{"id":10747,"date":"2016-04-19T13:52:50","date_gmt":"2016-04-19T13:52:50","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=10747"},"modified":"2016-04-19T13:52:50","modified_gmt":"2016-04-19T13:52:50","slug":"as-taticas-da-bela-baderna-1","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2016\/04\/19\/as-taticas-da-bela-baderna-1\/","title":{"rendered":"As t\u00e1ticas da Bela Baderna"},"content":{"rendered":"
Brasil, abril de 2016. Sabemos todos que vivemos no Brasil hoje um momento hist\u00f3rico, de disputas pol\u00edticas acirradas como poucas vezes se viu nos \u00faltimos anos (d\u00e9cadas?): “coxinhas”, de um lado, “petralhas”, de outro, e um vasto vasto mundo entre eles. O impeachment tendo prosseguimento\u00a0em vota\u00e7\u00e3o pavorosa na C\u00e2mara dos Deputados, em transmiss\u00e3o ao vivo em muitos canais, foi pra n\u00f3s o ponto mais baixo da hist\u00f3ria brasileira recente.<\/p>\n Na impot\u00eancia de n\u00e3o saber o que fazer, de agir mas n\u00e3o saber direito por onde nem pelo qu\u00ea come\u00e7ar,\u00a0pensamos numa ideia simples, acess\u00edvel ao nosso raro tempo vago e que pode, com sorte, ajudar mentes a mudarem um tanto: disponibilizar informa\u00e7\u00e3o. Compartilhar conhecimento. Fazer ideias circularem. N\u00e3o quaisquer informa\u00e7\u00f5es nem ideias impratic\u00e1veis nem conhecimento inerte, mas as ferramentas para revolu\u00e7\u00e3o da Bela Baderna.<\/p>\n Beautiful Trouble<\/a> (na edi\u00e7\u00e3o original, em ingl\u00eas) ou Bela Baderna<\/a>, na tradu\u00e7\u00e3o para o portugu\u00eas, \u00e9 um livro\/site que traz, de forma simples e did\u00e1tica, t\u00e1ticas, princ\u00edpios e teorias para mudar algo. Como diz a orelha do livro: “sofisticado o bastante para ativistas veteranos e suficientemente acess\u00edvel para os novatos, o livro mostra as sinergias entre imagina\u00e7\u00e3o art\u00edstica e estrat\u00e9gia pol\u00edtica afiada”.<\/p>\n O livro \u00e9 organizado por Andrew Boyd<\/a> e Dave Oswald Mitchell<\/a>, ambos ativistas com bastante experi\u00eancia em a\u00e7\u00f5es\u00a0no mundo em l\u00edngua inglesa. A edi\u00e7\u00e3o nacional \u00e9 pocket, menor que a original, conta com 168 p\u00e1ginas e tem\u00a0tradu\u00e7\u00e3o, revis\u00e3o e co-editoria da Escola de Ativismo<\/a>, coletivo brasileiro\u00a0formado\u00a0em 2012 com a ideia de fortalecer o ativismo no Brasil “por meio de processos de aprendizagem em estrat\u00e9gias e t\u00e9cnicas de a\u00e7\u00f5es n\u00e3o-violentas, campanhas, comunica\u00e7\u00e3o, mobiliza\u00e7\u00e3o, a\u00e7\u00f5es criativas e seguran\u00e7a da informa\u00e7\u00e3o, voltadas para a defesa da democracia, dos direitos humanos e da sustentabilidade”.<\/em>\u00a0A edi\u00e7\u00e3o pt-br traz tamb\u00e9m\u00a0tr\u00eas estudos de caso nacionais: Jornadas de Junho (Revoga\u00e7\u00e3o do aumento das tarifas de transporte p\u00fablico em S\u00e3o Paulo), Pimp my Carro\u00e7a e Mar\u00e3iwats\u00e9d\u00e9: a terra \u00e9 dos Xavante.