#OccupyWallStreet – BaixaCultura https://baixacultura.org Cultura livre & (contra) cultura digital Thu, 02 Feb 2012 17:18:47 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.9 https://baixacultura.org/wp-content/uploads/2022/09/cropped-adesivo1-32x32.jpeg #OccupyWallStreet – BaixaCultura https://baixacultura.org 32 32 Estamos Vencendo: resistência global no Brasil e no Mundo https://baixacultura.org/2012/02/02/estamos-vencendo-e-a-resistencia-global-no-planeta/ https://baixacultura.org/2012/02/02/estamos-vencendo-e-a-resistencia-global-no-planeta/#comments Thu, 02 Feb 2012 17:18:47 +0000 https://baixacultura.org/?p=5746

Bem antes de Charlie Shen adotar o lema “Winning” ou de Mark Zuckerberg pensar em criar o Facebook, um movimento profético se rebelava contra a falência de um sistema (financeiro, político) em pleno coração do capitalismo.

Este movimento – que no subterrâneo existe desde sempre, seja nas mãos dos anarquistas, do movimento estudantil ou dos punks, situacionistas e outras redes culturais – tomou de “assalto” as ruas da capital grunge, Seattle, em 30 de novembro de 1999, na reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio), no que foi conhecido como a “Batalha de Seattle“.

Isso tudo tu já deve saber, pois explicamos brevemente neste texto. O que não falamos é que Seattle foi a ponta de lança de um movimento subversivo –  anticapitalismo, anti-globalização, ou o nome que se queira dar – que se espalhou pelo mundo nos anos seguintes. Especialmente no período de 2000 a 2003, cidades como Washington, nos EUA, Gênova, na Itália, Praga, na República Tcheca, Quebec no Canadá, e São Paulo, no Brasil, foram palco de manifestações contra as múltiplas facetas autoritárias/ maléficas que a $$, o preconceito e o individualismo podem trazer para a sociedade.

No Brasil, uma das melhores referências para entender o que aconteceu é o livro “Estamos Vencendo! – Resistência Global no Planeta“, de Pablo Ortellado e André Ryoki, publicado pela Conrad em 2004 na linda Coleção Baderna. Ele documenta, através das fotos do historiador Andre Ryoki, e reflete, com um texto do hoje professor da USP Pablo Ortellado, como se deram as manifestações “antiglobalização” em terras brasileiras, especialmente aquelas que ocorreram em São Paulo, Fortaleza, Belo Horizonte e Curitiba.

São as fotos do livro que tu encontra mais abaixo nesse post, colocadas em uma galeria do Picasa para facilitar a visualização. Clicando em cada foto, você é direcionado para o Picasa e poderá ver as fotos e as legendas originais que estão no livro.

Cartaz do Adbusters, que esteve em Seattle 1999 e Wall Street 2011

Qualquer semelhança de protestos no “coração” do sistema financeiro que foi (é) Occupy Wall Street não é mera coincidência. Como escrevemos anteriormente, existe (pelo menos) um elo que une estes dois momentos históricos: o Adbusters, revista/movimento anticonsumo com sede no Canadá, que esteve nas manifestações de Seattle em 1999 e convocou o Occupy Wall Street em 2011. [E que, em breve, vai ganhar mais destaque por aqui; aguarde].

Mas também há diferenças bem claras. Naomi Klein, escritora/ativista e autora de “No Logo” (traduzido aqui como “Sem Logo- A tirania das marcas em um planeta vendido“), livro essencial para entender o mundo hoje, fez um discurso no parque Zucotti, em Wall Street, em que ressaltou estas diferenças de alvo, tática e contexto – não sem antes afirmar que “amava” os manifestantes que ali acampavam. Publicamos o discurso na íntegra, em tradução do professor Idelber Avelar, e reproduzimos aqui os trechos em que ela traça o paralelo entre as diferenças entre os dois movimentos:

Em Seattle, em 1999, nós escolhemos as cúpulas como alvos: a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional, o G-8. As cúpulas são transitórias por natureza, só duram uma semana. Isso fazia com que nós fôssemos transitórios também. Aparecíamos, éramos manchete no mundo todo, depois desaparecíamos. E na histeria hiper-patriótica e nacionalista que se seguiu aos ataques de 11 de setembro, foi fácil nos varrer completamente, pelo menos na América do Norte.

O Ocupar Wall Street, por outro lado, escolheu um alvo fixo. E vocês não estabeleceram nenhuma data final para sua presença aqui. Isso é sábio. Só quando permanecemos podemos assentar raízes. Isso é fundamental. É um fato da era da informação que muitos movimentos surgem como lindas flores e morrem rapidamente. E isso ocorre porque eles não têm raízes. Não têm planos de longo prazo para se sustentar. Quando vem a tempestade, eles são alagados.

Mas a grande diferença que uma década faz é que, em 1999, encarávamos o capitalismo no cume de um boom econômico alucinado. O desemprego era baixo, as ações subiam. A mídia estava bêbada com o dinheiro fácil. Naquela época, tudo era empreendimento, não fechamento.

Nós apontávamos que a desregulamentação por trás da loucura cobraria um preço. Que ela danificava os padrões laborais. Que ela danificava os padrões ambientais. Que as corporações eram mais fortes que os governos e que isso danificava nossas democracias. Mas, para ser honesta com vocês, enquanto os bons tempos estavam rolando, a luta contra um sistema econômico baseado na ganância era algo difícil de se vender, pelo menos nos países ricos.

Dez anos depois, parece que já não há países ricos. Só há um bando de gente rica. Gente que ficou rica saqueando a riqueza pública e esgotando os recursos naturais ao redor do mundo.

Rodrigo Savazoni também lembra o discurso de Naomi e a relação Seattle 1999 Wall Street 2011 em um texto na revista Select deste bimestre (que entra no site na próxima semana), que também vale a leitura.

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Como diz o texto de divulgação de “Estamos Vencendo!”, “as fotos destacam três dimensões constitutivas desse novo movimento: a ação direta das ruas, a criatividade auto-expressiva das manifestações e a constituição de um novo tipo de coletividade onde a massa homogênea é substituída pela diversidade individualizada da multidão“. A maioria delas estão aqui abaixo, gentilmente cedidas por André Ryoki, a quem agradecemos imensamente. [O livro está em Copyleft].

