquote>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Julian Assange foi preso pela pol\u00edcia brit\u00e2nica na quinta-feira 11 de abril, na Embaixada do Equador em Londres, onde o hacker australiano de 47 anos estava abrigado desde 2012. 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