Tramas Urbanas – BaixaCultura https://baixacultura.org Cultura livre & (contra) cultura digital Mon, 01 Aug 2011 14:21:48 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.9 https://baixacultura.org/wp-content/uploads/2022/09/cropped-adesivo1-32x32.jpeg Tramas Urbanas – BaixaCultura https://baixacultura.org 32 32 Tramas Urbanas: a segunda leva https://baixacultura.org/2011/08/01/tramas-urbanas-a-segunda-leva/ https://baixacultura.org/2011/08/01/tramas-urbanas-a-segunda-leva/#comments Mon, 01 Aug 2011 14:21:48 +0000 https://baixacultura.org/?p=5209

Lembra da Coleção Tramas Urbanas sobre a qual falamos um ano atrás? Sabia que uma continuidade dela foi disponibilizada para download não faz muito? Essa nova leva vem também com o nome “Coleção Literatura de Periferia“, mas a proposta de dar visibilidade à reflexão sobre fenômenos sócio-culturais e estéticos em curso nas periferias das grandes cidades brasileiras continua.

Dessa vez,  são dez novos livros com diferentes assuntos como profissões, bandas, literatura e biografias que se mixam com histórias do movimento Hip-Hop e de projetos sociais de música e de teatro.

Em uma entrevista de 2009, a professora Heloísa Buarque de Hollanda, curadora da coleção, dizia como surgiu a ideia: “A força, o impacto e o poder de interpelação dessa produção é para mim o fenômeno mais importante da virada do século. Entretanto, esse material sempre vinha a mim já com interpretações, teses, releituras. Senti como imperioso que os protagonistas e co-protagonistas desses movimentos culturais contassem e avaliassem sua história.”

Outro pronunciamento significativo da pesquisadora foi sobre a estética da periferia, que independe de território e de materialidade a partir do manuseio das novas tecnologias e assim “ganham nova visibilidade, uma vez que as tecnologias, em seu caráter rizomático, destituíram a hegemonia de algumas expressões estéticas em favor da multiplicidade de estéticas“.

[Aliás, Helô liberou no começo de julho três de seus livros para baixar: “Impressões de Viagem“,  “Pós-Modernismo e Política“, e “Tendências e Impasses“. Em janeiro, ela também dispôs sua autobiografia intelectual “Escolhas” em .pdf, e em 2009 organizou o site “ENTER” – Antologia Digital.]

Patrocinada pela Petrobras, a Aeroplano Editora continua a publicar todos  os exemplares, que podem ser encomendados no site da editora. O projeto gráfico também ainda é responsabilidade dos designers cariocas do Cubículo, em cujo currículo figuram revistas, peças de teatro, cds e festas.

Bagunçaço (Joselito Crespim) [.pdf]

Conta a trajetória do Grupo Cultural Bagunçaço, fundado em 1991 na favela soteropolitana Alagados [conhecida pelas palafitas e citada na homônima música dos Paralamas]. O projeto é uma entidade civil sem fins lucrativos que ajuda jovens a construir instrumentos de percussão com o uso de latas usadas, além de dar acesso a uma biblioteca e a aulas de cidadania. O autor Joselito Crispim é criador e coordenador do grupo, e em 2001 já dizia: “Identificando a identidade da comunidade, dá para trabalhar sua auto-estima. E só assim a comunidade será dona de sua própria história.”

Coletivo Canal Motoboy [ainda sem link no site da Aeroplano] (Eliezer Muniz dos Santos) [.pdf]

Querendo reverter a antipatia da maioria da população em relação aos motoboys, o livro mostra o outro lado da moeda: o ser humano que está por trás do capacete. O livro fala do projeto Canal Motoboy, em que 12 profissionais fazem fotos e videos de seus celulares em meio as manobras e as paradas na pequena metrópole São Paulo. Iniciado em 2003 e implementado em 2007, o objetivo era mudar a imagem negativa conferida pela imprensa paulista à categoria, conforme conta no prefácio o idealizador Antoni Abad. Os textos narrados na primeira pessoa mostram ainda a cultura motoboy e o relacionamento com as motogirls.

