produtoras colaborativas – BaixaCultura https://baixacultura.org Cultura livre & (contra) cultura digital Tue, 22 Aug 2017 12:05:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.9 https://baixacultura.org/wp-content/uploads/2022/09/cropped-adesivo1-32x32.jpeg produtoras colaborativas – BaixaCultura https://baixacultura.org 32 32 Chamada pública – III Encontro SUL das Produtoras Colaborativas https://baixacultura.org/2017/08/22/chamada-publica-iii-encontro-sul-das-produtoras-colaborativas/ https://baixacultura.org/2017/08/22/chamada-publica-iii-encontro-sul-das-produtoras-colaborativas/#respond Tue, 22 Aug 2017 12:05:40 +0000 https://baixacultura.org/?p=12012

Pelo terceiro ano consecutivo, as Produtoras Culturais Colaborativas da região sul realizarão seu encontro anual em Porto Alegre e região metropolitana. As Produtoras Culturais Colaborativas são uma tecnologia social que reúne um conjunto de metodologias para que grupos autogestionários transformem seus espaços de atuação em empreendimentos criativos que oferecem produtos e serviços de audiovisual, produção cultural, comunicação comunitária e formação em cultura digital. A edição deste ano do encontro tem o reconhecimento e apoio da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, através do edital Cultura e Redes, realizado em 2015, cujos recursos foram liberados somente este ano.

O III Encontro Regional SUL da Rede das Produtoras Culturais Colaborativas contará com debates, oficinas, install fest e atrações culturais e terá a participação das produtoras colabrativas da região Sul, representantes das produtoras das regiões Norte e Nordeste do Brasil e parceiros locais que trabalham com produção cultural, software livre e economia colaborativa. Vai acontecer entre os dias 4 a 7 de outubro (quarta à sábado) em Porto Alegre e região metropolitana.

Estamos construindo a programação de forma colaborativa com os coletivos integrantes da Rede das Produtoras Colaborativas e com outrxs interessadxs em cultura livre e produção cultural colaborativa da região. Quem quiser propor sua atividade (roda de conversa, debate, oficina prática, atividade cultural – cineclube, shows, performances, lançamentos de livros/zines/revistas, etc) para o encontro, entre nesse formulário e preencha os campos até o dia 4/9, segunda-feira. 11/9, segunda-feira. O nosso objetivo é sistematizar as ações propostas e cuidar, junto com xs proponentes, pra que todas possam acontecer na programação do evento.

Por enquanto, já temos definido o 1º dia, quarta 4/10, que será dedicado à chegada dos coletivos e uma atividade de recepção, a partir das 14h, no Espaço Cultural 512, na Cidade Baixa, e a roda de encerramento, no sábado 7/10 às 17h, no mesmo 512. A programação do 2º (5/10, quinta), do 3º (6/10, sexta)  e de metade do 4° dia (7/10, sábado) estão abertas para a construção coletiva.

Se você quiser se inspirar para apresentar sua proposta, confira aqui o que já aconteceu nos dois últimos encontros:

I Encontro SUL (2015)
Material de divulgação
Cobertura

II Encontro SUL (2016)
Material de divulgaçãospot de rádio

Para saber mais sobre como funciona Rede das Produtoras Colaborativas, entre aqui.

]]>
https://baixacultura.org/2017/08/22/chamada-publica-iii-encontro-sul-das-produtoras-colaborativas/feed/ 0
Recife, Olinda & arredores https://baixacultura.org/2017/08/14/recife-olinda-arredores/ https://baixacultura.org/2017/08/14/recife-olinda-arredores/#respond Mon, 14 Aug 2017 18:39:13 +0000 https://baixacultura.org/?p=11971

Caranguejo em homenagem à Chico Science, na Rua da Aurora

Passamos duas semanas de julho em Recife, Olinda e arredores e tivemos uma programação baixacultural de atividades.

A começar por uma fala/oficina/charla chamda “Visões de Cultura Livre no Brasil“, no espaço recém re-inaugurado CEÇA, no bairro Boa Vista em Recife. O (ou a) CEÇA é uma casa colaborativa que busca agregar diversas iniciativas relacionadas à cultura livre e a economia colaborativa na cidade, e promete ser um ponto de encontro importante para esses temas no centro do Recife.

A proposta da atividade lá foi fazer um panorama do que se identifica como cultura livre no Brasil hoje a partir de um recorrido por postagens deste BaixaCultura. A ideia de cultura livre – ou melhor, de um agrupamento de práticas culturais organizadas em torno desse nome – nasce inspirada pelo movimento do software livre e pela ideia de copyleft, que mudou as regras do que se produz, distribui e se pensa sobre software na década de 1980. No final dos anos 1990, a cultura livre se pauta como um movimento de resistência aos grandes monopólios dos direitos autorais no mundo, cuja consequência mais clara foi a privatização do conhecimento a partir da ideia de propriedade intelectual. Ideias e licenças, como o Creative Commons, surgem neste momento e se tornam chaves na perspectiva de trazer mais autonomia aos autores sobre suas próprias obras, enfrentando o status quo do copyright e buscando uma atualização das leis em face às mudanças trazidas pela tecnologia digital e a internet.

