{"id":12712,"date":"2019-01-17T19:42:03","date_gmt":"2019-01-17T19:42:03","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=12712"},"modified":"2019-01-17T19:42:03","modified_gmt":"2019-01-17T19:42:03","slug":"tecnopolitica-e-contracultura-a-estreia-de-um-curso","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2019\/01\/17\/tecnopolitica-e-contracultura-a-estreia-de-um-curso\/","title":{"rendered":"Tecnopol\u00edtica e contracultura – a estreia de um curso"},"content":{"rendered":"

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\nSe nos anos 1990, com o casamento do digital com a internet, enxerg\u00e1vamos enormes possibilidades de liberta\u00e7\u00e3o (da informa\u00e7\u00e3o de grandes grupos midi\u00e1ticos, de liberdade de falar o que bem quiser, de criar tecnologias e mundos novos), hoje parece que estamos a lidar com consequ\u00eancias nefastas, representadas em uma palavra na moda nestes tempos: distopia.<\/p>\n

Nos descuidamos – ou n\u00e3o conseguimos? – prestar aten\u00e7\u00e3o na ascens\u00e3o de plataformas globais de tecnologia, que por sua vez constru\u00edram bolhas de informa\u00e7\u00e3o que confirmam pontos de vista, espalham mentiras e criam realidades alternativas que em muitos casos n\u00e3o h\u00e1 informa\u00e7\u00e3o comprovada que consiga mudar. Como podemos compreender o contexto tecnopol\u00edtico hoje? Que caminhos podemos apontar para discutirmos e transformarmos a pol\u00edtica que sempre est\u00e1 junto na constru\u00e7\u00e3o de tecnologias?<\/p>\n

Para tentar fazer melhores perguntas e aproximarmos de respostas que nos convoquem pra a\u00e7\u00e3o, propomos esse curso: “Tecnopol\u00edtica e Contracultura<\/strong>“, que vai estrear no Centro de Pesquisa e Forma\u00e7\u00e3o do SESC<\/a>, em S\u00e3o Paulo, nos dias 11, 12 e 13 de fevereiro, das 14h \u00e0s 18h, conduzido por o editor desta p\u00e1gina, Leonardo Foletto, e Leonardo Palma, pesquisador independente, agitador cultural radicado em Santa Maria-RS, ativista da Rede Universidade N\u00f4made<\/a> e um profundo conhecedor da obra dos autonomistas italianos a partir da d\u00e9cada de 1970. O curso busca resgatar um pensamento tecnopol\u00edtico em quatro momentos: 1) os autonomistas italianos da d\u00e9cada de 1970;\u00a0 2) p\u00f3s-opera\u00edsmo, altermundistas, F\u00f3rum Social Mundial e m\u00eddia t\u00e1tica dos 1990; 3) hackers: paran\u00f3icos vision\u00e1rios, dos 1980, 1990 e 2000; e o 4) hoje, com a ascens\u00e3o das redes sociais como principais espa\u00e7os de discuss\u00e3o p\u00fablica nas redes digitais e o fim da internet como a conhecemos nos 1990 e 2000.<\/p>\n

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Come\u00e7amos nosso percurso pelos autonomistas surgidos no maio de 68′ italiano que durou mais de uma d\u00e9cada<\/a>. Falaremos do contexto de surgimento desse, digamos, movimento, sua constru\u00e7\u00e3o no final dos 1960 com o importante papel das revistas (em especial, Quaderni Rossi<\/em>, Clase Operaia<\/em>, Primo Maggio<\/em>) em tornar palp\u00e1vel a produ\u00e7\u00e3o de subjetividade, por em circula\u00e7\u00e3o e entendimento certos conceitos e ideias; da articula\u00e7\u00e3o com a universidade (estudantes e professores) e com os oper\u00e1rios das f\u00e1bricas italianas; da constru\u00e7\u00e3o de alguns aparatos sociot\u00e9cnicos baseados nas ideias em circula\u00e7\u00e3o, como a R\u00e1dio Alice<\/a>; e de como todo o f\u00e9rtil cen\u00e1rio contracultural estabelecido na It\u00e1lia dessa \u00e9poca foi dissolvido, com a criminaliza\u00e7\u00e3o e o ex\u00edlio de muitos de seus participantes. Trabalharemos nessa parte com autores e hist\u00f3rias de Antonio Negri, Franco “Bifo” Berardi, Paolo Virno, Maurizio Lazaratto, M\u00e1rio Tronti, Giorgio Agamben, Silvia Federici, entre outrxs.<\/p>\n

