{"id":1193,"date":"2009-01-28T22:51:54","date_gmt":"2009-01-28T22:51:54","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=1193"},"modified":"2009-01-28T22:51:54","modified_gmt":"2009-01-28T22:51:54","slug":"operario-da-contra-industria","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2009\/01\/28\/operario-da-contra-industria\/","title":{"rendered":"O oper\u00e1rio da Contra-Ind\u00fastria"},"content":{"rendered":"
<\/p>\n
\u00c9 dif\u00edcil encontrar Makely Ka<\/a><\/strong>. Dif\u00edcil saber onde ele est\u00e1. Entre um email e outro, por exemplo,\u00a0j\u00e1 o encontrei em BH, na Espanha, em S\u00e3o Paulo e no munic\u00edpio de Milho Verde. A id\u00e9ia de entrevist\u00e1-lo rondava minha cabe\u00e7a praticamente desde que este blog nasceu, e t\u00e3o logo pude escrevi pro piauiense radicado em Minas convidando-o para um papo via msn.\u00a0Rolaram umas duas semanas de desencontros at\u00e9 decidirmos partir para uma op\u00e7\u00e3o menos divertida:\u00a0fazer a entrevista\u00a0por email. E l\u00e1 se foram quase dois meses de espera at\u00e9 que as respostas dessem as caras na minha caixa de entrada. \u00c9 que Makely nunca est\u00e1 parado, e com tantas andan\u00e7as pelo espa\u00e7o, n\u00e3o sobra muito pro tempo.<\/p>\n Poeta e m\u00fasico de primeira grandeza (baixe 01 dos 04 discos aqui<\/a>.), Makely tamb\u00e9m \u00e9 um dos editores da Revista de Autofagia<\/a> (duas edi\u00e7\u00f5es lan\u00e7adas e a terceira prometida pra fevereiro), mant\u00e9m o S\u00ealo Editorial e a distribuidora Namarra, \u00e9\u00a0s\u00f3cio-fundador da SIM (Sociedade Independente da M\u00fasica de Minas Gerais) e da ANAMBRA (Associa\u00e7\u00e3o Nacional da M\u00fasica Brasileira), e foi por duas vezes curador do Projeto Conex\u00e3o Telemig Celular de M\u00fasica – Novos Movimentos. Makely foi o primeiro m\u00fasico atuante\u00a0em Minas Gerais\u00a0a conseguir na justi\u00e7a o direito de exercer livremente a profiss\u00e3o sem a obrigatoriedade de filia\u00e7\u00e3o \u00e0 OMB (Ordem dos M\u00fasicos do Brasil), e desde ent\u00e3o trava uma batalha p\u00fablica pela democratiza\u00e7\u00e3o da entidade.\u00a0N\u00e3o \u00e9 por acaso que\u00a0ele n\u00e3o poderia deixar de\u00a0pintar por aqui.\u00a0Makely \u00e9 um dos\u00a0praticantes\u00a0mais\u00a0convictos de uma das id\u00e9ias\u00a0mais relevantes do nosso atual panorama cultural: a da contra-ind\u00fastria<\/a>.<\/p>\n [youtube=http:\/\/br.youtube.com\/watch?v=CLRY-6-_ot0]<\/p>\n Trata-se de\u00a0aprofundar a discuss\u00e3o em torno do\u00a0que significa\u00a0produ\u00e7\u00e3o art\u00edstica independente, a partir da constata\u00e7\u00e3o de que boa parte do que se vende sob o selo do “independente” \u00e9 t\u00e3o viciado nos\u00a0truques e\u00a0tiques da ind\u00fastria cultural quanto qualquer nome de cat\u00e1logo de grande gravadora. O que sugere a contra-ind\u00fastria? Que o artista se\u00a0envolva com\u00a0todas as etapas da produ\u00e7\u00e3o de seu trabalho, desde sua concep\u00e7\u00e3o at\u00e9 o formato final, ao inv\u00e9s de entregar alienadamente o processo nas m\u00e3os de intermedi\u00e1rios. Em outras palavras, ser o m\u00fasico e tamb\u00e9m produtor, e tamb\u00e9m gravadora. Escrever e tamb\u00e9m editar. Autogest\u00e3o.