A partir dos anos 2000, a ideia de cultura livre se torna ainda mais heterogênea, um guarda-chuva a articular uma série de práticas e modos de fazer que se transformam ao longo dos anos. O software livre e as licenças livres continuam como tags centrais do movimento, mas temas como a produção de conhecimento aberto, a democratização da mídia, os recursos educacionais abertos, a transparência via dados abertos e inspirado pela ética hacker, as práticas artísticas em torno da recriação e do remix, as defesas da neutralidade da rede e da segurança da informação na internet, as políticas públicas culturais de Estado (em especial, a partir dos Pontos de Cultura no Brasil) e a economia colaborativa, entre outros, se tornam assuntos emergentes dentro do movimento. A partir da década dos 2010, a ideia do comum (procomún, em espanhol; commons, em inglês) ganha força na cultura livre como propulsora de modelos organizativos, econômicos e sociais mais justos, num diálogo constante com a economia solidária e o cooperativismo, também a partir das assembléias e Okupas espanholas pós 15M de 2011, até chegarmos aos laboratórios de inovação cidadã que se propagam na Ibero-américa neste 2017.

A fala percorreu um pouco desse histórico da cultura livre trazendo casos, situações e coletivos para o debate, dialogando também com novas perspectivas de transformação social em tempos de retrocessos no Brasil e no planeta. A chuva atrapalhou o lindo cenário da varanda da Casa, mas o debate seguiu noite adentro nas futuras intalações da oficina de marcenaria da CEÇA até 22h e tanto. Aqui um pad com os posts mostrados no dia e algumas fotos da turma que ficou até o final, já passado das 22h (fotos do pessoal do Ceça). Gracias a Arthur Braga, um dos quatro responsáveis pela casa, designer, produtor cultural e nosso articulador local da função.

Também visitamos a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), orgão de pesquisa ligado ao Ministério da Educação, e especificamente a Villa Digital, espaço multiuso de pesquisa localizada em um casarão do século XIX e vinculada ao Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Melo Franco de Andrade (Cehibra). A Villa Digital é um espaço físico muito interessante e versátil, embora ainda pouco ocupado pelos moradores da cidade. Como projeto, são responsáveis pelo processo de digitalização de uma parte do rico material da Fundaj – que, entre outras coisas, é responsável pelo Museu do Homem do Nordeste, um museu antropológico que organiza exposições contando a história do povo a partir de artefatos do dia a dia do nordestino, do sertão ao litoral, do catolicismo de Padre Cícero aos orixás do candomblé. Quando estivemos no espaço, estava lá sua exposição permanente do acervo e algumas temporárias, como as do grande xilogravurista J. Borges e uma chamada “Nordeste Mix”, literalmente uma curadoria remix entre tradição e novidade a partir do material do espaço. Desta última exposição vem o “Manifesto Regionalista”, texto provocador sobre a função dos museus hoje. Agradecimentos a Cristiano Borba, da Villa Digital, pelo convite à visita e pelo tour na Fundaj e no museu.

Na sexta-feira 28/7, fizemos um lançamento (o 3º!) do zine La Remezcla, desta vez em Olinda, no espaço Casa Azul, junto de uma roda de conversa sobre cultura livre. Articulado por Carlos Lunna, do coletivo Tear Audiovisual e da Produtora Colaborativa.PE, o evento foi uma ação da Rede de Produtoras Colaborativas, que une diversos coletivos Brasil afora, e do qual o Baixa faz parte na região sul. O sebo-livraria Casa Azul, local do evento, rende um capítulo a parte: criado faz poucos meses por Samarone Lima, jornalista e escritor, é situado na região do Carmo, Cidade Alta de Olinda. Tem uma seleção preciosa de livros de ficção e teoria, poucas e boas prateleiras que ocupam as duas salas da frente de um casarão típico daquela região da cidade, com uma estreita face virada para a rua que não sugere os diversos cômodos e o amplo pátio que se extendem ao longo da casa. Tem promovido alguns cursos, sediado algumas peças de teatro, tudo aos poucos, devagar como a vida em Olinda durante um inverno chuvoso sem (tantos) turistas. Samarone, inclusive, é poeta e cronista dos bons, e em sua página, Estuario, é possível ter uma amostra disso – das crônicas mais recentes, leia, em especial, “Anotações de um dono de sebo em Olinda“, relato de coisas simples que acontecem no seu dia a dia na Casa Azul.

A cobertura fotográfica do evento está nesta página do ITeia, site de acervo da produção multimidia cultural brasileira. A conversa teve a presença ilustre de Isabelita a vagar por cima dos zines e pelos colos das pessoas. E além de cultura livre e (re)criação, versou também sobre jornalismo alternativo – muito por conta da presença de integrantes do coletivo de comunicação Marco Zero – e futebol & política, esta puxada pelo pessoal do movimento Democracia Santa Cruz Futebol Clube. As fotos abaixo (as 2 últimas são de Samarone Lima, as outras nossas) ilustram um pouco de Olinda, da Casa Azul, do evento, nesta ordem.

