{"id":12377,"date":"2018-04-27T16:11:36","date_gmt":"2018-04-27T16:11:36","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=12377"},"modified":"2018-04-27T16:11:36","modified_gmt":"2018-04-27T16:11:36","slug":"cultura-comum-e-inovacao-cidada-em-charla","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2018\/04\/27\/cultura-comum-e-inovacao-cidada-em-charla\/","title":{"rendered":"Cultura livre, comum e inova\u00e7\u00e3o cidad\u00e3 em charla"},"content":{"rendered":"

Primeiro de mar\u00e7o, final de manh\u00e3 quente em Santos. Da rodovi\u00e1ria at\u00e9 o Instituto Procomum nos disseram que levava nem 20 minutos a p\u00e9. Nos disseram tamb\u00e9m que a viagem de S\u00e3o Paulo at\u00e9 Santos \u00e9 r\u00e1pida, e foi: de descer em Jabaquara, entrar no terminal, comprar passagem, pegar a Imigrantes para descer a serra e chegar na maior cidade do litoral paulista n\u00e3o deu 2h. Baixamos do \u00f4nibus com mochilas nas costas e seguimos a p\u00e9 por uma pra\u00e7a grande de nome muito encontrado Brasil afora, Andradas. Atravessamos pelo meio das arvores centen\u00e1rios, cruzamos com pessoas sentadas nos bancos, vendedores de livros usados, at\u00e9 chegarmos numa daquelas t\u00edpicas ruas centrais de cidades brasileiras, de cal\u00e7adas estreitas tomadas de decora\u00e7\u00e3o de lojas, muitas lojas, de m\u00f3veis, eletrodom\u00e9sticos, roupas, tecidos, ferragens, lancherias e trecos em geral. As nuvens fartas disfar\u00e7am a queima\u00e7\u00e3o dos raios de sol na pele, mas n\u00e3o aliviam o calor, abafado e \u00famido que prenuncia chuva. Pouca gente na rua comercial, pelo menos n\u00e3o o suficiente para atrapalhar a caminhada, que segue r\u00e1pida, ritmada, queremos chegar, largar as mochilas, tomar uma \u00e1gua, secar o suor. Agora viramos a esquerda numa rua com mais pr\u00e9dios, menos com\u00e9rcio, uma igreja grande, uma pra\u00e7a que parece antiga \u00e0 esquerda, um posto na esquina; nessa esquina dobramos \u00e0 esquerda novamente. Estamos na rua Sete de Setembro, que ao final d\u00e1 no mar, no porto, no Mercado Municipal, regi\u00e3o de casas antigas, pr\u00e9dios baixos, lojas de todos os tipos. Cal\u00e7adas estreitas, em alguns pontos irregulares,\u00a0 passamos por um muro de um col\u00e9gio, um restaurante-bistr\u00f4, pequenos com\u00e9rcios, paradas de \u00f4nibus. Da cal\u00e7ada olhamos para o o outro lado da rua: n\u00famero 52, uma porta fechada, um pavilh\u00e3o grande. Deve ser aqui. Antiga sede da Associa\u00e7\u00e3o Prato de Sopa Monsenhor Moreira, agora sede do Laborat\u00f3rio Santista. \u00c9.<\/p>\n

Principal projeto do Instituto Procomum<\/a>, o LabxS<\/a> \u00e9 um laborat\u00f3rio cidad\u00e3o em forma\u00e7\u00e3o. Os 1200 m\u00b2 est\u00e3o sendo ocupados aos poucos, com mutir\u00f5es para cuidar da horta, fazer m\u00f3veis, grafitar as paredes, decorar o ambiente. J\u00e1 h\u00e1 quartos e banheiros enormes com v\u00e1rios boxes, resqu\u00edcio do tempo que o espa\u00e7o recebia dezenas de moradores de rua por dia e oferecia comida, banho e um pouco de cuidado para estes voltarem para a rua no mesmo dia. Um dos banheiros coletivos j\u00e1 foi reformado e, nos pr\u00f3ximos meses, vai ser usado na Colaboradora<\/a>, projeto com inscri\u00e7\u00f5es at\u00e9 o pr\u00f3ximo dia 29\/4: trata-se de um um ambiente onde artistas, produtores e a comunidade aprendem juntos a solucionar os complexos problemas contempor\u00e2neos por meio da arte e da cultura. Um resid\u00eancia art\u00edstica, mas n\u00e3o s\u00f3. Um grande sal\u00e3o, antigo refeit\u00f3rio, j\u00e1 tem sido usado como audit\u00f3rio e local de grupos de trabalho, inclusive na 2\u00ba edi\u00e7\u00e3o do Circuito Labs<\/a>, realizada no in\u00edcio deste 2018. O circuito \u00e9 um festival de inova\u00e7\u00e3o cidad\u00e3 feito via chamada p\u00fablica para realiza\u00e7\u00e3o de a\u00e7\u00f5es que promovem os bens comuns e as solu\u00e7\u00f5es de problemas de baixo para cima.<\/p>\n

Muitos dos projetos do LabxS e do Instituto Procomum precisam de mais do que duas palavras de explica\u00e7\u00e3o. Ficam naquela intersec\u00e7\u00e3o entre v\u00e1rias \u00e1reas: n\u00e3o se tratam, por exemplo, de iniciativas culturais, nem de tecnologia, de empoderamento, nem de inova\u00e7\u00e3o, mas de tudo isso junto e misturado com outras v\u00e1rias coisas. Fomentam a solu\u00e7\u00e3o de problemas no espa\u00e7o p\u00fablico a partir de tecnologias digitais, metodologias colaborativas, pessoas e coletivos da regi\u00e3o da Baixada Santista. Inova\u00e7\u00e3o cidad\u00e3 e cultura livre, dois termos que definem o trabalho realizado pelo Procomum, n\u00e3o s\u00e3o facilmente compreens\u00edveis hoje no Brasil. Quer dizer: n\u00e3o s\u00e3o termos complexos, acad\u00eamicos, mas simples, t\u00e3o simples que a vezes permitem muitas interpreta\u00e7\u00f5es. Polissemia pura, que para fins de comunica\u00e7\u00e3o entre diferentes precisam ser definidos. Descri\u00e7\u00f5es e explica\u00e7\u00f5es s\u00e3o facilmente encontradas em todo o site do Procomum e do LabxS n\u00e3o por acaso.<\/p>\n

