história da internet – BaixaCultura https://baixacultura.org Cultura livre & (contra) cultura digital Tue, 05 Sep 2023 17:30:09 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.9 https://baixacultura.org/wp-content/uploads/2022/09/cropped-adesivo1-32x32.jpeg história da internet – BaixaCultura https://baixacultura.org 32 32 “Morozovpalooza”: cibernética, imaginário e soberania digital no Brasil https://baixacultura.org/2023/09/04/morozovpalooza-cibernetica-imaginario-e-soberania-digital-no-brasil/ https://baixacultura.org/2023/09/04/morozovpalooza-cibernetica-imaginario-e-soberania-digital-no-brasil/#comments Tue, 05 Sep 2023 01:21:31 +0000 https://baixacultura.org/?p=15327  

O bielorusso Evgeny Morozov, um dos principais pensadores de tecnologia da atualidade, visitou o Brasil nos últimos dias de agosto e nos primeiros de setembro. Para quem acompanha a discussão tecnopolítica no Brasil, isso não é uma novidade – é inclusive provável que, sendo morador de São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília, você que lê este texto também tenha estado com ele e/ou tenha visto suas falas. Entre encontros fechados e abertos, só em São Paulo ele se reuniu com organizações da sociedade civil (articulado pela Coalizão Direitos na Rede), pesquisadores acadêmicos (USP, UFABC, PUCSP, FGV) da área de tecnopolítica, IA e soberania digital; movimentos sociais [Núcleo de Tecnologia do MTST e a equipe de comunicação do MST]; além de uma palestra pública [Desafiando o poder das Big Techs: soberania tecnológica e futuros digitais alternativos] a convite do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) no auditório da FECAP. Em Brasília, se encontrou com some of the coolest” deputados brasileiros, com o Ministro do STF Luís Roberto Barroso, a ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, e sua equipe; com membros da Anatel, a Agência Nacional de Telecomunicações [veja neste vídeo disponível no YouTube]; além de dar outra palestra [Contestando o poder das Big Techs: soberania tecnológica e futuros digitais alternativo], agora na Faculdade de Comunicação da UNB. Sua tour ainda segue com (pelo menos) uma atividade no Rio [“How does any work get done in a city like this? And this is supposed to be winter!postou ele no Twitter junto de uma foto da Praia de Botafogo com Pão de Açúcar ao fundo]: uma entrevista e um seminário a partir do “The Santiago Boys” – seu último trabalho, um podcast de 9 episódios de 1h sobre a experiência do Cybersin, uma espécie de internet pré-internet criada sob o governo socialista de Salvador Allende no Chile nos anos 1970. A atividade foi realizada na sede da FGV e, além da entrevista, contou com um colóquio muito interessante com diversos participantes, entre eles Sarita Albagli (IBICT-UFRJ), Luca Belli (FGV CTS, organizador do evento), Marcos Dantas (UFRJ), Estela Aranha (Secretária especial de políticas digitais do Governo Lula) e Tatiana Roque (professora da UFRJ, hoje Secretaria de Ciência e Tecnologia do Rio).

Depois, “Morozovpalooza” vai ao Chile e a Argentina. No primeiro, vai debater seu podcast no país onde a história se passa – sua conferência por lá se chama “Utopia Cibernética en el Chile de La Unidad Popular” e vai coincidir com a abertura de uma exposição chamada “Cómo diseñar una revolución: La vía chilena al diseño”, organizada por, entre outros, Eden Medina, professora associada de STS (Science, Technoloy and Society) no MIT e autora de “Cybernetic Revolutionaries: Technology and Politics in Allende’s Chile”, lançado em 2011, talvez o primeiro livro a recuperar toda a história do Cybersin – e referência fundamental para o podcast de Morozov.

Estivemos com ele em  três ocasiões de São Paulo, com os três chapéus que o editor deste espaço carrega na vida. Inevitável pensar como às vezes precisamos (e até quando?) de alguém de fora, que circula por diversos países do mundo (e fala 8 línguas, inclusive o português), para potencializar encontros onde nos encontramos, nos escutamos e pensamos em formas de agir juntos, em prol de soberania digital, outros imaginários tecnológicos (e de mundo) e de uma inovação que de fato melhore a vida de muito mais pessoas. Sobre este último ponto, vale lembrar que movimentos sociais e coletivos (como o MST e o MTST) também fazem inovação, como fez a Tatiana Dias em seu relato sobre o encontro com os movimentos no The Intercept Brasil, citando Morozov: “As pessoas inovam, instituições inovam, acadêmicos inovam sem ter que depender de startups do Vale do Silício. Eu acho que normalmente não enxergamos a quantidade de inovação que realmente acontece ao nosso redor todos os dias. (..) “A inovação não é apenas competição capitalista. Ela pode ser guiada pela solidariedade, por problemas reais que as pessoas vivenciam”. E, nesse contexto, os movimentos sociais podem propor um contraprojeto para o modelo padrão neoliberal”.