Casa de Alceu Valença, Olinda

]]>
https://baixacultura.org/2017/08/14/recife-olinda-arredores/feed/ 0
Percorrendo um LAB.Irinto https://baixacultura.org/2016/06/29/percorrendo-um-lab-irinto/ https://baixacultura.org/2016/06/29/percorrendo-um-lab-irinto/#respond Wed, 29 Jun 2016 12:30:42 +0000 https://baixacultura.org/?p=10781 13131195_800969423368027_3003901014216679001_o

1. Laboratório é um espaço de experimentação de qualquer coisa, inclusive de sociedades. Inovação social é o processo de criação de metodologias, tecnologias, projetos e ações que têm como objetivo transformar a realidade a fim de alcançar maior inclusão social, por meio da redução da desigualdade e da defesa dos bens comuns. Cultura livre é uma perspectiva da cultura baseada nos princípios de liberdade do software livre que, principal de tudo, é a favor do compartilhar e não do restringir. Guarde bem a definição dessas três ideias e retome mentalmente quando precisar ao ler este relato.

2. Muita coisa aconteceu nestes dias, tantas ideias piscaram, desapareceram, foram anotadas e se perderam no inconsciente pra quem sabe voltarem mais adiante. Segue abaixo um relato recortado e resumido disso tudo.

3. Estamos falando de um Encontro de Inovação Cidadã e Cultura Livre, um “processo de debates, trocas de experiências e articulação internacional entre criadores da Baixada Santista, do Brasil e do mundo”, como diz o site do evento, que tem ocorrido desde abril de 2016 e teve na semana passada o seu encerramento, com dois dias de trocas de experiência, cocriação e um seminário internacional que subsidiou a criação do LABxS (Lab Santista), um laboratório de cultura livre e inovação cidadã. Quem organizou o evento foi o Instituto Procomum, por enquanto uma associação, também recém iniciada a partir do projeto Tecnologias e Alternativas, com a intenção de investigar as condições de desenvolver novas institucionalidades e uma interface para viabilizar ações de uma plataforma de pessoas que a ele queiram se associar.  O financiamento do evento veio da Fundação Ford, da Prefeitura de Santos, por meio da Secretaria de Desenvolvimento e Inovação, e da Secretaria Geral Ibero-Americana (SEGIB).

labpele

4. Antes do seminário teve dois dias (manhãs e tardes) de reuniões, conversas e compartilhamento de experiências entre os mais de 40 convidados de diferentes países. Houve divisões em GTs (Modelo de Negócio e Sustentabilidade, Programação e Conteúdo, Articulação e Rede, Gestão Institucional e Metodologias e Laboratórios e o Território de Atuação) e “conversas infinitas” que tinham entre os objetivos questionar a ideia do lab, subsidiar a concepção do LABxS e avançar na articulação internacional em torno da agenda de bens comuns. “Um jogo de colaboração e partilha, baseado nos conhecimentos que carregamos” escreveu Rodrigo Savazoni, articulador do evento e do LABxS junto a uma equipe grande (veja aqui) que não por acaso traz muitos participantes da experiência da Casa da Cultura Digital em São Paulo, um laboratório de vivências embrião/propulsor do Lab Santista (e de tantas outras coisas, como até este site/coletivo que vos escreve; este vídeo creio que talvez seja o melhor registro feito da CCD)

Entre os convidados, pessoas muito atuantes em labs ou em suas comunidades/redes/cultura digital do Brasil e do mundo, um foco especial em iniciativas da ibero-américa (Dardo Ceballos, do SANTALAB, ligado ao governo do estado de Santa Fé, Argentina; Paola Ricarte Quijano, OpenLabs, México; Raul Olivan, Zaragoza Activa, Espanha; Camilo Cantor, Colaboratório, Colômbia; Marcos García, MediaLab Prado, Espanha) e África (Muhammad Radwan, IceCairo, Egito e Nanjira Sambuli, Ihub, Nairóbi, Quênia). Não por acaso: estes LatinLabers, como Savazoni e outros (se) nomeiam, são partes também da Global Innovation Gathering, rede que tem forte presença africana e asiática e propõe a construção de uma rede de tecnologias desde o sul.

Tatiana Bazzicheli (Disruption Lab, de Berlin) é uma exceção do norte nessa rede. Curadora do Transmediale, um dos principais festivais de arte, cultura e inovação da Europa, pesquisadora e ativista, a italiana tem um trabalho importante na aproximação da arte com o hacktivismo e o mundo da inovação, como o livro “Networked Disruption: Rethinking Oppositions in Art, Hacktivism and the Business of Social Networking” (baixe aqui). E, no Disruption Lab, realiza eventos como o Deep Cables, uma série de conferências e rodas de conversa onde hackers, engenheiros, jornalistas investigativos, escritores, entre outros, buscaram entender como a Internet funciona e o papel preponderante que os cabos submarinos tem nessa infraestrutura física nem tão falada da rede. Temos que confessar: um laboratório de hacktivismo e arte com eventos tão interessantes como os que o Disruption organiza é o motivo de Tatiana ter ganho um parágrafo inteiro aqui.

