{"id":1250,"date":"2009-02-04T13:24:32","date_gmt":"2009-02-04T13:24:32","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=1250"},"modified":"2009-02-04T13:24:32","modified_gmt":"2009-02-04T13:24:32","slug":"historias-de-um-cronopio","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2009\/02\/04\/historias-de-um-cronopio\/","title":{"rendered":"Hist\u00f3rias de um cron\u00f3pio"},"content":{"rendered":"
Pipol: “N\u00e3o duvide de um cronopiano, n\u00e3o \u00e9 saud\u00e1vel!”<\/p><\/div>\n
Cron\u00f3pios s\u00e3o seres “t\u00e3o estranhos que eu n\u00e3o conseguia v\u00ea-los claramente, uma esp\u00e9cie de micr\u00f3bio flutuando no ar, uns gl\u00f3bulos verdes que pouco\u00a0a pouco iam tomando caracter\u00edsticas humanas”, como descreve seu criador, o escritor argentino Julio Cort\u00e1zar<\/a>. Em Hist\u00f3rias de Cron\u00f3pios e Famas<\/a> um prov\u00e1vel leitor encontra mais que esta pista inicial\u00a0—\u00a0cron\u00f3pios s\u00e3o criaturinhas ing\u00eanuas que se alimentam de poesia, o oposto das famas, essas prisioneiras da realidade. “Todos queremos tanto ser cron\u00f3pios e repudiar aos famas. Com os cron\u00f3pios, Cort\u00e1zar nos proporcionou uma vida menos pesada, melhor, quase suport\u00e1vel”,\u00a0prop\u00f5e Cassiano Viana neste belo texto<\/a>.\u00a0Mesmo depois disto,\u00a0cron\u00f3pios continuam sendo mais. Cron\u00f3pios<\/strong><\/a>, provavelmente o maior portal de literatura da web brasileira, no ar h\u00e1 05 anos sob edi\u00e7\u00e3o de Edson Cruz<\/strong> e Pipol<\/strong>.<\/p>\n Pipol e Edson Cruz<\/p><\/div>\n Se n\u00e3o o maior, no m\u00ednimo o mais completo. No sentido de dar \u00e0 literatura tratamento de web, inseri-la completamente no contexto da cultura digital. Numa palavra: multim\u00eddia. Al\u00e9m de um monstruoso volume de artigos, ensaios e literatura in\u00e9dita, o site hospeda projetos pioneiros e nada convencionais. Como a revista Mnemozine<\/a>, que j\u00e1 apresentou dossi\u00eas robustos sobre poetas do porte de Pedro Xisto [um verdadeiro resgate do autor], Augusto de Campos, Paulo Leminski e Alice Ruiz. Ou a cole\u00e7\u00e3o de pocket e-books<\/a>, que em seu breve cat\u00e1logo cont\u00e9m nomes como o do cineasta Sylvio Back e do lend\u00e1rio Wilson Bueno. Ou o Cronopinhos<\/a>, a bela iniciativa de literatura infantil que al\u00e9m de textos inclui arquivos de \u00e1udio e livros visuais. Ou ainda a TV Cron\u00f3pios<\/a>, talvez a maior contribui\u00e7\u00e3o do portal para a mem\u00f3ria liter\u00e1ria brasileira, que j\u00e1 registrou entrevistas com Roberto Piva, Glauco Mattoso, Jos\u00e9 Saramago, entre muitos e muitos outros.<\/p>\n Com toda essa disposi\u00e7\u00e3o para explorar as possibilidades da internet, o editor e respons\u00e1vel pela programa\u00e7\u00e3o visual de todos esses projetos [que, se tu clicou nos links acima, reparou que \u00e9 no m\u00ednimo luxuosa] respondeu de bom grado a algumas quest\u00f5es\u00a0propostas por email por este insipiente rep\u00f3rter. As perguntas\u00a0giram em torno das inova\u00e7\u00f5es\u00a0que o portal inseriu na maneira de ler [e quem sabe fazer] literatura na web. As respostas, como o leitor ver\u00e1, apontam para muitas outras novidades. Com a palavra, Pipol.<\/p>\n *<\/p>\n Qual a periodicidade\/receptividade dos ebooks? Existe uma linha editorial pros t\u00edtulos? Uma coisa que de cara chama a aten\u00e7\u00e3o no projeto \u00e9 que ele\u00a0\u00e9 adequados pro formato virtual (livros de tamanho pequeno e de curta metragem, visualmente atraentes e nada cansativos). \u00c0s vezes tenho a impress\u00e3o de que o download de livros n\u00e3o tem a mesma for\u00e7a que o de m\u00fasicas ou filmes justamente porque s\u00e3o poucas as iniciativas preocupadas com a adequa\u00e7\u00e3o do formato. O que voc\u00ea pensa em rela\u00e7\u00e3o a isso? Que outras experi\u00eancias apontaria como interessantes?