redes – BaixaCultura https://baixacultura.org Cultura livre & (contra) cultura digital Wed, 24 Feb 2021 11:45:11 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.9 https://baixacultura.org/wp-content/uploads/2022/09/cropped-adesivo1-32x32.jpeg redes – BaixaCultura https://baixacultura.org 32 32 A curiosa história de um roteador adorado por hackers https://baixacultura.org/2021/02/24/a-curiosa-historia-de-um-roteador-adorado-por-hackers/ https://baixacultura.org/2021/02/24/a-curiosa-historia-de-um-roteador-adorado-por-hackers/#respond Wed, 24 Feb 2021 11:45:11 +0000 https://baixacultura.org/?p=13398

Kai Hendry/Flickr

Texto publicado originalmente na Vice, por Ernie Smith, traduzido e adaptado livremente para o BaixaCultura.

Como um firmware licenciado em software livre transformou um roteador da Linksys num dispositivo lendário para hackers

Em um mundo onde nossos roteadores se parecem cada vez mais com aranhas de cabeça para baixo do que com coisas que você gostaria de ter em sua sala de estar, há apenas um punhado de roteadores que podem ser considerados “famosos”.

Os esforços de Steve Jobs para vender o AirPort – principalmente usando um bambolê durante uma demonstração do produto – definitivamente merecem destaque nesta categoria. Os roteadores mesh feitos pelo Eero, de propriedade da Amazon, provavelmente também.

Mas um certo roteador da Linksys, apesar de ter quase 20 anos, leva o prêmio principal de roteador “famoso” – e tudo por causa de um recurso que inicialmente não foi documentado e, depois, se mostrou extremamente popular em uma base de usuários específica.

Estamos falando do ícone azul e preto do acesso sem fio, o Linksys WRT54G, o roteador sem fio que mostrou ao mundo o que um roteador sem fio pode fazer.

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1988 foi o ano em que a Linksys foi formada por Janie e Victor Tsao, dois imigrantes taiwaneses nos Estados Unidos. De acordo com um perfil da Linksys na rede InC., a empresa começou como uma forma de conectar inventores com fabricantes no mercado taiwanês, mas logo mudou-se para o próprio negócio de hardware, no início dos anos 1990, chegando finalmente às então nascentes redes domésticas – um campo que, no início dos anos 2000, a Linksys passou a dominar.

Hoje, não costumamos parar muito para pensar quando precisamos comprar um roteador; você vai a uma loja (ou na internet) e compra um simples por a partir de R$100. Mas no final dos anos 1990 não era assim. O mercado de roteadores não estava no radar de muitas empresas de hardware porque a necessidade se limitava ao uso em escritórios, o que significava que instalar um roteador em casa era extremamente caro e estava fora do alcance de pessoas “normais”. É a oportunidade perfeita para um tipo de empresa não muito grandes para brincar com os “peixes grandes” do mercado.

Durante sua primeira década de existência, Janie e Victor Tsao aproveitaram essas oportunidades, usando as mudanças de mercado para ajudar a posicionar melhor seu hardware de rede. No início dos anos 90, o hardware Linksys ainda precisava vir com seus próprios drivers. Mas quando o Windows 95 da Microsoft apareceu, os drivers de conexão à rede vieram junto – e isso significava que uma grande barreira para a participação de mercado da Linksys repentinamente desapareceu da noite para o dia.

Com os modems dial-up em vias de sair, houve uma necessidade imediata. “À medida que o uso da Internet de banda larga doméstica começou a florescer no final dos anos 90, com custos muito mais altos do que para conexões dial-up, Victor percebeu que as pessoas iriam querer conectar todos os seus pequenos escritórios ou computadores domésticos a uma linha dessas”, disseram Janie e Victor na InC. “Para fazer isso, eles precisariam de um roteador, um divisor de cabos de alta tecnologia que permite que vários computadores se conectem a um único modem.”

As empresas com as quais a Linksys estava competindo estavam focadas em um mercado em que os roteadores custam quase tanto quanto um computador. Mas Victor encontrou o ponto ideal: um roteador de $ 199 que vinha com um software fácil de configurar e razoavelmente compreensível para meros mortais. E tinha o design distinto pelo qual a Linksys se tornou conhecida – uma mistura de plásticos azuis e preto, com uma série de minúsculas luzes LED na frente. Em uma análise do roteador EtherFast Cable / DSL, a PC Magazine observou que a Linksys fez muito mais do que o que era solicitado à época. “Um preço de US $ 200 seria uma inovação para um roteador de porta Ethernet dupla, mas a Linksys agregou ainda mais valor no pacote de 1,8 por 9,3 por 5,6 polegadas (HWD)”, escreveu Craig Ellison. O roteador, que podia lidar com velocidades de até 100 megabits, tinha quatro portas – e poderia, teoricamente, lidar com centenas de endereços IP. Talvez não fosse tão confiável quanto alguns de seus concorrentes mais caros, mas tinha um preço razoável para residências, o que o tornava uma proposta atraente para o mercado.

O resultado foi que o roteador se tornou um tremendo sucesso, que ajudou a Linksys ter participação de mercado muito maior que seus concorrentes. O sucesso chamou a atenção da Cisco, gigante do hardware de rede, que adquiriu a Linksys em 2003 por $500 milhões. A aquisição ocorreu em um momento em que a empresa criada por Janie e Victor estava ganhando meio bilhão de dólares por ano e crescia rapidamente no mundo, em grande parte devido ao sucesso de seus roteadores.

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Surgido relativamente no início da história do roteador sem fio, a série de roteadores WRT54G mostrou uma flexibilidade muito além do que seu criador pretendia para o dispositivo. Ele estava basicamente em toda parte, nas prateleiras de residências e em pequenos negócios ao redor do mundo. O WRT54G, apesar do nome assustador, era o roteador sem fio que as pessoas que precisavam de um primeiramente comprariam.

Mas a razão pela qual a série WRT54G resistiu por tanto tempo, apesar de usar um protocolo sem fio que se tornou obsoleto há 12 anos, pode se resumir a um recurso que inicialmente não estava documentado – e que apareceu em meio a todas as complicações de um grande fusão, como foi o caso da compra da empresa pela Cisco. Intencionalmente ou não, o WRT54G estava escondendo algo fundamental no firmware do roteador: um software baseado em Linux.

Isso era um problema porque significava que a Linksys seria obrigada a liberar o código-fonte de seu firmware sem fio sob a GNU General Public License, que exige a distribuição do software derivado nos mesmos termos do software que o inspirou. Andrew Miklas, um contribuidor da lista de e-mail do kernel do Linux, explicou que havia entrado em contato pessoalmente com um membro da equipe da empresa e confirmado que o software era baseado em Linux. “Eu sei que algumas empresas sem fio hesitam em lançar drivers de código aberto porque temem que seus hardwares possam ficar fora das especificações”, escreveu ele. “No entanto, se os drivers já foram escritos, haveria alguma razão técnica para que eles não pudessem ser simplesmente recompilados para o hardware Intel e lançados como módulos binários?”

Em uma coluna de 2005 para o Linux Insider, Heather J. Meeker, uma advogada focada em questões de propriedade intelectual e software de código aberto, escreveu que teria sido uma tarefa difícil para a Cisco descobrir o software livre por conta própria:

“A primeira lição desse caso é a dificuldade de fazer diligência suficiente no desenvolvimento de software em uma era de desintegração vertical. A Cisco nada sabia sobre o problema, apesar de provavelmente ter feito diligências de propriedade intelectual na Linksys antes de comprar a empresa. Mas, para confundir as coisas, a Linksys provavelmente também não sabia do problema, porque a Linksys estava comprando chipsets da Broadcom, e a Broadcom provavelmente também não sabia, porque, por sua vez, terceirizou o desenvolvimento do firmware do chipset para um desenvolvedor estrangeiro. Para descobrir o problema, a Cisco teria que fazer diligência em três níveis de integração de produto, que qualquer pessoa no comércio de fusões e aquisições pode dizer que é praticamente impossível.”

Bruce Perens, um “capitalista de risco” (venture capitalist), defensor do código aberto e ex-líder do projeto para a distribuição Debian Linux, disse à LinuxDevices que a Cisco não foi culpada pelo que aconteceu. “Os subcontratados em geral não estão fazendo o suficiente para informar os clientes sobre suas obrigações sob a GPL”, disse Perens.

No entanto, as informações sobre o roteador com o firmware de código aberto estavam lá, e a postagem de Mikas rapidamente ganhou atenção na comunidade de entusiastas. Uma postagem do Slashdot já indicava possibilidades: “Isso pode ser interessante: pode fornecer a possibilidade de construir um firmware de ponto de acesso super-legal com IPsec e suporte nativo a ipv6 etc etc, usando essas informações!” Cerca de um mês após a postagem no Slashdot, a Linksys lançou seu firmware de código aberto.

Jay Gooby/Flickr

Para os hackers, essa informação abriu um mundo de oportunidades. Desenvolvedores terceirizados rapidamente adicionaram recursos ao hardware original que nunca foram planejados. O WRT54G era essencialmente um roteador comum que, agora, poderia ser “hackeado” para emitir um sinal sem fio mais poderoso – em desacordo com a Comissão Federal de Comunicações – desenvolvido em um servidor SSH ou VPN para sua rede doméstica – ou, ainda, poderia ser transformado no cérebro de um robô. O WRT54G também provou ser a raiz de alguns firmware de código aberto úteis na forma de OpenWrt e Tomato, entre outros, o que significava que havia toda uma infraestrutura para ajudar a estender seu roteador além do que o fabricante queria que você fizesse. A Cisco foi compelida pela ameaça de ação legal para lançar o firmware baseado em Linux sob a licença GPL, mas, embora tenha ficado impressionada ao ver que o dispositivo estava sendo usado para objetivos muito mais além do que a caixa dizia, não o fez.

Como a Lifehacker disse em 2006, era a maneira perfeita de transformar seu roteador de $60 em um roteador de $600, o que, provavelmente, significava que estava custando dinheiro à Cisco ter um dispositivo tão bom no mercado. Como resultado, a empresa “atualizou” o roteador de uma forma que era efetivamente um downgrade, removendo o firmware baseado em Linux e substituindo-o por um equivalente proprietário, reduzindo assim a quantidade de RAM e armazenamento que o dispositivo usava, o que tornava difícil substituir o firmware por algo criado por terceiros.

Isso irritou os usuários finais, e a Cisco (aparentemente percebendo que havia estragado tudo) lançou uma versão Linux do roteador, o WRT54GL, que restaurou as especificações removidas. Esse é o modelo que você ainda pode encontrar na Amazon hoje e ainda mantém uma página de suporte no site da Linksys – e apesar de atingir o máximo de 54 megabits por segundo por meio sem fio, um número irrisório considerando o que roteadores modernos com o mesmo preço podem fazer , ainda está à venda. Toda a confusão sobre a GPL piorou anos depois que a supervisão do firmware foi descoberta pela primeira vez – a Cisco acabou pagando um acordo para a Free Software Foundation. Hoje, a empresa vende uma linha inteira de roteadores preto e azul que mantêm suporte para firmware de código aberto. (Eles custam muito mais do que o WRT54G jamais custou.)

“Queremos que este livro expanda o público da plataforma WRT54G e o uso de dispositivos incorporados como um todo, revelando o potencial que esta plataforma tem a oferecer.”

Essa é uma passagem da introdução de “Linksys WRT54G Ultimate Hacking” de 2007, um livro que explora o fato do WRT54G ser um sistema embarcado que pode ser hackeado e usado de várias maneiras, tanto usos práticos quanto por pura diversão. A maioria das pessoas que comprou uma variante do WRT54G na Best Buy provavelmente não se importou que o firmware fosse de código aberto. Mas este fato criou uma espécie de culto em torno do dispositivo, tornando-o hackeável e capaz de fazer mais coisas do que se imaginaria – hackear este dispositivo se tornou tão comum que existe um livro inteiro de 400 páginas dedicado a isso.