Trasnware-300x294
5. O que é um lab? Raul Olivan, do La Colaboradorar e do Zaragoza Activa (um lab y rede social criado junto a prefeitura da cidade espanhola) resume no texto “Um lab é para a cidade o que poesia é para linguagem“: resolver o problema das pessoas. “Gerir o caos. Podemos tecer arquipélagos para começar, mas o objetivo deve ser o continente. É o não-modelo que se impõe, não por necessidade ou ausência de certezas, senão por desejo e como uma estratégia consciente. É o conjunto de valores, afetos, cuidados da rede que tece e compromete um LAB: TRANSWARE (imagem acima). A pulsão é transformar a sociedade (o ethos) com uma soma de ética hacker, sonho de riqueza generalizada e materialismo da 4º revolução industrial. Necessitamos dos hackers inside que abram a lata desde dentro do sistema, como faz o Hacklab da Câmara dos Deputados. Um LAB não pode ser uma abstração: ideologia não fertiliza a terra. A transparência é, provavelmente, mais importante que a horizontalidade”.

13442446_821998814598421_710226900638495221_o

6. O último dia do evento foi dedicado ao Seminário Internacional de Inovação Cidadã, realizado no amplo (750 lugares) teatro do Sesc Santos. Foram três mesas com convidados internacionais e um brasileiro mediando ou comentando ou relacionando o global com o local (glocal). A primeira mesa trouxe para o debate a questão do que é inovação cidadã a partir de quatro experiências, três internacionais e uma brasileira (Cíntia Mendonça, da Nuvem, que mediou). Marcos García apresentou o MediaLab Prado, referência mundial (e de muitos dos participantes) de laboratório de inovação cidadã e cultura digital. É um espaço alocado dentro de uma institucionalidade (Prefeitura de Madrid), mas que mesmo assim consegue promover inovação social para a comunidade e driblar algumas das dificuldades que uma instituição costuma ter para fomentar novidades. O amplo espaço do MediaLab Prado, localizado num antigo prédio de uma serraria belga no bairro de Las Letras, região central de Madrid, abriga e fomenta dehortas urbanas monitoradas por sensores a base da arduínos a makerspace colaborativo, de encontros de visualização de dados a produção de conhecimento colaborativo, passando por inúmeros seminários, cursos, exposições [este vídeo traduz em 1 minuto o que es o MediaLab Prado; vale assistir]. Qualquer pessoa pode propor uma ideia e tentar desenvolver ela (sempre em grupo) por lá, ainda que são as ferramentas que constroem (e fortalecem) comunidades as que ganham maior acolhida.

Paola Ricaurte Quijano trouxe uma outra configuração de laboratório, o OpenLabs, ligado a Universidade Tecnológica de Monterrey. Diferente em sua articulação, mas inspirado no modelo do MediaLab Prado e, sobretudo, na ideia de ser um espaço de transformação e de reconhecimento da inteligência distribuída, o OpenLabs é uma plataforma que quer abordar a complexidade do social a partir de princípios como abertura, experimentação, inclusão, participação e colaboração. Parece algo complexo ou carregado de um discurso pouco prático, mas saiba que tanto o OpenLabs como todos os outros labs presentes no evento são totalmente baseados na prática, no fazer do dia a dia com a comunidade onde estão inseridos. Dê uma olhada na convocatória deste ano do OpenLabs, “Ciudades que Aprenden“, e veja como funciona a sua metodologia.

A terceira experiência trazida foi o IceCairo, de Cairo, apresentado por Muhammad Radwan. O lab egípcio é parte de uma rede (que tem outros pontos na Etiópia e na Alemanha) que tem um enfoque na chamada “green tech innovation”, fomentando negócios sustentáveis. Mantém um espaço físico que funciona como co-working (característica comum de muitos labs, aliás) e, entre muitos projetos legais, destacamos o Hub in Box, um mergulho realizado em conjunto com outros Africa Labs e Impact Hubs de vários lugares do mundo na busca de identificar desafios e criar soluções sustentáveis para suas comunidades. Antes que você pergunte “mas qual a inovação que eles estão produzindo ao se reunir e discutir seus projetos?”, fazemos um alerta óbvio: assim como no LAB.Irinto, o processo é tão (ou mais) importante que o produto “inovador” criado. Encontros são essenciais, compartilhar é fundamental; o crescimento é coletivo. [Todas as três mesas do dia foram transmitidas e podem ser assistidas aqui].

7. As experiências brasileiras presentes no LAB.Irinto foram apresentadas no dia anterior ao seminário internacional. Lembramos de algumas de cabeça: a Produtora Colaborativa.PE e a rede das produtoras colaborativas (sobre a qual já falamos aqui) e o Laboratório Hacker da Câmara dos Deputados (que também já falamos aqui). A Nuvem, um hacklab rural rural voltado ara experimentação, pesquisa e criação vinculada à tecnologia (arquitetura, comunicação, geração sustentável de energia) e sustentabilidade (corpo, ecologias, alimentação, cultivos) no interior do Rio de Janeiro. O Bela Lab, localizado junto ao Galpão Bela Maré, no Rio de Janeiro, fruto do projeto Gambiarra Favela Tech, residência artística-tecnológica realizada ano passado em parceria com o Observatório de Favelas e Olabi. Laboratório de Cidades Sensitivas (LabCEUs), projeto que promoveu ocupações de inovação social e tecnológica em laboratórios multimídias em cidades do interior brasileiro, realizado pela UFPE, por meio do InCiti – Pesquisa e Inovação para as Cidades, em parceria com o Ministério da Cultura. O Ponto de Cultura Caiçaras, em Cananéia, litoral sul de São Paulo, que promove o resgate do fandango caiçara, entre outras ações com a comunidade local. Karenin Branco, do makerspace Crie Aqui, de Santos. Casa Rizoma, ocupação cultural localizada em Santos.