Devotos 20 anos (Hugo Montarroyos) [.pdf]

Narra a história da banda pernambucana Devotos e como eles, junto com toda uma cena underground formada em torno deles, revolucionaram a situação social do bairro Alto José do Pinho, Recife, antes palco da violência e marginalidade. Escrito pelo jornalista Hugo Montarroyos, que acompanha o trabalho da banda de hardcore desde o começo da década de 1990, a obra é dividida em três partes ricamente ilustradas com fotos e cartazes.  Uma delas descreve o nascimento da ONG Alto Falante, cujo principal projeto é a Rádio Alto Falante e que realiza oficinas periódicas de capoeira, teatro, break, maracatu e software livre.

Enraizados os híbridos glocais (Dudu de Morro Agudo) [.pdf]

O rapper Flávio Eduardo, ou Dudu de Morro Agudo, e seu parceiro, o ator Luiz Carlos Dumontt, desenvolveram o Movimento Enraizados, organização em torno do Hip Hop presente em quase todo o Brasil e em vários países do mundo. Nos quatro capítulos, Dudu relata a aventura de criar o Movimento em 1999 no bairro Morro Agudo, da cidade de Nova Iguaçu, Rio De Janeiro.  Hoje, a rede faz parte do Movimento Hip Hop Organizado do Brasil (MH2O), e é formada por organizações que compartilham conhecimento e articulam a militância cultural nas periferias de vários estados e países, utilizando-se do audiovisual, das rádios comunitárias, do teatro e dos elementos do Hip Hop.

Guia Afetivo da Periferia (Marcus Vinícius Faustini) [.pdf]

O Rio de Janeiro é o personagem “periférico” e ao mesmo tempo central do texto. Seu autor, o escritor e diretor teatral Marcus Faustini, nos guia pessoalmente através de relatos de sua infância e juventude. “Com qualidade literária reconhecida no Brasil e no exterior, o romance vem sendo apontado como uma das grandes novidades da literatura brasileira, visto que apresenta um “autorretrato” da periferia, sem o tom muitas vezes melodramático presente na produção de escritores que, com um olhar externo, criavam representações das classes populares”, resenhou a jornalista Alessandra Bizoni. Ouça um pouco da paixão pelas palavras do próprio Marcus aqui.

Hip Hop: dentro do movimento (Alessandro Buzo) [.pdf]

Todas as dúvidas sobre o universo do Hip Hop são esclarecidas nesse que é mais um livro de autoria do escritor, apresentador e cineasta Alessandro Buzo presente na coleção.  Buzo mergulhou no assunto durante cinco meses e conversou por e-mail ou presencialmente com 62 pessoas atuantes, entre elas nomes de peso como Dexter, GOG, Thaíde, Rappin Hood, Fernando Bonassi, Negra Li e a argentina Lucia Teninna. O resultado foi um livro de entrevistas e interpretações do autor, e também com depoimentos de outros agentes. Como disse nas primeiras páginas e nessa entrevista, Buzo acredita no 5º elemento do Hip Hop, o conhecimento: “Sem conhecimento as pessoas (do Hip-Hop ou não) andam em círculo. Menos TV e mais livros para todos”.

Meu destino era o Nós do Morro (Luciana Bezerra) [.pdf]

O grupo teatral Nós do Morro mostrado de dentro. Numa prosa autobiográfica, a autora relata sua mudança para o morro carioca Vidigal em 1982. Dez anos depois começaria a estudar no grupo fundado em 1986 pelo jornalista e ator Guti Fraga. O Nós do Morro oferece cursos de formação nas áreas de teatro (atores e técnicos) e cinema (roteiristas, diretores e técnicos). Luciana Bezerra, que  passou por todas as funções, agora coordena o Núcleo Audiovisual Nós do Morro, que tem duas produções no Porta Curtas. Recentemente ela dirigiu um dos episódios de ‘5x Favela – Agora por nós mesmos‘ e faz parte do projeto Por que a gente é assim? [ouça ela falando sobre generosidade intelectual aqui].

No Olho do Furacão (Anderson Quack) [.pdf]

Começando na época que o diretor dos programas Aglomerado e Espelho do Canal Brasil, Anderson Quack, vendia picolé aos nove anos e depois, aos 13, foi ser boy de macumba, auxiliando em cerimônias religiosas, o enredo passa pela história da Central Única das Favelas (Cufa), da criação da Cia. de Teatro Tumulto e do Prêmio Hutúz. Temas como família, amizade, amor, preconceito, violência policial, teatro, cinema, hip-hop, funk e samba permeiam a escrita de Quack. Ele exalta a Cidade de Deus do Rio de Janeiro como sua terra e a Cufa como seu ponto de partida profissional e pessoal.

