{"id":1209,"date":"2009-01-31T02:34:50","date_gmt":"2009-01-31T02:34:50","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=1209"},"modified":"2009-01-31T02:34:50","modified_gmt":"2009-01-31T02:34:50","slug":"notas-sobre-copyright-e-copyleft-i","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2009\/01\/31\/notas-sobre-copyright-e-copyleft-i\/","title":{"rendered":"Notas sobre copyright e copyleft (I)"},"content":{"rendered":"
Em novembro de 2005 os integrantes do coletivo Wu Ming<\/strong><\/a> selecionaram alguns trechos de entrevistas nunca publicadas e fragmentos de conversas pessoais e os organizaram em forma de texto. “Notas in\u00e9ditas sobre copyright e copyleft<\/strong>” \u00e9 o resultado disto, que voc\u00ea confere na \u00edntegra e em ingl\u00eas aqui<\/a>, ou por aqui mesmo, na retomada das tradu\u00e7\u00f5es<\/a> do BaixaCultura. Originalmente o texto se divide em tr\u00eas partes, que ser\u00e3o publicadas em posts diferentes ao longo do fim de semana.<\/p>\n Neste primeiro post, o coletivo se op\u00f5e \u00e0 l\u00f3gica de defesa do copyright, segundo a qual n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel conciliar acesso livre \u00e0s obras e remunera\u00e7\u00e3o digna ao artista. Trata-se da parte mais simples do texto, um apanhado de exemplos e id\u00e9ias disseminadas pelo grupo em diversas ocasi\u00f5es, algumas bastante conhecidas e j\u00e1 debatidas por aqui. Destaque para dois pontos: a id\u00e9ia de que obras intelectuais n\u00e3o devem ser apenas produtos do intelecto, mas produtoras de intelecto,<\/strong> verdadeiros estimulantes para um p\u00fablico nada passivo; e a de que o copyleft n\u00e3o \u00e9 um movimento ou ideologia, mas um termo que abriga uma s\u00e9rie de pr\u00e1ticas<\/strong>, cen\u00e1rios e licen\u00e7as comerciais diferentes.<\/p>\n No pr\u00f3ximo post, continuamos com as duas partes restantes. At\u00e9 l\u00e1, boa leitura.<\/p>\n [Reuben da Cunha Rocha.<\/strong>]<\/p>\n Notas in\u00e9ditas sobre copyright e copyleft<\/strong><\/p>\n Wu Ming<\/p>\n Tradu\u00e7\u00e3o: Reuben da Cunha Rocha<\/p>\n 1. Os dois lados do falso dilema<\/strong><\/p>\n Come\u00e7ando pelo fim: o copyleft surge da necessidade de unir duas demandas b\u00e1sicas; podemos dizer duas condi\u00e7\u00f5es indispens\u00e1veis \u00e0 conviv\u00eancia civil. Se deix\u00e1ssemos de lutar por essas duas necessidades, deixar\u00edamos de sonhar com um mundo melhor.<\/p>\n N\u00e3o h\u00e1 d\u00favida de que a cultura e o conhecimento devem circular o mais livremente poss\u00edvel, e de que o acesso \u00e0s id\u00e9ias deve ser direto, equ\u00e2nime e livre de discrimina\u00e7\u00f5es de classe, censura ou nacionalidade. Obras intelectuais n\u00e3o s\u00e3o apenas produtos do intelecto, \u00e9 preciso que elas tamb\u00e9m produzam<\/em> intelecto, disseminem conceitos e id\u00e9ias, fertilizem mentes de modo que novas formas de pensar e imaginar sejam passadas adiante. Esta \u00e9 a primeira necessidade. A segunda \u00e9 que o trabalho seja remunerado, o que inclui o esfor\u00e7o de artistas e narradores. Quem quer que produza arte ou narrativas tem o direito de sobreviver do seu trabalho, de modo n\u00e3o ofensivo \u00e0 sua pr\u00f3pria dignidade. Obviamente, esta \u00e9 s\u00f3 a melhor das hip\u00f3teses.<\/p>\n \u00c9 conservador acreditar que tais necessidades sejam como dois lados irreconcili\u00e1veis de um dilema. “N\u00e3o d\u00e1 pra fazer as duas coisas”, dizem os defensores do copyright como se fosse \u00f3bvio. Para eles, copiar livremente significa apenas ‘pirataria’, ‘roubo’, ‘pl\u00e1gio’ – e esque\u00e7a a remunera\u00e7\u00e3o do autor. Se o trabalho circula gratuitamente, menos c\u00f3pias s\u00e3o vendidas e menos dinheiro ganha o autor. Um silogismo bizarro quando visto de perto. A l\u00f3gica deveria ser outra: se o trabalho circula gratuitamente, as pessoas gostam e o divulgam, a reputa\u00e7\u00e3o do autor se beneficia disso e sua influ\u00eancia na ind\u00fastria cultural (e n\u00e3o apenas nela) cresce. \u00c9 um ciclo de benef\u00edcios. Um autor respeitado \u00e9 constantemente convidado a fazer apresenta\u00e7\u00f5es (despesas reembolsadas) e confer\u00eancias (pagas); ele \u00e9 entrevistado pela m\u00eddia (sendo promovido); cargos acad\u00eamicos (remunerados) s\u00e3o oferecidos; assessorias (remuneradas), cursos de escrita criativa (remunerados); ao autor se torna poss\u00edvel negociar condi\u00e7\u00f5es mais vantajosas com editores. Como estas coisas poderiam prejudicar a venda de livros?