{"id":12479,"date":"2018-07-20T23:39:11","date_gmt":"2018-07-20T23:39:11","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=12479"},"modified":"2024-08-23T17:28:42","modified_gmt":"2024-08-23T20:28:42","slug":"redes-livres-infraestruturas-comunitarias","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2018\/07\/20\/redes-livres-infraestruturas-comunitarias\/","title":{"rendered":"Redes livres, infraestruturas comunit\u00e1rias"},"content":{"rendered":"
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Instala\u00e7\u00e3o de uma antena da gufinet em Barcelona<\/p><\/div>\n

No final do texto passado, \u201cRessaca da Internet, esp\u00edrito do tempo<\/a>\u201d, fiz algumas perguntas que podem guiar a busca por uma (re) inven\u00e7\u00e3o da internet, cada vez mais cerceada por grandes empresas privadas (Google, Facebook, Amazon, Microsoft, Apple) e pela vigil\u00e2ncia, tanto de ag\u00eancias de espionagem ligados \u00e0 governos (vide NSA) como \u00e0 realizada pelas mesmas empresas j\u00e1 mencionadas, que tem como modelo de neg\u00f3cios o com\u00e9rcio de dados. Repito aqui um dos questionamentos porque vai guiar a busca desse texto: de quais maneiras pr\u00e1ticas os engenheiros de computa\u00e7\u00e3o podem tornar o processamento da informa\u00e7\u00e3o na internet mais descentralizado? Ou, visto de outro modo: quais s\u00e3o os jeitos de desmonopolizar o tr\u00e1fego de informa\u00e7\u00e3o nas redes? Falo aqui um pouco mais do maior gargalo: a infraestrutura.<\/p>\n

Para voc\u00ea ler este texto aqui*, seja de um notebook, desktop, smartphone ou tablet, o esquema costuma ser o seguinte: voc\u00ea adquire (ou toma emprestado, ou aluga por um tempo determinado, caso das ainda resistentes lan houses<\/i>) um dispositivo que, a partir de um componente eletr\u00f4nico – uma entrada de cabo de rede, uma placa wifi, <\/i>um pequeno artefato que d\u00e1 acesso \u00e0s redes 3G, 4G ou 5G – permite a conex\u00e3o a uma rede que chamamos de internet. No caso de wifi<\/i> ou cabo, voc\u00ea (ou a pessoa que \u00e9 dona de seu computador) contrata um plano de alguma das operadoras de telefonia que fazem esse servi\u00e7o; esta vai ser respons\u00e1vel por ligar a rede criada na sua casa \u00e0 internet atrav\u00e9s de uma porta disponibilizada na sua rua, e dessa porta \u00e0 uma central local, regional e assim os seus dados v\u00e3o circular em cabos de fibra \u00f3tica terrestres e submarinos ao redor do mundo. Se for a partir de uma rede 3,4 ou 5G, o seu dispositivo, a partir de um microcomponente de rede instalado nele, vai acessar uma determinada frequ\u00eancia emitida por diversas antenas, que vai permitir o acesso \u00e0 mesma internet dos cabos. \u00a0Com este aparato f\u00edsico de ondas ou cabos por tr\u00e1s \u00e9 que voc\u00ea vai ligar seu smartphone, notebook, desktop, abrir um navegador e digitar \u201chttps:\/\/outraspalavras.org<\/a>\u201d ou “https:\/\/baixacultura.org<\/a>” e ler esse texto, ou chegar a ele atrav\u00e9s de um e-mail, ou pelas redes sociais, principalmente Twitter, Facebook e WhatsApp \u2013 ainda a op\u00e7\u00e3o mais comum de entrada em alguns sites.<\/p>\n

Uma op\u00e7\u00e3o alternativa (ou complementar) de infraestrutura de comunica\u00e7\u00e3o cada vez mais popular no mundo inteiro s\u00e3o as chamadas redes livres, que funcionam como grandes redes sem fio abertas, montadas a partir de um grupo de roteadores conectados entre si que propagam o tr\u00e1fego entre usu\u00e1rios e tamb\u00e9m emitem servi\u00e7os em banda larga a partir de pontos conectados \u00e0 internet. \u00c9 comum o uso de topologia de rede em malha, ou mesh<\/a>, que oferece maior estabilidade \u00e0 comunica\u00e7\u00e3o e tamb\u00e9m facilita sua expans\u00e3o a \u00e1reas mais remotas, j\u00e1 que sempre \u00e9 poss\u00edvel agregar novos n\u00f3s \u00e0 rede. Estas redes costumam funcionar de duas maneiras: se n\u00e3o tem nenhum ponto conectado \u00e0 internet, funcionam como grandes intranets, onde os usu\u00e1rios t\u00eam acesso a uma rede comunit\u00e1ria offline e podem se comunicar entre si da maneira que quiserem e usufruir servi\u00e7os nesta rede. Se um dos pontos tem acesso a internet, ent\u00e3o se tornam op\u00e7\u00f5es mais baratas de conex\u00e3o \u00e0 internet \u2013 o que propicia a cria\u00e7\u00e3o de pequenos provedores comunit\u00e1rios estruturados, uma op\u00e7\u00e3o real especialmente para lugares de dif\u00edcil acesso onde as operadoras de internet n\u00e3o veem interesse em chegar ou chegam com servi\u00e7os caros e ruins.<\/p>\n

Uma das principais refer\u00eancias em n\u00edvel mundial \u00e9 a guifi.net<\/a>, na Espanha. Criada a partir de 2004, \u00e9 uma rede de telecomunica\u00e7\u00e3o comunit\u00e1ria e auto-organizada que conta com mais de 35 mil n\u00f3s ativos e cobre cerca de \u00a046 mil km de conex\u00e3o sem fio nas regi\u00f5es da Catalunha e Val\u00e8ncia, com alguns n\u00f3s chegando at\u00e9 a fronteira com a Fran\u00e7a, Andorra e outras regi\u00f5es da Espanha, como as ilhas Baleares, Madrid, Andaluzia e Pa\u00eds Basco. Come\u00e7ou como uma forma de ligar locais (casas, escrit\u00f3rios, propriedades rurais, at\u00e9 edif\u00edcios p\u00fablicos) da zona rural de Osona, na Catalunha, que tinham dificuldades de acessar banda larga com qualidade, e a partir da\u00ed foi se expandindo para outras regi\u00f5es, com nodos conectados \u00e0 internet e outros n\u00e3o. Para al\u00e9m da infraestrutura t\u00e9cnica de conex\u00e3o, uma das raz\u00f5es do sucesso de guifi.net foi a organiza\u00e7\u00e3o social da rede<\/a>; com a expans\u00e3o surgiu uma comunidade de volunt\u00e1rios, pequenos provedores, empresas e coletivos de usu\u00e1rios que se tornaram respons\u00e1veis pela manuten\u00e7\u00e3o da rede e criaram um ecossistema de funcionamento que teve o reconhecimento (e em alguns casos, apoio) dos org\u00e3os p\u00fablicos locais e estaduais. Hoje, h\u00e1 uma funda\u00e7\u00e3o por tr\u00e1s da comunidade – F<\/a>undaci\u00f3<\/a> Privada per a la Xarxa Oberta, Lliure i Neutral guifi\u00b7<\/i>net<\/i><\/a>– que trabalha com o acesso \u00e0s telecomunica\u00e7\u00f5es como um direito humano e \u00e9, ao mesmo tempo, uma entidade de voluntariado, uma ONG e uma operadora de telecomunica\u00e7\u00f5es constitu\u00edda legalmente.<\/p>\n