Traficando Conhecimento (Jéssica Balbino) [.pdf]

É a vida da jornalista Jéssica Balbino, moradora da periferia de Poços de Caldas, Minas Gerais. As 504 páginas dizem muito sobre o envolvimento da autora com a cultura Hip-Hop e o consequente desenvolvimento de zines, blogs, oficinas e programas de rádio. Tal qual Alessandro Buzo, o nome do livro é referência ao que Jéssica acredita: “conhecimento” para apresentar a cultura como instrumento de transformação em uma sociedade. Ela também é co-autora do livro-reportagem “Hip-Hop – A Cultura Marginal”, resultado de seu Trabalho de Conclusão de Curso e disponível no portal Overmundo.

Vozes Marginais da Literatura (Érica Peçanha do Nascimento) [.pdf]

No mais acadêmico dos livros dessa nova leva do Tramas, a antropóloga Erica Nascimento abordou, em sua dissertação de mestrado da USP no ano de 2006, o tema literatura marginal produzida na periferia de São Paulo. ‘O que é literatura marginal?’, ‘Como os autores periféricos estudados constroem sua atuação político-cultural?’, ‘É possível falar em cultura da periferia?’ são algumas das hipóteses da pesquisa. Ela analisa as três edições especiais sobre Literatura Marginal da revista Caros Amigos e as carreiras de três escritores: do poeta Sérgio Vaz [que já escreveu um livro na coleção], do também compositor Ferréz e do ativista cultural Ademiro Alves de Souza [conhecido como ‘Sacolinha’].

[Marcelo De Franceschi]

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Tramas Urbanas, e digitais https://baixacultura.org/2010/07/27/tramas-urbanas-e-digitais/ https://baixacultura.org/2010/07/27/tramas-urbanas-e-digitais/#comments Tue, 27 Jul 2010 12:57:45 +0000 https://baixacultura.org/?p=3334

Mais do que nunca, o poder está ligado à comunicação.
Quanto mais informação circular, mais difícil será a
reprodução de autoritárias relações de poder. Mas como
interromper a perversa dinâmica que restringe o acesso às
informações e (re)produz exclusão cultural?

Regina Novaes

A citação condensa muito do que temos discutido por aqui. Resistência, ativismo, democratização da comunicação, tudo através dos bits, potenciais subvertores das lógicas hierarquicas dos bens de consumo. Entre estes, a informação, a música, o cinema, a literatura, a arte, nem sempre as predominantes no país, as que aparecem nos meios tradicionais que nem precisamos citar. No meio digital, o marginal (não central) pode, e deve, ganhar visibilidade, seja para si próprio, seja para fora de si.

Não por acaso, a citação de abertura está na introdução de um livro pertencente a uma série que aborda as culturas ocorridas nas periferias das grandes cidades. A Tramas Urbanas consiste em dez livros que falam de política, artes visuais, música, moda, literatura, jornalismo e a história das favelas. E tudo contado tanto por estudiosos quanto pelos protagonistas das realidades, como as autobiografias de DJ Raffa ou de Alessandro Buzo, ou a trajetória do portal Viva Favela, relatada pela ex-editora Cristiane Ramalho no livro “Notícias da Favela” em que está o trecho que inicia este texto. Pelo lado acadêmico, podemos citar o livro “Tecnobrega” do advogado Ronaldo Lemos e da jornalista Oona Castro, sobre a conhecida e exemplar cena musical do Pará, que foi tema também do documentário Brega S/A já falado por aqui.

A coleção foi patrocinada pela Petrobrás e idealizada pela professora de teoria crítica da cultura da UFRJ, Heloísa Buarque de Hollanda, também editora do Portal Literal e diretora da Aeroplano Editora, pela qual os livros foram publicados. Abaixo, faremos um pequeno apanhado sobre cada volume, que só foram disponibilizados na rede em outubro de 2009. Outros títulos da coleção já foram ou estão sendo lançados mas suas versões digitais ainda não estão para download.  Por exemplo, os livros “Vozes Marginais na Literatura” e “Guia Afetivo da Periferia”, lançados em novembro e dezembro de 2009, e “O Nascimento de uma Categoria”, que saiu em maio. Heloísa nos contou por e-mail que o site está passando por reformulações e que em breve os demais volumes poderão ser baixados. Mas, os dez volumes iniciais ainda estão disponíveis no site da Petrobrás e do Portal Literal, de onde tiramos muitas das informações que seguem.