“Sobre a passagem de um grupo de pessoas por um breve período da história”, texto de Pablo Ortellado que abre o livro, contextualiza de forma interessantíssima o que ocorreu nas ruas brasileiras daquele início de década passada. Traz inicialmente uma breve explicação de onde e como surgiu o movimento antiglobalização no Brasil – “da convergência de outros dois movimentos que surgiram ou re-emergiram nos anos 1980, o movimento estudantil independente e autogestionário e o movimento anarquista propriamente dito”.

Estas duas vertentes, continua Pablo, “convergiram, mais ou menos casualmente, atraídas pelos fascinantes acontecimentos de Seattle. Mas o movimento, claro, não começou em Seattle, como dizia o slogan das manifestações contra a ALCA em 2001. De fato, Seattle foi a vitrine midiática de um movimento que pode ter muitas origens, mas que, na sua vertente radical, remonta à inspiração da revolta zapatista em 1994 e à articulação dos dias de ação global em 1998.” [Para um estudo aprofundado dessas origens, ler Aproximações ao movimento ‘antiglobalização’“, do próprio Pablo]

A partir dessa contextualização inicial, o doutor em filosofia e hoje professor da USP Ortellado propõe reflexões sobre o movimento em torno de sete eixos: autonomia, anticapitalismo, redes, liderança, auto-expressão, mídias e alternativas. São páginas que todo movimento de hoje deveria ler para se fortalecer enquanto movimento e, principalmente, para aprender com as experiências anteriores, já que o texto é bem sincero e crítico quanto as agruras e maravilhas de se estar num convívio com pessoas diferentes de forma horizontal.

Na parte que trata das redes, por exemplo, ele as diferencia conceitualmente de outras formas semelhantes de organização e aponta características dessa relativamente nova forma de se organizar que são as redes. Uma das características aqui abaixo:

“As redes não precisam se desfazer e refazer a cada oportunidade, elas podem simplesmente adquirir diferentes formatos e composições. Se num determinado momento, um grupo tem um desentendimento pontual, ele não precisa abandonar a rede, mas pode simplesmente não colaborar naquele ponto, da mesma forma que, em momentos específicos, a rede pode incorporar a colaboração extraordinária de novos agentes que se interessam apenas por uma ação específica. Isso significa apenas levar o velho princípio anarquista da livre-associação até a sua conseqüência lógica: a livre dissociação.”

Por questões de espaço (o texto de abertura tem 15 páginas!), não vamos publicar aqui a íntegra. Pela mesma questão de espaço, não publicamos também a cronologia que o livro faz dos acontecimentos da época. Mas todas estas partes que não são fotos e imagens do livro podem ser lidas, baixadas e compartilhadas neste link.

É uma referência histórica importante para entendermos o ativismo do intenso 2011 que passou e do transformador 2012 que está começando.

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DA NECESSIDADE DE CONTINUAR OCUPANDO AS RUAS

[Clique nas fotos para ver o restante da galeria.]

O31, 2002. No dia 31 de outubro de 2002, ministros dos países envolvidos com o projeto da ALCA reuniram-se em Quito, Equador, para mais uma rodada de negociações. Houve manifestações em todo o continente americano. Em São Paulo, os manifestantes organizaram uma passeata desde as escadarias da Casper Líbero na Av. Paulista até o Largo do Patriarca, no centro da cidade. No final do percurso houve distribuição de feijoada vegan para o pessoal que saía do trabalho.

 

SE EU NÃO PUDER DANÇAR, NÃO É MINHA REVOLUÇÃO

 

N9, 2001. Uma rápida parada durante o McLanche Feliz.


MULTIDÃO

J20, 2001


ANEXOS (documentos, panfletos e cartazes de algumas das manifestações que ocorreram no período)

Cartaz de estudantes da USP chamando ao I Fórum Social Mundial em Porto Alegre.

[Leonardo Foletto, Marcelo De Franceschi]

Crédito da imagem: 1 [we are winning] 2 [adbusters]
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Ativismo (digital) em Conexão Global https://baixacultura.org/2012/01/24/ativismo-digital-em-conexao-global/ https://baixacultura.org/2012/01/24/ativismo-digital-em-conexao-global/#comments Tue, 24 Jan 2012 14:08:18 +0000 https://baixacultura.org/?p=6220

O ano é 1999.

O mundo pop assiste ao momentâneo desaparecimento do rock das paradas, que são tomadas por boy e girls band insossas. O planeta econômico vive um de seus auges do livre-comércio, mercado regulando a tudo e a todos e “só” desfavorecendo quem não pode entrar nesse jogo – 99% da população global.

Nos Estados Unidos, a OMC (Organização Mundial do Comércio), todo poderoso orgão do livre-mercado, escolhe Seattle como mais uma de suas reuniões anuais. Em 30 novembro de 1999, data da reunião, um inesperado levante de pessoas – entre 40 e 100 mil, estudantes, anarquistas, trabalhadores, pacifistas, dentre outros tantos – paralizam as ruas da cidade berço do grunge. Os manifestantes bloquearam os cruzamentos de Seattle de modo a não deixar os delegados dos governos chegaram ao local de encontro da OMC. A polícia responde com violência e o encontro é cancelado.

Quem imaginaria que, exatamente no momento em que o tal “poder” estava mais certo de que vencera a tudo e todos, eles apareceriam? Seattle se torna a vitrine de um movimento subversivo – anticapitalismo, anti-globalização, ou o nome que se queira dar – que, nas palavras do sociólogo francês Edgar Morin, inaugura o século XXI.

Corta para 2011. A primavera árabe, Occupy WallStreet e os ocupes que se espalharam pelo mundo, os Indignados da #spanishrevolution. “Cadê aquela juventude de tão saudável apatia?” Nós somos os 99%. De novo: quem imaginaria que, exatamente no momento em que o “poder” estava mais certo de que vencera a tudo e todos, eles apareceriam?

Apareceram. E com uma arma que, lá em 1999, ainda engatinhava em suas potencialidade de uso: a internet.

