{"id":12504,"date":"2018-08-10T15:31:15","date_gmt":"2018-08-10T15:31:15","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=12504"},"modified":"2018-08-10T15:31:15","modified_gmt":"2018-08-10T15:31:15","slug":"jornadas-de-ciencia-e-tecnologia-abertas-no-sul-global","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2018\/08\/10\/jornadas-de-ciencia-e-tecnologia-abertas-no-sul-global\/","title":{"rendered":"Jornadas de ci\u00eancia e tecnologia abertas no sul global"},"content":{"rendered":"

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Ao longo dos quase 10 anos de BaixaCultura, sempre tivemos algumas colabora\u00e7\u00f5es de pessoas, pr\u00f3ximas ou n\u00e3o, que se interessam pelas pautas que aqui falamos e buscam trazer para c\u00e1 seus pontos de vista. Basta, por exemplo, buscar no arquivo textos do Andr\u00e9 Solnik<\/a>, Lu\u00eds Eduardo Tavares<\/a>, da Aracele Torres<\/a>, da Daiane Hemerich<\/a>, entre outrxs, para ver que trazer textos e perspectivas que n\u00e3o somente a nossa aqui oxigena um pouco o espa\u00e7o. E, tamb\u00e9m, apresenta olhares para tem\u00e1ticas n\u00e3o tao abordadas aqui n\u00e3o por falta de interesse, mas por quest\u00f5es de tempo e conhecimento do tema em quest\u00e3o.<\/p>\n

\u00c9 o caso desse relato aqui, escrito por Marina de Freitas, engenheira f\u00edsica rec\u00e9m formada pela UFRGS. Natural de Santo \u00c2ngelo, na regi\u00e3o das miss\u00f5es, noroeste do RS, Marina se aproximou da ci\u00eancia cidad\u00e3 e do hardware aberto a partir de sua participa\u00e7\u00e3o no Centro de Tecnologia da UFRGS<\/a> (CTA, na foto acima; Marina \u00e9 a com a guitarra vermelha), espa\u00e7o muito ativo e interessante de aprendizado em tecnologias abertas localizado no Instituto de F\u00edsica da universidade, no Campus do Vale, Porto Alegre quase Viam\u00e3o (cidade da regi\u00e3o metropolitana). No \u00faltimo FISL, em meados de julho de 2018, conversamos sobre o evento em que ela participaria em Santiago, as Jornadas Latinoamericanas de Estudios Sociales de la Ciencia y la Tecnolog\u00eda, e falamos sobre biohacking, hardware aberto e o que ela estava esperando encontrar no Chile. Da\u00ed saiu a vontade de escrever um relato sobre as jornadas, que cobre uma tem\u00e1tica que, voc\u00eas v\u00e3o ver, se relaciona muito com o que falamos aqui, embora n\u00e3o seja um tema t\u00e3o frequente pela falta de conhecimento (e tempo) desse editor que aqui escreve e das pessoas mais pr\u00f3ximas do Baixa. Quem sabe n\u00e3o abrimos um flanco aqui para falar mais de ci\u00eancia aberta, open hardware e biohacking? Confira o relato de Marina logo abaixo.<\/p>\n

Leonardo Foletto, editor<\/em><\/p>\n

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O ESOCITE caiu em meus colos de surpresa. As Jornada<\/i>s Latinoamericanas de Estudios Sociales de la Ciencia y la Tecnolog\u00eda<\/i> (ESOCITE<\/a>) est\u00e3o na sua 12\u00b0 edi\u00e7\u00e3o e ocorrem desde 1995. Mas, para mim, uma novidade. Este ano foi sediada em Santiago do Chile, com o pertinente tema \u201cCiudadan\u00edas del conocimiento: nuevas formas y tensiones en el hacer y pensar la ciencia, la tecnolog\u00eda y la sociedad.\u201d.<\/em><\/p>\n