Um texto do Ars Technica de 2016 revelou que o roteador, na época, ainda ganhava milhões de dólares por ano para a Linksys, que naquela época já havia sido vendido para a Belkin. Apesar de não ser nem de longe tão poderoso quanto as opções mais caras, o WRT54GL – sim, especificamente aquele com Linux – manteve seu público em sua segunda década porque foi percebido como sendo extremamente confiável e fácil de usar. “Vamos continuar a construí-lo porque as pessoas continuam comprando”, disse na época o gerente de produtos globais da Linksys, Vince La Duca, afirmando que o fator que mantinha o roteador à venda era que as peças continuavam a ser fabricadas.

Apesar de sua idade, o roteador continuou a vender bem por anos após sua data de validade e continua, ainda hoje, sendo amado por muitos hackers – em grande parte devido à sua dependência de drivers de código aberto. Se a sua base de usuários está dizendo para você se manter fiel a algo, continue.

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Ambiente digital de difusão: por onde circula a cultura online? https://baixacultura.org/2019/06/14/ambiente-digital-de-difusao-por-onde-circula-a-cultura-online/ https://baixacultura.org/2019/06/14/ambiente-digital-de-difusao-por-onde-circula-a-cultura-online/#respond Fri, 14 Jun 2019 17:00:11 +0000 https://baixacultura.org/?p=12855 *Fizemos esse texto eu, Leonardo Foletto, editor do BaixaCultura, e André Deak, diretor do Liquid Media Lab, professor da ESPM-SP e parceiro de longa data na CCD em SP, sob encomenda para um livro de uma pesquisa chamada “Panorama Setorial da Cultura Brasileira 2017/2018”. A proposta era discutir principalmente a circulação da cultura na internet nas últimas décadas, sobretudo dos 2000 pra cá. Fizemos então um panorama particular e afetivo de plataformas, serviços e redes por onde a cultura digital circulou nesses tempos. Nada muito sistemático e rígido, mas bem apurado e com fontes pra tudo. Ficou grandão, saiu no livro*, mas também está agora no site e aqui.

No princípio da web, eram os sites. Uma das coisas mais interessantes em 1994 era visitar o endereço das enciclopédias, como a Barsa ou a Britannica, e perceber que não era mais necessário ter uma parede cheia de livros gigantes, capa dura, pesados. Nove em cada dez reportagens diziam que então todo aquele conteúdo estava à distância de um clique.

Passados dez anos, no início do século 21, e já estava claro que qualquer instituição ou empresa que não tivesse um site não existiria. Ou melhor, não apareceria nas buscas, e não seria encontrada, portanto — o que dava no mesmo que não existir. Foi quando museus e institutos culturais começaram a tratar das suas fachadas digitais, com mais ou menos afinco. Alguns acervos levariam ainda mais de uma década para entrar na rede, sendo que a maioria deles segue ainda hoje sem ter nem mesmo um projeto de digitalização. Na verdade, a situação de penúria dos museus é bastante conhecida, mesmo antes de o Museu Nacional do Rio de Janeiro ser reduzido à cinzas em setembro de 2018.

De qualquer forma, a cultura nunca circulou apenas dentro de museus, institutos culturais e enciclopédias, mas nos lugares mais diversos. Durante a pavimentação digital da internet, conforme a infraestrutura era construída, a cultura também se mostrava em todos os cantos possíveis. Nesse texto trazemos detalhes de alguns desses cantos, em especial aqueles que que milhares de pessoas escolheram como os seus espaços para consumir, produzir e fazer circular cultura ao longo dos pouco mais de 20 anos de internet comercial no mundo. Acreditamos que contar suas histórias nos permite entender melhor como se deu o impacto de produzir e consumir cultura com a junção das tecnologias digitais e a rede mundial dos computadores.

WIKIPEDIA

São poucos os websites que foram tão discutidos e que geraram tanto debate sobre quebras de paradigmas quanto aquele criado por Jimmy Wales e Larry Sanger em janeiro de 2001. Em 2018 a Wikipedia tem mais de 43 milhões de artigos, sendo mais de 1 milhão deles em português, o que nos coloca apenas no 15º entre 298 idiomas em termos de quantidade de artigos. Em 2014, calcularam que seriam necessárias mais de 1 milhão de páginas, divididas em 1.000 volumes de 1.200 páginas cada, para imprimir o conteúdo que estava lá — ocupando cerca de 80 metros de estantes. A última edição em inglês da Enciclopédia Britannica foi distribuída em 32 volumes com cerca de mil páginas cada.

Muitos anos foram gastos em faculdades de jornalismo e metros de páginas de revistas e jornais discutiram se o conteúdo da Wikipedia era confiável, e se seria uma enciclopédia melhor ou pior que uma Britannica, em que ocorre a tradicional curadoria e revisão por pares acadêmicos. Em 2006 a revista Nature publicou o primeiro estudo em que comparava as duas enciclopédias, observando 42 artigos científicos de acordo com os padrões mais elevados, e concluindo que “a diferença de acuidade entre as duas enciclopédias não era particularmente grande” (BENKLER, Yochai, p.71 de “The Wealth of Networks” – PDF aqui).

O debate que até hoje às vezes se escuta é que “não são profissionais que editam a Wikipedia”. No Brasil, por conta do debate sobre o fim da necessidade do diploma de jornalismo para exercer profissionalmente a função, também circulou esse debate com o mesmo moto: “não são jornalistas profissionais que estão produzindo essas notícias”. Hoje, a defesa do “profissional” em detrimento do “amador” já não está na lista de prioridades do debate. No caso da Wikipedia, ainda, uma das conclusões mais interessantes é a de que se trata não de um produto, mas de um processo. Com sistemas complexos de debate sobre a validade das revisões, os artigos estão o tempo todo sendo reescritos e revisados. Ninguém duvida hoje que a Wikipedia seja um ponto crucial de distribuição de cultura, normalmente o primeiro lugar onde estudantes encontram informações sobre qualquer coisa.

O fato é que a possibilidade da produção colaborativa, coletiva, e a facilidade com que os meios de produção e distribuição cresceram nos primeiros 10 anos da web fizeram com que conteúdos culturais circulassem muito mais livremente do que jamais haviam circulado antes. Clay Shirky sintetizou bem em “Here Comes Everybody” (p.40, 2008) : “O futuro que a internet apresentou é a publicação em massa de conteúdos amadores, o que mudou o modo de compreender o que deveria ou não ser publicado. Antes, se a pergunta era ‘por que publicar isso?’, agora passou a ser ‘por que não publicar isso?’”

Esse fato mudou o cenário e o mercado de maneira bastante drástica. Jornais, outro ícone da cultura, antes tidos como o “pedágio” entre a informação e o leitor, perceberam que cedo ou tarde teriam que rever conceitos, porque os anunciantes não mais necessariamente teriam que colocar suas propagandas ali para serem vistos. Não demorou muito para a crise financeira chegar: “o Google deve ficar com 42% do mercado de anúncios digitais em 2018 nos Estados Unidos; o Facebook, a concorrência mais próxima, deve ficar com 23% do mercado de anúncios digitais”, segundo o Washington Post. Enquanto isso, os investimentos em anúncios impressos — e mesmo nos digitais, em empresas de jornalismo — seguem em queda. O New York Times, grande parâmetro para a imprensa mundial, que fez um movimento em direção a assinaturas digitais, anunciou em 2018 queda de mais 10% nos anúncios. E, apesar de ter funcionado o modelo de paywall para o NYT, isso não quer dizer que as pessoas estejam dispostas de modo geral a bancar o jornalismo em qualquer parte do mundo com o próprio bolso. Conforme apostava em 2009 Chris Anderson em “Free – o Futuro dos Preços“, “se é digital, cedo ou tarde vai ser grátis”.¹⁰

Praticamente ao mesmo tempo em que ocorria o impacto do digital nos meios impressos, com a livre circulação da informação e da cultura por cabos ainda sem banda larga disseminada (o 3G chegaria apenas na segunda metade da primeira década de 2000, o 4G no início da década de 2010), e com os celulares inteligentes também no início de seu processo de conquista mundial dos mercados (o primeiro Iphone é de 2007), vimos outro mercado cultural sofrer um abalo sísmico que mudaria os rumos de uma cadeia produtiva inteira. E o nome deste terremoto em específico era Napster.

NAPSTER, O PRIMEIRO DESAFIANTE DO COPYRIGHT NA INTERNET

Criado por Shawn Fanning e Sean Parker como um programa de compartilhamento de arquivos em rede P2P em 1999, o Napster protagonizou a primeira luta importante entre a indústria fonográfica e as então nascentes iniciativas de distribuição de informação (e cultura) na internet. A sacada de Fanning e Parker (que depois seria um dos primeiros acionistas do Facebook e ganharia a cara de Justin Timberlake no filme “A Rede Social”, de 2010) foi criar um software de interface gráfica amigável, facilmente baixável nos computadores rudimentares da época, para que qualquer pessoa pudesse buscar suas músicas, em MP3, por nome do artista, disco, faixas e até gêneros inteiros, e fazer o download de uma cópia para suas máquinas. Era o velho hábito de compartilhar músicas, popularizado desde as fitas K7, levado à uma escala global sem precedentes, facilitado por um formato que permitia ao mesmo tempo compartilhar a música e mantê-la consigo nos HDs, CDs e disquetes da época. Uma música em MP3 baixada no Napster era um “bem não-rival” [Imre Simon e Miguel Said Vieira, desenvolveram um conceito que detalha melhor este exemplo: “rossio não-rival], que poderia coexistir em diferentes cópias e ser obtida de forma gratuita, o que quebrava o sistema industrial que as grandes gravadoras mantiveram como o seu modelo de comercialização de produtos durante décadas, ao mesmo tempo em que não remunerava os autores das músicas agora encontradas em diversos computadores de jovens mundo afora. Problema na certa.

Um ano depois de ter sido criado, em 2000, o Napster se tornou uma empresa, com diversas versões de seu software sendo lançadas quase mensalmente, número de usuários quadruplicando a cada semana, chegando a um pico de 8 milhões de pessoas conectadas simultaneamente. Mesmo com o sucesso obtido, os processos das gravadoras por quebra de copyright fizeram o Napster fechar já em 2001. Um dos mais notórios desses processos foi o do Metallica, com seu baterista Lars Ulrich à frente, que manifestou diversas vezes sua indignação com as pessoas que escutavam suas músicas sem pagar, embora ele mesmo tenha assumido que fez isso alguns anos depois, como escrevemos aqui no BaixaCultura em março de 2019.

Apesar do site de trocas ter perdido a batalha judicial, as pessoas passaram a considerar que a troca — ou o download — de músicas era algo tão natural quanto navegar na internet. Outra coisa ficou clara nesse processo: quando os donos do Napster disseram ser capazes de impedir 99,4% de trocas de materiais protegidos por leis de direitos autorais, a outra parte (as gravadoras) disse que não era o bastante. Lawrence Lessig, advogado, um dos criadores de um conjunto de licenças mais flexíveis que o direito autoral (o Creative Commons), notou que “se 99,4% não é o bastante, então essa é uma guerra contra o compartilhamento de arquivos e não a favor do direito autoral”, como escreveu no livro “Free Culture”, de 2006, traduzido no Brasil como “Cultura Livre – Como a grande mídia usa a tecnologia e a lei para controlar a cultura e bloquear a criatividade“.