Conexões Globais, que começa amanhã (25/01) na Casa de Cultura Mário Quintana em Porto Alegre, tenta fazer uma ponte entre estas duas datas (e realidades) importantes. O Conexões está dentro da programação do Fórum Social Temático, versão 2012 para o Fórum Social Mundial criado em 2001, tendo por sede inicial Porto Alegre – e, por uma das inspirações, os movimentos do 30N de 1999 em Seattle.

[O Fórum e o Adbusters, movimento anti-consumo que esteve nas manifestações de Seattle em 1999 e convocou o Occupy Wall Street em 2011, são os possíveis elos perdidos entre os dois períodos.]

Mesmo que fazer a tal ponte não seja o objetivo declarado do evento, o paralelo é inevitável: as movimentações de Seattle em 1999 trouxeram novamente para a pauta do dia (e da “grande mídia”) a revolta contra um sistema (político, econômico) que tinha como principal produto a desigualdade (social, econômica).

O mundo de 2012 é outro. O ano passado trouxe novamente para a pauta do dia a movimentação e a revolta contra um sistema (econômico, social, político) que, como dizem os indignados espanhóis, “não nos representa”. Mas agora há a diferença de que a “grande mídia” não é mais aquela que escolhia sobre o quê todos deveriam falar. Com a rede e os computadores, todos nós, descontentes ou não com a imprensa, podemos noticiar e divulgar o que quisermos – e, tão importante quanto, temos a infinita possibilidade de escolher o que ver.

A internet taí, a diluir as barreiras do on e offline e a favorecer a diferença. É, enfim, a mais poderosa arma para realmente fazer crer o slogan do Fórum: um outro mundo é possível.

O Conexões Globais traz, em sua programação, palestras, desconferências, oficinas, shows e diálogos sobre ativismo, comunicação e cultura digital. Os Diálogos Globais (quarta a sábado, das 16 e 18h15), estabelecerão conexões diretas entre os presentes em Porto Alegre e participantes de movimentos ativistas em voga hoje, como a Primavera Árabe, os Indignados da Espanha, o Occupy em Nova York e Londres.

Além da presença de ativistas que participaram dos movimentos acima, alguns dos destaques da programação são Javier de la Cueva – advogado espanhol, especialista em direitos digitais, defensor do Ladinamo (primeira sentença que reconheceu o Copyleft), na quarta, às 16h15; Gilberto Gil, às 18h15 da mesma quarta, num painel com Olga Rodríguez, jornalista que acompanhou a movimentação da Primavera Árabe;  Stéphane M. Grueso, diretor do doc “¡Copiad, malditos!”, primeiro ducumentário exibido pela TVE (Televisão Espanhola) com licenças Creative Commons, na quinta às 18h15; Domenico de Siena, urbanista italiano que pesquisa o urbanismo e as cidades open codes, dos mais ativos atores no 15 M na Espanha; dentre outros participantes nacionais conhecidos na área da cultura digital, como Sérgio Amadeu, Ivana Bentes, Rodrigo Savazoni, Claudio Prado, Giuseppe Cocco, dentre outros.

[A programação completa do evento, que vai ser transmitido por streaming, você vê aqui].

O Conexões acontece numa hora movimentada para o ativismo digital planetário, principalmente pelos acontecimentos da semana passada. Só um pequeno balanço dos principais fatos da semana passada já rendem alguns parágrafos. Vejamos:

_Blecaute ao SOPA: Um grande número de sites aderiu ao bleucate, nos Estados Unidos e no Brasil. Nos país de Obama, o protesto não contou com os grandões da NetCoalition, Facebook e Google [que chegou a colocar uma tarja preta na homepage de seu site americano e, depois, postou, abaixo da linha de busca, o link “Diga ao Congresso: Por favor, não censure a internet!“], mas foi liderado pela Wikipedia, que em sua versão em inglês mostrava apenas a página acima quando se realizava alguma busca.

Os protestos conseguiram um primeiro objetivo: adiar a votação. O  deputado republicano Lamar Smith, autor da lei, decidiu adiar a votação do projeto até que “haja amplo acordo sobre uma solução”, segundo informações do Terra. O Protect IP Act (PIPA), projeto semelhante em andamento no Senado que seria votado hoje (24/01), também não foi votado. O senador Harry Reid afirmou que adiou em virtude dos “recentes acontecimentos”.

Mas não se engane: o lado de lá está se reorganizando. E vai voltar à carga em breve, “pois o que se conseguiu até aqui foi parar o trator, mas não impedir –de uma vez por todas- a demolição das bases sobre as quais usamos a rede”, como escreveu o professor Sílvio Meira em sua coluna no Terra.

Fechamento do Megaupload: um dos maiores sites de compartilhamento online do mundo, o Mega foi desativado pelo FBI na última quinta-feira (19/01). O fundador do site, o gigante alemão Kim DotCom, e três executivos da empresa foram presos na Nova Zelândia a pedido das autoridades norte-americanas. A acusação diz que o site lesou proprietários de direitos autorais em mais de US$ 500 milhões [Queríamos entender como o cálculo que chega a este número é feito] ao abrigar conteúdo pirateado, particularmente filmes e músicas.

A ação aconteceu um dia depois do blecaute contra o SOPA e PIPA, que estavam em discussão no Congresso dos Estados Unidos

Reação do Anonymous: Em retaliação ao fechamento do MegaUpload, o Anonymous pegou os discos e filmes da Sony/Universal – um dos principais conglomerados de entretenimento que apoia o SOPA – e disponibilizou tudo para download neste site, em torrents ou em outros sites que hospedam arquivos na rede, como o Deposit Files.

Além de uma bela jogada política, a ação do Anonymous facilitou e muito o acesso ao belo acervo da Universal, organizando-o todo em ordem alfabética. Ali tem desde toda a discografia do Pink Floyd a do Michael Jackson, para ficar só em dois nomes clássicos do rock/pop, até diversos filmes recentes do braço de cinema da Universal, divididos por ano de lançamento (de 2001 a 2011; corra até o fim da página para ver os links).

Não foi só isso que o Anonymous andou aprontando: no mesmo dia 19/1, quinta-feira passada, eles derrubaram temporariamente sites de grupos como a Warner até órgãos ligados ao governo norte-americano, como o FBI e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e da França, como o site do Hadopi, nefasta lei que pode cortar o acesso a rede para quem baixar conteúdo supostamente protegido por copyright no país do Asterix.