<\/p>\n Nossa ideia aqui \u00e9 fazer uma vers\u00e3o post de algumas das t\u00e1ticas e princ\u00edpios, de modo a difundir as belas ideias presentes no livro, que dialogam muito com o material que utilizamos nas oficinas de Guerrilha da Comunica\u00e7\u00e3o <\/a>realizada em parceria com o Fotolivre.org<\/a>. Se voc\u00ea quer ler o livro inteiro em portugu\u00eas, o que recomendamos muito, d\u00e1 pra comprar aqui a R$20<\/a>, pre\u00e7o bem camarada pelo conte\u00fado explosivo encontrado, e baixar aqui<\/a> (gratuito). No site da edi\u00e7\u00e3o original (em ingl\u00eas) d\u00e1 pra ler todo o conte\u00fado em posts<\/a>, al\u00e9m de uma vasta quantidade de material complementar e novidades que valem a pena ser consultado a cada t\u00e1tica\/estrat\u00e9gia\/teoria lida.<\/p>\n S\u00e3o 31 t\u00e1ticas e princ\u00edpios utilizados na vers\u00e3o em portugu\u00eas. Versionaremos para post algumas delas de forma aleat\u00f3ria e sem uma periodicidade definida – toda vez que combinamos uma periodicidade ela n\u00e3o acontece por aqui. Come\u00e7amos com uma que, nestes days afters p\u00f3s-vota\u00e7\u00e3o do impeachment na C\u00e2mara dos Deputados, poder ser de grande valia conhecer. ATEN\u00c7\u00c3O: H\u00e1 nessa t\u00e1tica, como em outras, uma divis\u00e3o “por caixinhas” e um vocabul\u00e1rio de guerra (aliados, oponentes, batalhas) que pode n\u00e3o agradar a alguns, inclusive a n\u00f3s em alguns momentos.<\/p>\n *<\/p>\n MUDE O ESPECTRO DE ALIADOS*<\/p>\n Resumo Ativistas normalmente s\u00e3o bons em analisar problemas sociais sist\u00eamicos, mas n\u00e3o t\u00e3o bons em pensar sistemicamente sobre\u00a0como se organizar<\/em>.<\/p>\n Ativismo diz respeito a usar seu poder e sua voz para fazer mudan\u00e7as. Organizar-se tamb\u00e9m diz respeito a isso, mas tamb\u00e9m a ativar e empoderar outros atores. Fica mais f\u00e1cil se voc\u00ea pensar pelo ponto de vista dos grupos. Construir movimentos de forma bem-sucedida se articula na capacidade de enxergar a sociedade em termos de blocos e redes espec\u00edficas, alguns institucionais (sindicados, igrejas, escolas), e outros menos vis\u00edveis e coesos, como agrupamentos demogr\u00e1ficos ou subcultura jovens.<\/p>\n Analisar seu espectro de aliados pode ajudar a identificar e mobilizar as redes ao seu redor. Uma an\u00e1lise desse espectro de aliados pode ser usada para mapear uma campanha ou definir a estrat\u00e9gia de todo um movimento social.<\/p>\n A an\u00e1lise do espectro de aliados funciona da seguinte maneira: em cada compartimento, voc\u00ea coloca diferentes indiv\u00edduos (seja espec\u00edfico: coloque seus nomes!), grupos ou institui\u00e7\u00f5es. Indo da esquerda para a direita, identifique seus\u00a0aliados ativos<\/em>: aqueles que concordam com voc\u00ea e est\u00e3o lutando junto: seus\u00a0aliados passivos<\/em>: aqueles que concordam com voc\u00ea mas n\u00e3o est\u00e3o fazendo nada a respeito; os\u00a0neutros<\/em>: aqueles em cima do muro, que n\u00e3o est\u00e3o envolvidos; os\u00a0oponentes<\/em> passivos: <\/em>pessoas que discordam de voc\u00ea mas n\u00e3o est\u00e3o tentando det\u00ea-lo; e finalmente seus\u00a0oponentes ativos<\/em>.