Lessig esteve no Brasil algumas vezes e foi próximo da gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura, entre 2003 e 2008, durante o governo Lula. A licença que ele foi um dos inventores, Creative Commons, é uma variação do direito autoral que permite, de antemão, que outros utilizem a obra criada, sem permitir a ação de intermediários legais. Foi o conjunto de licenças que mais se popularizou mundo afora baseada no copyleft, um conceito jurídico usado pelo criador do movimento do software livre, Richard Stallman, para permitir que determinadas obras, como softwares, continuem livres.

Poucos sabem que o Brasil é pioneiro na mudança ocorrida em relação ao direito autoral na música, ao compartilhamento de arquivos, ao reposicionamento mundial da indústria musical. Em Belém do Pará, o tecnobrega, que surge a partir das tecnologias de sampler, uma mistura do brega tradicional com batidas eletrônicas, desde o início abriu mão de fazer dinheiro vendendo CDs. Em nome da livre circulação, em feiras de CDs “piratas” distribuídos pelos próprios autores para que camelôs vendessem a R$ 1 ou R$ 2, os músicos estavam mais interessados na formação de público. Assim, conhecidos por uma massa de fãs, podiam depois vender ingressos para shows e ganhar com apresentações em várias cidades, ao invés de tentar proteger sua obra e ganhar com o produto CD. Quanto mais circulasse a música, melhor.

“A ausência de aplicação de leis de propriedade intelectual contribui fortemente para a construção de um mercado com dinâmica muito diferente daquele da indústria cultural formal e tradicional”.

apontavam os pesquisadores Ronaldo Lemos e Oona Castro em livro de 2008 (Tecnobrega: O Pará reinventando o negócio da música), resultado de pesquisa de anos anteriores.

Um ano antes, 2007, dois fatos importantes ocorreram na história da indústria musical: o Radiohead lançou seu disco “In Rainbows” direto na rede para download no modelo “pague-quanto-quiser”, e arrecadou mais do que se vendesse ao preço normal da época; e Madonna, ao perceber que a venda de CDs não sustentaria mais os artistas como no século passado, assinou um contrato “sem precedentes” com uma produtora de shows, passando a se importar mais com a venda de ingressos do que com a venda de música.

Depois de a música se tornar livre, e com uma banda mais larga, que já permitia o download de arquivos maiores, foi a vez de outra indústria ver seus pilares abalados: as produtoras de vídeo. Mas Hollywood e toda a multimilionária indústria do cinema norte-americano não ficariam sentados vendo seus conteúdos escorrerem pelos torrents.

PIRATE BAY, A NAVE-MÃO DOS TORRENTS

Já é razoavelmente conhecida a história de que a Disney e a Universal Studios tentaram impedir o desenvolvimento do vídeo cassete, sob a alegação de que isso iria acabar com o copyright quando as pessoas gravassem programas de TV (aqui em detalhes). O caso Betamax, como ficou conhecido, foi vencido pela Sony, dona da nova tecnologia, em 1984, e nem a TV nem o cinema acabaram então.

Assim, quando surgiu a nova tecnologia chamada torrent, uma evolução do P2P que agora quebrava os arquivos em partes mínimas e permitia a troca não apenas do arquivo completo, mas mesmo das pequenas partes sem que o usuário tivesse o arquivo completo, tornando o processo muito mais eficaz, um conglomerado de empresas de entretenimento mundiais, entre elas a própria Sony, entrou com um processo contra a Baía Pirata por quebra de copyright de milhares de arquivos de produtos culturais. Em 2009, na Suécia, os responsáveis que haviam criado e mantinham o site de trocas de torrents The Pirate Bay fazia seis anos perderam a causa, receberam uma multa recorde (8 milhões de dólares) e foram para a prisão (o que muitos consideraram bastante fora do comum e exagerado — o tribunal virou um filme documentário, The Pirate Bay AFK – Away From Keyboard, disponível no YouTube).

Porém, assim como o Napster, podemos dizer que venceram a “batalha na história”: as trocas de arquivos torrent continuam, ainda que em bem menor número do que antes, e mesmo o The Pirate Bay , o site que agregava links mas não hospedava os conteúdos protegidos por copyright alegados, se mantém na ativa, assim como diversos outros buscadores de torrents. Os responsáveis pelo site sueco, Frederik Neij, Gottfrid Svartholm Warg, Carl Lundstrom, Peter Sunde, estão soltos e tocando outros projetos — Sunde, inclusive, esteve muitas vezes no Brasil em eventos de cultura e software livre, como o Fórum internacional do Software Livre e o Conexões Globais, em Porto Alegre, além de ter criado, ainda em 2010, uma promissora plataforma de micropagamentos, Flattr.
O acesso à produtos culturais via P2P é uma prática comum na rede há quase duas décadas, mas ainda considerada, em sua maior parte, ilegal, o que a faz ser mais subterrânea do que outras e difícil de ser quantificável, já que não há dados atualizados e precisos sobre a quantidade de pessoas que se utilizam dessa forma para consumir cultura online.

Nos últimos anos, os torrents entraram numa nova era tecnológica: o streaming de arquivos. Não apenas a troca das partes se tornou possível, mas assistir a um filme em torrent, sem nem mesmo ter o arquivo completo baixado em seu computador, já é possível em algumas plataformas que mostraremos a seguir. Mas antes do streaming por torrents, vejamos os distribuidores de vídeo online que chegaram primeiro.

YOUTUBE, UM GIGANTE PARADIGMÁTICO NO CONSUMO ONLINE

Whindersson Nunes, 34 milhões de assinantes em seu canal (janeiro 2019)

Surgido em 2005, foi criado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, então funcionários da PayPal que vislumbraram o crescimento da circulação de vídeos na rede a partir do aumento da velocidade de acesso à internet e a dos dispositivos móveis para elaborar uma plataforma que qualquer um pudesse publicar seu vídeo de forma fácil. Foi comprado pelo Google um ano depois por US$ 1,65 bilhões, um investimento gigantesco que consolidou o site como a principal plataforma de exibição e compartilhamento de vídeos na internet e uma “revolução na cultura participativa na internet”, como afirmaram Jean Burgess e Joshua Green em “YouTube e a Revolução Digital: como o maior fenômeno da cultura participativa transformou a mídia e a sociedade“, De 2009. É difícil de medir o tamanho da influência do YouTube na produção e no consumo de cultura online, mas alguns dados são importantes: é o 3º site mais acessado via web no Brasil em setembro de 2018 e o 2º do mundo nesse mesmo período, segundo dados da Alexa, empresa ligada à Amazon— os primeiros, em ambos os casos, é o Google (.com em 1º lugar mundial e 2º no Brasil, e .com.br o 1º aqui). O Android, sistema operacional mais utilizado em smartphones no mundo, vem em sua instalação padrão com o YouTube, o que significa que 85,9% dos dispositivos móveis vendidos no Brasil hoje trazem a plataforma de vídeos do Google, segundo dados do CanalTech.

NETFLIX, A REINVENÇÃO DA INDÚSTRIA NA CONSOLIDAÇÃO DO STREAMING

homepage Netflix de 1997

Talvez poucos se lembrem, mas a Netflix começou, ainda em 1997, como um serviço de aluguel de filmes em que você levava em sua casa os DVDs e depois retirava, tal como uma locadora. Durou 10 anos e em 2007 passou a oferecer streaming de conteúdos diversos, o início do que seria hoje um acervo online com mais de 124 milhões de assinantes no mundo, que ajudou a enterrou de vez o modelo de negócio de aluguel de filmes das videoocadoras — o Napster e os torrents já haviam começado este término, lembremos.

Em determinado momento, o Netflix percebeu que seria mais barato criar conteúdo pŕoprio do que licenciar conteúdos com direitos autorais pré-existentes para o mundo todo. Assim, começou a investir boa parte da sua receita em novas produções, com um detalhe: a escolha do que seria produzido é feita com base nas previsões do que seus usuários já gostariam de ver, mas ainda não existia na plataforma. O primeiro grande exemplo de sucesso dessa estratégia foi “House of Cards”, uma série sobre os bastidores da política institucional dos Estados Unidos lançada em fevereiro de 2013. Havia demanda por séries sobre política, com cenas de sexo, algo de violência. Claro, o algoritmo criado para coletar, processar e analisar os dados dos interesses dos assinantes não determina o sucesso de uma série — mas pode auxiliar ao menos a atirar no lugar certo. “Stranger Things”, série original Netflix lançada em julho de 2016, traz até hoje especulações (aqui uma delas) de que teria sido o primeiro caso de um produto audiovisual produzido a partir dos algoritmos de recomendação da plataforma, tamanho a quantidade de referências (dos anos 1980, sobretudo) que fizeram a série cair no gosto do público.

O fato é que, em 2018, podemos dizer que a Netflix é um dos principais lugares que as pessoas vão na internet (na web ou nos aplicativos em smartphones, tablets, smart TVs, ) para consumir cultura online. Virou a principal referência quando se fala de plataformas de streaming de conteúdo, ainda que esteja enfrentado a concorrência, cada vez mais acirrada, de plataformas como Hulu e Amazon Prime, e das criadas pelos outroras somentes canais de televisão, como Globo (Globo Play), HBO (HBO Go), ou operadoras de TV a Cabo (NET Now, Globosat Play), sem falar do já comentado YouTube, da Google Play e da Apple TV.

Para descrença daqueles que sempre baixaram seus conteúdos na internet (como os autores desse ensaio), o streaming virou realidade e não apenas uma tendência vaga que se imaginava com incredulidade em 2008, 2009. Milhares de famílias de classe média no Brasil tem o valor mensal para ter acesso às produções da plataforma como um dos gastos cotidianos da casa, como luz, água e internet, para não mencionar aqueles vários que dividem uma única conta, às vezes não necessariamente de forma legal. A indústria, e especialmente o Netflix, soube ouvir uma demanda de quem usava os torrents para ter acesso à diversas produções culturais mundiais: faça melhor que eu pago. Criaram uma plataforma com muitos produtos à disposição de forma fácil, numa interface amigável, já legendados e que funciona em diversos dispositivos, e com isso conseguiram tanto ganhar aqueles que tinham preguiça de baixar um filme e suas legendas como conseguiram legalizar o consumo cultural online, já que tudo aquilo que está no Netflix e seus concorrentes é disponibilizado de forma legal. Uma jogada de mestre, que contou com o considerável crescimento da velocidade na rede, com fibra óticas capazes de entregar mais de 100 Megabits por segundo de download e upload para muitos lugares do mundo, inclusive no Brasil.

Além de ser o principal serviço de streaming de produção audiovisual no mundo, o Netflix também influenciou outros projetos menores e igualmente importantes no Brasil.

O primeiro é o Afroflix, plataforma criada em outubro de 2015 traz produções que possuem pelo menos uma área de atuação técnica/artística assinada por uma pessoa negra. São filmes, séries, web séries, programas diversos, vlogs e clipes que são produzidos ou escritos ou dirigidos ou protagonizados por pessoas negras. Por enquanto só audiovisuais brasileiros. E o segundo é o Libreflix, projeto criado pelo jovem programador Guilmour Rossi, de Curitiba, uma plataforma de streaming aberta e colaborativa “que reúne produções audiovisuais independentes, de livre exibição e que fazem pensar” numa interface parecida com a de sua principal influência. A proposta do Libreflix, como eles mesmo comentam em seu FAQ, está diretamente ligada com a ideia de cultura livre, que defende a liberdade para modificar e principalmente distribuir obras criativas. Criado em 2017, o projeto não deixa de ser uma hackeamento do Netflix e da própria indústria do entretenimento online; se estes, como falamos, souberam bem se reinventar e legalizar o consumo audiovisual online na rede, o Libreflix mostra que os projetos desviantes e em prol da distribuição livre da informação sempre vão existir enquanto houver internet.