Sites que o Anonymous “derrubou” em 19/01

Será o início de uma guerra digital global?

A ver.

P.S: Nas próximas semanas, iniciaremos uma série sobre os protestos em Seattle 1999 e os que vieram a ocorrer inspirados por este. 

Créditos fotos: 1 (André Ryoki, Estamos Vencendo!); 2 (OccupyWallStreet); 4 (Wikipedia Blackout); 5 (Anonymous) e 6 (sites derrubados pelo Anonymous)

]]> https://baixacultura.org/2012/01/24/ativismo-digital-em-conexao-global/feed/ 8 Festival CulturaDigital.br https://baixacultura.org/2011/12/01/festival-culturadigital-br/ https://baixacultura.org/2011/12/01/festival-culturadigital-br/#comments Thu, 01 Dec 2011 20:07:06 +0000 https://baixacultura.org/?p=5920

O Festival Cultura Digital.br começa hoje amanhã, no MAM (Museu de Arte Moderna) e no Cine Odeon, no Rio de Janeiro, e vai até domingo, 4 de dezembro – e isso tu já deve saber, claro.

Também tu deve estar sabendo que o Festival é a 3º edição do que era o Fórum da Cultura Digital, e que ele migrou de São Paulo para o Rio – as duas primeiras edições foram realizadas na Cinemateca de SP, como você vê aqui.

O evento mudou de tamanho também: neste ano, teve 358 inscrições na chamada pública para participação nos quatro diferentes espaços (Mostra de experiências de cultura digital, Mão na Massa, Visualidades e Encontros de Redes). Foi feito uma triagem e os selecionados compuserem o grosso da programação, que está dividida em cinco grandes espaços: Arena, Encontro de Rede, Palestras, Laboratório Experimental e Visualidades.

As Palestras são as conferências com grandes nomes da cultura digital – Yochai Benkler, Kenneth Goldsmith, Michael Bauwens, dentre outros – que serão realizadas no Cine Odeon, em plena Cinelândia, centrão do Rio. O restante da programação será nos amplos jardins do MAM-RJ, às margens da Baía de Guanabara. O Caderno TEC, da Folha de S. Paulo, fez uma matéria e um infográfico sobre a extensa e complexa programação do evento, que gentilmente copiamos abaixo:

Se tu quiser escolher o que assistir na programação, a melhor forma é estudar o Guia (baixe aqui) e ver o que lhe agrada. Num evento complexo e onde tudo acontece (quase) ao mesmo tempo como esse, uma planilha do Google Calendar também pode ajudar na escolha do que assistir.

Pra quem não estiver no Rio, as programações das Palestras e da Mostra de Experiências serão transmitidas por streaming, direto no site (culturadigital.org.br/aovivo).

Nós estaremos circulando pelo evento, à deriva, atrás de coisas interessantes para trazer para o BaixaCultura (o que for de imediato publicaremos em nosso Twitter ou Facebook; o que não, nas próximas semanas).

De início, apostamos fortemente na programação da Mostra de Experiência, em coisas do tipo:

 _ ‘Cultural Workers Exchange’, rede de centros culturais independentes que procura abrir canais de troca entre artistas e curadores que trabalhem com mídias digitais na Europa, às 12h25 de sábado

_ “The Deleted City“, instalação de “arqueologia digital” que é um mapa de visualização dos arquivos do extinto Geocities. “A navegação pelo mapa permite a visualização de páginas html e imagens do passado recente da web”, diz a apresentação do projeto que será apresentado às 14h15, também do sábado;

_  “Amigos de Januária“, projeto de jornalismo participativo que está ensinando jovens a usarem ferramentas digitais para o monitoramento da administração municipal na cidade de Januária (MG). Além de técnicas de jornalismo, os participantes do projeto “estão aprendendo como acessar informações sobre o município que já estão disponíveis na internet em bases de dados públicas como Portal da Transparência e DataSUS, por exemplo”, diz a apresentação. Na sexta, às 17h15.

_ AMCV (Alerta Móvil de Contra Vigilância), projeto de um grupo de mexicanos que desenvolveu um aplicativo com mapas e avisos para celulares e uma página web que permite que qualquer pessoa saiba a localização das câmeras de segurança de sua cidade. Na sexta, às 19h15;

_ Hackerspaces: Uma oportunidade para o conhecimento livre em Software e Hardware Livre, em que membros do Garoa Hacker Clube, localizado na Casa da Cultura Digital, apresentam um “passo a passo” para fazer um hackerspace, no domingo às 13h40.

_ E, para encerrar a mostra de experiências, no domingo às 16h50, vale conferir “Bitcoin: A construção da nova economia sem bancos e intermediários”;

Dá pra apostar também que as discussões da Arena vão ser interessantes. Em especial, destacamos “Biohacking: vida e propriedade“, sobre os limites para o avanço das novas tecnologias e os avanços da mobilização social e tecnológica para uma ciência tecnológica e cidadã, um tema tão instigante quanto desconhecido por nós, na manhã de domingo (10h30 às 12h).

Tecnofagia: Cultura Digital e Estéticas Contemporâneas“, que vai debater o eterno mantra “Nada se cria, tudo se copia” e as possibilidades da antropofagia como recriação, diversificação e distribuição da arte e da estética, às 16h30 do domingo.

E o inevitável painel “Ocupações, Revoluções, Redes: Articulação do Movimento Global“, sobre os recentes movimentos da Primavera Árabe, o Ocupe Wall Street e os outros “Ocupe” que estão se espalhando nesse já histórico ano de 2011, às 14 do sábado, 3.

Por fim, não poderíamos de fazer o nosso jabá. “Efêmero Revisitado”, o primeiro produto de nosso selo editorial, será lançado “oficialmente” neste próximo sábado, 3 de dezembro, às 18h30, no espaço Visualidades, logo após a apresentação de Lucas Pretti, do Teatro para Alguém.

