{"id":12728,"date":"2019-02-18T12:42:26","date_gmt":"2019-02-18T15:42:26","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=12728"},"modified":"2022-09-14T01:26:00","modified_gmt":"2022-09-14T04:26:00","slug":"tecnopolitica-e-contracultura-um-experimento-em-acao","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2019\/02\/18\/tecnopolitica-e-contracultura-um-experimento-em-acao\/","title":{"rendered":"Tecnopol\u00edtica e contracultura: um experimento em a\u00e7\u00e3o"},"content":{"rendered":"

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Terminou na \u00faltima quarta-feira, 13 de fevereiro, a primeira edi\u00e7\u00e3o do curso “Tecnopol\u00edtica & Contracultura”, um passeio pelo pensamento e a\u00e7\u00e3o de autonomistas, anarquistas, hackers e outrxs rebeldes<\/a>. Durante tr\u00eas dias, propomos – este que c\u00e1 escreve, Leonardo Foletto, e Leonardo Retamoso palma – uma jornada por ideias, conceitos, pr\u00e1ticas, a\u00e7\u00f5es e refer\u00eancias em busca da retomada de um pensamento tecnopol\u00edtico que bebe muito na fonte dos autonomismo e opera\u00edsmo italiano da d\u00e9cada de 1960 para encontrar sa\u00eddas de an\u00e1lise e a\u00e7\u00e3o dessa \u201cressaca da internet\u201d que nos metemos neste final de d\u00e9cada de 2010. Um p\u00fablico muito diverso, de cerca de 30 pessoas nos 3 dias, aceitou nossa proposta e embarcou no passeio: de rec\u00e9m sa\u00eddos do Ensino M\u00e9dio a professores p\u00f3s-doutores de universidades, passando por artistas, programadores, designers, jornalistas e arquitetas, nos tornamos uma potente multid\u00e3o em busca de abrir as caixas-pretas da tecnologia e entender como se d\u00e1 essa louca composi\u00e7\u00e3o que nos causa esperan\u00e7a e sofrimento, depress\u00e3o e euforia, liberdade e pris\u00e3o.<\/p>\n

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O autonomismo italiano serviu como um primeiro recorte hist\u00f3rico de um movimento\/per\u00edodo\/grupo que, al\u00e9m de tomar ruas, f\u00e1bricas e universidades, criou suas pr\u00f3prias tecnologias (como a R\u00e1dio Alice, pioneira r\u00e1dio livre criada em 1977 e com boa parte de seu acervo nesse site<\/a>) e n\u00e3o se furtou a disputar a tecnologia em vez de demoniz\u00e1-la – ou idolatr\u00e1-la como a salva\u00e7\u00e3o para os problemas da humanidade, esquecendo do elemento humano e pol\u00edtico em sua constru\u00e7\u00e3o. Depois, os fabulosos 1990 trouxeram altermundistas, zapatistas, ciberativistas, hackers e militantes do software livre a compor uma poderosa frente contra o capital global que buscava (e ainda busca) a decomposi\u00e7\u00e3o em busca da domina\u00e7\u00e3o. A criatividade, expressa na guerrilha da comunica\u00e7\u00e3o\/artivismo, foi essencial nesse per\u00edodo, com os teatros midi\u00e1ticos coletivos de Luther Blisset<\/a> e Wu Ming<\/a>, bem conhecidos de quem frequenta esse espa\u00e7o virtual; os protestos pac\u00edficos dos Tute Bianche<\/a>, que iam para o front (mesmo) dos protestos com chamativas roupas e equipamentos de brinquedo para pontuar o rid\u00edculo do conflito armado; os sit-in virtuais em prol dos zapatistas<\/a>, que interditavam sites estrat\u00e9gicos em prol de uma causa espec\u00edfica. Com esses e outros diversos exemplos, trouxemos a discuss\u00e3o para o presente e identificamos como a arte, quando formada pelo encontro ingovern\u00e1vel de corpos er\u00f3ticos, \u00e9 fundamental na mudan\u00e7a de perspectiva sobre ruas, computadores, governos, institui\u00e7\u00f5es e n\u00f3s mesmos.<\/p>\n

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Por fim, trouxemos os hackers e sua \u00e9tica de liberdade e transpar\u00eancia, fundamental para a constru\u00e7\u00e3o da internet livre como a conhec\u00edamos at\u00e9 pouco tempo atr\u00e1s. Pontuamos no debate os princ\u00edpios contraculturais da \u00e9tica hacker (aqui tem bastante material sobre isso, feito para minhas aulas de Cultura Hacker e Jornalismo<\/a>), mas ouvimos o feedback que, por menos discriminat\u00f3rios que sejam alguns dos princ\u00edpios hackers, a pr\u00e1tica nos diz que muitos hackers e programadores endossam o machismo e a misoginia. Para reverter esse processo \u00e9 fundamental o trabalho de iniciativas que relacionam as quest\u00f5es feministas e LGBTQ com as tecnologias digitais e a cultura hacker, como muitas das que divulgamos nesse post no 8 de mar\u00e7o de 2018<\/a>, hackerspaces como MariaLab<\/a>, grupos como Mulheres na Tecnologia<\/a> e iniciativas recentes como o portal Acoso Online<\/a>, que trata de trazer informa\u00e7\u00f5es sobre publica\u00e7\u00e3o sem consentimento de imagens e v\u00eddeos \u00edntimos por meios eletr\u00f4nicos.<\/p>\n