POP CORN TIME E STREMIO, OS TORRENTS AGORA TAMBÉM SÃO STREAMING

Pop Corn Time é um software livre, criado em 2014, com uma interface simples que permite assistir filmes ou séries compartilhando arquivos, mas sem necessariamente deixá-los no seu computador após serem vistos. Os próprios desenvolvedores tiraram o software de circulação quando foram ameaçados pela indústria do cinema, mas como era um software livre, foi copiado e replicado em inúmeras versões. Stremio é uma das versões, de 2016, que inclusive insere legendas de outros sites nos torrents.

Tanto uma quanto a outra representam uma outra forma de consumo e compartilhamento de produtos online: o streaming via torrents. São sistemas automatizados que rastreiam as partes dos arquivos torrents em diversos computadores mundo afora e que apresentam o arquivo completo para um usuário final a partir da soma das partes. É a junção do compartilhamento P2P com um player — um software de visualização de arquivos multimídia — num único produto, seja um site na web como um aplicativo a ser baixado em dispositivos móveis. Uma solução à margem da legalidade, como os torrents, mas com uma interface que lembra os melhores serviços de streaming, com os sistemas de recomendação, a imagem dos cartazes dos filmes e séries e outras facilidades que não são encontradas quando se procura um arquivo para baixar nos buscadores de torrent.

Entramos de fato num período de distribuição de áudio e vídeo em tempo real, sem a necessidade do download. Todas as perspectivas apontam que a transmissão de vídeo online é o futuro, o tráfego que mais aumenta na internet. Por exemplo: no Brasil, 84% das pessoas que usam internet assistem vídeos; entre estes, o consumo é de 38 horas por semana. Sete em cada 10 brasileiros tem um smartphone, e quase 90% deles consome audiovisual no celular, segundo pesquisa do Google. Produção audiovisual, sem dúvida, é a aposta para distribuição e consumo de cultura nos próximos anos.

REDES SOCIAIS,  DE COMUNIDADES DE NICHOS À MANIPULAÇÃO MASSIVA PELOS ALGORITMOS

Redes sociais existem desde que foi criado o mundo, mas as redes sociais online no Brasil tem um marco importante: o Orkut, uma plataforma que durou 10 anos — lançada em 2004, encerrada em 2014 — e que marcou a internet brasileira na primeira década do século XXI. Seu projetista chefe, Orkut Büyükkökten, engenheiro turco do Google, pensou no público norte-americano, mas acertou em cheio no brasileiro. O Brasil chegou a 30 milhões de usuários no auge da rede social, entre 2006 e 2009, antes de cair em vertiginosa queda com a ascensão do Facebook, lançada em 2004 mas só popularizada para milhões no final da década passada. Uma história conhecida por pouca gente no Brasil é que o estopim da explosão do Orkut no país teve como responsável o ativista da internet livre — e letrista da legendária banda Grateful Dead — John Perry Barlow. Ocorre que, no início, como estratégia, só entrava na rede quem tinha um convite. Orkut deu 100 convites a Barlow, que distribuiu estes convites quase todos a brasileiros que ele conhecia. A teoria de Barlow, um dos fundadores da Electronic Frontier Foundation, é que o Brasil seria uma sociedade em rede pronta para receber uma rede social, porque as redes sociais já existiriam no país de maneira analógica com muita força.

Sem entrar no mérito da razão do brasileiro aderir com tanta vontade às redes sociais, o fato é que o Brasil tem um uso diferenciado das redes. Mergulhou no Orkut, e depois no Facebook, com milhões de usuários que passam lá mais horas do que outros países.

Grupos de compartilhamento de produtos culturais, de discografias inteiras de artistas às obras completas de filósofos, já foram um dos principais motivos que fizeram os brasileiros passarem horas nessas plataformas, em especial no Orkut, onde o grande fluxo de informação se dava nos grupos, dos mais diversos assuntos possíveis, um mosaico de tão incríveis diversidades que, na época que começou a queda da plataforma criada pelo engenheiro turco, em 2011, alguns pesquisadores, como o brasileiro Ronaldo Lemos, chegaram a levantar a possibilidade de salvar a memória da plataforma dada à sua importância no Brasil. “Se a nossa Biblioteca Nacional tiver um mínimo de visão e conexão com o presente, deveria começar a agir já. É preciso preservar o conteúdo integral do Orkut, criar um espelho público do site que registrou boa parte do que aconteceu nessa incrível década passada”, escreveu Lemos em “Salvem a Memória do Orkut!“. Não houve interesse da Biblioteca Nacional nem de nenhuma outra instituição de memória brasileira nem internacional, e o que circulou no Orkut lá morreu.

A queda do Orkut e a ascensão do Facebook como principal rede social mundial, em 2018 com a impressionante marca de mais de 2 bilhões de usuários em todo o planeta, também marca o aumento de uma internet que, por falta de termo melhor, podemos chamar de “algoritmizada”. Com cada vez mais pessoas conectadas à internet, mais rastros digitais foram sendo deixados, o que permitiu a criação de algoritmos — processos que automatizam outros processos, à grosso modo — de monitoramento, cruzamento e apresentação de informações de nosso comportamento online. O resultado dessa mudança é amplamente conhecido: mais conforto para nós, que não precisamos mais nos esforçar para encontrar produtos e informação na rede, basta deixar as próprias plataformas sugerirem o que queremos a partir de nossos dados de navegação na web ou em aplicativos. E também mais facilidade para a manipulação de grandes massas de população através de métodos psicológicos baseados no comportamento online dos indivíduos, vide o escândalo da Cambridge Analytica, caso que mostrou ao mundo até que ponto o uso de big data — outro termo popularizado pós-Orkut — pode ser usado para influenciar eleições, seja a de Donald Trump nos EUA ou o processo do Brexit na Inglaterra.

Vale lembrar que, simultaneamente ao desenvolvimento e à massificação dos smartphones vimos surgir também uma infinidade de aplicativos para celular, os chamados apps. Atualmente, o maior uso que se faz dos apps está diretamente relacionado a redes sociais ou variações disso, grupos de troca de mensagens que podem ser considerados micro-redes sociais (às vezes com centenas de pessoas). A lista dos apps mais populares em 2017 tanto para Android quanto Iphone, no mundo, feita pela Fortune, incluía Whatsapp, Snapchat, YouTube, Facebook Messenger, Instagram, Facebook, Google Maps, Netflix, Spotify e Uber. Nos EUA, Twitter e Pinterest também integram a lista com o maior número de usuários ativos em 2018.

Para finalizar e resumir nossa discussão aqui, podemos dizer que a questão que dá origem a este ensaio, “por onde circula a cultura na internet”, talvez já não seja a maior preocupação atual, no entanto. A cultura e a informação em geral circulam mais pela internet do que jamais circularam antes, por múltiplos canais, produzidas em todas as partes, por todo mundo, com as mais variadas qualidades. Outras questões agora começam a ser formuladas. Quando o acesso é praticamente ilimitado, como encontrar qualidade? Como ter acesso à diversidade, dentro dos filtros-bolha? Quem fará a curadoria de tal massa cultural mundial? Quem programa os algoritmos que escolhem por você? Quem determina as sugestões que serão oferecidas a você pelas inteligências artificiais, e quais são os verdadeiros propósitos dessas sugestões? São as perguntas que, em 2018, dominam as pesquisas acadêmicas em múltiplas áreas (da computação à antropologia, da sociologia ao design) e dominam o noticiário mundial, preocupando todos aqueles que se importam em escolher o que consomem na rede mais do que serem escolhidos pelos próprios produtos a serem consumidos.

* O livro inteiro pode ser baixado aqui. É um livraço (em conteúdo e peso, rs) pra quem se interessa por cultura. Temos 10 exemplares, quem quiser um grátis nos escreva: info@baixacultura.org

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Encontro de Cultura Livre do Sul – todos os vídeos y relatos https://baixacultura.org/2018/11/30/encontro-de-cultura-livre-do-sul-todos-os-videos-y-relatos/ https://baixacultura.org/2018/11/30/encontro-de-cultura-livre-do-sul-todos-os-videos-y-relatos/#respond Fri, 30 Nov 2018 16:04:33 +0000 https://baixacultura.org/?p=12649

Terminou o Encontro de Cultura Livre do Sul. Ou só começou: as redes estão formadas, resta nos unir e manter por perto para enfrentar o que vem por aí. O debate continua em nosso grupo em Investigación Social e nas redes, o mapeo em Civics, a curadoria de produtos culturais livres em Ediciones de La Terraza e os relatos de cada uma das mesas será publicado até o dia 7/12 – vamos organizando os links por aqui assim que publicados.

Também estamos trabalhando nos desdobramentos do evento em um texto-manifesto que, por hora, está em rascunho, aberto para acreścimos, edições e assinaturas – individual ou de forma coletiva. São boas novidades em prol de uma continuidade do trabalho tão importante e que julgamos necessário: articular e conectar a cultura livre desde o sul global.

Acá abaixo estão todos os vídeos das 6 mesas do evento, da abertura e da pré-abertura com o lançamento da coletânea impressa da revista Pillku.

Presentación de la edición impresa de la revista “Pillku, amantes de la libertad”, en el marco del primer Encuentro Online de Cultura Libre. Se puede descargar en versión PDF en este enlace.  Participaram Anita Almada, Estrella Soria (MEX), Jorge Gemetto (URU) y San Hoerth (HON)

Abertura do encontro com os organizadores e coordenadores das mesas: Barbi Couto (Argentina), Bia Martins (BRA), Dani Cotillas (ES), Jorge Gemetto (UY), Leonardo Foletto (BRA) e Mariana Fossati (URU).

Mesa 1, Políticas públicas e reformas legais.
Participaram: María Juliana Soto y Lucía Camacho (COL), Diego Morales (ECU), Mariangela Petrizzo (VEN), Esteban Magnani (ARG), Daniel Cordones (URU), moderação de Jorge Gemetto (URU).

Mesa 2, Digitalização de acervos e acesso ao patrimônio cultural.
Participaram Fabs Balvedi (BRA), Gabriela Riera (ARG), Patrícia Peñafiel (EQU) e Pedro Jatobá BRA), com moderação de Carlos Lunna (BRA). Leia o relato da mesa, por Carlos Lunna.

Mesa 3, Laboratórios, hackerspaces e outros espaços de comunidades locais.
Participaram: Esaú Acosta (ES), HackLab Feminista La Chinampa + Insubordinadas (MEX), Karina Menezes (BRA), Carlos Diego (BRA), Illa_bekka (ARG-ES), moderação de Bia Martins (BRA) e Dani Cotillas (ES).

Mesa 4, Redes Internacionais. Como nos inserimos em um movimento global.
Participaram Constanza Belén Verón (ARG),  Juliana Guerra (MEX), Leonardo Sehn (BRA), Marcela Basch (ARG) e Rodrigo Savazoni (BRA), mediação de Leonardo Foletto e Janaína Spode (BRA).

Mesa 5, Produção cultural livre.
Participaram Gonzalo Miranda (ARG), Alex Appella (ARG), Andrés Bracony (ARG), Virginia Barré (ARG) e Salvador García (URU). Mediação de Barbi Couto (ARG).

Mesa 6, Educação Aberta e cultura livre.
Partiparam Fernando Daguano (BRA/CHI), Marianicer Figueroa (VEN), Jorge David García (MEX), Walter Lippold (BRA), Inés Martino y Fabricio Caiazza (ARG) e Sergio Rubio-Pizzorno (MEX). Mediação de Mariana Fossati (URU).