<\/p>\n “Independente” \u00e9 um termo meio vago e\u00a0guarda algumas\u00a0armadilhas. Eu mesmo ca\u00ed numa delas quando conversei com Makely, encucado\u00a0com fato de que um dos sujeitos mais combativos que conhe\u00e7o dentro deste cen\u00e1rio tamb\u00e9m dialoga frequentemente com o Estado. Ou, para falar mais justamente, com a esfera p\u00fablica. Em 2006, Makely\u00a0foi consultor da \u00c1rea de M\u00fasica da Lei Murilo Mendes em Juiz de Fora, e\u00a0membro da CTAP (Comiss\u00e3o T\u00e9cnica de Avalia\u00e7\u00e3o de Projetos) da Lei Estadual de Incentivo \u00e0 Cultura de Minas Gerais.\u00a0Hoje ele\u00a0\u00e9\u00a0representante do F\u00f3rum Permanente de M\u00fasica de Minas Gerais na C\u00e2mara Setorial criada pelo Minist\u00e9rio da Cultura. Contradit\u00f3rio? Makely responde generosamente que n\u00e3o.<\/p>\n Essa generosidade, bem mais que a falta de tempo, explica a\u00a0demora na conclus\u00e3o da entrevista. Makely foi extremamente cuidadoso com a quest\u00e3o, respondendo com a min\u00facia de quem conhece a fundo o assunto. M\u00e3os \u00e0 obra!<\/p>\n Ao lado de uma forte produ\u00e7\u00e3o independente, h\u00e1 uma parte do teu trabalho que dialoga com o Estado, seja atrav\u00e9s das leis de incentivo (como a Revista de Autofagia), seja na tua atua\u00e7\u00e3o pol\u00edtica. N\u00e3o h\u00e1 conflito entre as duas coisas? Como \u00e9 transitar entre as duas esferas?<\/strong><\/p>\n Acho que neste caso, antes de entrarmos realmente na quest\u00e3o, talvez seja necess\u00e1rio tentarmos entender o que significa o termo “produ\u00e7\u00e3o independente” nos dias atuais. \u00a0Eu particularmente prefiro usar o termo contra-ind\u00fastria, que vem sendo disseminado em alguns meios – principalmente na internet – h\u00e1 alguns anos.<\/p>\n Acredito que o hist\u00f3rico do termo contra-ind\u00fastria localize a resposta \u00e0 sua pergunta dentro de um contexto bastante elucidativo por si s\u00f3. Bom, cerca de tr\u00eas anos atr\u00e1s, quando foram formadas as c\u00e2maras setoriais convocadas pelo Minist\u00e9rio da Cultura houve a necessidade de formata\u00e7\u00e3o de um projeto de pol\u00edtica p\u00fablica para a \u00e1rea da m\u00fasica; uma \u00e1rea que historicamente sempre esteve atrelada aos interesses das grandes corpora\u00e7\u00f5es fonogr\u00e1ficas que se instalaram no pa\u00eds e dominaram o mercado nas \u00faltimas cinco d\u00e9cadas. Naquelas reuni\u00f5es, que aconteceram no pr\u00e9dio da Funarte, no Rio de Janeiro, estavam presentes representantes do governo (MinC, Minist\u00e9rio do Trabalho, Planejamento, Educa\u00e7\u00e3o, OMB, etc), da iniciativa privada (ABPD, ABERT, ABEM, ECAD, etc) e representantes da sociedade civil organizada em f\u00f3runs de discuss\u00e3o(17 estados enviaram seus representantes). Durante aqueles meses de discuss\u00e3o in\u00e9dita, percebemos a necessidade de demarcarmos nossas diferen\u00e7as de forma mais contundente e, por sugest\u00e3o do compositor Ant\u00f4nio Adolfo, do m\u00edtico \u00e1lbum Feito em Casa (1977), adotamos a alcunha de autoprodutores. \u00c9 bom lembrar tamb\u00e9m que foi a partir daquele momento que o termo “cadeia produtiva da m\u00fasica” passou a fazer parte do vocabul\u00e1rio corrente de m\u00fasicos, produtores e jornalistas, \u00e0s vezes deslocado ou mesmo sem um entendimento total do seu significado. A cadeia efetivamente envolve todos os elos, ou n\u00f3s, do mercado da m\u00fasica, desde a cria\u00e7\u00e3o, ou ainda antes, a forma\u00e7\u00e3o, at\u00e9 o consumidor. Mas nossa atua\u00e7\u00e3o at\u00e9 o momento se concentrava nos dois ou tr\u00eas primeiros elos, ou seja, os n\u00f3s da veicula\u00e7\u00e3o, distribui\u00e7\u00e3o e consumo at\u00e9 ent\u00e3o n\u00e3o consegu\u00edamos desatar. Nos demos conta ent\u00e3o que muitas vezes, \u00e9ramos nossos pr\u00f3prios consumidores, da\u00ed o car\u00e1ter autof\u00e1gico do termo.