{"id":12792,"date":"2019-04-26T12:54:41","date_gmt":"2019-04-26T12:54:41","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=12792"},"modified":"2019-04-26T12:54:41","modified_gmt":"2019-04-26T12:54:41","slug":"commons-desde-o-sul-global","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2019\/04\/26\/commons-desde-o-sul-global\/","title":{"rendered":"Commons desde o sul global"},"content":{"rendered":"
As fotos s\u00e3o da equipe da Tapera Taper\u00e1<\/p><\/div>\n
O Creative Commons \u00e9 um projeto que administra o principal conjunto de licen\u00e7as livres no mundo, criado ainda em 2001<\/a> por iniciativa de algumas pessoas, entre elas Lawrence Lessig. Como voc\u00ea que acompanha o nosso trabalho nesses \u00faltimos 10 anos<\/a> sabe, as licen\u00e7as CC s\u00e3o hoje as principais licen\u00e7as livres do planeta (n\u00e3o as \u00fanicas, como voc\u1ebd tamb\u00e9m sabe se frequenta este s\u00edtio) e uma das principais respons\u00e1veis pela propaga\u00e7\u00e3o do que chamamos hoje de cultura livre, um caldeir\u00e3o de ideia\/pessoas e movimentos que j\u00e1 foi apresentado por n\u00f3s nesta postagem<\/a>, embora de l\u00e1 pra c\u00e1 continue em muta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n As licen\u00e7as CC s\u00e3o tamb\u00e9m a infraestrutura jur\u00eddica para a cria\u00e7\u00e3o de conhecimento na Wikipedia, o compartilhamento de ci\u00eancia no Scielo, a produ\u00e7\u00e3o e dissemina\u00e7\u00e3o de jornalismo alternativo, e a disponibiliza\u00e7\u00e3o online de important\u00edssimos acervos de museus e arquivos por todo o mundo.<\/p>\n O CC existe j\u00e1 h\u00e1 17 anos, mas nos \u00faltimos dois vem passando por algumas transforma\u00e7\u00f5es importantes.\u00a0Uma delas \u00e9 que as licen\u00e7as 4.0 s\u00e3o a primeira vers\u00e3o internacional das licen\u00e7as CC \u2013 antes, cada pa\u00eds fazia sua pr\u00f3pria vers\u00e3o, a partir da sua lei local, agora h\u00e1 uma licen\u00e7a \u00fanica entre Brasil e Portugal<\/a>, por exemplo.<\/p>\n E a outra \u00e9 a rede global de volunt\u00e1rios e colaboradores: antes, em cada pa\u00eds havia uma \u00fanica organiza\u00e7\u00e3o respons\u00e1vel pelo projeto; agora, h\u00e1 uma rede descentralizada de pessoas, e organizada em torno de temas (que s\u00e3o discutidos em plataformas tem\u00e1ticas, que s\u00e3o transnacionais). Em mais de 30 pa\u00edses ao redor do mundo j\u00e1 foram formados cap\u00edtulos locais do CC, inclusive no Brasil, onde o 33\u00ba cap\u00edtulo foi reestabelecido em janeiro de 2019<\/a>. Em uma reuni\u00e3o de colaboradores locais, foram eleitas as lideran\u00e7as pelo pr\u00f3ximo ano e aprovado um documento de governan\u00e7a (aqui<\/a>, na \u00edntegra) para guiar as atividades e a representa\u00e7\u00e3o do cap\u00edtulo local no futuro.<\/p>\n Mariana Valente, diretora do InternetLab<\/a>, advogada e pesquisadora na \u00e1rea de acesso ao conhecimento, foi escolhida como a Coordenadora Geral (\u201cchapter lead\u201d) e representante do CC Brasil no Global Network Council\u200b, encontro anual que re\u00fane pessoas de diversos cap\u00edtulos ao redor do mundo e a equipe da sede da organiza\u00e7\u00e3o nos Estados Unidos. Os outros coordenadores s\u00e3o Juliana Monteiro<\/a>, coordenadora de OpenGLAM (institui\u00e7\u00f5es de mem\u00f3ria); C\u00e9lio Costa<\/a>, coordenador de projetos Wiki; Rodrigo Padula<\/a>, coordenador de projetos de governo aberto; e este que c\u00e1 edita o BaixaCultura, Leonardo Foletto, coordenador respons\u00e1vel pela comunica\u00e7\u00e3o, documenta\u00e7\u00e3o e registros de atividades.<\/p>\n ** Na quarta-feira 24 de abril de 2019 o CC realizou sua primeira reuni\u00e3o aberta na Tapera Taper\u00e1<\/a>, livraria e espa\u00e7o cultural do centro de S\u00e3o Paulo. A proposta foi (re) apresentar o Creative Commons Brasil<\/a> para um p\u00fablico mais amplo, contar como ele est\u00e1 funcionando e tamb\u00e9m um pouco de sua hist\u00f3ria no Brasil. Vale lembrar: o CC existe h\u00e1 10 anos por aqui, inicialmente ligado ao Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV-RJ<\/a> e tendo o nome de Ronaldo Lemos \u00e0 frente. Depois, ap\u00f3s algumas trocas de lideran\u00e7a, as iniciativas do CC passaram a diminuir de intensidade, ficando restritas \u00e0 manuten\u00e7\u00e3o das licen\u00e7as CC, do site e de algumas iniciativas esparsas de di\u00e1logos com institui\u00e7\u00f5es de mem\u00f3ria. Essa situa\u00e7\u00e3o ocorreu um tanto devido ao pr\u00f3prio tema ter perdido espa\u00e7o na discuss\u00e3o tecnopol\u00edtica para a vigil\u00e2ncia e a economia gerada em torno de aplicativos como Uber, AirbnB, Rappi, entre v\u00e1rios outros, para citar dois t\u00f3picos que ganharam um espa\u00e7o que j\u00e1 foi o do debate da cultura e das licen\u00e7as livres na d\u00e9cada passada e at\u00e9 cerca de 2012; e outro tanto devido \u00e0 quest\u00f5es internas de disputas de foco e interesse nas atividades ligadas ao CC. Pedro Mizukami<\/a>, integrante do CC ao longo desse tempo e hoje diretor de pesquisa cntr.