{"id":12136,"date":"2018-01-29T12:54:42","date_gmt":"2018-01-29T12:54:42","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=12136"},"modified":"2018-01-29T12:54:42","modified_gmt":"2018-01-29T12:54:42","slug":"hackerspaces-makers-e-caixas-pretas-em-charla","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2018\/01\/29\/hackerspaces-makers-e-caixas-pretas-em-charla\/","title":{"rendered":"Hackerspaces, makers e caixas-pretas em charla"},"content":{"rendered":"

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A BaixaCharla #5 teve como convidado Joel Grigolo, soci\u00f3logo, integrante do Matehackers<\/a>, hackerspace situado em Porto Alegre criado em 2012, e do Machinarium<\/a>, laborat\u00f3rio criativo de projetos na \u00e1rea digital. O papo girou em torno de assuntos nos quais Joel transita e fala com naturalidade – e de forma cr\u00edtica: cultura hacker, maker, conhecimento livre, fa\u00e7a-voc\u00ea-mesmo, Porto Alegre, quest\u00f5es tecnol\u00f3gicas, pol\u00edticas e de ensino no Brasil, ci\u00eancia, objetividade… Al\u00e9m do pr\u00f3prio Matehackers, espa\u00e7o do qual Joel est\u00e1 desde os prim\u00f3rdios.<\/p>\n

A charla foi gravada em 12 de dezembro de 2017 no pr\u00f3prio Matehackers, na sala do Machinarium e na outra sala que comp\u00f5e o espa\u00e7o do matehackers, com a parceria da Sheila Uberti na c\u00e2mera. Diferente das anteriores, nessa optamos por n\u00e3o transmitir ao vivo; gravamos em uma c\u00e2mera digital com melhor qualidade de imagem. Esta foi a \u00faltima charla da primeira s\u00e9rie de entrevistas, um ciclo focado em pessoas de Porto Alegre. Em fevereiro de 2018 come\u00e7amos um novo ciclo de charlas, dessa vez com pessoas da cultura livre\/hacker\/digital de S\u00e3o Paulo.<\/p>\n

Joel \u00e9 um “fazedor” nato. Desde a inf\u00e2ncia gosta de abrir caixas-pretas, fu\u00e7ar em eletro-eletr\u00f4nicos, montar e desmontar para ver como funcionam. Mas caixas-pretas n\u00e3o dizem respeito s\u00f3 a objetos t\u00e9cnicos, mas tamb\u00e9m a sistemas, como a sociedade: da\u00ed um dos motivos que fez Joel parar nas Ci\u00eancias Sociais da UFRGS, e l\u00e1 se envolver com a cibercultura, o movimento estudantil e a economia solid\u00e1ria. L\u00e1 sacou que a universidade \u00e9 engessada e hier\u00e1rquica demais para fazer circular um conhecimento livre, ent\u00e3o foi trabalhar na Prefeitura de Porto Alegre, depois emalgumas ONGs (participou da funda\u00e7\u00e3o de duas), em trabalhos dedicados \u00e0 gera\u00e7\u00e3o de renda para adolescentes e trabalhadorxs na cidade, em especial na regi\u00e3o da Vila dos Papeleiros, uma \u00e1rea com diversos problemas de tr\u00e1fico, sujeira e viol\u00eancia situado na regi\u00e3o centro norte de POA, pr\u00f3ximo \u00e0 Rodovi\u00e1ria.<\/p>\n

Nas institui\u00e7\u00f5es p\u00fablicas e partid\u00e1rias, se desgostou da hierarquia extrema, do apagamento da voz individual em nome de uma (suposta?) voz coletiva, que n\u00e3o dava a oportunidade de decis\u00e3o do discurso. Em meados de 2011, descobriu uma lista de pessoas interessadas a montar um hackerspace na cidade, “um bando de gurizada”, nas palavras dele, que foi a base do surgimento do primeiro hackerspace do Estado, o Matehackers, ainda no espa\u00e7o conhecido como Bunker, uma (depois duas) salas num pr\u00e9dio da Avenida Independ\u00eancia, centro de Porto Alegre. Ali muitas das ideias que Joel buscava se encontraram: um espa\u00e7o coletivo, aut\u00f4nomo, focado em tecnologia, funcionando a partir dos princ\u00edpios da cultura hacker e que, agora sim, tratava e fazia de fato conhecimento livre. “Hackerspaces nao existiriam se a academia cumprisse seu papel” \u00e9 uma frase muito falada por ele que sintetiza essa busca, agora (parcialmente?) encontrada no Matehackers.<\/p>\n