Neste mesmo espaço há outras coisas deveras interessantes, tais como:

_ Integrarte/Entregarte, projeto que cria visualizações e sonorizações de movimentos corporais para a criação de uma instalação que explora o corpo no espaço com Kinect e Processing, das 14h às 19h30 da sexta,2 dez.

_ Céu de Palavra – Pipas brancas empinadas no céu durante as três  noites do festival, das 20h às 22h,  enquanto um projetor lança imagens de trechos de poema ao céu. Para lê-los, é preciso controlar as pipas.

_ SufferRosa, aclamado projeto de Dawid Marcinkowski, um produtor audiovisual independente da Polônia. Sufferrosa (2010) é considerado um dos maiores projetos de histórias narrativas online já produzidos – seja lá o que queira significar isso (veja o trailer). Será exibido às 20h de sábado, logo depois da apresentação do “Efêmero”.

_ “Inventário de Sombras“, curiosa perfomance em que um grupo de artistas negocia com os participantes a doação de sua sombra (?), às 11h30 do domingo.

P.s: Os cartazes no corpo do post fazem parte dos “Cartazes Colaborativos“, projeto do Festival que convidou a todos que quisessem fazer  seu cartaz e apresentar para a produção.

Créditos: 123, 45, 6.

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https://baixacultura.org/2011/12/01/festival-culturadigital-br/feed/ 1
O comercial e a propagação do Occupy Wall Street https://baixacultura.org/2011/10/24/o-comercial-e-propagacao-do-occupy-wall-street/ https://baixacultura.org/2011/10/24/o-comercial-e-propagacao-do-occupy-wall-street/#comments Mon, 24 Oct 2011 16:17:34 +0000 https://baixacultura.org/?p=5670

Completados pouco mais de um mês dos protestos que começaram dia 17 de setembro, o movimento Occupy Wall Street – cuja versão em São Paulo sequer foi noticiada na TV – usou de uma nova estratégia para divulgar a causa. Dia 12 de outubro foi publicado no youtube uma propaganda de 30 segundos com depoimentos de diversos manifestantes. A intenção era veicular o vídeo em TVs por assinatura por meio do Google TV Ads, a plataforma digital para divulgação e mensuração de anúncios na TV. Depois de ter sido produzido pelo diretor  David Sauvage e pelo compositor Glenn Grossman, eram necessários 5 mil dólares para a veiculação, que foram arrecadados através de uma campanha no site de crowdsourcing LoudSauce. Conseguiram US$ 6,278.

Abaixo tu pode ver o resultado que foi ao ar, legendado por nós:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=udn6P5kZSXc]

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Apesar dos rumores de dispersão, Occupy Wall Street ganha força no mundo inteiro. Especialmente a partir das manifestações do Global Change, em 15 de outubro, o movimento passou a ser internacional – muitas destas manifestações estão sendo mapeadas e documentadas no site Occupy Together, onde tu pode baixar de grátis o cartaz acima e mais outros tantos disponíveis. A cada semana colaboradores (entidades, organizações, pensadores) de peso se juntam, alastrando o lema “ocupar” para milhares de lugares e causas.

Por exemplo: em Nova York, foi lançado em 20 de outubro o Occupy Museums, que conclama o público a confrontar as regras de “um sistema de arte hierárquico, baseado na falsa escassez e na propaganda”, que visa apenas “o ganho monetário da elite das elites”, como nos conta Giselle Beiguelman, em relato especial para a revista Select. A manifestação dos artistas dos EUA segue na linha de uma dos escritores e aparece quase simultaneamente ao anúncio da convocação da #RobinHood Global March pelos ativistas do Ad Busters para o dia 29 de outubro, véspera do encontro do G20 em Paris.

[A taxa Robin Hood é uma bem humorada (mas ao mesmo tempo muito séria) proposta de taxa que pretende recolher 1% de toda e qualquer transação financeira e monetária para ser aplicado em um fundo e destinado a programas sociais e iniciativas de proteção ambiental.]

No Brasil, 15 de outubro foi a data inicial de diversos protestos/acampamentos em apoio ao Occupy Wall Street e contra a um sistema econômico/político que, definitivamente, não nos representa. Alguns dos mais salientes acampamentos são os de São Paulo e o do Rio de Janeiro; o #ocupario já tem um vídeo de apresentação/convocação:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=0fKhomILE_k&feature=youtu.be]

Enquanto que o #acampasampa, localizado no Vale do Anhangabaú, extremo centro da cidade, já teve participação do rapper de brasília GOG, tem comunidade no Facebook, e, pelo que nos informa a antropóloga hacker Gabriella Coleman, está sendo observado/intimidado por um verdadeiro exército de PM, como mostra a foto abaixo, feita hoje (segunda, 24 de outubro). [NE: Fomos ao #acampasampa na quarta-feira dia 26 e conversamos com os acampados, que nos esclareceram que esta foto diz respeito a uma formatura de PMs, tradicionalmente realizada no vale. Dizem que os formandos foram até parceiros com o #acampasampa. Nada de intimidação, portanto.]

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Por fim, citamos em especial aqui dois discursos em Wall Street que correram as redes e listas mundo afora nas últimas semanas: o de Slavoj Zizek, o prolífico filósofo que, felizmente, teve sua visita ao parque Zucotti registrado em vídeo:

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=oEUZNfOtPlE]

E o de Naomi Klein, uma das principais intelectuais e militantes anticapitalistas do planeta, autora de No Logo, uma crítica das multinacionais e do seu uso do trabalho escravo, e  A Doutrina do Choque: A Ascensão do Capitalismo do Desastre. Idelber Avelar, da Revista Fórum, traduziu o discurso e publicou no site da revista. Republicamos aqui abaixo, na íntegra, porque é uma leitura bonita e importante para entender toda essa chacoalhada planetária que já está tornado esse 2011 um ano histórico para a história recente:

Eu amo vocês.

E eu não digo isso só para que centenas de pessoas gritem de volta “eu também te amo”, apesar de que isso é, obviamente, um bônus do microfone humano. Diga aos outros o que você gostaria que eles dissessem a você, só que bem mais alto.

Ontem, um dos oradores na manifestação dos trabalhadores disse: “Nós nos encontramos uns aos outros”. Esse sentimento captura a beleza do que está sendo criado aqui. Um espaço aberto (e uma ideia tão grande que não pode ser contida por espaço nenhum) para que todas as pessoas que querem um mundo melhor se encontrem umas às outras. Sentimos muita gratidão.