<\/p>\n Alguns grupos de ativistas s\u00f3 falam ou atuam com aqueles no primeiro compartimento (os\u00a0aliados ativos,\u00a0<\/em>Nota do Baixa: a “bolha”), construindo subculturas insulares, marginais e autorreferenciadas, que s\u00e3o incompreens\u00edveis para qualquer outra pessoa. Outros se comportam como se todo mundo estivesse na ponta oposta (a dos\u00a0oponentes ativos<\/em>), agindo como se fossem “os poucos bons” e como se o mundo todo estivesse contra eles. Essas duas abordagens tendem ao fracasso. Os movimentos vencem n\u00e3o por se tornarem mais poderosos que seus oponentes ativo<\/em>s, mas sim removerem a base de apoio desses oponentes<\/strong>.<\/p>\n Por exemplo, em 1964, o Comit\u00ea de Coordena\u00e7\u00e3o N\u00e3o-violenta Estudantil (Student Nonviolent coordinating Committe)<\/a>, <\/em>uma grande lideran\u00e7a do movimento pelos direitos civis no sul dos EUA, <\/em>realizou uma esp\u00e9cie de “an\u00e1lise do espectro de aliados”. <\/em>Eles perceberam que tinham muitos aliados passivos q<\/em>ue eram estudantes do norte do pa\u00eds: esses estudantes eram simp\u00e1ticos \u00e0 causa, mas n\u00e3o tinham uma porta de entrada no movimento. Eles n\u00e3o precisavam ser “educados” ou convencidos, eles precisavam ser convidados a entrar.<\/p>\n Para mudar esses aliados de “passivos” para “ativos”, o Comit\u00ea enviou alguns \u00f4nibus para o norte para trazer o pessoal para participar da campanha “Ver\u00e3o da Liberdade”. Os estudantes vieram em manadas, e muitos foram profundamente radicalizados no processo, testemunhando linchamentos, abusos de policiais violentos e multid\u00f5es de brancos raivosos, tudo simplesmente pelo fato de ativistas negros tentarem votar.<\/p>\n Muitos escreveram cartas para seus pais, que de repente estabeleceram uma conex\u00e3o pessoal com a luta. Isso disparou uma outra mudan\u00e7a: suas fam\u00edlias se tornaram\u00a0aliados passivos<\/em>, muitas vezes trazendo junto seus colegas de trabalho e conex\u00f5es sociais. Os estudantes, por sua vez, voltaram para a escola no outono e come\u00e7aram a se organizar nos campi.\u00a0Mais mudan\u00e7as<\/em>. O resultado: uma transforma\u00e7\u00e3o profunda do horizonte pol\u00edtico dos EUA. Vale ressaltar que esse efeito cascata na mudan\u00e7a de apoio n\u00e3o foi espont\u00e2neo: ele fez parte de um movimento estrat\u00e9gico deliberado que at\u00e9 hoje traz li\u00e7\u00f5es profundas para outros movimentos.<\/p>\n *Com a contribui\u00e7\u00e3o de Joshua Kahn Russel<\/a>: mobilizador e estrategista que atua em movimentos por justi\u00e7a social e equil\u00edbrio ecol\u00f3gico. Ele trabalha com a 350.0rg<\/a> e tamb\u00e9m \u00e9 coordenador de a\u00e7\u00f5es, facilitador e treinador da\u00a0Ruckus Society<\/a>. [Vers\u00e3o em ingl\u00eas do post<\/a>].<\/p>\n Imagem: 1 (capa do Bela Baderna)<\/a>, 2 (ilustra\u00e7\u00e3o de Joshua Kahn Russel<\/a>).<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Brasil, abril de 2016. 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\nOs movimentos raramente ganham ao dominarem sua oposi\u00e7\u00e3o: eles ganham ao suprimir a sua base de apoio. Delimite os setores sociais com influ\u00eancia sobre uma determinada quest\u00e3o e trabalhe para aproxim\u00e1-los da sua posi\u00e7\u00e3o.<\/strong><\/p>\n