Durante os dias <\/em>18, 19 e 20 de Julho se reuniram na Facultad de Ciencias Sociales<\/i><\/a> da Universidad de Chile<\/i> pesquisadoras, ativistas, professoras e engenheiras para discutir e refletir sobre as mudan\u00e7as nas arquiteturas e pol\u00edticas de ci\u00eancia, tecnologia e inova\u00e7\u00e3o, sobre as novas formas de a\u00e7\u00e3o cidad\u00e3 e suas interpela\u00e7\u00f5es na ci\u00eancia, sobre a nova demanda de constru\u00e7\u00e3o de conhecimento fora das institui\u00e7\u00f5es tradicionais e necessidade de uma maior resposta aos aos problemas cidad\u00e3os e demandas sociais.<\/p>\n

Foram 34 se\u00e7\u00f5es, com mais de 120 trabalhos apresentados, que discutiram a educa\u00e7\u00e3o de ci\u00eancia e tecnologia, a educa\u00e7\u00e3o rural, as controv\u00e9rsias tecnocient\u00edficas, o futuro das cidades inteligentes, as a\u00e7\u00f5es de engenharia social e anti-hegem\u00f4nica, passando pela biotecnologia, a nanotecnologia, a agroecologia, a sa\u00fade p\u00fablica e o ativismo, sem excluir a hist\u00f3ria da ci\u00eancia e tecnologia na Am\u00e9rica Latina, e culminando no acesso aberto e ci\u00eancia aberta.<\/p>\n

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N\u00e3o passou despercebido nesta hist\u00f3ria toda as marcas das Tomas Feministas, mais um elemento da Onda Feminista na Am\u00e9rica Latina. O espa\u00e7o em que ocorreu a jornada, a Facultad de Ciencias Sociales da Universidad de Chile, esteve ocupada durante 3 meses por estudantes feministas que protestavam contra o ass\u00e9dio sexual na universidade e em defesa de uma educa\u00e7\u00e3o n\u00e3o-sexista. Finalizadas no in\u00edcio de Julho, cartazes, pinturas e interven\u00e7\u00f5es feministas preenchiam o espa\u00e7o, imposs\u00edveis de n\u00e3o serem vistas. \u00c9 neste clima energizante, que vivenciei esta jornada.<\/p>\n

Que somos col\u00f4nias, sabemos, mas me chamou aten\u00e7\u00e3o a fala da pesquisadora Lea Velho, na abertura do evento. Nos contou \u2013 como se estiv\u00e9ssemos todas em volta do fogo \u2013 sobre o \u201cbem sucedido\u201d caso de coopera\u00e7\u00e3o internacional da Esta\u00e7\u00e3o Ecol\u00f3gica de Marac\u00e1<\/a>, quando, apesar dos acordos firmados, os artigos publicados foram muito mais numerosos para os pesquisadores franceses, do que para os brasileiros. Revela como a internacionaliza\u00e7\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o cient\u00edfica da Am\u00e9rica Latina tem se resumido ao padr\u00e3o colonial de explora\u00e7\u00e3o onde n\u00f3s n\u00e3o fazemos parte do fazer ci\u00eancia, apenas fornecemos dados. Ao contr\u00e1rio, gostar\u00edamos que uma internacionaliza\u00e7\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o cientifica Latina levasse ao aumento na diversidade do pensar cient\u00edfico, contribuindo para a pluralidade de perspectivas e vis\u00f5es. Mas o que tem se visto \u00e9 apenas uma sofistica\u00e7\u00e3o nos mecanismos de explora\u00e7\u00e3o. Sem muitas surpresas, o que n\u00e3o significa que n\u00e3o d\u00f3i.<\/p>\n

N\u00f3s, cientistas e tecn\u00f3logos, estamos sempre buscando argumentos para a pergunta \u201cPor que ci\u00eancia e tecnologia s\u00e3o importantes para as pessoas?\u201d. O pesquisador Irlan Van Linsingen prop\u00f4s uma s\u00fatil mudan\u00e7a nesta pergunta: que tal \u201cDe qual ci\u00eancia e tecnologia necessitam as pessoas?\u201d. Esta mudan\u00e7a de perspectiva dialoga diretamente com a descoloniza\u00e7\u00e3o da ci\u00eancia e tecnologia. Enquanto produzimos o conhecimento (e os dados) que os gringos querem importar, nos motivando nas motiva\u00e7\u00f5es deles, viramos as costas para nossa gente e para suas necessidades.<\/p>\n