trans

8. Um dos projetos brasileiros na noite do dia 23 de junho, no Museu Pelé, foi o Transformatéria, uma pesquisa sobre possíveis pontos de contato entre, de um lado, a cultura maker e o universo da fabricação digital, e de outro a longa herança da produção artesanal e dos ofícios manuais. Criado por Felipe Fonseca (que toca o Ubalab e o Tropixel, entre outras cousas, e que já quase perfilado por aqui) e sua esposa, Carolina Striemer, ele se relaciona com uma rede que deu seus primeiros passos no evento: Trasformatório. A ideia desta rede é articular projetos que tem em comum o costume de transformar coisas em outras coisas – com ferramentas, métodos, equipamentos, ou mesmo com as próprias mãos. Algo que não é makerspace nem fablab, “um espaço ou momento de encontro de corpos e mentes com a intenção de mexer, mudar, manipular coisas”. A conversa foi registrada em áudio, foto e GIF e está disponível nessa wiki do Ubalab. Aos interessados, há um grupo de emails.

Participamos do Transformatório também com o interesse manifestado a partir do apoio na realização do Café Reparo em Porto Alegre. Já havia (com licença plural, quem fala agora é Leonardo) participado de um encontro dos 6 realizados em São Paulo, inclusive relatado aqui, mas dessa vez ajudei a organizar um aqui na cidade onde vivo atualmente. Foi tão interessante que teremos outros. Um detalhe pessoal: diferente da maioria, cheguei ao reparo a partir da teoria e não da prática “fuçadora”: abrir as “caixas-pretas” e entender as redes que ali percorrem, nos termos da Teoria Ator-Rede capitaneada por Bruno Latour, Michel Callon, John Law e que tem sido a base da minha tese de doutorado, me fez ver o quão importante (e divertido!) é a gente entender minimamente os objetos que nos rodeiam. E pra isso nada melhor que fuçar, reparar, consertar, desmontar, montar e errar de novo.

9. Como sobrevive um Lab? Não há uma regra, porque não há um único modelo (sustentável). Experimentar um lab é uma meta experiência que pode valer pelo caminho percorrido mais do chegar a algum destino. Como na ciência, não se sabe se vai ter alguma utilidade, mas é importante fazer. Mas há conselhos: começar devagar, com um espaço pequeno. Ter autonomia e não abrir mão dela ao buscar a sustentabilidade. Criar laços e uma comunidade forte para sobreviver a intempéries como a troca de governos ou o esgotamento do tesão em continuar. Documentar em ferramentas livres, que permitem a replicação. Nenhum lab sobrevive muito tempo como ilha.

baixada

10. Uma questão final pra sair do LAB.Irinto, que pode estar pairando em vocês, assim como por aqui também esteve: por quê Santos e Baixada Santista? Com a palavra, Savazoni: “Nessa apresentação eu postulo o ponto de partida, antes de começar o LAB.IRINTO e aqui eu enumero um pouco as razões de ser Santos: é uma região de 2 milhões de habitantes, um arquipélago, e Santos está em uma ilha, junto com São Vicente, uma das primeiras cidades do Brasil. Foi importante no Brasil Colônia, na industrialização, com o ciclo do Café, porta de entrada do mundo para o Brasil e ao mesmo tempo se deteriorou por conta das transformações todas, se tornando uma cidade de serviços, com uma população envelhecida – mais de 30% dos habitantes com mais de 55 anos podendo chegar à metade da população em dez anos. Tem também o fato de que pelas previsões, boa parte da cidade estará em baixo d’água devido ao aquecimento global. Inclusive onde eu moro.

É próxima de São Paulo, no sentido que facilita essa troca global, e eu pude comprovar isso produzindo o evento agora. Agora depois do LAB.IRINTO, eu somaria a essas razões todas o fato de ter encontrado uma rede subterrânea muito interessante, pessoas que querem fazer há muito tempo, outras que estão chegando agora, mas que começam a desenhar uma outra geografia, clandestina, fronteiriça, para a região. O LAB pode ser um impulsionador desse processo e isso me interessa sobretudo.