Se há uma coisa que sei, é que o 1% adora uma crise. Quando as pessoas estão desesperadas e em pânico, e ninguém parece saber o que fazer: eis aí o momento ideal para nos empurrar goela abaixo a lista de políticas pró-corporações: privatizar a educação e a seguridade social, cortar os serviços públicos, livrar-se dos últimos controles sobre o poder corporativo. Com a crise econômica, isso está acontecendo no mundo todo.

Só existe uma coisa que pode bloquear essa tática e, felizmente, é algo bastante grande: os 99%. Esses 99% estão tomando as ruas, de Madison a Madri, para dizer: “Não. Nós não vamos pagar pela sua crise”.

Esse slogan começou na Itália em 2008. Ricocheteou para Grécia, França, Irlanda e finalmente chegou a esta milha quadrada onde a crise começou.

“Por que eles estão protestando?”, perguntam-se os confusos comentaristas da TV. Enquanto isso, o mundo pergunta: “por que vocês demoraram tanto? A gente estava querendo saber quando vocês iam aparecer.” E, acima de tudo, o mundo diz: “bem-vindos”.

Muitos já estabeleceram paralelos entre o Ocupar Wall Street e os assim chamados protestos anti-globalização que conquistaram a atenção do mundo em Seattle, em 1999. Foi a última vez que um movimento descentralizado, global e juvenil fez mira direta no poder das corporações. Tenho orgulho de ter sido parte do que chamamos “o movimento dos movimentos”.

Mas também há diferenças importantes. Por exemplo, nós escolhemos as cúpulas como alvos: a Organização Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional, o G-8. As cúpulas são transitórias por natureza, só duram uma semana. Isso fazia com que nós fôssemos transitórios também. Aparecíamos, éramos manchete no mundo todo, depois desaparecíamos. E na histeria hiper-patriótica e nacionalista que se seguiu aos ataques de 11 de setembro, foi fácil nos varrer completamente, pelo menos na América do Norte.

O Ocupar Wall Street, por outro lado, escolheu um alvo fixo. E vocês não estabeleceram nenhuma data final para sua presença aqui. Isso é sábio. Só quando permanecemos podemos assentar raízes. Isso é fundamental. É um fato da era da informação que muitos movimentos surgem como lindas flores e morrem rapidamente. E isso ocorre porque eles não têm raízes. Não têm planos de longo prazo para se sustentar. Quando vem a tempestade, eles são alagados.

Ser horizontal e democrático é maravilhoso. Mas esses princípios são compatíveis com o trabalho duro de construir e instituições que sejam sólidas o suficiente para aguentar as tempestades que virão. Tenho muita fé que isso acontecerá.

Há outra coisa que este movimento está fazendo certo. Vocês se comprometeram com a não-violência. Vocês se recusaram a entregar à mídia as imagens de vitrines quebradas e brigas de rua que ela, mídia, tão desesperadamente deseja. E essa tremenda disciplina significou, uma e outra vez, que a história foi a brutalidade desgraçada e gratuita da polícia, da qual vimos mais exemplos na noite passada. Enquanto isso, o apoio a este movimento só cresce. Mais sabedoria.

Mas a grande diferença que uma década faz é que, em 1999, encarávamos o capitalismo no cume de um boom econômico alucinado. O desemprego era baixo, as ações subiam. A mídia estava bêbada com o dinheiro fácil. Naquela época, tudo era empreendimento, não fechamento.

Nós apontávamos que a desregulamentação por trás da loucura cobraria um preço. Que ela danificava os padrões laborais. Que ela danificava os padrões ambientais. Que as corporações eram mais fortes que os governos e que isso danificava nossas democracias. Mas, para ser honesta com vocês, enquanto os bons tempos estavam rolando, a luta contra um sistema econômico baseado na ganância era algo difícil de se vender, pelo menos nos países ricos.

Dez anos depois, parece que já não há países ricos. Só há um bando de gente rica. Gente que ficou rica saqueando a riqueza pública e esgotando os recursos naturais ao redor do mundo.

A questão é que hoje todos são capazes de ver que o sistema é profundamente injusto e está cada vez mais fora de controle. A cobiça sem limites detona a economia global. E está detonando o mundo natural também. Estamos sobrepescando nos nossos oceanos, poluindo nossas águas com fraturas hidráulicas e perfuração profunda, adotando as formas mais sujas de energia do planeta, como as areias betuminosas de Alberta. A atmosfera não dá conta de absorver a quantidade de carbono que lançamos nela, o que cria um aquecimento perigoso. A nova normalidade são os desastres em série: econômicos e ecológicos.

Estes são os fatos da realidade. Eles são tão nítidos, tão óbvios, que é muito mais fácil conectar-se com o público agora do que era em 1999, e daí construir o movimento rapidamente.

Sabemos, ou pelo menos pressentimos, que o mundo está de cabeça para baixo: nós nos comportamos como se o finito – os combustíveis fósseis e o espaço atmosférico que absorve suas emissões – não tivesse fim. E nos comportamos como se existissem limites inamovíveis e estritos para o que é, na realidade, abundante – os recursos financeiros para construir o tipo de sociedade de que precisamos.

A tarefa de nosso tempo é dar a volta nesse parafuso: apresentar o desafio à falsa tese da escassez. Insistir que temos como construir uma sociedade decente, inclusiva – e ao mesmo tempo respeitar os limites do que a Terra consegue aguentar.

A mudança climática significa que temos um prazo para fazer isso. Desta vez nosso movimento não pode se distrair, se dividir, se queimar ou ser levado pelos acontecimentos. Desta vez temos que dar certo. E não estou falando de regular os bancos e taxar os ricos, embora isso seja importante.

Estou falando de mudar os valores que governam nossa sociedade. Essa mudança é difícil de encaixar numa única reivindicação digerível para a mídia, e é difícil descobrir como realizá-la. Mas ela não é menos urgente por ser difícil.