<\/strong><\/p>\n Concordo com voc\u00ea. Realmente os livros para download nada mais s\u00e3o do que um PDF ou outro formato similar. Nada atraente mesmo. Mas \u00e9 que n\u00e3o existe ainda um aparelho bacana como um iPod, pr\u00f3prio para leitura. Os e-books tipo Kindle e o Sony Reader ainda s\u00e3o chatos e em preto e branco (imagina s\u00f3!). Quando surgir “o” aparelhinho certo tudo mudar\u00e1. Not\u00edcias recentes d\u00e3o conta de que nos EUA j\u00e1 est\u00e1 pegando o h\u00e1bito de se ler em aparelhos eletr\u00f4nico de leitura (o Kindle da Amazon j\u00e1 pode ser considerado um sucesso). O comportamento humano \u00e9 muito male\u00e1vel, como tudo pode mudar de uma hora para outra. \u00c9 incr\u00edvel, at\u00e9 a semana passada parecia que o livro digital nunca iria passar de uma experi\u00eancia…<\/p>\n Como \u00e9 a quest\u00e3o dos direitos autorais dos ebooks? O mesmo sobre a TV: qual a periodicidade dos programas? Como funciona a estrutura t\u00e9cnica de voc\u00eas?<\/strong><\/p>\n A TV Cron\u00f3pios \u00e9 o meu projeto preferido entre todos do Cron\u00f3pios. Poucos se d\u00e3o conta, ou pelo menos ningu\u00e9m ainda falou sobre isso comigo, \u00e9 o car\u00e1ter de “manifesto audiovisual” que esse projeto tem em sua estrutura de produ\u00e7\u00e3o. A aparente simplicidade na verdade \u00e9 uma sofistica\u00e7\u00e3o, uma combina\u00e7\u00e3o de \u00e9tica e criatividade. \u00c9 uma “TV po\u00e9tica”. J\u00e1 trabalhei em televis\u00e3o e sei bem que os profissionais desse meio podem transformar tudo em coisa sem import\u00e2ncia ou ruim.<\/p>\n Para fazer trabalho t\u00e3o sutil, trabalhamos pesado. A equipe \u00e9 reduzid\u00edssima, somos s\u00f3 tr\u00eas: A Egle Spinelli fazendo c\u00e2mera, dire\u00e7\u00e3o e edi\u00e7\u00e3o; o Edson Cruz fazendo entrevistas; e eu, fazendo c\u00e2mera, dire\u00e7\u00e3o e edi\u00e7\u00e3o. Em alguns projetos, como os nossos programas, contamos com outros colaboradores, como fot\u00f3grafos, iluminadores, equipe de som… Geralmente fazemos os programas em parceria com uma institui\u00e7\u00e3o ou empresa. Por exemplo, estamos trabalhando na cria\u00e7\u00e3o de um programa em conjunto com a Livraria Martins Fontes. Fizemos em dezembro a grava\u00e7\u00e3o de um evento sobre editora\u00e7\u00e3o e mercado editorial, realizado pelos alunos da ECA-USP [Escola de Comunica\u00e7\u00e3o e Artes da Universidade de S\u00e3o Paulo]. Entramos no projeto como apoiadores e estamos editando agora o material para ser transformar numa ferramenta de consulta e apoio educacional.<\/p>\n A estrutura t\u00e9cnica \u00e9 a mais simples poss\u00edvel. Usamos c\u00e2meras miniDV e softwares comuns de edi\u00e7\u00e3o de v\u00eddeo. A hospedagem dos v\u00eddeos \u00e9 feita em servidor do Cron\u00f3pios. N\u00e3o usamos o YouTube para hospedar os v\u00eddeos. Isso acaba custando muito mais para n\u00f3s, pois sempre temos que gastar mais com banda e transfer\u00eancia de dados… N\u00e3o somos bobos por isso, trata-se de um investimento na nossa marca, no nosso conceito de comunica\u00e7\u00e3o.<\/p>\n O fato de a exibi\u00e7\u00e3o ser gratuita dificulta o trabalho? Voc\u00eas pretendem investir mais no lado multim\u00eddia da m\u00eddia com que trabalham?<\/strong><\/p>\n Sim, sim. O Cron\u00f3pios ganhar\u00e1 cada vez mais recursos e ferramentas multim\u00eddia. Estamos pensando numa forma de utilizar voz sintetizada por software para ler os textos publicados no site, ajudando na acessibilidade para deficientes visuais ou mesmo simplesmente para ouvir o texto enquanto se faz qualquer outra coisa. Vamos reformular tamb\u00e9m o nosso servi\u00e7o de Podcasts. A TV Cron\u00f3pios ter\u00e1 outros programas, inclusive com transmiss\u00e3o ao vivo.<\/p>\n Algum projeto novo pro Cron\u00f3pios?<\/strong><\/p>\n Estamos de volta \u00e0s pranchetas de projeto. O Cron\u00f3pios est\u00e1 sendo totalmente reformulado.