{"id":112,"date":"2008-10-03T02:07:48","date_gmt":"2008-10-03T02:07:48","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=112"},"modified":"2008-10-03T02:07:48","modified_gmt":"2008-10-03T02:07:48","slug":"poe-na-conta-do-reznor","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2008\/10\/03\/poe-na-conta-do-reznor\/","title":{"rendered":"P\u00f5e na conta do Reznor"},"content":{"rendered":"

\"\"<\/a><\/p>\n

A primeira coisa que fiz ao ficar sabendo do disco novo do Nine Inch Nails<\/strong> foi me irritar com o texto que me deu a boa nova<\/a>.<\/p>\n

\u00c9 evidente que a segunda coisa foi baixar o disco l\u00e1 na p\u00e1gina oficial do NIN<\/a>. E,\u00a0bem, n\u00e3o\u00a0gostaria de esconder\u00a0a terceira de voc\u00ea, que foi\u00a0descobrir que\u00a0acabo de chamar de\u00a0“disco novo do Nine Inch Nails” uma parada que\u00a0foi lan\u00e7ada\u00a0h\u00e1 quase um semestre<\/a>.<\/p>\n

Tenho repetido (normalmente pra mim mesmo, mas nem sempre) que apesar da relevante atua\u00e7\u00e3o de Ronaldo Lemos nas discuss\u00f5es relacionadas\u00a0aos direitos autorais no Brasil eu acabo sempre escolhendo desconfiar de certo tom apaziguador-homem-de-neg\u00f3cios-esclarecido com que\u00a0ele costuma apresentar\u00a0o que pensa.<\/p>\n

L\u00ea l\u00e1 o texto pra tu ter uma id\u00e9ia.<\/p>\n

A tentativa de inserir a iniciativa do\u00a0Nine Inch Nails na tal l\u00f3gica da “economia da d\u00e1diva”,\u00a0a mesma l\u00f3gica segundo a qual\u00a0operam empresas que “remuneram seus funcion\u00e1rios acima de suas expectativas” como estrat\u00e9gia para que esses mesmos funcion\u00e1rios trabalhem mais ao se sentirem “presenteados”,\u00a0a tentativa de inser\u00e7\u00e3o do NIN nessa l\u00f3gica, eu dizia no in\u00edcio dessa frase enorme, s\u00f3 alimenta a desconfian\u00e7a que nutro por esses papinhos reformistas.<\/p>\n

\u00c9 muito prov\u00e1vel que a tal l\u00f3gica se aplique ao In Rainbows<\/a>, por exemplo, e preciso dizer que embora\u00a0o disco me cause\u00a0enorme felicidade\u00a0(como todos os outros do Radiohead<\/strong>) eu\u00a0mesmo\u00a0nunca\u00a0comprei a id\u00e9ia de que\u00a0o esquema “pague o quanto quiser” fosse revolucion\u00e1rio<\/strong> e doid\u00e3o<\/strong>,\u00a0e quanto a isso pra n\u00e3o esticar conversa digo apenas que 1) o download do In Rainbows n\u00e3o est\u00e1 mais dispon\u00edvel oficialmente<\/a> e 2) a Rolling Stone do Maluf achou sensacional<\/a>,\u00a0consequentemente eu n\u00e3o posso achar tamb\u00e9m.<\/p>\n

Quero crer que o caso do Nine Inch Nails seja mais rico e complicado que isso.<\/p>\n

De in\u00edcio, ao inv\u00e9s de “pague o quanto quiser” h\u00e1 um belo “este \u00e9 por nossa conta” (this one is on us) estampado no site da banda. Al\u00e9m disso,\u00a0o\u00a0est\u00edmulo\u00a0\u00e0 apropria\u00e7\u00e3o [mais que ao download, ao\u00a0remix<\/strong> mesmo]\u00a0\u00e9 n\u00e3o apenas expl\u00edcito, mas\u00a0oficial<\/a>. Fora aquele simp\u00e1tico par\u00e1grafo \u00e0 direita, me estimulando a\u00a0postar o disco aqui no blog, compartilhar com os amigos e d\u00e1-lo de presente a pessoas desconhecidas.<\/p>\n

Tu acha pouco? The Slip<\/em> est\u00e1 dispon\u00edvel em outros formatos al\u00e9m do MP3 (FLAC<\/a>, M4A<\/a>, talvez outro mais, n\u00e3o lembro), h\u00e1 instru\u00e7\u00f5es cuidadosamente did\u00e1ticas\u00a0sobre as vantagens e preju\u00edzos de cada um dos formatos\u00a0[o que\u00a0de cara relativiza\u00a0os argumentos\u00a0sobre a\u00a0falta de qualidade dos arquivos de \u00e1udio dispon\u00edveis na internet, e al\u00e9m do mais\u00a0p\u00f5e lenha nessa discuss\u00e3o aqui<\/a>]\u00a0e, “for those of you interested in physical products, fear not”, o disco\u00a0foi lan\u00e7ado posteriormente em cd e vinil.<\/p>\n

O que isso tudo quer dizer? Nem\u00a0Trent Reznor tem certeza<\/a> [mas\u00a0repare na certeza,\u00a0l\u00e1 no fim da entrevista, de que as gravadoras “foram projetadas para sugar os m\u00fasicos”]. Como para o Radiohead (embora com aparente mais coragem) e tantos outros, o que parece interessar \u00e9 testar a m\u00e3o, no sentido de descobrir o que fazer com a m\u00fasica que, afinal, ningu\u00e9m deixar\u00e1 de criar\u00a0porque as grandes gravadoras agonizam.<\/p>\n

