{"id":11409,"date":"2016-07-25T21:52:14","date_gmt":"2016-07-25T21:52:14","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=11409"},"modified":"2016-07-25T21:52:14","modified_gmt":"2016-07-25T21:52:14","slug":"10-mitos-sobre-a-cultura-livre","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2016\/07\/25\/10-mitos-sobre-a-cultura-livre\/","title":{"rendered":"10 mitos sobre a cultura livre no FISL"},"content":{"rendered":"
No 17\u00ba F\u00f3rum Internacional do Software Livre<\/a> em Porto Alegre, em julho de 2016, o editor do BaixaCultura e este que vos fala, Leonardo Foletto, fiz uma palestra acerca dos 10 mitos sobre a cultura livre e o acesso aberto ao conhecimento. A fala foi produzida a partir dos anos de trabalho com a cultura livre aqui e remixada com um Guia<\/a> produzido pelos amigos do Radialistas<\/a>, ONG com forte trabalho em r\u00e1dio e software livre na Am\u00e9rica Latina, a quem agradecemos pelo apoio na tradu\u00e7\u00e3o. A charla ocorreu num dos palcos principais do evento, num formato mais em tom de palestra, mas que teve algumas quest\u00f5es levantadas ao final. O v\u00eddeo da transmiss\u00e3o, na \u00edntegra (cerca de uma hora), pode ser conferido aqui<\/a>.<\/p>\n Abaixo, a mat\u00e9ria produzida pela cobertura colaborativa do FISL faz um resumo do que rolou.<\/p>\n Texto: M\u00e1rcia Schuler<\/em><\/p>\n Mitos, um a um, desfeitos. Inspirada pela filosofia de compartilhar conhecimento da qual nasceu o software livre, a cultura livre ainda enfrenta resist\u00eancia de alguns setores – inclusive produtores culturais. Jornalista e idealizador do Baixa Cultura, Leonardo Foletto se prop\u00f4s a desmanchar a teia de preconceitos que se tece em torno do tema na palestra 10 mitos sobre a cultura livre e o acesso aberto ao conhecimento, realizada na manh\u00e3 desta sexta-feira (15) na 17\u00aa edi\u00e7\u00e3o do FISL. Vamos aos mitos:<\/p>\n 1. As obras culturais s\u00e3o cria\u00e7\u00f5es completamente originais.<\/strong><\/p>\n As cria\u00e7\u00f5es n\u00e3o surgem do nada. Elas nascem a partir de algo que j\u00e1 existia, ainda que n\u00e3o se saiba o qu\u00ea.<\/p>\n \u201cN\u00e3o existe um g\u00eanio brilhante que se tranca em um quarto e tem uma ideia totalmente original. Isso \u00e9 um conceito rom\u00e2ntico do s\u00e9culo 19. A genialidade est\u00e1 mais ligada \u00e0 quantidade de refer\u00eancias que tu tens do que \u00e0 inspira\u00e7\u00e3o divina\u201d, diz.<\/p>\n Ou seja, toda cria\u00e7\u00e3o \u00e9 coletiva. Uma ideia pode at\u00e9 ser genial, mas veio de algum lugar.<\/p>\n 2. A cultura e o conhecimento sempre foram mercadorias suscet\u00edveis de serem vendidas.<\/strong><\/p>\n Se \u201csempre\u201d se referir aos \u00faltimos s\u00e9culos, isso \u00e9 verdade. Mas existia vida antes disso. Em culturas ind\u00edgenas, isso ainda \u00e9 verdade. N\u00e3o se det\u00e9m direitos sobre o conhecimento e ele \u00e9 transmitido livremente. No s\u00e9culo 15, com o surgimento da prensa de Gutemberg, a ideia do conhecimento oral materializado em suportes, na ocasi\u00e3o, livros, come\u00e7a a surgir, e junto com ela uma vis\u00e3o da mercantiliza\u00e7\u00e3o na \u00e1rea cultural.<\/p>\n \u201cIsso \u00e9 totalmente diferente hoje em dia. Se naquela \u00e9poca produzir um livro era um trabalho gigantesco, hoje com uma m\u00e1quina (o computador) tu tens produ\u00e7\u00e3o, edi\u00e7\u00e3o, circula\u00e7\u00e3o e consumo. Isso \u00e9 uma mudan\u00e7a muito grande na sociedade, inclusive maior do que a Era de Gutemberg\u201d, avalia Foletto.<\/p>\n O cen\u00e1rio atual, portanto, \u00e9 totalmente diferente daquele que trata cultura como mercadoria. A cultura e o conhecimento s\u00e3o bens da humanidade.<\/p>\n 3. Os direitos autorais foram criados para proteger os artistas de quem copiava seus livros.