\u00a0 E as id\u00e9ias s\u00e3o bem ambiciosas, algumas inovadoras. Estamos estudando como incorporar novas tecnologias, inventando outros usos para melhorar o que j\u00e1 existe, criando novos sites e oferendo novos servi\u00e7os, etc etc etc.<\/p>\n Uma das id\u00e9ias, j\u00e1 d\u00e1 para adiantar, \u00e9 transformar o Caf\u00e9 Liter\u00e1rio em um local de encontros virtuais, aproveitando e adaptando a tecnologia do Chat. Chamaremos a nova ferramenta de Caf\u00e9 Cron\u00f3pios. Os cronopianos poder\u00e3o manter conversas (particulares ou p\u00fablicas) com outros frequentadores do Caf\u00e9. Uma tela mostrar\u00e1 o usu\u00e1rio que estiver online no espa\u00e7o virtual do Caf\u00e9 Cron\u00f3pios.<\/p>\n Vamos inaugurar tamb\u00e9m um novo site, agora dedicado \u00e0 fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica brasileira. J\u00e1 temos o editor que vai cuidar desse projeto. Em breve anunciaremos o nome. O material reunido para dar in\u00edcio ao site \u00e9 de primeira. Todos os principais autores do g\u00eanero no Brasil estar\u00e3o reunidos. Com isso, uma nova comunidade vai se “teletransportar” para junto dos cronopianos, aumentando o interc\u00e2mbio, gerando motiva\u00e7\u00e3o e cria\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Estamos trabalhando tamb\u00e9m na cria\u00e7\u00e3o de um site para oferecer cursos e oficinas online. Esse projeto tem a parceria da Livraria Martins Fontes. Estamos nos reunindo semanalmente para isso. J\u00e1 temos o esbo\u00e7o de como funcionar\u00e1 e estamos nos aprofundando nas necessidades t\u00e9cnicas e na busca de recursos financeiros.<\/p>\n E ainda estamos criando uma ag\u00eancia de not\u00edcias do meio liter\u00e1rio e artes em geral. Ser\u00e1 um site independente com uma equipe independente formada por dois jornalistas que ir\u00e1 diariamente editar e publicar informa\u00e7\u00f5es e not\u00edcias. O site ter\u00e1 tamb\u00e9m uma \u00e1rea com interface Web 2.0, que ir\u00e1 permitir a qualquer pessoa enviar informa\u00e7\u00f5es e divulgar trabalhos de todo o pa\u00eds.<\/p>\n Tudo isso \u00e9 poss\u00edvel sim, n\u00e3o \u00e9 exagero de minha parte, embora, admito, possa parecer. Mas n\u00e3o duvide de um cronopiano, n\u00e3o \u00e9 saud\u00e1vel. He he he.<\/p>\n [Reuben da Cunha Rocha.<\/strong>]<\/p>\n Cr\u00e9dito das fotos: <\/em>aqui<\/em><\/a> e <\/em>aqui<\/em><\/a>.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Cron\u00f3pios s\u00e3o seres “t\u00e3o estranhos que eu n\u00e3o conseguia v\u00ea-los claramente, uma esp\u00e9cie de micr\u00f3bio flutuando no ar, uns gl\u00f3bulos verdes que pouco\u00a0a pouco iam tomando caracter\u00edsticas humanas”, como descreve seu criador, o escritor argentino Julio Cort\u00e1zar. 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\n<\/strong>
\nOs livros digitais no formato proposto pelo Cron\u00f3pios, apesar da boa receptividade,\u00a0s\u00e3o um projeto a ser revisto. O processo de editora\u00e7\u00e3o e montagem dos livros \u00e9 bastante trabalhoso, o que dificulta os lan\u00e7amentos com maior frequ\u00eancia. Quando lan\u00e7amos o projeto, tivemos a ades\u00e3o r\u00e1pida e entusiasmada de v\u00e1rios autores. Recebemos v\u00e1rios originais para sele\u00e7\u00e3o e escolhemos alguns pelo crit\u00e9rio: criatividade + textos curtos + . Eu digo que precisamos rever o projeto porque \u00e9 poss\u00edvel agilizar tudo com um pouco mais de tecnologia e uma nova abordagem. Talvez terceirizando a editora\u00e7\u00e3o dos livros (design, revis\u00e3o, etc). Estamos estudando isso. O projeto \u00e9 bom, merece continuar.<\/p>\n
\n<\/strong>
\nN\u00f3s estamos empolgados com o Creative Commons, gostamos da id\u00e9ia e apoiamos tudo que facilite a vida criativa.<\/p>\n
\n<\/strong>
\nClaro que sim. Temos que arrumar dinheiro de um jeito ou de outro. Muito do que gostar\u00edamos de fazer simplesmente n\u00e3o pode ser feito. Tudo tem que ser barato para n\u00e3o ficarmos na frustra\u00e7\u00e3o.<\/p>\n