 

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Mesa 4: como nos inserimos em um movimento global? https://baixacultura.org/2018/11/19/cultura-livre-como-nos-inserimos-em-um-movimento-global/ https://baixacultura.org/2018/11/19/cultura-livre-como-nos-inserimos-em-um-movimento-global/#respond Mon, 19 Nov 2018 14:21:47 +0000 https://baixacultura.org/?p=12621

Nascido enquanto movimento *mais ou menos* organizado a partir da pauta anticopyright, a cultura livre é, para a maior parte da população do sul (e do norte também) global, uma incógnita. Cultura livre é compartilhar cultura nas redes para todes? É acesso livre e gratuito à bens culturais? Se é isso, como se sobrevive disponibilizando obras de formas gratuitas? Como fica a remuneração dos autores? Se cultura livre é buscar práticas alternativas de remuneração à autorxs e produtorxs de conteúdo, quais são estas práticas? quem sobrevive disponibilizando suas obras gratuitamente? Se cultura livre implica uma crítica à propriedade intelectual que restringe e criminaliza o intercâmbio de cultura, qual a alternativa que propõe? Se é um movimento social “digital”, como se organiza? quais são as pautas? quem são os principais atores nessa história? Se é uma cultura feita de forma “livre”, sem amarras com movimentos, organizações e quaisquer outros fatores que tornam a cultura presa e fechada, como ela se manifesta na sociedade? quem produz essa cultura livre?

Para discutir como o *movimento* de cultura livre se organiza no sul global é que propusemos esta mesa. Se a cultura livre é tudo isso falado acima – acesso livre e gratuito, formas alternativas de remuneração e disponibilização de bens culturais, movimento social digital, uma forma de fazer cultura mais “livre” – como que ela vem se organizando no nosso sul global? Quem são nossos parceiros institucionais ao redor do mundo e, principalmente, no sul global? quais as principais redes que lutam no dia a dia pela cultura livre e o conhecimento aberto? Quem são os principais instituições, coletivos, pessoas e redes que tomam parte nas disputas travadas sobre os nossos princípios de atuação?

Por quê, se ainda não está claro, deveria: para fazer e propagar a cultura livre, precisamos colaborar e tecer redes. Se a cultura livre é um movimento que se diz contra o status quo dos monopólios do copyright capitalista patriarcal, de que forma podemos nos unir e tentar pequenos “hackeamentos” nesse sistema? Como fazemos para juntarmos forças e cuidarmos de nossas redes, nossos trabalhos, esforços e vidas? A provocação que fazemos para a discussão nessa mesa é: quais os desafios para tecer e sustentar redes locais e globais e quem podemos contar como parceiros, institucionais e pessoais, no para nossa atuação no sul global?

Para isso, teremos como participantes:

_ Constanza Belén Verón, que ocupa a função de “Encargada de comunidad” da Wikimedia Argentina, espaço local de uma das principais instituições que defende a cultura livre e o conhecimento aberto, responsável pela Wikipedia, este monumento à colaboração e a cultura livre na rede;
_ Juliana Guerra, ativista e participante de espaços coletivos feministas da América Latina;
_ Leonardo Sehn, colaborador do Centro de Tecnologia Acadêmica do Intituto de Física da UFRGS (CTA IF/UFRGS), espaço voltado ao desenvolvimento de tecnologias livres e para a integração de novos paradigmas de produção e disseminação do conhecimento, como tecnologias livres, recursos educacionais abertos e ciência aberta; responsável pela EITCHA!, Escola Itinerante de Tecnologia Cidadã Hacker que foi beneficiária do primeiro Mozilla Science Mini-Grants, e participante da comunidade do GOSH, Hardware para Ciência Aberta Global;
_ Marcela Basch, periodista, editora de El Plan C, portal de economia colaborativa e cultura libre da argentina e uma das organizadoras de Comunes, encontro de de cultura libre y economia colaborativa anual em sua 3º edição, realizado em Buenos Aires;
_ Rodrigo Savazoni; escritor, pesquisador e diretor executivo do Instituto Procomum, responsável pelo LabxSantista, laboratório de inovação cidadã situado em Santos, São Paulo.

Como mediadores, relatores e co-participantes da charla, teremos:
_ Leonardo Foletto jornalista, pesquisador e professor, doutor em comunicação UFRGS, editor do BaixaCultura e integrante da CCD POA, coletivo de direitos digitais baseados em Porto Alegre;
_Janaína Spode, produtora cultural e ciberativista na CCD POA;

A transmissão da mesa será realizada via streaming no canal do BaixaCultura, às 19h GMT – 16h em Uruguay/Argentina, 17h no Brasil e 20h na Espanha.

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Nacido como movimiento * más o menos * organizado a partir de la pauta anticopyright, la cultura libre es, para la mayor parte de la población del sur (y del norte también) global, una incógnita. ¿La cultura libre es compartir cultura en las redes para todos? ¿Es el acceso libre y gratuito a los bienes culturales? Si es así, ¿cómo se sobrevive ofreciendo obras de formas gratuitas? ¿Cómo queda la remuneración de los autores? Si la cultura libre es buscar prácticas alternativas de remuneración a autorxs y productores de contenido, cuáles son estas prácticas? ¿quién sobrevive ofreciendo sus obras gratuitamente? Si la cultura libre implica una crítica a la propiedad intelectual que restringe y criminaliza el intercambio de cultura, ¿cuál es la alternativa que propone? Si es un movimiento social “digital”, cómo se organiza? ¿Cuáles son las pautas? ¿quiénes son los principales actores en esa historia? Si es una cultura hecha de forma “libre”, sin amarras con movimientos, organizaciones y cualesquiera otros factores que hacen la cultura presa y cerrada, como ella se manifiesta en la sociedad? ¿quién produce esa cultura libre?

Para discutir cómo el *movimiento* de cultura libre se organiza en el sur global es que propusimos esta mesa. Si la cultura libre es todo esto hablado arriba – acceso libre y gratuito, formas alternativas de remuneración y disponibilización de bienes culturales, movimiento social digital, una forma de hacer cultura más “libre” – cómo se viene organizando en nuestro sur global? ¿Quiénes son nuestros socios institucionales alrededor del mundo y, principalmente, en el sur global? ¿Cuáles son las principales redes que luchan día a día por la cultura libre y el conocimiento abierto? ¿Quiénes son las principales instituciones, colectivos, personas y redes que toman parte en las disputas trabadas sobre nuestros principios de actuación?

Por qué, si aún no está claro, debería: para hacer y propagar la cultura libre, necesitamos colaborar y tejer redes. Si la cultura libre es un movimiento que se dice contra el status quo de los monopolios del copyright capitalista patriarcal, ¿de qué forma podemos unirnos e intentar pequeños “hackeamientos” en ese sistema? ¿Cómo hacemos para juntar fuerzas y cuidar de nuestras redes, nuestros trabajos, esfuerzos y vidas? La provocación que hacemos para la discusión en esta mesa es: ¿cuáles son los desafíos para tejer y sostener redes locales y globales y quién podemos contar como socios, institucionales y personales, para nuestra actuación en el sur global?

Para ello, tendremos como participantes:

_ Constanza Belén Verón, encargada de comunidad de Wikimedia Argentina, espacio local de una de las principales instituciones que defiende la cultura libre y el conocimiento abierto, responsable de Wikipedia, este monumento a la colaboración y la cultura libre en la red ;
_ Juliana Guerra, activista y participante en espacios colectivos feministas en América Latina;
_ Leonardo Shen, colaborador del Centro de Tecnología Académica del Instituto de Física de la UFRGS (CTA IF/UFRGS), espacio orientado al desarrollo de tecnologías libres y para la integración de nuevos paradigmas de producción y diseminación del conocimiento, como tecnologías libres, recursos educativos abiertos y ciencia abierta; responsable por EITCHA!, Escuela Itinerante de Tecnología Ciudadana Hacker que se ha beneficiado de la primera Mozilla Science Mini-Grants, y participante de la comunidad del GOSH, Hardware para Ciencia Abierta Global;
_ Marcela Basch, periodista, editora de El Plan C, portal de economía colaborativa y cultura libre desde Argentina y una de las organizadoras de Comunes, encuentro de cultura libre y economía colaborativa anual en su 3º edición, realizado en Buenos Aires;
_ Rodrigo Savazoni; escritor, investigador y director executivo de Instituto Procomum, responsable por LabxSantista, laboratorio de inovación ciudadana em Santos, São Paulo.

Como mediadores y co-participantes de la charla, tenemos:
_ Leonardo Foletto, periodista, investigador y profesor, doctor en comunicación UFRGS, editor del BaixaCultura e integrante de la CCD POA, colectivo de derechos digitales basados ​​en Porto Alegre
_ Janaína Spode, productora cultural y ciberativista en la CCD POA;

La transmisión de la mesa será realizada vía streaming en el canal del BaixaCultura, a las 19:00 GMT – 16h en Uruguay / Argentina, 17h en Brasil y 20h en España.

 

 

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Encontro Cultura Livre do Sul – abertura https://baixacultura.org/2018/11/18/encontro-cultura-livre-do-sul-conferencia-de-abertura-e-informacoes/ https://baixacultura.org/2018/11/18/encontro-cultura-livre-do-sul-conferencia-de-abertura-e-informacoes/#respond Sun, 18 Nov 2018 23:51:36 +0000 https://baixacultura.org/?p=12625

Com a transformação da internet nos últimos anos, como, em 2018, a ideia da cultura livre permanece? quais são as atuais discussões que envolvem a temática no sul global? Quais iniciativas, pessoas, projetos, coletivos, instituições que hoje defendem e atuam na cultura livre? Quais os desafios de sustentabilidade postos em iniciativas de cultura livre num mundo onde a internet está cada vez mais centralizada? Passados mais de 15 anos da criação das licenças CC, um marco na história recente da cultura livre, como está a discussão sobre as leis de direitos autorais hoje? Quais os bens culturais (publicações, filmes, músicas, artes visuais, tecnologias, sítios) produzidos em diálogo com a cultura livre?

A mesa de abertura do I Encontro de Cultura Livre do Sul tratará de apresentar estas questões e explicar todos os detalhes de como vai funcionar o evento, totalmente online e em diversos espaços na rede. Será formada por integrantes dos seis coletivos organizadores:

_ Mariana Fossati y Jorge Gemetto (Uruguay), Artica Online, un centro cultural online que desarrolla servicios de formación, consultoría e investigación para la implementación de proyectos artístico-culturales en Internet;

_ Leonardo Foletto (Brasil), BaixaCultura, laboratório online que trabalha com documentação, pesquisa, formação e experimentação em cultura livre, criado em 2008.

_ Barbi Couto (Argentina), Ediciones de La Terraza, un sello de Córdoba (Argentina) nacido en 2012 que publican libros ilustrados o libros objeto y que forman parte de un nuevo paradigma de producción cultural, más solidario y colectivo, que entiende el acceso a la cultura como un derecho humano, y que podemos fortalecer desde nuestra labor editorial cotidiana de promoción de la lectura.

_ Beatriz Martins (Brasil), do Em Rede, espaço para reflexão e discussão de temas como Cultura Livre, Remix, Ciência Aberta, Economia P2P, Política em Rede e outros assuntos relacionados a novas formas de organização das instituições e circulação de bens intelectuais, que tem a ver com os tempos atuais das redes eletrônicas.

_ Dani Cotillas (Espanha), Nodo Común, una alianza de comunicadores, gestores culturales y activistas que busca establecer procesos de comunicación enfocados a la creación de comunidades, la participación social y la construcción colectiva.

_ Carlos Lunna (Brasil), Redes de Produtoras Culturais Colaborativas, rede de coletivos e organizações sociais que trabalham com tecnologias livres em arranjos produtivos locais em 8 estados brasileiros;

A transmissão será via YouTube, neste link, na quarta-feira, 21/11, no horário das 14h GMT – 11h Argentina e Uruguay, 12h Brasil e 15h Espanha.