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\nFinalizamos, nas duas horas finais das 12h de curso, com algumas inquieta\u00e7\u00f5es, sugest\u00f5es de a\u00e7\u00f5es e trechos de textos que nos convidam a agir.
\nAbrir as caixas-pretas, da tecnologia e dos sistemas pol\u00edticos, econ\u00f4micos e institucionais, em busca da transpar\u00eancia desses sistemas \u00e9 um objetivo sempre em vista.
\nQue a urg\u00eancia desse momento de tantos retrocessos e conservadorismo global seja uma inquieta\u00e7\u00e3o para agir, n\u00e3o para se desesperar; h\u00e1 muito o que se construir, se unir e (re) lembrar afinal porque somos humanos e porque o conhecimento que produzimos pode servir para a busca de justi\u00e7a social e redu\u00e7\u00e3o das desigualdades.
\nQue, na acelera\u00e7\u00e3o da infoesfera que nos entope de informa\u00e7\u00e3o, limitar (ou organizar) os muitos est\u00edmulos vindo de todos lados \u00e9 n\u00e3o somente razo\u00e1vel como necess\u00e1rio para agir.
\nQue
\u00e9 importante politizar o mal-estar<\/a>, como nos fala Amador Fernandez-Savater; que esse mal-estar geral que vivemos em torno dos retrocessos e ascens\u00e3o de pr\u00e1ticas relacionadas ao que chamamos de fascismo pode ser elaborado enquanto for\u00e7a afirmativa de transforma\u00e7\u00e3o e de constru\u00e7\u00e3o de possibilidades e modos de viver. N\u00e3o deixar o choro e o sofrimento em casa, mas sim traz\u00ea-los, junto com o mal-estar, para o debate (hay que vir llorado de casa!) e falar sobre ele. Mesmo que n\u00e3o se saiba onde essa discuss\u00e3o vai dar: no caminho podem ocorrer mudan\u00e7as que nos tiram do imobilismo da cr\u00edtica pela cr\u00edtica. Aprender a viver a partir e com a crise \u00e9 um primeiro passo para sair dela, o que inclui n\u00e3o negar o subjetivo e os afetos na pol\u00edtica, mas unir estes afetos, destrinch\u00e1-los e trabalhar com eles, compartilhando vulnerabilidades – situa\u00e7\u00f5es como a dos tr\u00eas dias de curso que propomos s\u00e3o algumas das poss\u00edveis de fazer essa discuss\u00e3o.<\/p>\n

“A a\u00e7\u00e3o da multid\u00e3o n\u00e3o \u00e9 outra coisa que esta prolifera\u00e7\u00e3o cont\u00ednua de experi\u00eancias vitais que t\u00eam em comum a nega\u00e7\u00e3o da morte, a recusa radical e definitiva do que paralisa o processo da vida”. (Antonio Negri)]<\/p>\n

[A ‘deserotiza\u00e7\u00e3o’ da vida cotidiana \u00e9 o pior desastre que a humanidade pode conhecer…\u00e9 que se perde a
\nempatia, a compreens\u00e3o er\u00f3tica do outro…” (Franco Berardi, Bifo)]<\/p>\n

[“A a\u00e7\u00e3o … diz respeito, antes de mais nada, ao sentir. Agir significa modificar a maneira de sentir junto…” (Maurizio Lazzarato)]<\/p>\n

[“Refiro-me \u00e0 multid\u00e3o de festa, \u00e0 multid\u00e3o de alegria, \u00e0 multid\u00e3o espontaneamente amorosa, embriagada apenas pelo prazer de se reunir por se reunir.” (Gabriel Tarde)]<\/p>\n

[“… o mais profundo \u00e9 a pele…” (Paul Val\u00e9ry)]<\/p>\n

\u201cTecnopol\u00edtica e Contracultura\u201d \u00e9 um experimento disparador de ideias e a\u00e7\u00f5es que visam a nos tirar da letargia do \u201cn\u00e3o h\u00e1 nada a fazer\u201d. Como tal, segue em outros locais e com outras pessoas; nas pr\u00f3ximas semanas vamos avisando os pr\u00f3ximos passos e datas. Aqui est\u00e1 o material guia utilizado no curso<\/a>. Adelante!<\/p>\n

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Terminou na \u00faltima quarta-feira, 13 de fevereiro, a primeira edi\u00e7\u00e3o do curso “Tecnopol\u00edtica & Contracultura”, um passeio pelo pensamento e a\u00e7\u00e3o de autonomistas, anarquistas, hackers e outrxs rebeldes. Durante tr\u00eas dias, propomos – este que c\u00e1 escreve, Leonardo Foletto, e Leonardo Retamoso palma – uma jornada por ideias, conceitos, pr\u00e1ticas, a\u00e7\u00f5es e refer\u00eancias em busca […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":14482,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[1],"tags":[2036,508,1419,927,147,109,2212,1899,653,655,1682,1041,1990,198,1888],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-content\/uploads\/2019\/02\/tcno-contra-1.jpeg","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/12728"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=12728"}],"version-history":[{"count":2,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/12728\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":14483,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/12728\/revisions\/14483"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media\/14482"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=12728"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=12728"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=12728"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=12728"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}