Acorda hip-hop (DJ TR)

É a história do hip-hop como ativismo político no Brasil. DJ TR é da Cidade de Deus e conta como o movimento nasceu nos guetos de Nova Iorque, nos anos 70, e de lá saiu para o mundo. Ele descreve os caminhos e o panorama do hip-hop no Brasil e sua importância na conscientização dos jovens da periferia. Conta ainda que os quatro elementos do hip-hop (grafite, break, MC e DJ) têm como proposta inovadora unir entretenimento a uma força de expressão política contrapondo-se às produções artísticas convencionais de sua época. O autor também tem mantido o blog que leva o nome do livro. Hospedado no site Faz Barulho, de divulgação do Hip Hop nacional, DJ TR publica textos e entrevistas que realiza.

Cidade ocupada (Ericson Pires)

Um livro sobre a estética das artes urbanas, que aborda temas como Grupos Coletivos, Cultura Livre e Autoria Compartilhada. O autor se refere a grupos que publicam sua arte em paredes, ruas, lugares públicos e objetos. Ericson conta a história, entre outras, do Coletivo Imaginário Periférico, movimento que já reúne 300 artistas e que tem como objetivo fazer a produção artística da periferia tão valorizada como a dos grandes centros. O livro mostra que a cidade está ocupada por expressões múltiplas e que a arte se re-inventa o tempo todo no espaço urbano. Ericson Pires é um dos criadores do coletivo Hapax, que usa como ferramenta em seus trabalhos um amplo mosaico tecnológico, hightech e lowtech: samplers, sensores, sintetizadores, baterias eletrônicas, rádios – em suma, qualquer sucata eletrônica capaz de produzir som.

Cooperifa, antropofagia periférica (Sérgio Vaz)

Poesia e periferia. Em “Cooperifa, antropofagia periférica”, Sérgio Vaz, poeta e criador da Cooperifa, conta histórias desse movimento cultural que há sete anos congrega em torno da poesia quase quinhentas pessoas na periferia paulista. O livro também fala da saga do poeta, que até conseguir se manter com a poesia, escreveu letras de música, trabalhou como auxiliar de escritório, assessor parlamentar e vendedor de videogame. Desde 2001, já foram lançados mais de quarenta livros de poetas e escritores da periferia, além de dezenas de discos. No blog Colecionador de Pedras, Sérgio Vaz divulga os saraus, outros eventos e suas poesias, que estão no livro de mesmo nome.

Daspu – a moda sem vergonha (Flávio Lenz)

Moda de rua, para puta e para perua. Por meio de relatos bem-humorados, o livro “Daspu – a moda sem vergonha”, do jornalista Flavio Lenz, conta a inusitada história da grife criada pela ONG de defesa dos direitos das prostitutas – a Davida. A ideia da grife é, através da moda, criticar a visão estereotipada das prostitutas, dar visibilidade ao movimento da categoria, sacudir o preconceito e a caretice e, claro, vender roupas para gerar recursos. No livro, recheado de histórias engraçadas e emocionantes, o autor relata quatro aspectos essenciais da iniciativa, que evoluem em um harmonioso e inseparável conjunto: o político, o cultural, o erótico e o empresarial. Flávio Lenz é editor do jornal Beijo da Rua, voltado para prostitutas.

Favela Toma Conta (Alessandro Buzo)

O livro conta a trajetória de Alessandro Buzo: de garoto pobre da periferia paulistana a escritor, agitador cultural e apresentador do “Buzão – Circular Periférico”, da TV Cultura. Nascido e criado no Itaim Paulista, a 38 quilômetros do centro de São Paulo, Buzzo teve uma infância e adolescência que em nada teve de diferente das dos moradores das centenas de periferias espalhadas pelo Brasil. O pai deu no pé e a mãe segurou a onda da educação do menino às custas, inicialmente, de muita faxina em casa de família. A mesma onda levou o menino também a começar a trabalhar, aos 13 anos, como office-boy. Até que descobriu a cocaína e aí sua vida se tornou uma montanha russa. Hoje, Buzo é um expoente do movimento cultural da periferia paulistana que vem revelando o cotidiano local em suas crônicas, livros e blogs. As mudanças vieram com o casamento, o hip-hop, a literatura e a preocupação com a realidade que o cercava.

