{"id":12676,"date":"2018-12-21T19:13:20","date_gmt":"2018-12-21T19:13:20","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=12676"},"modified":"2018-12-21T19:13:20","modified_gmt":"2018-12-21T19:13:20","slug":"cultura-livre-do-sul-global-um-manifesto","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2018\/12\/21\/cultura-livre-do-sul-global-um-manifesto\/","title":{"rendered":"Cultura livre do sul global – um manifesto"},"content":{"rendered":"

\"\"<\/p>\n

Nascido enquanto movimento mais ou menos organizado a partir da pauta anticopyright, a cultura livre \u00e9, para a maior parte da popula\u00e7\u00e3o do sul (e do norte tamb\u00e9m) global, uma inc\u00f3gnita. Cultura livre \u00e9 compartilhar cultura nas redes para todes? \u00c9 acesso livre e gratuito \u00e0 bens culturais, em licen\u00e7as que favorecem o compartilhamento? \u00e9 buscar pr\u00e1ticas alternativas ao copyright de remunera\u00e7\u00e3o para autorxs e produtorxs de conte\u00fado? uma cr\u00edtica \u00e0 propriedade intelectual que restringe e criminaliza o interc\u00e2mbio de cultura, potencializado ainda mais a partir da internet? um movimento social \u201cdigital\u201d em prol do conhecimento aberto? uma cultura feita de forma \u201clivre\u201d, sem amarras com movimentos, organiza\u00e7\u00f5es e quaisquer outros fatores que tornam a cultura presa e fechada?<\/p>\n

No Encontro de Cultura Livre do Sul<\/a>, realizado nos dias 21, 22 e 23 de novembro de 2018 na internet, discutimos e buscamos respostas para algumas destas quest\u00f5es acima descritas e outras mais. Durante as 6 mesas de debate do encontro, das discuss\u00f5es nas plataformas digitais e redes sociais, falamos sobre pol\u00edticas p\u00fablicas e marcos legais de direitos do autor; digitaliza\u00e7\u00e3o de acervos e acesso ao patrim\u00f4nio cultural em reposit\u00f3rios livres; de laborat\u00f3rios, produtoras colaborativas, hackerspaces, hacklabs e outras formas de organiza\u00e7\u00f5es que defendem e praticam no dia a dia a cultura livre; de como nos inserimos em uma rede internacional e da quest\u00e3o da defesa dos bens comuns que a cultura livre tamb\u00e9m faz; das muitas formas de produ\u00e7\u00e3o cultural – editorial, musical, audiovisual, encontros, fotogr\u00e1ficas – que est\u00e3o sendo realizadas no \u00e2mbito das licen\u00e7as e da cultura livre; e das plataformas, conte\u00fados e pr\u00e1ticas educacionais que tem o livre como paradigma de a\u00e7\u00e3o e propaga\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Com os mais de 200 participantes inscritos que tomaram parte desses tr\u00eas dias, pensamos sobre as especificidades da cultura livre no sul global em rela\u00e7\u00e3o ao norte. A discuss\u00e3o sobre a liberdade de usos e produ\u00e7\u00e3o de tecnologias livres tem sido fundamental para a cultura livre desde o princ\u00edpio, mas acreditamos que, no sul, temos a urg\u00eancia maior de nos perguntar para qu\u00ea e quem servem nossas tecnologias livres. N\u00e3o basta somente discutir se vamos usar ferramentas produzidas em softwares livres ou se vamos optar por licen\u00e7as livres em nossas produ\u00e7\u00f5es culturais: necessitamos pensar em tecnologias, ferramentas e processos livres que sejam usadas para dar espa\u00e7o, autonomia e respeito aos menos favorecidos, financeira e tecnologicamente, de nossos continentes, e para diminuir as desigualdades sociais em nossos locais, desigualdades estas ainda mais vis\u00edveis no contexto de ascens\u00e3o fascista global que vivemos nesse 2018.<\/p>\n

Desde o sul, temos que pensar na cultura livre como um movimento e uma pr\u00e1tica cultural que dialogue intensamente com as culturas populares de nossos continentes; que respeite e converse com os povos origin\u00e1rios da Am\u00e9rica, que est\u00e3o aqui em nosso continente vivendo em uma cultura livre muito antes da chegada dos \u201clatinos\u201d; que defenda o feminismo e os direitos iguais a todes, sem distin\u00e7\u00e3o de ra\u00e7a, cor, orienta\u00e7\u00e3o sexual, identidade e express\u00e3o de g\u00eanero, defici\u00eancia, apar\u00eancia f\u00edsica, tamanho corporal, idade ou religi\u00e3o; que dialogue com a criatividade recombinante das periferias dos nossos continentes, afeitas ao compartilhamento comunit\u00e1rio e sendo alvo principal do exterm\u00ednio praticado por nossas pol\u00edcias regionais; que busque resguardar nossa privacidade a partir de t\u00e1ticas antivigil\u00e2ncia e na defesa do direito ao anonimato e \u00e0 criptografia; e que lute pela propaga\u00e7\u00e3o das fissuras no sistema capitalista, buscando, a partir de uma pr\u00e1tica cultural e tecnol\u00f3gica anticopyright, formas alternativas e solid\u00e1rias de vivermos em harmonia com Pachamama sem esgotar os recursos j\u00e1 escassos de nosso planeta.<\/p>\n