É isso o que vejo acontecendo nesta praça. Na forma em que vocês se alimentam uns aos outros, se aquecem uns aos outros, compartilham informação livremente e fornecem assistência médica, aulas de meditação e treinamento na militância. O meu cartaz favorito aqui é o que diz “eu me importo com você”. Numa cultura que treina as pessoas para que evitem o olhar das outras, para dizer “deixe que morram”, esse cartaz é uma afirmação profundamente radical.

Algumas ideias finais. Nesta grande luta, eis aqui algumas coisas que não importam:
Nossas roupas.
Se apertamos as mãos ou fazemos sinais de paz.
Se podemos encaixar nossos sonhos de um mundo melhor numa manchete da mídia.
E eis aqui algumas coisas que, sim, importam:
Nossa coragem.
Nossa bússola moral.
Como tratamos uns aos outros.

Estamos encarando uma luta contra as forças econômicas e políticas mais poderosas do planeta. Isso é assustador. E na medida em que este movimento crescer, de força em força, ficará mais assustador. Estejam sempre conscientes de que haverá a tentação de adotar alvos menores – como, digamos, a pessoa sentada ao seu lado nesta reunião. Afinal de contas, essa será uma batalha mais fácil de ser vencida.

Não cedam a essa tentação. Não estou dizendo que vocês não devam apontar quando o outro fizer algo errado. Mas, desta vez, vamos nos tratar uns aos outros como pessoas que planejam trabalhar lado a lado durante muitos anos. Porque a tarefa que se apresenta para nós exige nada menos que isso.

Tratemos este momento lindo como a coisa mais importante do mundo. Porque ele é. De verdade, ele é. Mesmo.

Crédito da foto: 1, 2, 3.

[Marcelo De Franceschi. Leonardo Foletto]

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Nós somos os 99%: Occupy Wall Street https://baixacultura.org/2011/10/03/nos-somos-os-99-occupy-wall-street/ https://baixacultura.org/2011/10/03/nos-somos-os-99-occupy-wall-street/#comments Mon, 03 Oct 2011 13:31:51 +0000 https://baixacultura.org/?p=5499

A esta altura tu certamente já ouviu falar do #OccupyWallStreet, manifestações/protestos no coração do Império E.U.A que acontecem desde 17 de setembro inspiradas pelas revoltas pró-democracia na África e o Oriente Médio.

[Não ouviu? Então talvez tu tenha como principal fonte de informação a televisão e alguns jornais, que nada noticiaram a respeito.]

O Occupy Wall Street é um movimento sem líderes que surgiu para protestar de forma não violenta contra o sistema capitalista, a corrupção e a favor da democracia e da liberdade. Foi convocado em julho deste ano através da organização anticonsumista Adbusters, e desde 17 de setembro tem reunido milhares de pessoas nas proximidades de Wall Street, rua que é o coração financeiro dos Estados Unidos (e consequentemente do mundo), em Nova York.

O protesto começou pacífico, como queriam os organizadores. Mas logo a polícia de Nova York tratou de querer “botar ordem” na coisa. Só no último sábado, 1º de outubro, foram presos cerca de 700 manifestantes que bloqueavam a ponte do Brooklyn, um dos principais acessos a Manhattan, a ilha que ocupa o centro de Nova York. Antes disso, a polícia chegou a usar spray de pimenta nos manifestantes.

Polícia se prepara para prender manifestantes na ponte do Brooklyn

Uma semana antes, polícia usa spray de pimenta para "reprimir" manifestantes

A crescente resposta truculenta da polícia dos EUA tem provocado o efeito de alastrar o movimento para além de Wall Street. Diante das prisões de sábado, o sindicato nacional dos trabalhadores do setor siderúrgico (USW), com 1,2 milhões de filiados, declarou seu apoio ao Occupy Wall Street. Os mariners do Exército Americano anunciaram, via página no Facebook, que vão a Wall Street proteger os manifestantes. Também no sábado, cidades como Los Angeles, Seattle, Albuquerque, Chicago e Boston realizaram manifestações de apoio ao movimento.

Alguns “famosos” também têm entrado na luta. O diretor Michael Moore, a atriz Susan Sarandon e o empresário do rap Russel Simmons foram ver os manifestantes no Parque Zucotti, na vizinhança da Bolsa de Valores de Nova York, onde estão acampados a maior parte dos manifestantes. No sábado 1º de outubro, surgiram boatos de que o Radiohead ia fazer um show para os manifestantes, o que não se confirmou. Mas virou um “hoax” que acabou juntando mais gente no parque Zucotti e chamou mais atenção ainda para a causa.

Cartaz convocando para o início dos protestos, em 17 de setembro

Occupy WallStreet começa a ganhar outras cidades

Susan Sarandon com os manifestantes

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No trecho do texto Por quê? de uma das páginas que dá suporte ao movimento, podemos entender melhor quais são as principais motivações que originaram o protesto (e no vídeo a seguir, um panorama do clima do evento):

As pessoas que vêm para Wall Street em 17 de setembro, vêm por várias razões, mas o que une todos elas é a oposição ao princípio que passou a dominar não só a nossa vida econômica, mas a nossa vida inteira: o lucro acima de tudo. (…) O mundo não tem que ser dessa maneira. Uma sociedade de crueldade e isolamento pode ser confrontada e substituída por uma sociedade de cooperação e comunidade. Os cínicos dirão que este mundo não é possível. Que as forças dispostas contra nós ganharam e sempre vencerão e, talvez, devam sempre ganhar. Mas eles não são deuses. Eles são seres humanos, como nós. Eles são um produto de uma sociedade que recompensa o comportamento que nos trouxe para onde estamos hoje. Eles podem ser confrontados. E mais, eles podem ser alcançados. Eles só precisam nos ver. Ver além das etiquetas de preços que levamos. E se eles são deuses? Então seremos Prometeu. E vamos rir pois estamos amarrados à pedra para esperar a águia.

[Valeu @araceletorres pela tradução e pelo empréstimo desse parágrafo acima, retirado de seu blog, Cibermundi)

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=bouY663RzQI&feature=player_embedded#!]