<\/p>\n Mas mais importante do que a conceitua\u00e7\u00e3o da cadeia produtiva, que serve para ilustrar o modo de produ\u00e7\u00e3o que herdamos da grande ind\u00fastria fonogr\u00e1fica, talvez seja perceber a mudan\u00e7a de paradigma operado a partir da \u00faltima d\u00e9cada do s\u00e9culo passado.<\/p>\n Ora, at\u00e9 meados de 1877, ano da inven\u00e7\u00e3o do fon\u00f3grafo pelo norte-americano Thomas Edson, a \u00fanica forma de armazenamento de m\u00fasica era a mem\u00f3ria. E foi assim nos \u00faltimos cinq\u00fcenta mil anos pelo menos, quando se tem not\u00edcia das primeiras tentativas do homem organizar o sons e os sil\u00eancios no tempo, imitando o que ouvia na natureza. Quando esses sons come\u00e7aram a ser registrados nos discos de cera podemos dizer que foi o pren\u00fancio de uma mudan\u00e7a radical na nossa forma de armazenar – e ouvir – m\u00fasica. De l\u00e1 pra c\u00e1 a coisa andou muito r\u00e1pido e em menos de cinq\u00fcenta anos estava consolidado o que conhecemos hoje como Ind\u00fastria Fonogr\u00e1fica. Essa grande ind\u00fastria que surgiu e se firmou no rastro do capitalismo galopante do s\u00e9culo XX, incorporou como poucas alguns preceitos b\u00e1sicos da Revolu\u00e7\u00e3o Industrial, como a utiliza\u00e7\u00e3o de tecnologia de ponta e a reprodu\u00e7\u00e3o em s\u00e9rie.<\/p>\n Consta que Corn\u00e9lio Pires foi um dos primeiros artistas a gravar de forma aut\u00f4noma no pa\u00eds, j\u00e1 que teve de bancar, ele pr\u00f3prio, a sua famosa s\u00e9rie de discos, a partir de 1929. Antes dele por\u00e9m houve a fant\u00e1stica iniciativa de Chiquinha Gonzaga e seu marido, que entre 1920 e 1922 mantiveram uma gravadora aut\u00f4noma. J\u00e1 na d\u00e9cada de setenta houve iniciativas como a do pr\u00f3prio Ant\u00f4nio Adolfo e seu j\u00e1 citado “Feito em Casa”. Mas se foram todas essas iniciativas louv\u00e1veis, pelo pioneirismo e pelo teor contestat\u00f3rio que traziam, foram tamb\u00e9m isoladas e amadoras, a ponto de n\u00e3o conseguirem se auto-sustentar como alternativa vi\u00e1vel \u00e0s grandes corpora\u00e7\u00f5es.<\/p>\n Somente nos anos 90 foi poss\u00edvel dar um salto nesse sentido. Pela primeira vez na hist\u00f3ria da ind\u00fastria os meios de produ\u00e7\u00e3o come\u00e7aram a se tornar acess\u00edveis a uma parcela consider\u00e1vel da popula\u00e7\u00e3o, n\u00e3o somente aos donos do capital. N\u00e3o a todos \u00e9 verdade, mas \u00e0queles que dispunha de um computador e uma conex\u00e3o com a internet. Por mais excludente que ainda fosse, t\u00ednhamos dado um salto; n\u00e3o era mais necess\u00e1rio um grande parque industrial para produzir um disco, um livro ou mesmo um filme com qualidade compat\u00edvel ao dos produtos da grande ind\u00fastria.