A BaixaCharla abaixo n\u00e3o foi t\u00e3o descritiva ou explicativa, mas afetiva. Nos conhecemos, eu (Leonardo), Rodrigo e Ge\u00f3rgia faz oito anos, trabalhamos juntos na CCD S\u00e3o Paulo em projetos como o Produ\u00e7\u00e3o Cultural no Brasil, F\u00f3rum da Cultura Digital<\/a>, BaixoCentro<\/a>, al\u00e9m do principal projeto, a pr\u00f3pria casa, criativa e louca como costumam ser as coisas dif\u00edceis de definir. “A Casa me deu r\u00e9gua e compasso do que eu n\u00e3o quero fazer”: frase forte de Rodrigo, citando Gil e “Aquele Abra\u00e7o<\/a>“, d\u00e1 uma amostra do porqu\u00ea a CCD foi tema de alguns bons minutos do papo. N\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil criar um espa\u00e7o onde a experimenta\u00e7\u00e3o se dava sem for\u00e7ar, a\u00e7\u00e3o cotidiana “naturalizada” em caf\u00e9s e conversas paralelas na cozinha que resultavam em projetos meio de brincadeira, meio a s\u00e9rio, que poderiam ser levados adiante e bancados por articula\u00e7\u00f5es financeiras num cen\u00e1rio – hoje percebemos bem – favor\u00e1vel de pol\u00edticas culturais e investimentos p\u00fablicos. “Prioridade pra quem se desloca” era um lema daqueles tempos, que jamais seria escrito como miss\u00e3o, regra, mandamento, a n\u00e3o ser que fosse de brincadeira, a\u00ed sim poderia pintar um dia na parede escrito \u00e0 caneta, fruto empolgado de “horas felizes” no fim de tarde regadas \u00e0 truco e cacha\u00e7a. A lembran\u00e7a com alguma dist\u00e2ncia temporal soa rom\u00e2ntica, mas h\u00e1 de se recordar que o espont\u00e2neo daquela \u00e9poca acontecia pela a\u00e7\u00e3o de muitos “kamikazes financeiros” que adquiriam d\u00edvidas e compravam brigas nada sustent\u00e1veis e que durariam anos para curar. Mas que, ao contr\u00e1rio dos kamikazes originais, n\u00e3o morreram, e c\u00e1 est\u00e1 uma das muitas provas.<\/p>\n

O Instituto Procomum, e o LabxS, \u00e9 como um irm\u00e3o mais velho da CCD. Mais organizado, sustent\u00e1vel, feminista, negro, LGBT, com protocolos claros de conv\u00edvio, hierarquia reconhecida e disposi\u00e7\u00e3o para enfrentar o desafio da organiza\u00e7\u00e3o. O que n\u00e3o significa caretice nem engessamento eterno, mas sim que cada um assuma a sua responsabilidade, que colabore sem esquecer que o afeto \u00e9 importante, que cuidar de todxs e trazer as emo\u00e7\u00f5es para conversar \u00e9 fator diferencial de sobreviv\u00eancia nesse brasil hostil de 2018 – politiza\u00e7\u00e3o do mal-estar, como apontou Amadeu Fernand\u00e9z no relato que produzimos em Enfrenta<\/a>. Rodrigo e Ge\u00f3rgia passaram por muita coisa em governo, empresas privadas e organiza\u00e7\u00f5es da sociedade civil para, hoje, saber o que querem. E tamb\u00e9m para se articular local e internacionalmente e buscar recursos para sustentar seus experimentos: o espa\u00e7o da rua Sete de Setembro e os projetos j\u00e1 tocados pelo Procomum atestam isso.<\/p>\n

A BaixaCharla girou da cultura livre \u00e0 CCD, da pol\u00edtica ao comum, do cuidado \u00e0 inova\u00e7\u00e3o. Foi mais um papo informal e t\u00e3o espont\u00e2neo quanto uma c\u00e2mera na m\u00e3o (da Sheila Uberti, parceira de todas as horas) torna poss\u00edvel. O primeiro em S\u00e3o Paulo – ou melhor, em Santos, na Rua Sete de Setembro, 52, Vila Nova, um dia calor de final de ver\u00e3o. As fotos depois do v\u00eddeo s\u00e3o do e LabxS e dos arredores do Mercado Municipal.<\/p>\n

<\/p>\n

<\/p>\n

<\/p>\n

<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Primeiro de mar\u00e7o, final de manh\u00e3 quente em Santos. Da rodovi\u00e1ria at\u00e9 o Instituto Procomum nos disseram que levava nem 20 minutos a p\u00e9. Nos disseram tamb\u00e9m que a viagem de S\u00e3o Paulo at\u00e9 Santos \u00e9 r\u00e1pida, e foi: de descer em Jabaquara, entrar no terminal, comprar passagem, pegar a Imigrantes para descer a serra […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":12391,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[122],"tags":[1991,757,1942,1992,147,1921,1993,1994,379],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/12377"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=12377"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/12377\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=12377"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=12377"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=12377"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=12377"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}