***

Como este encontro funciona?

O encontro é organizado em mesas temáticas. Cada mesa temática consiste em um texto disparador e uma videoconferência que será transmitida ao vivo e gravada. Você pode participar durante a transmissão no chat do YouTube ou mais tarde, deixando seu comentário no vídeo ou na postagem. Com a hashtag #CulturaLS18 você pode compartilhar e comentar a qualquer momento.

No cronograma a seguir, você encontrará o link para cada mesa, onde poderá ler o texto disparador. As videoconferências estarão nos mesmos links, a partir da data e hora indicadas para cada um.

Cronograma

Atividade de pré-encontro: 20 de novembro

Apresentação da edição impressa da Revista Pillku

– 21 hs GMT | 18hs AR /UY | 19hs BR | 22 hs ES

Dia 1: 21 de novembro

Conferência de abertura

– 14h GMT | 11 hs AR /UY | 12hs BR | 15h ES –

Mesa 1: Políticas públicas e reformas legais

– 16 hs GMT | 13 hrs AR/UY | 14hs BR | 17hs ES –

Mesa 2: Digitalização e acesso ao patrimônio cultural

– 19hs GMT | 16 hs AR/UY | 17hs BR | 20hs ES

Dia 2: 22 de novembro

Mesa 3: Laboratórios, hackerspaces e outros espaços de comunidades locais

– 16 hs GMT | 13hs AR/UY | 14hs BR | 17hs ES –

Mesa 4: Redes Internacionais. Como nos inserimos em um movimento global?

– 19hs GMT | 16hs AR / UY | 17hs BR | 20hs ES

Dia 3: 23 de novembro

Mesa 5: Produção cultural livre

– 16 hs GMT | 13hs AR/UY | 14hs BR | 17pm ES

Mesa 6: Educação aberta e cultura livre + encerramento do encontro

– 19hs GMT | 16hs AR / UY | 17hs BR | 20hs ES

Atividades paralelas

1º Mapeamento Global da Cultura Livre do Sul com Civics

Ao longo do encontro, o objetivo é mapear nossas próprias iniciativas de cultura livre e também aquelas que conhecemos de nosso país ou região. O foco será cobrir as áreas geográficas geralmente deixadas de lado: distritos e cidades do interior e bairros periféricos das grandes cidades.

O mapa, além de localizar as iniciativas, permite gerar uma cartografia “global” que situa o cidadão e as práticas urbanas – informais e emergentes – em nível internacional e de fácil acesso e comparabilidade. CIVICS é a plataforma que hospeda o mapa e neste post você encontrará instruções sobre como usá-lo.

Curadoria da Produção Cultural Livre em Ediciones de la Terraza

Ao longo do encontro, vamos mapear os editores que trabalham a partir do paradigma do livre. Se você faz parte de uma editora (não importa o tamanho do projeto, se você publicar livros, revistas, fanzines, impressos ou digitais ou ambos os formatos) e publicar todo o material ou parte dele com licenças Creative Commons este é o momento de se registrar.

Leituras compartilhadas e colaborativas em Investigación Social punto Net

Na plataforma de Investigación Social punto Net, criamos um grupo público no qual você pode se registrar para publicar seus textos e vídeos, bem como compartilhar bibliografia associada a cada mesa temática. Você também encontrará um fórum e a possibilidade de fazer anotações na web para compartilhar suas reflexões e, assim, gerar uma leitura colaborativa de cada texto disponível. Aqui você pode se cadastrar e começar.

Conversações

Você está interessado em encontrar outros participantes e interagir? Estamos usando a hashtag #CulturaLS18 nas redes sociais.

Você quer escrever um artigo de alguma atividade ou tópico? Participe da cobertura colaborativa no seu próprio blog. Publique e compartilhe nas redes com #CulturaLS18, ou dentro do grupo de Pesquisas Sociais punto Net.

Onde comentar sobre as mesas temáticas e dar sua opinião sobre cada tópico? Nos links de cada mesa você encontrará os posts originais e poderá deixar comentários.

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https://baixacultura.org/2018/11/18/encontro-cultura-livre-do-sul-conferencia-de-abertura-e-informacoes/feed/ 0
Articular a cultura livre desde o sul global https://baixacultura.org/2018/10/07/1o-encontro-de-cultura-livre-do-sul-21-22-e-23-de-novembro/ https://baixacultura.org/2018/10/07/1o-encontro-de-cultura-livre-do-sul-21-22-e-23-de-novembro/#respond Sun, 07 Oct 2018 17:56:28 +0000 https://baixacultura.org/?p=12584

O ENCONTRO

A cultura livre é jeito /maneira de produzir cultura que promove o compartilhamento e a continuidade de obras culturais como bens comuns da humanidade. Como ideia, existe desde que a cultura existe, mas, como proposta prática mais organizada, nasce inspirada no movimento do software livre e nas 4 liberdades por ele fundamentadas, ainda nos anos 1980 e 1990, e se espalha pelo mundo a partir da luta anticopyright do início dos 2000 e das licenças livres, das quais as mais conhecidas e bem sucedidas hoje são o Creative Commons (CC).

Com a transformação da internet nos últimos anos, como, em 2018, a ideia da cultura livre permanece? quais são as atuais discussões que envolvem a temática no sul global? Quais iniciativas, pessoas, projetos, coletivos, instituições que hoje defendem e atuam na cultura livre? Quais os desafios de sustentabilidade postos em iniciativas de cultura livre num mundo onde a internet está cada vez mais centralizada? Passados mais de 15 anos da criação das licenças CC, um marco na história recente da cultura livre, como está a discussão sobre as leis de direitos autorais hoje? Quais os bens culturais (publicações, filmes, músicas, artes visuais, tecnologias, sítios) produzidos em diálogo com a cultura livre?

Com essas provocações em mente, queremos realizar um encontro 100 % online para unirmos nós, xs autorxs, produtorxs e ativistas da cultura livre, com outras pessoas que buscam conhecer o movimento e se aproximar, informando-nos do “estado da arte” no sul global. Será nos dias 21, 22 e 23 de novembro de 2018, na internet, em diversos nós e páginas da internet que explicamos melhor mais abaixo.

A chamada para o encontro é aberta para todas aquelas pessoas que se identifiquem como pertencentes ao sul global. Sul aqui não é utilizado como estritamente geográfico, por isso não há impeditivo de país de origem. Para fins desse encontro entendemos sul como uma identificação cultural e geopolítica de vozes, territórios e corpos que historicamente foram calados, explorados, oprimidos, colonizados e/ou subjugados.

OBJETIVOS

_ Fomentar a discussão e a prática da cultura livre a partir da perspectiva do sul global; do planeta/terra;

_ Mapear e fortalecer as iniciativas de cultura livre do sul global, nesta edição em especial da Ibero América;

_ Dar a conhecer e divulgar as bases da cultura livre para públicos que ainda não a conhecem;

_ Criar canais, ferramentas e redes que facilitem o encontro de pessoas que trabalham com a cultura livre no sul global;

_ Discutir a sustentabilidade de projetos de cultura livre e articulações possíveis para fortalecimento de uma rede de apoio entre iniciativas.

PARTICIPANTES

Ativistas de cultura livre, artistas, professores, estudantes, pessoas dedicadas à gestão, mediação e articulação cultural.

COLETIVOS QUE ORGANIZAM O ENCONTRO

Mesa 1: Políticas públicas e reformas legais

O movimento da cultura livre nasceu em resposta ao avanço das leis de propriedade intelectual em todo o mundo. Desde então, ele questiona fortemente o papel do Estado em colocar barreiras e reprimir a livre circulação do conhecimento. Mas o movimento da cultura livre também propõe marcos normativos e políticas públicas para proteger os bens comuns, com o objetivo de socializar a produção e o acesso à cultura. Nesta mesa falaremos sobre as lutas atuais na região: reformas do direito autoral, leis de software livre e de repositórios institucionais abertos, políticas de digitalização do patrimônio e de produção cultural livre, e muitas outras propostas que vão desde a solução de problemas específicos até a mudança radical do sistema.

Coordena Ártica.

Mesa 2: Digitalização e acesso ao patrimônio cultural

Esta mesa de trabalho procura dar visibilidade às possibilidades de acesso às diversas manifestações culturais, nos mais variados formatos, através de plataformas livres e que consigam lograr o alcance do público-alvo interessado em cultura, bem como ser uma ferramenta de livre acesso para o público em geral. Na ocasião pretende-se também incluir a relação desses produtos com as licenças livres disponíveis e como reverberá os conteúdos e maneiras de salvaguardar o banco de dados para acessos futuros.

Coordena Rede das Produtoras Culturais Colaborativas.

Mesa 3: Laboratórios, hackerspaces e outros espaços de comunidades locais

Nas últimas décadas foram criados vários tipos de espaços comunitários, como laboratórios cidadãos e hackerspaces, por todo o planeta e também no sul global. Com diferentes formatos e objetivos, seus participantes em geral compartilham os valores da produção colaborativa e do uso de tecnologias livres. Inseridos em diferentes contextos, mais carentes ou mais abundantes, esses espaços têm sido polos irradiadores dos valores do conhecimento livre e da cultura livre. Mas como tem sido essa experiência? Quais suas potencialidades, limites e desafios? Essas são algumas das questões que esta mesa pretende abordar.

Coordenam Nodo Común e Em Rede.

Mesa 4: Redes internacionais. Como nos inserimos em um movimento global?

Para fazer e propagar a cultura livre, precisamos colaborar e tecer redes. Se somos um movimento que é contra o status quo capitalista patriarcal, de que forma podemos nos unir e tentar pequenos “hackeamentos” nesse sistema? Quem são nossos parceiros institucionais ao redor do mundo e, principalmente, no sul global? quais as principais redes que lutam no dia a dia pela cultura livre e o conhecimento aberto? Como fazemos para juntarmos forças e cuidarmos de nossos trabalhos, esforços e redes? Nesta mesa discutiremos como a cultura livre se insere num movimento global, quais os desafios para tecer e sustentar redes locais e globais e quem podemos contar como parceiros, institucionais e pessoais, no para nossa atuação no sul global.

Coordena Baixa Cultura.

Mesa 5: Produção cultural livre

Cada vez mais projetos culturais decidem apostar no paradigma da cultura livre e começam, por exemplo, a usar licenças livres e casas culturais de trabalho comum, entre outras metodologias colaborativas. um desenvolvimento conceitual muito elaborado, enquanto outros projetos têm uma sensibilidade ligada à cultura livre, mas desconhecem muitos detalhes importantes. A idéia desta mesa é mostrar diversas experiências de diferentes disciplinas culturais, aproveitando para falar sobre seus problemas relativos ao licenciamento livre, à propriedade intelectual, a constituição de catálogos ou pesquisas regionais de projetos culturais e coletivos culturais que trabalhem dentro do paradigma livre, entre outras questões. Um eixo transversal é como os diferentes projetos preveem a sustentabilidade.

Coordena Ediciones de la Terraza.

Mesa 6: Educação aberta e cultura livre

Talvez uma das áreas mais importantes em que a cultura livre é vital para o sul global seja a educação, onde a necessidade de materiais educacionais acessíveis, adaptáveis e reutilizáveis é um assunto urgente para uma educação verdadeiramente democrática e equitativa. O movimento de educação aberta e recursos educacionais abertos é, paradoxalmente, muito importante no norte, mas ainda não tem apoio e recursos suficientes nos países do sul. Nesta mesa, discutiremos as práticas educacionais abertas e as políticas que foram promovidas e que devemos promover para apoiá-las, na perspectiva do sul global.

Coordena Ártica.