[Mais infos em ciudadania.org/entramosaolabirintocomrodrigosavazoni; Revista Fórum]

Fotos: Encontro Internacional de Cultura Livre e Inovação Cidadã (1, 4), Julinho Bittencourt (2), Raul Olivan (3), Transformatório (5), Rodrigo Savazoni (6)

]]> https://baixacultura.org/2016/06/29/percorrendo-um-lab-irinto/feed/ 0 Produtoras colaborativas e uma tecnologia digital social https://baixacultura.org/2015/03/24/produtoras-colaborativas-e-uma-tecnologia-digital-social/ https://baixacultura.org/2015/03/24/produtoras-colaborativas-e-uma-tecnologia-digital-social/#comments Tue, 24 Mar 2015 18:49:14 +0000 https://baixacultura.org/?p=10138 colab1

Quem trabalha com os princípios da cultura livre, especialmente a partir do software livre e das licenças Creative Commons, já passou pela situação: você apresenta seu projeto/pesquisa/produto pra alguém (ou um grupo de pessoas), é aplaudido, recebe os parabéns, vários “muito legal!”. Em determinado momento, depois ou mesmo durante os parabéns, surge alguém a questionar: “muito interessante o trabalho de vocês, mas como vocês se sustentam, se tudo é livre?” como ‘ganham dinheiro‘, se o software é dado de graça?”.

A resposta varia de acordo com cada um, mas costuma fazer a pessoa questionada condensar, em poucas frases, muitas e muitas horas de conversas, pensamentos e estudos sobre os princípios da cultura e do software livre. Por exemplo: software (e cultura) livre não significa software (e cultura) grátis, como diz Richard Stallman na sempre citada frasefree speech, not as in free beer“; nem toda troca precisa ter dinheiro envolvido – porque mesmo estando num sistema capitalista, em algum nível é possível sobreviver, sim, de trocas e moedas que não necessariamente o dinheiro; o sustento provém de atividades indiretamente relacionada aos serviços prestados ou produtos oferecidos de maneira gratuita, como consultoria, capacitação, ensino, personalização; ou, ainda, não me sustento com isso, faço porque gosto e quero que seja assim.

Penso nisso porque o II Encontro das Produtoras Colaborativas, que juntou mais de 10 coletivos na semana passada no NAEA, em Belém, trouxe essa questionamento em diversos momentos. E, mais do que isso, trouxe alguns exemplos que podem fornecer respostas criativas às perguntas já citadas. Por que desde que a internet cortou alguns intermediários e ressignificou outros, a realidade é clara: não existe mais um modelo único, pronto pra aplicar sem esforço, que vai sustentar tua produção cultural – seja ela cinema, música, software, eventos, etc. Como Gilberto Gil já dizia em 2009, aqui mesmo no BaixaCultura: “A digitalização não exige que toda obra de arte seja de graça, mas que um modelo próprio de comercialização seja criado para cada necessidade. A tendência atual é que pensemos não na propriedade, mas no comum, no compartilhado”.

colab2

A tecnologia social das produtoras colaborativas

Pensar no comum e no compartilhado é justamente a linha-mestra das produtoras colaborativas, que, por hora, podemos resumir como uma tecnologia social que reúne um conjunto de metodologias baseados na cultura e no software livre, no cooperativismo e nas moedas sociais. São metodologias que começaram a ser estudadas em 2006, nos pontos de cultura do Quilombo do Sopapo e da Biblioteca do Fórum Social Mundial em Porto Alegre, e aplicados pela primeira vez pelos pontões de cultura iTEIA, CDTL e Caravana Arcoirís na Aldeia da Paz, realizada no Acampamento Intercontinental da Juventude dentro do Fórum Social Mundial de 2009, em Belém.

De 2009 pra cá, a tecnologia tem sido testadas em diferentes lugares, principalmente em Pontos de Cultura – projeto criado dentro do Cultura Viva e uma das maiores conquistas da história da cultura brasileira, referência internacional (olhaí o relato basco aqui no Baixa em que ele é destacado) e que desde 2014 é, por lei, política pública brasileira.

A Produtora Colabor@tiva.PE, que integra 6 pontos de cultura da região metropolitana de Recife mais um cineclube e um centro de recondicionamento de computadores, foi a primeira que aplicou de forma permanente, a partir de 2010, o conjunto das metodologias das produtoras colaborativas. Pedro Jatobá, um dos criadores da Colabor@tiva.PE, apresentou a tecnologia, em uma das falas do primeiro dia de encontro, a partir da metáfora da árvore: assim como as árvores precisam de nutrientes para gerar frutos, as produtoras necessitam de insumos para alimentar o processo de formação continuada e, assim, fomentar os ciclos de amadurecimento de novos empreendimentos.

colab3

Assim, os tronco são as 6 áreas de atuação: memória, gestão, produção, economia, educação e comunicação. Os galhos são os núcleos temáticos: fotografia, áudio, vídeo, comunicação, produção cultural, criação de páginas na internet, entre outros. As folhas são os produtos e serviços (clipe, registro fotográfico, curso de fotografia, mapeamento, site, etc); os frutos são a formação continuada, aquilo que cai e dá fruto, replica; e, por fim, tudo está estruturado em seis raízes sólidas, que vale destacar aqui:

cultura popular: atuar na divulgação e no fomento da cultura popular de cada local; ser a mídia livre da expressão cultural popular;
software livre: além de toda a questão social do software livre, ele é, também, a única maneira legalizada de funcionar numa comunidade sem precisar pagar fortunas por licenças de software.
cooperativismo: ser autogestionado, sem “patrão”, mas cooperativados; relação horizontal;
criatividade: buscar formas alternativas e criativas de não fazer “empacar” os projetos;
empreendedorismo: a necessidade de fazer a produtora funcionar, e minimamente pagar as contas;
moeda social: em muitas comunidades onde as produtoras atuam o dinheiro é escasso; então é criada uma moeda social pra balizar trocas dentro da comunidade. Ela pode fazer serviços pra fora da comunidade por dinheiro, mas dentro ela pode fazer serviços na moeda social, trocar a criação de uma página na internet por almoços, por exemplo. No caso da Colabor@tiva.PE, há a moeda social Concha, a primeira criada em Pernambuco, toda gestionada dentro da plataforma Corais.org, que, ademais, é um ambiente de criação/gestão de projetos todo criado em software livre e que reúne várias outras produtoras colaborativas e outras redes.