<\/p>\n H\u00e1 de fato um elemento artesanal na forma de trabalho desses autoprodutores. Mas o termo contra-ind\u00fastria n\u00e3o se refere exclusivamente a esse aspecto. A grande mudan\u00e7a de paradigma diz respeito \u00e0 mudan\u00e7a de procedimento num dos pilares que pautaram o desenvolvimento econ\u00f4mico do capital desde a revolu\u00e7\u00e3o industrial: a especializa\u00e7\u00e3o. A compartimentaliza\u00e7\u00e3o dos saberes e a ultra-especializa\u00e7\u00e3o das atividades tornou-se a t\u00f4nica da grande ind\u00fastria, levada \u00e0s \u00faltimas conseq\u00fc\u00eancias com o fordismo e replicada nos mais diversos ramos do conhecimento, inclusive nas academias. Da escol\u00e1stica com pretens\u00f5es universalizantes chegamos \u00e0 mediocridade dos MBAs e p\u00f3s-gradua\u00e7\u00f5es em especializa\u00e7\u00e3o. Com a ind\u00fastria da m\u00fasica n\u00e3o foi diferente, a esquizofrenia se instaurou no seio das grandes coropra\u00e7\u00f5es, onde o departamento de cria\u00e7\u00e3o n\u00e3o dizia respeito ao departamento de vendas que n\u00e3o se comunicava com o departamento de comunica\u00e7\u00e3o e assim sucessivamente. A grande ind\u00fastria foi \u00e0 bancarrota.<\/p>\n O fil\u00f3sofo ingl\u00eas Thomas Kuhn, em seu livro “Estrutura das Revolu\u00e7\u00f5es Cient\u00edficas” afirmava que nos momentos de crise h\u00e1 uma prolifera\u00e7\u00e3o de novos paradigmas que competem entre si tratando de impor-se como o enfoque mais adequado. \u00c9 quando se produz uma revolu\u00e7\u00e3o e um dos novos paradigmas substitui ao paradigma tradicional. A cada revolu\u00e7\u00e3o o ciclo inicia de novo e o paradigma que foi instaurado d\u00e1 origem a um novo processo de ci\u00eancia normal. Nesses momentos \u00e9 fundamental uma nova terminologia, para dar conta dos novos conceitos. Com alguns ajustes podemos adaptar o mesmo esquema para pensarmos a revolu\u00e7\u00e3o ora em curso no interior da Ind\u00fastria Cultural.<\/p>\n O autoprodutor \u00e9 o n\u00e3o-especialista por defini\u00e7\u00e3o. Ele comp\u00f5e, produz, divulga, distribui e consome, n\u00e3o necessariamente nessa ordem. A necessidade premente em desatar tantos n\u00f3s quanto poss\u00edveis da ‘cadeia’ fizeram dele um profissional gen\u00e9rico que levou \u00e0s \u00faltimas conseq\u00fc\u00eancias a m\u00e1xima anarquista “fa\u00e7a-voc\u00ea-mesmo”! O que quero dizer \u00e9 que o autoprodutor \u00e9 o oper\u00e1rio da Contra-ind\u00fastria! A negatividade impl\u00edcita no termo significa menos a transforma\u00e7\u00e3o vertiginosa dos aspectos t\u00e9cnico-formais do que a recusa do modelo consolidado de divis\u00e3o do trabalho e atribui\u00e7\u00e3o de tarefas no sistema de produ\u00e7\u00e3o em escala industrial. Essa \u00e9 a principal mudan\u00e7a paradigm\u00e1tica que tr\u00e1s a reboque todas as outras. A Contra-ind\u00fastria se imp\u00f5e portanto como um novo modelo de divis\u00e3o de trabalho sem no entanto abrir m\u00e3o dos avan\u00e7os tecnol\u00f3gicos e das conquistas e solu\u00e7\u00f5es encontradas pela pr\u00f3pria ind\u00fastria. Essa nova divis\u00e3o do trabalho se estrutura em redes colaborativas onde a gest\u00e3o das atividades \u00e9 individual, org\u00e2nica e ao mesmo tempo coletiva. Contra-ind\u00fastria \u00e9, no plano sint\u00e1tico, um ox\u00edmoro, mas a contradi\u00e7\u00e3o dos termos \u00e9 apenas aparente e perdura at\u00e9 o momento em que se percebe que ela se constitui na verdade como uma s\u00edntese dial\u00e9tica da revolu\u00e7\u00e3o industrial. A id\u00e9ia de redes e de rizoma aqui torna-se fundamental para compreender a forma como se d\u00e1 o processo de produ\u00e7\u00e3o contra-industrial.