<\/p>\n Vamos falar de m\u00fasica. Ela circula gratuitamente, ela chama a aten\u00e7\u00e3o das pessoas; quem quer que a tenha feito passa a ser conhecido, e se o autor souber explorar isto passa ent\u00e3o a ter a oportunidade de se apresentar (remunerado) com maior frequ\u00eancia e em mais lugares, conhece mais pessoas e consequentemente tem mais apoio, se ‘construir um nome’ passar\u00e1 a ser convidado para compor trilhas sonoras (remuneradas), fazer festas como DJ (remunerado), trabalhos de design sonoro para eventos – pode at\u00e9 acabar dirigindo festivais (remunerados) etc. Se pensarmos nos artistas pop, podemos incluir o que se ganha com camisetas, vendas on-line etc.<\/p>\n Assim se resolve o ‘dilema’: as necessidades dos consumidores s\u00e3o respeitadas (eles t\u00eam acesso \u00e0 obra), como o s\u00e3o as dos artistas (beneficiados art\u00edstica e financeiramente) e as da ind\u00fastria (editores, produtores etc.). O que aconteceu? Por que o velho racioc\u00ednio \u00e9 t\u00e3o facilmente desmascarado por estes exemplos? Por n\u00e3o levar em considera\u00e7\u00e3o a complexidade e a riqueza das redes, das trocas, do incessante boca a boca de um meio para outro, as oportunidades de diversificar a oferta, o fato de que o ‘retorno econ\u00f4mico’ do autor possui diversos n\u00edveis, inclusive alguns (aparentemente) tortuosos.<\/p>\n \u00c9 gra\u00e7as a uma inabilidade para compreender tal complexidade que o setor cultural (especialmente a ind\u00fastria da m\u00fasica) perdeu anos e anos de inova\u00e7\u00f5es. Novas oportunidades que foram encaradas como amea\u00e7as ao inv\u00e9s de desafios, e rea\u00e7\u00f5es hist\u00e9ricas que foram dirigidas ao Napster e a tudo o que se seguiu. Isto come\u00e7ou a mudar quando Steve Jobs<\/a> mostrou que era poss\u00edvel, mas nesse meio tempo uma guerra foi travada contra ex\u00e9rcitos de clientes em potencial, cuja confian\u00e7a foi perdida para sempre.<\/p>\n Anti-marketing.<\/p>\n Qual a \u00faltima coisa que algu\u00e9m que faz e vende m\u00fasica deveria fazer? Certamente criminalizar o p\u00fablico, processando quem os ama. Valeu a pena? Em nossa opini\u00e3o, n\u00e3o. ‘Direitos do autor’ (cuidado para n\u00e3o levar esta frase semifraudulenta a s\u00e9rio) tais como os conhecemos s\u00e3o um grande freio para o mercado.<\/p>\n Por outro lado, o copyleft (que n\u00e3o \u00e9 um movimento ou ideologia, mas um termo que abriga uma s\u00e9rie de pr\u00e1ticas, cen\u00e1rios e licen\u00e7as comerciais) encarna o que se precisa para reformar e adaptar as leis autorais ao ‘desenvolvimento sustent\u00e1vel’. A ‘pirataria’ \u00e9 end\u00eamica, inevit\u00e1vel, uma mar\u00e9 que sobe empurrada pelo vento da inova\u00e7\u00e3o tecnol\u00f3gica. Obviamente, os poderosos da ind\u00fastria do entretenimento podem continuar fingindo que nada est\u00e1 acontecendo, como a Casa Branca negando o Greenhouse Effect<\/a>, o aquecimento global e as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Nos dois casos, os que negarem a realidade s\u00f3 podem ser varridos para longe. Se voc\u00ea est\u00e1 determinado a n\u00e3o ratificar o Protocolo de Kyoto, determinado a n\u00e3o investir na renova\u00e7\u00e3o das fontes de energia, determinado a n\u00e3o resolver os problemas ambientais, cedo ou tarde um furac\u00e3o Katrina vai bater \u00e0 sua porta.<\/p>\n<\/blockquote>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Em novembro de 2005 os integrantes do coletivo Wu Ming selecionaram alguns trechos de entrevistas nunca publicadas e fragmentos de conversas pessoais e os organizaram em forma de texto. “Notas in\u00e9ditas sobre copyright e copyleft” \u00e9 o resultado disto, que voc\u00ea confere na \u00edntegra e em ingl\u00eas aqui, ou por aqui mesmo, na retomada das […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":10479,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[126,203],"tags":[121,173,146,147,159,198],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1209"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1209"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1209\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1209"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1209"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1209"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=1209"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}<\/a><\/p>\n
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