<\/strong><\/p>\n Surgido a partir do Estatuto da Rainha Ana, em 1710, o direito autoral foi criado para conceder a alguns o direito de imprimir livros, concess\u00e3o dada por 14 anos, pass\u00edvel de renova\u00e7\u00e3o. Ele n\u00e3o foi criado para proteger a obra das pessoas que a copiam, mas do mercado que queria explorar o autor, sendo, tamb\u00e9m uma forma de controlar e restringir a distribui\u00e7\u00e3o. \u201cFoi um monop\u00f3lio concedido aos editores que detinham os meios de produ\u00e7\u00e3o\u201d, sintetiza Foletto.<\/p>\n Foram criadas para proteger os artistas dos editores, n\u00e3o dos copiadores e controlar e restringir a distribui\u00e7\u00e3o de obras. Havia obras que falavam mal da rainha, e precisava de controle. E assim foi criado o direito autoral, copyright.<\/p>\n 4. A cultura livre n\u00e3o protege os criadores.<\/strong><\/p>\n N\u00e3o h\u00e1 nenhum risco de licenciar obras de forma livre. O Copyleft, originado no software livre, tem justamente a ideia de proteger a obra, mas deixando-a aberta, denfendendo o direito da humanidade ao conhecimento.<\/p>\n 5. A cultura livre promove a c\u00f3pia e isso \u00e9 promover a pirataria.<\/strong><\/p>\n Se voc\u00ea tem uma ma\u00e7\u00e3 e eu tenho outra; e n\u00f3s trocamos as ma\u00e7\u00e3s, ent\u00e3o cada um ter\u00e1 sua ma\u00e7\u00e3. Mas se voc\u00ea tem uma ideia e eu tenho outra, e n\u00f3s as trocamos; ent\u00e3o cada um ter\u00e1 duas ideias. Essa frase do irland\u00eas George Bernard Shaw sintetiza bem a ideia: n\u00e3o h\u00e1 supress\u00e3o. Quando se copia algo na internet, n\u00e3o se tira nada de algu\u00e9m, portanto, democratizar o conhecimento n\u00e3o \u00e9 pirataria. Se compartilha. \u201cQuando compartilhas um arquivo, ningu\u00e9m perde a obra, ela se espalha\u201d, exemplifica Foletto.<\/p>\n 6. A internet e a cultura livre matam de fome os artistas.<\/strong><\/p>\n Existe uma mudan\u00e7a de paradigma. O sistema que sustentou a ind\u00fastria no s\u00e9culo 20 est\u00e1 se transformando. Se os Beatles precisaram vender discos para ficar famosos e correr o mundo, uma banda que surge no cen\u00e1rio atual sabe que n\u00e3o ser\u00e1 assim. \u201cTu tens outras formas de sustentar a produ\u00e7\u00e3o art\u00edstica. N\u00e3o h\u00e1 uma f\u00f3rmula espec\u00edfica. Antes, tua \u00fanica op\u00e7\u00e3o era produzir a partir de uma grande gravadora. Hoje temos milhares de f\u00f3rmulas e podemos pensar tantas outras\u201d, exemplifica Folleto. Na ind\u00fastria tradicional, quem menos ganha \u00e9 o artista, enquanto a cultura livre promove modelos em que as pessoas t\u00eam acesso \u00e0 cultura e os autores vivem de suas cria\u00e7\u00f5es.<\/p>\n 7. Cultura livre \u00e9 tudo gr\u00e1tis.<\/strong><\/p>\n O \u201clivre\u201d que acompanha a palavra \u201ccultura\u201d n\u00e3o se refere \u00e0 gratuidade, mas \u00e0 liberdade de express\u00e3o e de acesso.<\/p>\n 8. Cultura livre n\u00e3o tem validade legal.<\/strong><\/p>\n Existem diversas licen\u00e7as que garantem que os termos definidos por voc\u00ea sejam respeitados, como a Licen\u00e7a Arte Livre e alguns casos da Creative Commons.<\/p>\n 9. Ningu\u00e9m usa esse tipo de licen\u00e7a.<\/strong><\/p>\n A Creative Commons atingiu um bilh\u00e3o de obras licenciadas em 2015, muitas delas em licen\u00e7a livre. Entre os exemplos de licen\u00e7a livre trazidos por Foletto estiveram o conte\u00fado do site da Casa Branca, do Banco Mundial, do peri\u00f3dico espanhol El Di\u00e1rio, e as m\u00fasicas do multi-instrumentista Hermeto Paschoal.\u201cEstamos falando de ter autonomia, controle sobre a nossa vida e a nossa produ\u00e7\u00e3o cultural\u201d, refor\u00e7a o palestrante.<\/p>\n 10. A cultura livre \u00e9 algo para especialistas, altru\u00edstas, comunistas, n\u00e3o para mim.<\/strong><\/p>\n \u201cO conhecimento \u00e9 um bem comum, se isso \u00e9 ser comunista, n\u00e3o sei\u201d, diz Foletto. Ele assinala reafirma que, na hist\u00f3ria da humanidade houve muito tempo de cultura livre.\u201cTalvez a pista para olhar para o futuro da cultura livre seja olhar para o passado, antes desse sistema que aprisionou a cultura\u201d, completa.<\/p>\n<\/a><\/p>\n
Palestrante desfaz mitos sobre a cultura livre<\/h1>\n