{"id":10026,"date":"2014-12-04T18:46:11","date_gmt":"2014-12-04T18:46:11","guid":{"rendered":"https:\/\/baixacultura.org\/?p=10026"},"modified":"2014-12-04T18:46:11","modified_gmt":"2014-12-04T18:46:11","slug":"um-causo-basco","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/baixacultura.org\/2014\/12\/04\/um-causo-basco\/","title":{"rendered":"Um causo basco"},"content":{"rendered":"
Estava pelas ruas do Casco Viejo de Bilbao, com quatro hackers – um da tecnologia oriundo da am\u00e9rica latina, outros tr\u00eas da pol\u00edtica & cultura livre oriundos do pr\u00f3prio Pa\u00eds Basco (Euskal Herria, como eles chamam em Euskera<\/a>, a l\u00edngua mais antiga e esquisita da Europa Ocidental). Fal\u00e1vamos sobre tecnologia, vinhos, Bilbao, pol\u00edtica, cultura, autonomia, Brasil, pintxos<\/a>, pol\u00edtica, Podemos, pol\u00edtica, Ganemos, pol\u00edtica.<\/p>\n [Abro aqui um par\u00eantese gigante para falar que a cada dia algu\u00e9m de diferentes origens e lugares da Espanha fala de Podemos<\/a>. S\u00e3o hackers, a televis\u00e3o, os jornais e suas capas, as pessoas e as ruas, todos surpresos – e esperan\u00e7osos – com a ascen\u00e7\u00e3o r\u00e1pida de um partido criado n\u00e3o faz nem um ano e que foi a 4\u00ba candidatura mais votada nas elei\u00e7\u00f5es para deputados europeus, a que em uma semana ganhou de todos os outros em seguidores nas redes sociais e que est\u00e1 liderando as pesquisas de inten\u00e7\u00e3o de voto direto<\/a> para as elei\u00e7\u00f5es nacionais\u00a0em 2015, tendo como figura mais proeminente\u00a0Pablo Iglesias<\/a>,\u00a0um analista pol\u00edtico televisivo e professor universit\u00e1rio cabeludo de 36 anos. Numa compara\u00e7\u00e3o tosca (e imposs\u00edvel) com a realidade brasileira, imagine que as manifesta\u00e7\u00f5es de junho de 2013 tivessem produzido gente interessada em disputar a pol\u00edtica de “dentro”. Que essa gente passasse a conversar a s\u00e9rio com esquerdistas indignados com o que se diz de esquerda e com militantes de um partido mais a esquerda que o atual governo, tipo o PSOL. Misture com a presen\u00e7a de in\u00fameros cientistas pol\u00edticos gabaritados de uma universidade forte de uma capital – a USP ou a UFRJ, por exemplo. Acrescente uma pitada cir\u00fargica do poder de mobiliza\u00e7\u00e3o das redes digitais, um crowdfunding gigante para financiar a campanha, a crise e o desemprego desenfreado, e finalize com um discurso sedutor, ainda que disperso, contra a corrup\u00e7\u00e3o generalizada no Estado. Se existisse esse cen\u00e1rio no Brasil, seria algo parecido ao Podemos.]<\/p>\n De tanto se falar de pol\u00edtica e de Podemos, veio o desafio. Eu e o hacker latino-americano fomos intimados a falar de bons “exemplos” pol\u00edticos de nossos pa\u00edses. Tomando vinho no meio de uma daquelas calles algo medievais como a da foto que abre esse post, t\u00ednhamos uns pouco segundos para puxar exemplos, enquanto os tr\u00eas bascos discutiam Podemos e tamb\u00e9m do Ganemos, uma quase ramifica\u00e7\u00e3o do Podemos voltado a disputa das municipalidades (prefeituras) na Espanha em 2015 – \u00a0d\u00e1 uma olhada no Ganemos Madrid, “La democracia empieza en lo cercano<\/a>“.<\/p>\n Comecei o desafio sacando\u00a0o Marco Civil da Internet<\/a>. Falei da constru\u00e7\u00e3o pioneira e colaborativa do marco, de como ele visa garantir a neutralidade da rede e alguns direitos essenciais aos internautas (sabemos que n\u00e3o \u00e9 beeem assim, mas est\u00e1vamos numa discuss\u00e3o noturna numa rua, p\u00f4). Os bascos se olharam, e se convenceram quando falei tamb\u00e9m do respaldo internacional que o Marco teve, especialmente quando citei Lessig e os criptopunks que o apoiaram – Jeremie Zimmerman, Jacob Appelbaun, al\u00e9m do gr\u00e3o-mestre Julian Assange (leia relato sobre o fato no ArenaNet Mundial<\/a>).<\/p>\n Foi a vez do hacker hermano latino. Que “fugiu” ao dizer que seu pa\u00eds-casa \u00e9 a internet, e mais esperto ainda em citar o caso do Anonymous como um exemplo de organiza\u00e7\u00e3o anti-organiza\u00e7\u00e3o da internet que est\u00e1 mudando a forma de se fazer ativismo. Ia falar que “assim n\u00e3o vale” quando ele citou o novo livro de Gabriela Coleman, “Hacker, Hoaxer, Whistleblower, Spy: The Many Faces of Anonymous<\/a>“, e convenceu todos.<\/p>\n