[Recomendo ver a apresentação completa para entender e ver como funciona na prática]

colab3

Mãe Beth de Oxum, do Centro Cultural Coco de Umbigada

É a partir dessa ideia que os produtos e serviços da Colabor@tiva.PE são estruturados. Eles incluem desde a digitalização de saberes e tecnologias locais até a produção de videoclipes de bandas locais, passando por oficinas de capacitação em vídeo e áudio com software livre e produção de eventos culturais. Um exemplo prático apresentado por Mãe Beth de Oxum (foto acima), do Centro Cultural Coco de Umbigada (ligada à colaborativa PE), foi o Contos de Ifa, um site que ensina a cultura afro-brasileira a partir de jogos onde os personagens são orixás (Ogum, Exú, Odé e Obadulaié). Do áudio ao design e a programação, tudo feito em software livre.

colab5

Jader Gama (Puraqué) e Larissa Carreira, da Produtora Colaborativa do Pará, no lançamento do livro “Coralizando”

Hackear a universidade: o caso do Pará

Outro exemplo que vale destacar aqui é o da Colaborativa do Pará e do Coletivo Puraqué, de Santarém. A primeira, criada em 2009, funciona a partir da tecnologia social das colaborativas, e oferece principalmente serviços de formação em software livre e produção de eventos (veja aqui a o portfólio). O segundo nasceu como um laboratório de informática na casa da mãe de Jader Gama, integrante do grupo, no início da década passada, e de aulas básicas de informática passou ao ensino de programação, entrou para as redes da Metareciclagem e dos telecentros, ajudou na organização de encontros regionais como o Fórum Amazônico de Software Livre (FASOL), Fórum Amazônico de Cultura Digital e, sobretudo, colocou a bela e longínqua Santarém, no encontro dos rios Tapajós e Amazonas, oeste do Pará, no mapa da cultura digital brasileira.

Na busca por recursos e sustentabilidade numa região com pouco dinheiro e onde as distâncias dificultam e encarecem a produção de qualquer evento/oficina/encontro, as duas produtoras/coletivos fizeram, de 2010 pra cá, um movimento orquestrado de “hacker a universidade”. Jader Gama e Larissa Carreira – do Puraqué e da Produtora Colaborativa, respectivamente – entraram para o mestrado na UFPA, no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), um centro de pesquisa acadêmico voltado ao desenvolvimento regional da Amazônia. Com membros de uma instituição organizada como o NAEA e ligados à Universidade, tiveram a possibilidade de pleitear verbas de convênios com diversos ministérios do Governo Federal, e partir daí passaram a promover eventos de formação e pesquisa também para o público de fora da universidade, através do grande guarda-chuva de projetos que é a “Extensão Universitária”. Relativamente desprezada dentro da pós-graduação, a extensão é o mecanismo que as universidades brasileiras tem de interagir com a comunidade e sair de seus muros: passam por ela desde eventos culturais até incubadoras tecnológicas, oficinas de formação e outros projetos que promovam a integração do espaço acadêmico com a localidade a qual está inserida.

Foi assim que as produtoras se abrigaram dentro do NAEA, aproveitando-se também da maior possibilidade de interlocução com outras áreas que um raro centro interdisciplinar de pós-graduação como o NAEA, criado em 1973, possibilita. E dessa maneira fizeram diversas oficinas formativas de software livre, de edição de vídeos a cartografias digital, propuseram projetos de pesquisa em seus mestrados relacionados às temáticas de seus trabalhos nas produtoras – Jader sobre transparência pública nos municípios paraenses, Larissa com comunicação comunitária e software livre – e, literalmente, ocuparam a Incubadora de Políticas Públicas da Amazônia, mecanismo de articulação institucional do qual o NAEA, junto de outros institutos de pesquisa e dos governos, faz parte. Vestiram a camiseta oficial da universidade para se relacionar de outra forma com a comunidade ao seu redor, promover a articulação efetiva entre esta mesma comunidade, o poder público e o espaço acadêmico, não raro centrado só em seu mundo – basta ver quantos estudantes de mestrado e doutorado você conhece que fazem algo de extensão.

*

colab7

O II Encontro e a sustentabilidade

Foi também através dessa parceria-ocupação que o NAEA e a UFPA sediaram o II Encontro das Produtoras Colaborativas, entre os dias 19 e 21 de março de 2015. Foi um momento das produtoras se conhecerem melhor, se familiarizar com a tecnologia social, para aquelas que não a usam integralmente, lugar de formação – o 2º dia do evento contou com oficinas variadas – e, também, para promover o debate conceitual e institucional sobre produção cultural e a cultura livre.