<\/p>\n Ind\u00fastria Cultural, o termo sexagen\u00e1rio criado por Adorno no livro Dial\u00e9tica do Esclarecimento, escrito a quatro m\u00e3os com Horkheimer e publicado em 1947, adquire assim um novo significado dentro de uma perspectiva dial\u00e9tica da hist\u00f3ria da produ\u00e7\u00e3o e do consumo de arte. Aquele foi o momento de identifica\u00e7\u00e3o do surgimento de um fen\u00f4meno em escala mundial que se consolidaria nos anos 60 e 70, atingiria o \u00e1pice nos 80 e entraria em franco decl\u00ednio a partir de meados da d\u00e9cada de noventa do s\u00e9culo passado.<\/p>\n Voltando \u00e0 sua pergunta a partir dessa perspectiva, n\u00e3o vejo contradi\u00e7\u00e3o porque a produ\u00e7\u00e3o contra-industrial (independente?) n\u00e3o \u00e9 uma esfera privada. Talvez ela esteja exatamente neste espa\u00e7o indefinido entre o p\u00fablico e o privado. Porque se considerarmos que as leis surgiram a partir da organiza\u00e7\u00e3o da sociedade civil, que s\u00e3o um direito conquistado e, no entanto envolvem uma parcela de dinheiro privado, ainda que seja um imposto deduzido, encontramos um certo equil\u00edbrio inst\u00e1vel nessa rela\u00e7\u00e3o. O fiel da balan\u00e7a aqui vai depender da forma como esse dinheiro \u00e9 gerido, quais os mecanismos regulam essas a\u00e7\u00f5es e quais crit\u00e9rios s\u00e3o utilizados na aprova\u00e7\u00e3o dos projetos e como eles s\u00e3o realizados.<\/p>\n Nesse sentido, o apoio das leis de incentivo \u00e9 uma forma leg\u00edtima de produ\u00e7\u00e3o contra-industrial, uma vez que permite aos criadores total autonomia criativa e parte do princ\u00edpio de que o investimento em cultura por parte do estado \u00e9 um dever constitucional tanto quanto a seguran\u00e7a ou a sa\u00fade por exemplo. Mas estamos t\u00e3o acostumados ao modo de produ\u00e7\u00e3o privado nesse setor, que muitos t\u00eam a impress\u00e3o de que n\u00e3o \u00e9 correto usar o dinheiro das leis de incentivo para produzir um espet\u00e1culo, editar um livro, realizar um show. Essa \u00e9 uma vis\u00e3o conservadora, que sustenta a id\u00e9ia equivocada de que o artista pertence a uma elite intelectual na qual seria vergonhoso investir dinheiro p\u00fablico. Poucos defensores dessa id\u00e9ia, entretanto, seriam contra a constru\u00e7\u00e3o de hospitais e postos de sa\u00fade para o atendimento da popula\u00e7\u00e3o, ou ainda ao investimento em seguran\u00e7a, com a compra de equipamentos e treinamento da for\u00e7a policial. \u00c9 que estamos acostumados a pensar que o acesso \u00e0 cultura \u00e9 um privil\u00e9gio – e muitas vezes efetivamente \u00e9 – mas n\u00e3o deveria ser.<\/p>\n A contra-ind\u00fastria \u00e9 uma alternativa pra quem n\u00e3o “conseguiu entrar na ind\u00fastria” ou \u00e9 uma alternativa ao modelo de ind\u00fastria?<\/strong><\/p>\n Penso que a contra-ind\u00fastria, dentro do que foi dito acima, seja uma alternativa ao modelo de produ\u00e7\u00e3o industrial estabelecido. Quem trabalha na perspectiva de trampolim est\u00e1 equivocado e pode invariavelmente se frustrar, porque a realidade cada vez menos corresponde \u00e0s suas expectativas.<\/p>\n<\/blockquote>\n [Reuben da Cunha Rocha.<\/strong>]<\/p>\n Fotos: Divulga\u00e7\u00e3o.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" \u00c9 dif\u00edcil encontrar Makely Ka. Dif\u00edcil saber onde ele est\u00e1. Entre um email e outro, por exemplo,\u00a0j\u00e1 o encontrei em BH, na Espanha, em S\u00e3o Paulo e no munic\u00edpio de Milho Verde. 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