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No final de 2013 e in\u00edcio de 2014 o hackerspace migrou para o Vila Flores,<\/a> ent\u00e3o come\u00e7ando a se articular enquanto um centro cultural (e um empredimento comercial focado na economia criativa). Ali o Mate come\u00e7a a agregar gentes diversas e se torna a refer\u00eancia, no Vila e na cidade, em quest\u00f5es voltadas \u00e0 tecnologia, cultura hacker, conhecimento livre. A organiza\u00e7\u00e3o n\u00e3o-hier\u00e1rquica, a liberade de atua\u00e7\u00e3o, a inter (trans) disciplinariedade –\u00a0 que atrai de jornalistas \u00e0 programadores, de produtores culturais \u00e0 t\u00e9cnicos em eletr\u00f4nica, de anarquistas \u00e0 apoiadores do Bolsonaro – e a propens\u00e3o ao compartilhamento de ideias e saberes faz do lugar ser um inusitado e divertido espa\u00e7o de diversidade e de educa\u00e7\u00e3o, como as escolas poderiam ser. Faz-se realidade uma certa utopia de vida de Joel.<\/p>\n

Mas que chato seria se uma busca de vida encontrasse um fim. E o Matehackers n\u00e3o \u00e9 uma utopia, mas uma realidade que traz desafios cotidianos. N\u00e3o h\u00e1 “modelo de neg\u00f3cio” nem renda fixa para o lugar, mas custos fixos sim: aluguel, luz, \u00e1gua, manuten\u00e7\u00e3o de equipamentos, etc. N\u00e3o h\u00e1 ningu\u00e9m para limpar o espa\u00e7o, mas todxs devem se responsabilizar por isso – o que exige uma aten\u00e7\u00e3o di\u00e1ria que na maior parte do tempo as cerca de 20 pessoas que frequentam o lugar toda semana (mais os 60-100 que conversam nos canais online do grupo) n\u00e3o conseguem ter. Os desafios de pagar o aluguel, manter o espa\u00e7o organizado & ainda ser esse lugar para compartilhar o conhecimento s\u00e3o frequentes, dif\u00edceis e reais, muito reais.<\/p>\n

Joel sabe disso tudo, e a charla n\u00e3o podia deixar de de pincelar algumas ideias sobre hackerspaces, sobreviv\u00eancia, \u00e9tica, pol\u00edtica, tecnologia. O pai do Fabr\u00edcio (15 anos) e parceiro da Maria tamb\u00e9m exerce na conversa sua veia cr\u00edtica & ir\u00f4nica, conhecida por todxs que v\u00e3o ao hackerspace e se deparam com o cabeludo\/barbudo em frente a um computador, fumando e\/ou tomando uma cerveja.\u00a0 Conhecedor profundo da cultura hacker e maker, ele n\u00e3o gosta da apropria\u00e7\u00e3o que no Brasil se faz dessa \u00faltima. “\u00c9 o \u00fanico lugar que se traz os nomes, se despe eles completamente de seus significados originais e os torna hypes. Olha o caso da comida de rua: aqui \u00e9 o \u00fanico lugar que comer na rua se torna mais caro do que em restaurantes, sendo que o movimento surgiu justamente para ser o contr\u00e1rio!”. Felizmente, diz ele, passou o hype sobre a cultura hacker, o que faz com que os hackerspaces que existam hoje, por exemplo, n\u00e3o tenham esvaziado tanto assim o significado original presente nos princ\u00edpios da \u00e9tica hacker: “O movimento hacker assusta. Ele \u00e9 disruptivo, e h\u00e1 uma disputa na sociedade por ele. N\u00e3o posso nem botar “hacker” no nome de uma empresa porque pode ser considerado apologia ao crime. O pr\u00f3prio desconhecimento do que \u00e9 hacker nos ajudou, no final das contas”.<\/p>\n

Assista a conversa abaixo.<\/p>\n

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Oficina de Pizzas no Matehackers<\/p><\/div>\n

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mascote do Machinarium<\/p><\/div>\n

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