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Passamos ent\u00e3o para um segundo momento, final dos 1980 e in\u00edcio dos 1990, trazendo hist\u00f3rias, textos & aparatos do p\u00f3s-opera\u00edsmo, altermundistas, net-art e m\u00eddia t\u00e1tica. A partir da sa\u00edda de Negri da pris\u00e3o<\/a> (1983) e seu ex\u00edlio na Fran\u00e7a, sua obra come\u00e7a a ser redescoberta por uma esquerda ligada mais a Foucault, Deleuze e Guatarri do que aos “partidos” institucionalizados. Os Zapatistas de Chiapas, no M\u00e9xico, recuperam os autonomistas italianos e praticamente inauguram um ciberativismo\/hackativismo na ent\u00e3o novata internet dos 1990, com a\u00e7\u00f5es na rede e fora dela que v\u00e3o influenciar a potencializa\u00e7\u00e3o do movimento altermundista<\/a> e na A\u00e7\u00e3o Global dos Povos, que explode a partir de 1999, em Seattle, e segue pelo menos at\u00e9 2003. Essa rede p\u00f3s-opera\u00edsmo est\u00e1 articulada com o nascimento do F\u00f3rum Social Mundial, em Porto Alegre, 2001; com um movimento potente de cultura digital (“networked cultures”) que propagou o conceito de m\u00eddia t\u00e1tica<\/a>, muito propagado e trabalho no brasil dos 2000;\u00a0 com coletivos como Luther Blisset, Wu Ming, Critical Art Ensemble; e com muitxs pesquisadores em torno da Nettime<\/a>, lista de e-mails, at\u00e9 hoje ativa, que re\u00fane alguns te\u00f3ricos-pr\u00e1ticos europeus da \u00e1rea, como Geert Lovink, Felix Stalder, John Holloway, Trebor Scholz, Bruce Sterling, entre outrxs.<\/p>\n

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Na terceira parte, miramos um grupo de fazedores e pensadores que atua em paralelo aos autonomistas e altermundistas, \u00e0s vezes se relacionando com estes e em outras n\u00e3o: os hackers. Surgidos enquanto grupo de pessoas e uma (contra) cultura no final dos 1960, os hackers se propagam pelos 1970, com a cria\u00e7\u00e3o da internet e o come\u00e7o da populariza\u00e7\u00e3o dos computadores pessoais, pelos 1980, com o movimento do software livre, do copyleft e via hackerspaces, laborat\u00f3rios de garagem que ser\u00e3o a base de um movimento, em especial em sua vers\u00e3o europ\u00e9ia e latino-americana, que pratica a (contra) cultura tecnol\u00f3gica a partir dos princ\u00edpios da autonomia digital, da seguran\u00e7a da informa\u00e7\u00e3o e das t\u00e1ticas antivigil\u00eancias. Aqui, destacamos alguns textos, ideias e projetos de Richard Stallman<\/a>, criador do movimento do software livre e ainda hoje preside de Free Software Foundation, Gabriela Coleman, Tatiana Bazzichelli, Eric Raymond, Richard Barbrook, Pekka Himanen, Chaos Computer Club, Julian Assange, Linus Torvalds, entre outrxs tamb\u00e9m brasileirxs ligados aos grupos da MetaReciclagem, Transpar\u00eancia Hacker, BaixoCentro, Casa da Cultura Digital.<\/p>\n

No desfecho, falamos do esp\u00edrito da “Ressaca da Internet” j\u00e1 comentado em texto por aqui<\/a>, mas que aprofundaremos no curso. e dos tempos de “decomposi\u00e7\u00e3o” que vivemos, onde cada vez mais o “aut\u00f4mato” est\u00e1 tomando toda nossa for\u00e7a de imagina\u00e7\u00e3o, como fala Bifo em recente palestra na Argentina, em Novembro de 2018. Bifo, ali\u00e1s, \u00e9\u00a0um dos elos entre todos s momentos do curso<\/a>; est\u00e1 presente da It\u00e1lia dos 1970 aos altermundistas dos 1990, ainda hoje ativo pensando, escrevendo e propagando a ideia de que n\u00e3o devemos nos acomodar com a ascen\u00e7\u00e3o fascista que nos cerca, em especial no Brasil e na Am\u00e9rica Latina, e que a for\u00e7a de nosso pensamento e do conhecimento \u00e9 demasiadamente mais rica do que a que apresentada neste cen\u00e1rio brutal em que vivemos neste 2019.<\/p>\n

Como aperitivo do curso, o v\u00eddeo de Bifo acima comentado est\u00e1 aqui abaixo e sintetiza algumas quest\u00f5es a serem abordadas entre 11 e 13 de fevereiro. Aos que n\u00e3o forem de SP, aguardem, montamos esse curso com muito estudo e gosto para circular em outras cidades tamb\u00e9m. Inscri\u00e7\u00f5es e mais informa\u00e7\u00f5es no site do Sesc<\/a>.<\/p>\n