METODOLOGIA

Modo 100% online: a participação será feita através da Internet, utilizando videoconferências ao vivo, publicações na web, documentos de texto, mapeamentos, curadorias e coberturas colaborativas, além de fóruns e chats.

Textos desencadeadores: para cada mesa, pediremos a uma pessoa que encaminhe um texto com provocações para pensar criticamente no marco da cultura livre. Essa pessoa também participará da moderação da mesa.

Chamada aberta: o encontro irá incorporar a possibilidade de participar com histórias de experiências, posts nos blogs dos participantes, bibliografia recomendada e mapeamento de experiências.

Videoconferências: durante cada um dos três dias do encontro, duas videoconferências serão realizadas por dia, de 1 hora a 1 hora e meia, com base nos textos de provocação. Em cada videoconferência, haverá pessoas convidadas a comentar e refletir, a partir de sua experiência ou perspectiva, o conteúdo dos materiais.

Espaços para debate: os textos serão publicados em espaços de debate online onde qualquer participante poderá fazer contribuições, perguntas e comentários. Esses espaços estarão abertos durante um período antes e depois das videoconferências, para dar tempo à participação. As ferramentas incluirão fóruns e chats, além de documentos com comentários e anotações.

Relatorias: cada mesa será documentada com um relatório que sintetizará os pontos discutidos, os acordos, desacordos, problemas pendentes e novos debates que permanecerão abertos.

Mapeamento: durante todo o encontro vamos mapear experiências e projetos atuais de cultura livre.

Curadorias da produção cultural livre: para acompanhar o debate na mesa de produção cultural, vamos fazer uma curar uma curadoria de produção editorial e artística recente, baseada em licenças livres.

Cobertura colaborativa: faremos uma chamada aberta para blogs para cobrir o encontro online de cultura livre do sul, através de posts relacionados às mesas do encontro.

PLATAFORMAS / ESPAÇOS

As mesas do encontro serão desenvolvidas nos sites dos coletivos que coordenam cada mesa. As videoconferências serão transmitidas ao vivo no YouTube. Nas redes sociais, vamos usar a hashtag #CulturaLS18.

IDIOMAS

Durante o encontro, nos comunicaremos indiscriminadamente em espanhol e português, promovendo o melhor entendimento possível entre os falantes das duas línguas.

DATA

As inscrições estão abertas até 31 de outubro de 2018.

O encontro dura 3 dias, de 21 a 23 de novembro de 2018, com instâncias anteriores e posteriores para considerar os tempos de participação online.

HORÁRIO

Dia 1: 21 de novembro

– 14 hs GMT | 11 hs AR/UY | 12 hs BR | 15 hs ES – Conferência de abertura

– 16 hs GMT | 13 hs AR/UY | 14 hs BR | 17 hs ES – Mesa 1: Políticas públicas e reformas legais

– 19 hs GMT | 16 hs AR/UY | 17 hs BR | 20 hs ES – Mesa 2: Digitalização e acesso ao patrimônio cultural

Dia 2: 22 de novembro

– 16 hs GMT | 13 hs AR/UY | 14 hs BR | 17 hs ES – Mesa 3: Laboratórios, hackerspaces e outros espaços de comunidades locais

– 19 hs GMT | 16 hs AR/UY | 17 hs BR | 20 hs ES – Mesa 4: Redes internacionais. Como nos inserimos em um movimento global?

Dia 3: 23 de novembro

– 16 hs GMT | 13 hs AR/UY | 14 hs BR | 17 hs ES – Mesa 5: Produção cultural livre

– 19 hs GMT | 16 hs AR/UY | 17 hs BR | 20 hs ES – Mesa 6: Educação aberta e cultura livre + final do encontro

INSCREVA-SE

O encontro é aberto e gratuito. Inscreva-se até 31 de outubro de 2018.

COMPLETE O FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO

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Metareciclagem e o cyberpunk de chinelos https://baixacultura.org/2012/05/21/metareciclagem-e-o-cyberpunk-de-chinelos/ https://baixacultura.org/2012/05/21/metareciclagem-e-o-cyberpunk-de-chinelos/#comments Mon, 21 May 2012 11:09:48 +0000 https://baixacultura.org/?p=6645

Em meados de fevereiro, num calor de exigir chinelos, bermudas e camisetas, conversei com Felipe Fonseca, mais conhecido nas redes por Efefe, na sala de convivência da Casa da Cultura Digital. A entrevista durou cerca de duas horas e versou principalmente sobre a Rede Metareciclagem, que, sucintamente, pode ser definida como “uma rede auto-organizada que propõe a desconstrução da tecnologia para a transformação social”.

É, ao lado da Transparência Hacker, do Fora do Eixo e dos Pontos de Cultura, uma das principais redes ligadas a cultura digital no Brasil. Iniciou em 2002, em São Paulo, tendo o foco em ações de apropriação de tecnologia de maneira descentralizada e aberta – não apenas “reciclar computadores”, como inicialmente se fazia e pensava, mas para promover a desconstrução e apropriação de tecnologias de todas as ordens e origens.

Depois de ganhar prêmios de Mídia e Software Livre e menções honrosas no Prix Ars Electronica (2006), hoje a comunidade conta com algumas dezenas (centenas?) de pessoas, espalhadas por todo os cantos do Brasil, que mantém uma lista de email constantemente atualizada com milhares de coisas que possam se conectar (ou não) com o assunto tecnologia, cultura digital e gambiarras diversas. [Neste vídeo do projeto Retalhos, Felipe fala um pouco mais da rede].

Gravei toda a entrevista em áudio, que, a pretexto de falar da Metareciclagem, circundou por assuntos como os laboratórios de cultura digital experimental – ele foi um dos curadores do laboratório experimental do Festival CulturaDigital.br (foto acima) – , a redelabs, o evento Mídia Tática 2003 (da qual falamos bastante por aqui), a estada de Fonseca em Barcelona, Porto Alegre (sua terra natal), Ubatuba (e o Ubalab) e outros assuntos que dizem respeito a este inquieto pesquisador.

Felipe agora está no mestrado no Labjor na Unicamp e tenta trazer suas pesquisas independentes para dentro da estrutura rígida da academia. Uma das iniciativas que ele está envolvido nessa seara é a parceria da Metareciclagem na organização da Conferência Internacional em Gestão Ambiental Colaborativa – o Cigac, a se realizar no interior da paraíba em junho (na imagem abaixo).

Ainda tou devendo transcrever a entrevista inteira. Mas o fato que me fez lembrar dessa entrevista foi que no próximo final de semana a Metareciclagem faz um Encontrão Hipertropical em Ubatuba, litoral de São Paulo, de 25 a 27 de maio. Os Encontrões de MetaReciclagem, como explica Felipe, “são principalmente momentos de reconhecimento da rede – as boas-vindas aos novos integrantes, a atualização sobre os diversos projetos em que estamos envolvidos, a realimentação e reinvenção dos nossos mitos fundadores e mantenedores”.

Eles estão a cata de grana para bancar esse encontro – que é feito de forma totalmente independente – e, para isso, fizeram uma “vaquinha” para tentar viabilizar algumas presenças em Ubatuba – você pode ajudar com qualquer quantia, via PagSeguro e PayPal (mais informações sobre como doar).

A metareciclagem

Enquanto a transcrição da entrevista não sai, resolvi republicar um texto de Efe que diz muito de suas pesquisas e ações dentro da metareciclagem e fora dela: Cyberpunk de chinelos.

A começar pela bela sacada do título, que descontrói e “abrasileira” a imagem que acostumamos a ver relacionada ao “cyberpunk” das ficções científicas, o texto trata da onipresença da tecnologia na vida global, passando pelo papel da arte em puxar a experimentação com as novas tecnologias digitais e destacando uma ideia que só se atualiza de alguns anos pra cá: “o Brasil não vai virar uma Europa, como o mais provável é que o mundo inteiro esteja se tornando um Brasil – simultaneamente desenvolvido, hiperconectado e precário“.

O texto é o que abre o primeiro livro de Efe, Laboratórios do Pós-Digital, lançado em 2011, uma coletânea de artigos escritos entre 2008 e 2010 que pode ser baixado, comprado e acessado de diversas maneiras – e que merece uma leitura atenta de todos que se interessam pelos assuntos abordados neste texto que encerra aqui.

[Leonardo Foletto]

Cyberpunk de Chinelos 

Felipe Fonseca (Fonte: Laboratório de Pós-Digital)

O mundo virou cyberpunk. Cada vez mais as pessoas fazem uso de dispositivos eletrônicos de registro e acesso às redes – câmeras, impressoras, computadores, celulares – e os utilizam para falar com parentes distantes, para trabalhar fora do escritório, para pesquisar a receita culinária excêntrica da semana ou a balada do próximo sábado. Telefones com GPS mudam a relação das pessoas com as ideias de localidade e espaço. Múltiplas infra-estruturas de rede estão disponíveis em cada vez mais localidades. Essa aceleração tecnológica não resolveu uma série de questões: conflito étnico/cultural e tensão social, risco de colapso ambiental e lixo por todo lugar, precariedade em vários aspectos da vida cotidiana, medo e insegurança em toda parte. Mas ainda assim embute um grande potencial de transformação.

O rumo da evolução da tecnologia de consumo até há alguns anos era óbvio – criar mercados, extrair o máximo possível de lucro e manter um ritmo auto-suficiente de crescimento a partir da exploração de inovação incremental, gerando mais demanda por produção e consumo. Em determinado momento, a mistura de competição e ganância causou um desequilíbrio nessa equação, e hoje existem possibilidades tecnológicas que podem ser usadas para a busca de autonomia, libertação e auto-organização – não por causa da indústria, mas pelo contrário, apesar dos interesses dela. As ruas acham seus próprios usos para as coisas, parafraseando William Gibson. Em algum sentido obscuro, as corporações de tecnologia se demonstraram muito mais inábeis do que sua contrapartida ficcional: perderam o controle que um dia imaginaram exercer.

O tipo de pensamento que deu substância ao movimento do software livre possibilitou que os propósitos dos fabricantes de diferentes dispositivos fossem desviados – roteadores de internet sem fio que viram servidores versáteis, computadores recondicionados que podem ser utilizados como terminais leves para montar redes, telefones celulares com wi-fi que permitem fazer ligações sem precisar usar os serviços da operadora. Um mundo com menos intermediários, ou pelo menos um mundo com intermediários mais inteligentes – como os sistemas colaborativos emergentes de mapeamento de tendências baseados na abstração estatística da cauda longa.

Por outro lado, existe também a reação. Governos de todo o mundo – desde os países obviamente autoritários como o Irã até algumas surpresas como a França – têm tentado restringir e censurar as redes informacionais. O espectro do grande irmão, do controle total, continua nos rondando, e se reforça com a sensação de insegurança estimulada pela grande mídia – a quem também interessa que as redes não sejam assim tão livres.

Nesse contexto, qual o papel da arte? Em especial no Brasil, qual vem a ser o papel da arte que supostamente deveria dialogar com as tecnologias – arte eletrônica, digital, em “novas” mídias? Vêem-se artistas reclamando e demandando espaço, consolidação funcional e formal, reconhecimento, infra-estrutura, formação de público. São demandas justas, mas nem chegam a passar perto de uma questão um pouco mais ampla – qual o papel dessa arte na sociedade? Essa “nova” classe artística tem alguma noção de qual é a sociedade com a qual se relaciona?