O pesquisador Mariano Fressoli conectou tudo isso a ci\u00eancia cidad\u00e3 atrav\u00e9s do exemplo da Rhizom\u00e1tica<\/a>, rede telef\u00f4nica comunit\u00e1ria de Oaxaca, M\u00e9xico. Redes essas constru\u00eddas a partir da necessidade de uma comunidade, e n\u00e3o da necessidade de mercado de uma empresa, ou de pesquisa de uma institui\u00e7\u00e3o. Redes telef\u00f4nicas auto-governadas, sem fins-lucrativos, sem-besteira. A conex\u00e3o, no ESOCITE, foi refor\u00e7ada institucionalmente pelas duas oficinas oferecidas: Oficina Ciencia Ciudadana<\/a> e Open Knowledge Map<\/a>. Ambas apontando a dire\u00e7\u00e3o que caminham os debates sobre ci\u00eancia, tecnologia e sociedade.<\/p>\n

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Sum\u00e1rio do Gosh Roadmap<\/p><\/div>\n

Na sess\u00e3o \u201cAcesso Aberto e Ci\u00eancia Aberto\u201d, uma surpresa: a Funda\u00e7\u00e3o Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) possui um grupo de trabalho de ci\u00eancia aberta<\/a>. A FIOCRUZ \u00e9 uma das grandes institui\u00e7\u00f5es de pesquisa em sa\u00fade do Brasil, e o fato de possu\u00edrem um grupo de trabalho de ci\u00eancia aberta indica um caminho promissor no Brasil para esta ci\u00eancia. N\u00e3o bastando, lan\u00e7aram um livro sobre Ci\u00eancia Aberta e Dados Abertos, intitulado \u201cLivro Verde – Ci\u00eancia Aberta e Dados Abertos: Mapeamento e An\u00e1lise de Pol\u00edticas, Infraestruturas e Estrat\u00e9gias em Perspectiva Nacional e Internacional<\/a>\u201d. S\u00f3 felicidade!<\/p>\n

Tamb\u00e9m marcou presen\u00e7a nesta sess\u00e3o a comunidade do Global Open Science Hardware (GOSH) [openhardware.science], representada por eu mesma. Apresentei o GOSH Roadmap<\/a>, o roteiro guia da comunidade de cientistas, artistas, engenheiras e pesquisadoras que desenvolvem e usam hardware aberto para ci\u00eancia<\/a>. Este documento foi escrito colaborativamente pela comunidade, e traz os passos que acreditamos ser necess\u00e1rios para que o Open Science Hardware (Hardware Cient\u00edfico Aberto) esteja difundido, a n\u00edvel global, at\u00e9 2025. Apesar de estar numa sess\u00e3o repleta de pessoas acostumadas com a ci\u00eancia aberta e dados abertos, a reflex\u00e3o sobre a necessidade de que os instrumentos cient\u00edficos sejam tamb\u00e9m livres e abertos foi uma novidade. Uma novidade muito bem recebida e acolhida.<\/p>\n

A import\u00e2ncia de considerar a territorialidade tanto na educa\u00e7\u00e3o, quanto na pr\u00f3pria produ\u00e7\u00e3o de ci\u00eancia e tecnologia se mostraram evidentes nos trabalhos compartilhados ao longo da Jornada. As rela\u00e7\u00f5es, diretas e indiretas, com a ci\u00eancia cidad\u00e3 e ci\u00eancia aberta despontavam aqui e ali, permeadas de ativismo, preocupa\u00e7\u00e3o e esperan\u00e7a. As Jornadas terminaram, mas fica a vontade de produzir uma ci\u00eancia aberta imersa numa cultura livre.<\/p>\n

Marina de Freitas<\/em><\/a><\/p>\n

Fotos: 1 (CTA<\/a>), 2 (twitter<\/a>), 3, 4, 5 (Marina) e 6 (gosh)
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