Participei da mesa sobre “Extensão e comunicação comunitária”, no sábado pela manhã, junto de Larissa Carreira, da colaborativa de Belém, Eduardo Lima e Pedro Jatobá (mediação), da colaborativa de Pernambuco e Daniel Luis (Umbigada no ar, um dos pontos da Colaborativa PE; foto acima). Falei um pouco da experiência recente da Casa da Cultura Digital Porto Alegre, em especial do Observatorio.cc e dos projetos ligados aos dados abertos (como o Open Data Day e o Hackday Tranporte Público), Daniel e Eduardo falaram das suas, com enfoque maior na experiência de ambos com software livre – Daniel trabalha com áudio e Eduardo com vídeo. Larissa contou de sua pesquisa com comunicação comunitária e da relação da produtora colaborativa com a universidade; um tanto do relato do tópico acima foi baseado em sua fala. Mesa ampla, assuntos diversos, discussão boa.

colab6

Um dos debates mais instigantes foi o que encerrou a manhã de sábado, sobre arranjos produtivos locais, autonomia e políticas públicas. Ricardo Poppi, da Secretaria Geral da Presidência, Ricardo Abramovay (professor da FEA-USP), Lula Dantas (Comissão Nacional dos Pontos de Cultura), Geórgia Haddad Nicolau, do MinC (atualmente na secretaria de políticas culturais, não mais na de economia criativa, que vai ser extinta), mediada por Luana Vilutis (Colaborativa.PE). Outra mesa bastante diversa, que teve por destaque o tom de cobrança que a plateia fez aos dois representantes do governo, Poppi e Geórgia. Ela, em especial, destacou que além de “hackear as políticas públicas”, tema bastante apontado nas questões da plateia e também por Poppi, se faz necessário que a população acompanhe o que está sendo feito no governo, para assim pressionar e cobrar o funcionamento das políticas que são criadas dentro dos mecanismos institucionais e, não raro, se perdem por falta de conhecimento ou de contribuição dos interessados.

Ela citou três temas centrais para acompanhar as políticas culturais do MinC, agora sob o comando do ministro Juca Ferreira, um oásis progressista numa escalação conservadora e reacionária de ministérios feita pelo governo Dilma. São eles: marco regulatório das organizações da sociedade civil (MROSC), que entra em vigor em julho de 2015; o sistema nacional do Procultura, que está para ser aprovado nos próximos meses; e a reforma da Lei de Direitos Autorais (LDA), que vai ser retomada agora com força e precisa de muita articulação da sociedade civil para conseguir barrar o forte (e bem pago) lobby da indústria do copyright – quem acompanha esta página já faz alguns anos sabe da importância de uma atualização da lei dos direitos autorais no cenário da tecnologia digital e da internet no Brasil e no mundo.

Ricardo Abramovay, referência no Brasil quando o assunto é economia colaborativa, trouxe apontamentos sobre o cenário atual: nunca tivemos tantos instrumentos de cooperação social, mas, de fato, estamos sabendo cooperar ou estamos sendo soterrados pela avalanche de informações e ferramentas pasteurizadas que as redes sociais nos jogam diariamente? Uma das falas que mais teve ressonância no encontro, e que se liga à abertura desse post, é a de que o ativismo precisa se organizar a partir da viabilidade econômica. Ele ressaltou a necessidade de pensar em empreendedorismo (no que pese o uso torpe dessa palavra pelos setores mais liberais da administração) para viabilizar ações ativistas, pois esta é um elemento fundamental para dar visibilidade a causas de interesse planetário, especialmente neste momento, que está mais visível do que nunca que o consumo exagerado e a busca por energia para alimentar esse consumo estão destruindo DE FATO o planeta (se ainda tiver dúvida, leia “Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins“, de Eduardo Viveiros de Castro e Déborah Danowski, e tente não se preocupar).

É uma questão polêmica, que muitos ativistas torcem o nariz – anarquistas, então, nem se fala. Mas talvez uma das melhores respostas atuais pra questão que abriu esse texto seja, justamente, a tecnologia social das produtoras colaborativas: ativista, sim, no uso do software livre, na propagação do conhecimento aberto e das culturas populares através das mídias livres e no desenvolvimento de uma economia baseada em produção orgânica e sustentável. Mas também com um pé criativo na relação com o “mercado”, em formas de viabilizar financeiramente a produção da cultura livre, seja através de editais públicos ou de outras formas a serem inventadas, para que não se torne refém de nenhuma forma de financiamento. Buscando, sempre quando possível, relações menos baseada no lucro e mais na colaboração. Utopia? Em construção.

[Leonardo Foletto]

Confira mais algumas fotos do evento na página das colaborativas no ITeia, portal criado para abrigar a produção multimídia de centros culturais nacionais e internacionais, em especial os Pontos de Cultura. Vale conferir também a organização do evento, toda realizada de forma transparente dentro da plataforma corais. O próximo encontro está previsto para 2017, em votação (também no Corais) se em Recife ou Porto Alegre.

]]> https://baixacultura.org/2015/03/24/produtoras-colaborativas-e-uma-tecnologia-digital-social/feed/ 5