Já que os compromissados meios de comunicação de massa não falam quase nada do #ocuppywallstreet, convém ficar ligado na rede para se informar. Escolha sua(s) fonte(s) abaixo e acompanhe tudo:

_ Site “oficial” [ou o mais completo] – http://occupywallst.org/

_ Twitter: @OccupyWallSt

[No Brasil, o parceiro @josemurilo tem acompanhado direto os protestos, sempre com links interessantes, assim como o Bruno Torturra, também conhecido como diretor de redação da TRIP – que, nesta segunda 3 de outubro, vai entrevistar alguns dos manifestantes no “Segunda Dose”, programa que comanda na PósTV ]

_ Hashtags: #OccupyWallStreet [twitter, tumblr] #TakeWallStreet [twitter, tumblr]

_ Live stream: http://www.livestream.com/globalrevolution

_ Facebook: https://www.facebook.com/event.php?eid=144937025580428

_ Tumblr: http://occupywallstreet.tumblr.com/

[Há também o We Are the 99 percent, que traz alguns dos apoiadores dos protestos explicando, em cartinhas escritas a mão, o porquê de protestar]

_ Wikipedia [Sim, o verbete da Wikipedia em inglês tá atualizadíssimo, mostrando como até mesmo a Wikipedia pode ser um bom evento pra coberturas desse tipo].

Atualização 4/10: Saiu o primeiro comunicado oficial do #occupywallstreet. E também a sua tradução para o português, a cargo de Idelber Avelar, publicado na Revista Fórum e reproduzido aqui abaixo:

Este comunicado foi votado unanimemente pelos membros do Ocupar Wall Street, por volta das 20:00 do dia 29 de setembro. É nosso primeiro documento oficial. Temos outros três em preparação, que provavelmente serão lançados nos próximos dias: 1) uma declaração de demandas do movimento; 2) princípios de solidariedade; 3) documentação sobre como formar o seu próprio Grupo de Ocupação de Democracia Direta.

Este é um documento vivo. Você pode receber uma cópia oficial da última versão pelo e-mail c2anycga@gmail.com.

Ao nos reunirmos em solidariedade para expressar um sentimento de injustiça massiva, não devemos perder de vista aquilo que nos reuniu. Escrevemos para que todas as pessoas que se sentem atingidas pelas forças corporativas do mundo saibam que somos suas aliadas.

Unidos como povo, reconhecemos a realidade: que o futuro da raça humana exige a cooperação de seus membros; que nosso sistema deve proteger nossos direitos e que, ante a corrupção desse sistema, resta aos indivíduos a proteção de seus próprios direitos e daquElas de seus vizinhos; que um governo democrático deriva seu justo poder do povo, mas as corporações não pedem permissão para extrair riqueza do povo e da Terra; e que nenhuma democracia real é atingível quando o processo é determinado pelo poder econômico. Nós nos aproximamos de vocês num momento em que as corporações, que colocam o lucro antes das pessoas, o interesse próprio antes da justiça, e a opressão antes da igualdade, controlam nosso governo. Nós nos reunimos aqui, pacificamente, em asssembleia, como é de direito nosso, para tornar esses fatos públicos.

Elas tomaram nossas casas através de um processo de liquidação ilegal, apesar de que não eram donos da hipoteca original.
Elas receberam impunemente socorro financeiro tirado dos contribuintes, e continuam dando bônus exorbitantes a seus executivos.
Elas perpetuaram a desigualdade e a discriminação no local de trabalho, baseados em idade, cor da pele, sexo, identidade de gênero e orientação sexual.
Elas envenenaram a oferta de comida pela negligência e destruíram a agricultura familiar através do monopólio.
Elas lucraram com a tortura, o confinamento e o tratamento cruel de incontáveis animais não-humanos, e deliberadamente escondem essas práticas.
Elas continuamente arrancaram dos empregados o direito de negociar melhores salários e condições de trabalho mais seguras.
Elas mantiveram os estudantes reféns com dezenas de milhares de dólares em dívidas pela educação, que é, em si mesma, um direito humano.
Elas consistentemente terceirizaram o trabalho e usaram essa terceirização como alavanca para cortar salários e assistência médica dos trabalhadores.
Elas influenciaram os tribunais para que tivessem os mesmos direitos que os seres humanos, sem qualquer das culpabilidades ou responsabilidades.
Elas gastaram milhões de dólares com equipes de advogados para encontrar formas de escapar de seus contratos de seguros de saúde.
Elas venderam nossa privacidade como se fosse mercadoria.
Elas usaram o exército e a polícia para impedir a liberdade de imprensa.
Elas deliberadamente se recusaram a recolher produtos danificados que ameaçavam as vidas das pessoas, tudo em nome do lucro.
Elas determinaram a política econômica, apesar dos fracassos catastróficos que essas políticas produziram e continuam a produzir.
Elas doaram enormes quantidades de dinheiro a políticos cuja obrigação era regulá-las.
Elas continuam a bloquear formas alternativas de energia para nos manter dependentes do petróleo.
Elas continuam a bloquear formas genéricas de remédios que poderiam salvar vidas das pessoas para proteger investimentos que já deram lucros substanciais.
Elas deliberadamente esconderam vazamentos de petróleo, acidentes, arquivos falsificados e ingredientes inativos, tudo na busca do lucro.
Elas deliberadamente mantiveram as pessoas malinformadas e medrosas através de seu controle da mídia.
Elas aceitaram contratos privados para assassinar prisioneiros mesmo quando confrontadas com dúvidas sérias acerca de sua culpa.
Elas perpetuaram o colonialismo dentro e fora do país.
Elas participaram da tortura e do assassinato de civis inocentes em outros países.
Elas continuam a criar armas de destruição em massa para receber contratos do governo.

 Para os povos do mundo,

Nós, a Assembleia Geral de Nova York que ocupa Wall Street na Praça Liberdade, os convocamos a que façam valer o seu poder.

Exercitem o seu direito a assembleias pacíficas; ocupem os espaços públicos; criem um processo que lide com os problemas que enfrentamos; e gerem soluções acessíveis a todos.

A todas as comunidades que formem grupos e ajam no espírito da democracia direta, nós oferecemos apoio, documentação e todos os recursos que temos.

Juntem-se a nós e façam com que suas vozes sejam ouvidas.

Estas demandas não são exaustivas.

*

Créditos fotos: 1; 2-3-4; 5-6; 7-8-9-10-11;
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