<\/a>, contou um um pouco dessa hist\u00f3ria na reuni\u00e3o.<\/p>\n A proposta da conversa aberta foi, tamb\u00e9m, a de dialogar sobre outros temas que perpassam as licen\u00e7as, como o comum, o movimento por cultura e conhecimento livre, a colabora\u00e7\u00e3o, os recursos educacionais abertos, o governo aberto e o acesso em institui\u00e7\u00f5es de mem\u00f3ria (como museus, bibliotecas e arquivos). Licenciar em uma licen\u00e7a livre, seja ela alguma das CCs ou outras, \u00e9 tamb\u00e9m tornar algo um bem comum, que n\u00e3o sendo nem privado nem estatal, deve ser gerido e mantido pela comunidade que a construiu e outras que queiram manter o comum. Tamb\u00e9m presente na Tapera Taper\u00e1, Rafael Zanatta<\/a>, advogado e pesquisador na \u00e1rea dos direitos digitais e antivigil\u00e2ncia , aproximou a discuss\u00e3o do CC com o comum, um di\u00e1logo que tem sido feito por boa parte do que costumamos chamar de “movimento” da cultura livre – quem acompanhou nosso Encontro de Cultura Livre do Sul<\/a> em 2018 certamente viu essa quest\u00e3o l\u00e1 discutida.<\/p>\n Tamb\u00e9m foi na linha de aproximar o CC do comum e da cultura livre minha contribui\u00e7\u00e3o na reuni\u00e3o aberta, assim como trazer a perspectiva do sul global para pensar a cultura livre hoje. Como escrevemos no Cultura Livre do Sul Global – um manifesto<\/a>,\u00a0 falar da quest\u00e3o das licen\u00e7as, software e hardware livre s\u00e3o importantes, mas no sul global temos outras particularidades que n\u00e3o podemos deixar de lado: a desigualdade social, o acesso ao conhecimento, a criatividade gambiarr\u00edstica dos que pouco tem, entre v\u00e1rias outras quest\u00f5es tornadas ainda mais urgentes no contexto proto (ou neo?) fascista que o Brasil (e uma parcela do mundo) se encontra hoje.<\/p>\n Como escrevemos no Manifesto: “Pensar e fazer a cultura livre desde o sul requer pensarmos na urg\u00eancia das necessidades de sobreviv\u00eancia do nosso povo. Requer nos aproximarmos da discuss\u00e3o sobre o comum, conceito chave que nos une na luta contra a privatiza\u00e7\u00e3o dos recursos naturais, como os oceanos e o ar, mas tamb\u00e9m dos softwares livres e dos protocolos abertos e gratuitos sob os quais se organiza a internet. Nos aproximar do comum amplia nosso campo de disputa no sul global e nos aproxima do cotidiano de comunidades, centrais e perif\u00e9ricas, que lutam no dia a dia pela preserva\u00e7\u00e3o dos bens comuns.”<\/p>\n A quest\u00e3o de COMO fazer essa aproxima\u00e7\u00e3o \u00e9 o que n\u00f3s, do BaixaCultura, e diversas outras pessoas e coletivos do sul global estamos pensando hoje. Inclusive esse tema \u00e9 um dos focos no projeto de mentoria que estamos realizando, com o apoio da Mozilla Open Leaders<\/a>, para a pr\u00f3xima edi\u00e7\u00e3o do Encontro de Cultura Livre do Sul, tamb\u00e9m online, a ser realizado ainda neste 2019, e uma presencial para 2020. Nesse aspecto \u00e9 importante lembrar que o comum, a partir do conceito-pr\u00e1tica que nos relacionamos, \u00e9 pensado como algo em processo, como um fazer comum (commoning<\/em> em ingl\u00eas). Isto \u00e9, n\u00e3o termos em vista somente o produto em si \u2013 livro, v\u00eddeo, m\u00fasica, hardware ou software livres \u2013 mas as nossas pr\u00f3prias pr\u00e1ticas e din\u00e2micas atrav\u00e9s das quais juntos criarmos novas formas de viver, conviver e tamb\u00e9m produzir. Este \u00e9 o fazer comum, e por isso o processo de constru\u00e7\u00e3o aberta, transparente e colaborativa (de fato!) desse comum \u00e9 t\u00e3o ou mais importante que os produtos que por ventura possam ser gerados.<\/p>\n A reuni\u00e3o aberta do CC teve transmiss\u00e3o ao vivo, realizada via YouTube da Tapera Taper\u00e1, e est\u00e1 dispon\u00edvel aqui abaixo. Se voc\u00ea quiser fazer parte da discuss\u00e3o, que \u00e9 aberta a todes e coletiva mesmo, h\u00e1 o canal de Telegram<\/a>, al\u00e9m do site, com um blog<\/a> contando o que o CC tem feito por a\u00ed nesses \u00faltimos tempos.<\/p>\n
\n<\/p>\n