É recorrente uma certa projeção dos circuitos europeus de arte em novas mídias, como se quisessem transpor esses cenários para cá. Não levam em conta que todos esses circuitos foram construídos a partir do diálogo entre arte e os anseios, interesses e desejos de uma parte da população que é expressiva tanto em termos simbólicos como quantitativos. Se formos nos ater à definição objetiva, o Brasil não tem uma “classe média” como a europeia. O que geralmente identificamos com esse nome não tem tamanho para ser média. Aquela que seria a classe média em termos estatísticos não tem o mesmo acesso a educação e formação. É paradoxal que a “classe artística” demande que as instituições e governo invistam em formação de audiência, mas se posicione como alheia a essa formação, como se só pudesse se desenvolver no dia em que a “nova classe média” for suficientemente educada para conseguir entender a arte, e suficientemente próspera para consumi-la.

Muita gente não entendeu que não só o Brasil não vai virar uma Europa, como o mais provável é que o mundo inteiro esteja se tornando um Brasil – simultaneamente desenvolvido, hiperconectado e precário. Não entendeu que o Brasil é uma nação cyberpunk de chinelos: passamos mais tempo online do que as pessoas de qualquer outro país; desenvolvemos uma grande habilidade no uso de ferramentas sociais online; temos computadores em doze prestações no hipermercado, lanhouses em cada esquina e celulares com bluetooth a preços acessíveis, o que transforma fundamentalmente o cotidiano de uma grande parcela da população – a tal “nova classe média”. Grande parte dessas pessoas não tem um vasto repertório intelectual no sentido tradicional, mas (ou justamente por isso) em nível de apropriação concreta de novas tecnologias estão muito à frente da elite “letrada”.

Para desenvolver ao máximo o potencial que essa habilidade espontânea de apropriação de tecnologias oferece, precisamos de subsídios para desenvolver consciência crítica. Para isso, o mundo da arte pode oferecer sua capacidade de abrangência conceitual, questionamento e síntese. Vendo dessa forma, as pessoas precisam da arte. Mas a arte precisa saber (e querer) responder à altura. Precisa estar disposta a sujar os pés, misturar-se, sentir cheiro de gente e construir diálogo. Ensinar e aprender ao mesmo tempo. Será que alguém ainda acredita nessas coisas simples e fundamentais?

Créditos fotos: Alosyio Araripe e Bruno Fernandes.
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Estamos Vencendo: resistência global no Brasil e no Mundo https://baixacultura.org/2012/02/02/estamos-vencendo-e-a-resistencia-global-no-planeta/ https://baixacultura.org/2012/02/02/estamos-vencendo-e-a-resistencia-global-no-planeta/#comments Thu, 02 Feb 2012 17:18:47 +0000 https://baixacultura.org/?p=5746

Bem antes de Charlie Shen adotar o lema “Winning” ou de Mark Zuckerberg pensar em criar o Facebook, um movimento profético se rebelava contra a falência de um sistema (financeiro, político) em pleno coração do capitalismo.

Este movimento – que no subterrâneo existe desde sempre, seja nas mãos dos anarquistas, do movimento estudantil ou dos punks, situacionistas e outras redes culturais – tomou de “assalto” as ruas da capital grunge, Seattle, em 30 de novembro de 1999, na reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio), no que foi conhecido como a “Batalha de Seattle“.

Isso tudo tu já deve saber, pois explicamos brevemente neste texto. O que não falamos é que Seattle foi a ponta de lança de um movimento subversivo –  anticapitalismo, anti-globalização, ou o nome que se queira dar – que se espalhou pelo mundo nos anos seguintes. Especialmente no período de 2000 a 2003, cidades como Washington, nos EUA, Gênova, na Itália, Praga, na República Tcheca, Quebec no Canadá, e São Paulo, no Brasil, foram palco de manifestações contra as múltiplas facetas autoritárias/ maléficas que a $$, o preconceito e o individualismo podem trazer para a sociedade.

No Brasil, uma das melhores referências para entender o que aconteceu é o livro “Estamos Vencendo! – Resistência Global no Planeta“, de Pablo Ortellado e André Ryoki, publicado pela Conrad em 2004 na linda Coleção Baderna. Ele documenta, através das fotos do historiador Andre Ryoki, e reflete, com um texto do hoje professor da USP Pablo Ortellado, como se deram as manifestações “antiglobalização” em terras brasileiras, especialmente aquelas que ocorreram em São Paulo, Fortaleza, Belo Horizonte e Curitiba.

São as fotos do livro que tu encontra mais abaixo nesse post, colocadas em uma galeria do Picasa para facilitar a visualização. Clicando em cada foto, você é direcionado para o Picasa e poderá ver as fotos e as legendas originais que estão no livro.

Cartaz do Adbusters, que esteve em Seattle 1999 e Wall Street 2011

Qualquer semelhança de protestos no “coração” do sistema financeiro que foi (é) Occupy Wall Street não é mera coincidência. Como escrevemos anteriormente, existe (pelo menos) um elo que une estes dois momentos históricos: o Adbusters, revista/movimento anticonsumo com sede no Canadá, que esteve nas manifestações de Seattle em 1999 e convocou o Occupy Wall Street em 2011. [E que, em breve, vai ganhar mais destaque por aqui; aguarde].

Mas também há diferenças bem claras. Naomi Klein, escritora/ativista e autora de “No Logo” (traduzido aqui como “Sem Logo- A tirania das marcas em um planeta vendido“), livro essencial para entender o mundo hoje, fez um discurso no parque Zucotti, em Wall Street, em que ressaltou estas diferenças de alvo, tática e contexto – não sem antes afirmar que “amava” os manifestantes que ali acampavam. Publicamos o discurso na íntegra, em tradução do professor Idelber Avelar, e reproduzimos aqui os trechos em que ela traça o paralelo entre as diferenças entre os dois movimentos:

Em Seattle, em 1999, nós escolhemos as cúpulas como alvos: a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional, o G-8. As cúpulas são transitórias por natureza, só duram uma semana. Isso fazia com que nós fôssemos transitórios também. Aparecíamos, éramos manchete no mundo todo, depois desaparecíamos. E na histeria hiper-patriótica e nacionalista que se seguiu aos ataques de 11 de setembro, foi fácil nos varrer completamente, pelo menos na América do Norte.

O Ocupar Wall Street, por outro lado, escolheu um alvo fixo. E vocês não estabeleceram nenhuma data final para sua presença aqui. Isso é sábio. Só quando permanecemos podemos assentar raízes. Isso é fundamental. É um fato da era da informação que muitos movimentos surgem como lindas flores e morrem rapidamente. E isso ocorre porque eles não têm raízes. Não têm planos de longo prazo para se sustentar. Quando vem a tempestade, eles são alagados.

Mas a grande diferença que uma década faz é que, em 1999, encarávamos o capitalismo no cume de um boom econômico alucinado. O desemprego era baixo, as ações subiam. A mídia estava bêbada com o dinheiro fácil. Naquela época, tudo era empreendimento, não fechamento.

Nós apontávamos que a desregulamentação por trás da loucura cobraria um preço. Que ela danificava os padrões laborais. Que ela danificava os padrões ambientais. Que as corporações eram mais fortes que os governos e que isso danificava nossas democracias. Mas, para ser honesta com vocês, enquanto os bons tempos estavam rolando, a luta contra um sistema econômico baseado na ganância era algo difícil de se vender, pelo menos nos países ricos.

Dez anos depois, parece que já não há países ricos. Só há um bando de gente rica. Gente que ficou rica saqueando a riqueza pública e esgotando os recursos naturais ao redor do mundo.

Rodrigo Savazoni também lembra o discurso de Naomi e a relação Seattle 1999 Wall Street 2011 em um texto na revista Select deste bimestre (que entra no site na próxima semana), que também vale a leitura.

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Como diz o texto de divulgação de “Estamos Vencendo!”, “as fotos destacam três dimensões constitutivas desse novo movimento: a ação direta das ruas, a criatividade auto-expressiva das manifestações e a constituição de um novo tipo de coletividade onde a massa homogênea é substituída pela diversidade individualizada da multidão“. A maioria delas estão aqui abaixo, gentilmente cedidas por André Ryoki, a quem agradecemos imensamente. [O livro está em Copyleft].

“Sobre a passagem de um grupo de pessoas por um breve período da história”, texto de Pablo Ortellado que abre o livro, contextualiza de forma interessantíssima o que ocorreu nas ruas brasileiras daquele início de década passada. Traz inicialmente uma breve explicação de onde e como surgiu o movimento antiglobalização no Brasil – “da convergência de outros dois movimentos que surgiram ou re-emergiram nos anos 1980, o movimento estudantil independente e autogestionário e o movimento anarquista propriamente dito”.

Estas duas vertentes, continua Pablo, “convergiram, mais ou menos casualmente, atraídas pelos fascinantes acontecimentos de Seattle. Mas o movimento, claro, não começou em Seattle, como dizia o slogan das manifestações contra a ALCA em 2001. De fato, Seattle foi a vitrine midiática de um movimento que pode ter muitas origens, mas que, na sua vertente radical, remonta à inspiração da revolta zapatista em 1994 e à articulação dos dias de ação global em 1998.” [Para um estudo aprofundado dessas origens, ler Aproximações ao movimento ‘antiglobalização’“, do próprio Pablo]

A partir dessa contextualização inicial, o doutor em filosofia e hoje professor da USP Ortellado propõe reflexões sobre o movimento em torno de sete eixos: autonomia, anticapitalismo, redes, liderança, auto-expressão, mídias e alternativas. São páginas que todo movimento de hoje deveria ler para se fortalecer enquanto movimento e, principalmente, para aprender com as experiências anteriores, já que o texto é bem sincero e crítico quanto as agruras e maravilhas de se estar num convívio com pessoas diferentes de forma horizontal.

Na parte que trata das redes, por exemplo, ele as diferencia conceitualmente de outras formas semelhantes de organização e aponta características dessa relativamente nova forma de se organizar que são as redes. Uma das características aqui abaixo:

“As redes não precisam se desfazer e refazer a cada oportunidade, elas podem simplesmente adquirir diferentes formatos e composições. Se num determinado momento, um grupo tem um desentendimento pontual, ele não precisa abandonar a rede, mas pode simplesmente não colaborar naquele ponto, da mesma forma que, em momentos específicos, a rede pode incorporar a colaboração extraordinária de novos agentes que se interessam apenas por uma ação específica. Isso significa apenas levar o velho princípio anarquista da livre-associação até a sua conseqüência lógica: a livre dissociação.”

Por questões de espaço (o texto de abertura tem 15 páginas!), não vamos publicar aqui a íntegra. Pela mesma questão de espaço, não publicamos também a cronologia que o livro faz dos acontecimentos da época. Mas todas estas partes que não são fotos e imagens do livro podem ser lidas, baixadas e compartilhadas neste link.

É uma referência histórica importante para entendermos o ativismo do intenso 2011 que passou e do transformador 2012 que está começando.

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DA NECESSIDADE DE CONTINUAR OCUPANDO AS RUAS

[Clique nas fotos para ver o restante da galeria.]

O31, 2002. No dia 31 de outubro de 2002, ministros dos países envolvidos com o projeto da ALCA reuniram-se em Quito, Equador, para mais uma rodada de negociações. Houve manifestações em todo o continente americano. Em São Paulo, os manifestantes organizaram uma passeata desde as escadarias da Casper Líbero na Av. Paulista até o Largo do Patriarca, no centro da cidade. No final do percurso houve distribuição de feijoada vegan para o pessoal que saía do trabalho.

 

SE EU NÃO PUDER DANÇAR, NÃO É MINHA REVOLUÇÃO

 

N9, 2001. Uma rápida parada durante o McLanche Feliz.


MULTIDÃO

J20, 2001


ANEXOS (documentos, panfletos e cartazes de algumas das manifestações que ocorreram no período)

Cartaz de estudantes da USP chamando ao I Fórum Social Mundial em Porto Alegre.

[Leonardo Foletto, Marcelo De Franceschi]

Crédito da imagem: 1 [we are winning] 2 [adbusters]
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