\"\"<\/a><\/p>\n

A\u00a0mudan\u00e7a geral (“geral”, n\u00e9)\u00a0na mentalidade dos artistas em rela\u00e7\u00e3o ao papel das gravadoras\u00a0repercute\u00a0com significativa diferen\u00e7a\u00a0na situa\u00e7\u00e3o de\u00a01) pessoas que [como Reznor] em algum ponto de suas bem-sucedidas carreiras deixaram de ver sentido no modelo-padr\u00e3o da ind\u00fastria e 2) aquelas que, sem acesso ou sem interesse no Esquem\u00e3o, j\u00e1 iniciaram suas carreiras de maneira independente.\u00a0Embora\u00a0seja prov\u00e1vel que n\u00e3o haja distin\u00e7\u00f5es significativas nos modos de\u00a0produ\u00e7\u00e3o\/cria\u00e7\u00e3o dessas duas categorias, o uso da internet na distribui\u00e7\u00e3o e no consumo musical traz implica\u00e7\u00f5es bem distintas para, digamos, um baita compositor que mora em Alagoas<\/a>, um dinossauro da m\u00fasica brasileira<\/a> e\u00a0um dos criadores mais significativos<\/a> do\u00a0rock industrial, esse g\u00eanero t\u00e3o simp\u00e1tico \u00e0 subvers\u00e3o.<\/p>\n

[Digress\u00e3o<\/strong>. Lob\u00e3o<\/strong> costumava dizer que n\u00e3o havia grandes diferen\u00e7as entre o que ganhava no independente e na \u00e9poca da gravadora, mas isso foi na fase relevante<\/a> que precedeu a pavonada<\/a>.]<\/p>\n

Estas s\u00e3o todas quest\u00f5es devidamente abertas, casos n\u00e3o encerrados de uma hist\u00f3ria cultural em tr\u00e2nsito sobre a qual talvez a \u00fanica certeza seja a de que ela\u00a0n\u00e3o se far\u00e1 sem tomada de posi\u00e7\u00e3o. No fundo, The Slip<\/em> \u00e9 um entre muitos testemunhos do que h\u00e1 de mais legal nessa coisa toda, o fato de que, aconte\u00e7a o que acontecer, ningu\u00e9m vai deixar de criar por n\u00e3o saber ao certo o quanto ir\u00e1 ganhar com i$$o.<\/p>\n

E, bem, eu n\u00e3o mencionei at\u00e9 aqui por imaginar que neste ponto do texto voc\u00ea j\u00e1 esteja ouvindo a nova empreitada de Trent Reznor comigo, mas The Slip<\/em> \u00e9 um\u00a0puta disco. Tem bons n\u00edveis de eletr\u00f4nica e ru\u00eddo (embora por mim pudesse ter at\u00e9 MAIS), riffs simples, daqueles que Tom Morello<\/a> costumava dizer\u00a0serem os \u00fanicos capazes de\u00a0fazer as pessoas pularem de verdade,\u00a0uns bons temas instrumentais que de alguma forma ligam o \u00e1lbum ao anterior, que ali\u00e1s d\u00e1 pra ouvir oficialmente tamb\u00e9m<\/a> e \u00e9 muito bom. D\u00e1\u00a0uma sacada\u00a0no clima da coisa:<\/p>\n

[youtube=http:\/\/br.youtube.com\/watch?v=gzw7dK25GsM]<\/p>\n

D\u00e1 pra ver mais\u00a0trechos do\u00a0ensaio aqui<\/a>. E\u00a0aqui<\/a>, o canal oficial da banda no youtube.<\/p>\n

V\u00ea l\u00e1, cuida.<\/p>\n

*<\/p>\n

Em tempo<\/strong>. O Nine Inch Nails\u00a0est\u00e1 em turn\u00ea pela Am\u00e9rica Latina com direito a show cancelado no Brasil e tudo, eu sequer mencionei isso no texto acima e pra compensar meu relaxo informativo<\/strong> compartilho essa bela imagem de palco do NIN:<\/p>\n

\"\"<\/a><\/p>\n

Hmm. E que tal essa:<\/p>\n

\"\"<\/a><\/p>\n

Hein?<\/p>\n

[Reuben da Cunha Rocha.<\/strong>]<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

A primeira coisa que fiz ao ficar sabendo do disco novo do Nine Inch Nails foi me irritar com o texto que me deu a boa nova. \u00c9 evidente que a segunda coisa foi baixar o disco l\u00e1 na p\u00e1gina oficial do NIN. E,\u00a0bem, n\u00e3o\u00a0gostaria de esconder\u00a0a terceira de voc\u00ea, que foi\u00a0descobrir que\u00a0acabo de chamar […]<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[122,91],"tags":[137,138,141],"post_folder":[],"jetpack_featured_media_url":"","_links":{"self":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/112"}],"collection":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=112"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/112\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=112"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=112"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=112"},{"taxonomy":"post_folder","embeddable":true,"href":"https:\/\/baixacultura.org\/wp-json\/wp\/v2\/post_folder?post=112"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}