Pensar e fazer a cultura livre desde o sul requer pensarmos na urg\u00eancia das necessidades de sobreviv\u00eancia do nosso povo. Requer nos aproximarmos da discuss\u00e3o sobre o comum, conceito chave que nos une na luta contra a privatiza\u00e7\u00e3o dos recursos naturais, como os oceanos e o ar, mas tamb\u00e9m dos softwares livres e dos protocolos abertos e gratuitos sob os quais se organiza a internet. Nos aproximar do comum amplia nosso campo de disputa no sul global e nos aproxima do cotidiano de comunidades, centrais e perif\u00e9ricas, que lutam no dia a dia pela preserva\u00e7\u00e3o dos bens comuns.<\/p>\n

Importante lembrar que o conceito de comum do qual buscamos nos aproximar deve ser pensado como algo em processo, como um fazer comum (commoning<\/em> em ingl\u00eas). Isto \u00e9, n\u00e3o termos em vista somente o produto em si \u2013 livro, v\u00eddeo, m\u00fasica, hardware ou software livres \u2013 mas a nossas pr\u00f3prias pr\u00e1ticas e din\u00e2micas atrav\u00e9s das quais juntos criarmos novas formas de viver, conviver e tamb\u00e9m produzir. Este \u00e9 o fazer comum. Por isso, \u00e9 t\u00e3o importante mantermos vivas essas redes que acabamos de ativar, essas conex\u00f5es que percorreram todas as mesas e todas as plataformas nas quais mapeamos, escrevemos, registramos e gravamos.<\/p>\n

Para os pr\u00f3ximos anos, nos comprometemos a seguir os esfor\u00e7os de tornar a cultura livre um movimento que, al\u00e9m de lutar por tecnologias, produtos e pr\u00e1ticas culturais n\u00e3o propriet\u00e1rias, tamb\u00e9m batalhe pela redu\u00e7\u00e3o da desigualdade social de nossos continentes a partir do ativismo pela liberdade do conhecimento em prol de comunidades mais justas, aut\u00f4nomas, igualit\u00e1rias, respeitosas e livres. Temos, como objetivos para os pr\u00f3ximos 5 anos (2019 – 2024):<\/p>\n

_ Realizar encontros bianuais, online ou presencial, com o objetivo de desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento e defesa da cultura livre e dos bens comuns;<\/p>\n

_ Alimentar e divulgar mais amplamente as plataformas para o mapeamento e curadoria de iniciativas de cultura livre;<\/p>\n

_ Criar e manter f\u00f3runs online para incentivar o debate e as trocas entre os diferentes projetos\/atores de cultura livre do Sul, especialmente no intervalo dos encontros;<\/p>\n

_ Propor forma\u00e7\u00f5es cont\u00ednuas em cultura livre, de modo a relacionar as pr\u00e1ticas e conceitos trabalhados \u00e0 pessoas e projetos do sul global;<\/p>\n

_ Promover espa\u00e7os seguros de inclus\u00e3o e diversidade dentro dos debates sobre cultura livre, garantindo a igualdade de direitos. Em nossos espa\u00e7os ser\u00e3o rejeitados todos os tipos de pr\u00e1ticas e comportamentos homof\u00f3bicos, racistas, transf\u00f3bicos, sexistas ou excludentes de alguma forma;<\/p>\n

_ Fortalecer a liberdade de express\u00e3o, acesso \u00e0 informa\u00e7\u00e3o e a cria\u00e7\u00e3o de espa\u00e7os democr\u00e1ticos de comunica\u00e7\u00e3o que garantam avan\u00e7os nas discuss\u00f5es sobre cultura livre e na constru\u00e7\u00e3o democr\u00e1tica das pol\u00edticas sobre o tema;<\/p>\n

Internet, Ibero-am\u00e9rica, sul-global, 23 de novembro de 2018<\/span><\/strong><\/p>\n

Assinam os coletivos:<\/p>\n

BaixaCultura, Brasil
\n
Casa da Cultura Digital Porto Alegre<\/a>, Brasil
\n
\u00c1rtica<\/a>, Uruguay
\n
Ediciones de La Terraza<\/a>, Argentina
\n
Em Rede<\/a>, Brasil
\n
Nodo Com\u00fan<\/a>, Iberoam\u00e9rica
\n
Rede das Produtoras Culturais Colaborativas<\/a>, Brasil
\nRede
iTEIA.NET<\/a>, Brasil
\n
Libreflix<\/a>, Brasil<\/p>\n

Pad para aderir ao manifesto<\/a> (adicione o nome da pessoa ou grupo no final)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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