História e Memória de Vigário Geral (Maria Paula Araujo e Ecio Salles)

São 50 anos de Vigário Geral. São 15 anos de AfroReggae. O movimento, que nasceu em 1993, cresceu e se expandiu para fora dos limites geográficos da favela, transformando não só o cenário de Vigário Geral como muitos outros cenários dentro e fora do país. O livro “História e memória de Vigário Geral”, da professora do Departamento de História da UFRJ, Maria Paula Araújo, e de Ecio Salles, ex-coordenador cultural do AfroReggae, resgata a memória da comunidade Vigário Geral, a partir sobretudo de entrevistas com moradores. E mostram como “a cultura pode ser o grande passaporte para a transformação”, como diz Maria Paula.

Notícias da Favela (Cristiane Ramalho)

Trata sobre o primeiro portal focado apenas em notícias produzidas em favelas: o Viva Favela. A autora, editora do site entre 2001 e 2006, relata como foi a experiência pioneira de formar e trabalhar com repórteres, fotógrafos e editores da periferia, abordando as notícias com uma produção feita de dentro das comunidades. Um desafio complexo fazer do jornalismo um espaço em que a informação seja, ao mesmo tempo, resultado e estímulo de trocas. Cristina Ramalho é jornalista, tendo passado pelos jornais O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde, O Globo e Folha de S. Paulo, e também nas revistas Veja e Viagem e Turismo. É colaboradora de Época, Marie Claire, Elle, Vogue, Icaro, além de editar revistas customizadas.

Poesia Revoltada (Ecio Salles)

O livro, que tem tudo para se tornar referência sobre o rap, nasceu da tese de mestrado de Ecio. Para ele, que fez a pesquisa em cima de artistas de três cidades – MVBill (RJ), Racionais MCs (SP), GOG (BR) –, o rap quebra o discurso hegemônico e traz um novo capítulo para a cultura brasileira. Como diz o poeta Omar Salomão no prefácio: “o livro fala dos rappers, verdadeiros mensageiros, que estabelecem um vínculo entre arte, cultura, e o cotidiano de suas comunidades”. O que Ecio faz, complementa Omar, “é destrinchar a trincheira e nos mostrar a força e solidez desta manifestação artística impregnada de uma realidade que a tantos incomoda.” O autor foi coordenador do Centro Cultural AfroReggae, de Vigário Geral e curador do programa Onda Cidadã, que discute as formas autônomas de comunicação e seu impacto social, cultural e econômico.

Tecnobrega: o Pará Reinventando o Negócio da Música (Ronaldo Lemos e Oona Castro)

Cultura e mercado do mesmo lado. “Mais do que um estilo musical, o tecnobrega é um mercado que criou novas formas de produção e distribuição”, diz o advogado Ronaldo Lemos que, em co-autoria com a jornalista Oona Castro, conta a história deste movimento cultural e mergulha na cena paraense. O livro analisa as relações de agentes com aspectos materiais e simbólicos da produção cultural local. Nascido do brega tradicional, o tecnobrega surgiu no início dos anos 2000, distante das grandes gravadoras e da atenção da grande indústria, graças à apropriação de novas tecnologias e à mobilização de agentes como DJs, artistas, cantores, bandas, vendedores de rua, festeiros, etc. A partir da experiência desses atores, Ronaldo Lemos e Oona Castro mostram a importância de novos modelos de negócios que consolidem mercados viáveis e sustentáveis.

Trajetória de um Guerreiro (DJ Raffa)

É a história de uma vida dedicada ao hip-hop. Claudio Raffaello Santoro: b-boy, músico, disc-jóquei, produtor, educador, professor. O autor DJ Raffa é um dos brasileiros que mais conhece o movimento musical da periferia por suas andanças intermináveis fazendo shows por todo o Brasil. Responsável por muitos hits, para grandes grupos do rap nacional, iniciou a carreira e fez história com DJ Raffa e Os Magrellos e depois com o grupo Baseado nas Ruas. Gravou os Mamonas Assassinas, antes deles serem os Mamonas Assassinas, e samba junto com o técnico de Zeca Pagodinho. Fez remixes de dance, abriu show do Gerson King Kombo no Bourbon Street. Construiu o funk melody e trouxe para o mundo do hip-hop cantores como Rosana e Rodolfo, ex-vocalista d’ Os Raimundos.

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[Marcelo De Franceschi]

A reflexão produzida por estes novos intelectuais e/ou ativistas e por alguns outros pensadores afins, de alguma forma inseridos no trabalho contra a exclusão cultural, ao contrário das demais manifestações artísticas similares, é totalmente desconhecido pelo público.
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