 

SOBERANIA DIGITAL POPULAR

Encontro de Morozov com Núcleo de Tecnologia do MTST, integrantes do MST e ativistas em São Paulo

A vinda de Morozov proporcionou também uma janela para discutir, novamente, a soberania digital, agora na mídia tradicional e também no governo. Digo novamente porque quem acompanha este espaço e a discussão em torno da tecnopolítica e o software livre no Brasil sabe que essa é uma discussão antiga no país – e que foi atualizada, no contexto de hoje de desinformação e plataformização geral, também a partir Carta de emergência para a soberania digital, lançada na violenta campanha eleitoral de 2022. Os três primeiros pontos já dão uma mostra de como a carta aponta para o que Morozov anda dizendo em sua passagem pelo Brasil:

1- Criar uma infraestrutura federada para a hospedagem dos dados das universidades e centros de pesquisa brasileiros conforme nossa LGPD.

2- Formar, nessa infraestrutura federada, frameworks para soluções de Inteligência Artificial, seja para o setor público ou privado.

3- Incentivar e financiar a criação de datacenters que envolvam governos estaduais, municípios, universidades públicas e organizações não-governamentais, que permitam manter dados em nosso território e aplicar soluções IA que estimulem e beneficiem a inteligência coletiva local e regional.

A entrevista da Folha de S. Paulo aponta, já pelo seu título, exatamente pra isso: criação de infraestrutura pública. Um trecho: 

“Voltamos ao debate clássico sobre dependência e desenvolvimento que vem acontecendo nesta região desde a década de 1960. Mas, agora, a dependência pode se tornar cada vez mais aguda. Antes, quando você tinha que construir uma fábrica de carros, podia escolher entre empresas de vários países, Peugeot, Fiat, Volkswagen, General Motors e outras. Agora, as opções são bem mais limitadas —Amazon, Microsoft e Google, todas dos EUA. E se os EUA decidem que, por algum motivo, um país não é mais um aliado e passa a cobrar o dobro, triplo ou quádruplo do preço? Por isso fiquei muito encorajado quando reverteram a decisão tomada sob [Jair] Bolsonaro de fechar a fábrica de semicondutores Ceitec.

Quando se trata, por exemplo, de grandes modelos de linguagem, por que Sam Altman e a OpenAI fariam um trabalho melhor com IA generativa em português do que vocês? Se não houver um projeto que crie uma IA generativa de propriedade pública e que esteja no Brasil, tudo o que for de acesso aberto, criado com a ideia de beneficiar a humanidade, acabará beneficiando em grande parte a OpenAI. 

Uma organização brasileira tem se destacado nas discussões e práticas sobre o tema: o MTST, a partir do excelente trabalho realizado pelo seu Núcleo de Tecnologia. Segundo seus integrantes em texto publicado na Jacobin Brasil, “o coletivo reúne trabalhadores como engenheiros de software, designers e analistas de sistemas para bater de frente com a hegemonia ideológica do Vale do Silício no mundo da Tecnologia da Informação”. Atualmente, trabalha em três frentes: 1) desenvolvimento de softwares populares; 2) formação, especialmente a partir de cursos de programação a partir de métodos de educação popular com base em Paulo Freire; 3) discussões de políticas públicas em relação à tecnologia. Detalhes sobre o funcionamento do Núcleo de Tecnologia podem ser encontrados em uma cartilha sobre soberania digital produzida pelo movimento.

Encontro do curso de educadores populares em tecnologia do MTST, realizado em setembro de 2023 em São Paulo

Rafael Grohmann, que tem pesquisado o coletivo há algum tempo, escreveu no Outras Palavras que “o que o MTST tem feito é uma combinação de reapropriação de tecnologias em prol da classe trabalhadora, oportunidades de renda, organização de trabalhadores de diferentes setores e luta por soberania popular – tudo isso construído desde um forte movimento social. Um exemplo de como essas dimensões se encontram é o projeto Contrate Quem Luta. Um assistente virtual para WhatsApp conecta trabalhadores sem-teto a pessoas que precisam de serviços de trabalhadoras domésticas, caminhoneiros, pedreiros, pintores, e outras atividades da construção civil. Mais do que um GetNinjas do MTST, o Contrate Quem Luta é a concretização de uma tecnologia de propriedade de trabalhadores”. Há, claro, muito o que aprimorar nesse processo, a começar pelo uso do WhatsApp pra isso, uma empresa da Meta – que infelizmente está presente na maioria dos celulares do país e não raro é a única opção de comunicação, dado uma série de políticas erradas que culminam no Zero Rating praticado pelas operadoras que fornecem “zap grátis”. Mas o MTST sabe que o WhatsApp ser o primeiro passo para a organização não significa fechar tudo nele mesmo – inclusive para não intensificar dependências infraestruturais com as grandes empresas de tecnologia. O foco – e a força – reside na organização.

 

CYBERSIN E OS IMAGINÁRIOS POLÍTICOS

Escrevi nesse texto, com Daniel Santini e Joyce Souza, que Morozov nos lembrou que precisamos pensar para além da regulação das tecnologias digitais. Não que este debate não seja importante; é, mas sua chamada é para construir também alternativas para um mundo tecnológico, onde seja possível avançar com imaginários que criam uma mentalidade da relação do homem com a tecnologia para além das mediações neoliberais. “A regulamentação é importante, mas não podemos apenas discutir o que fazer com relação ao WhatsApp ou ao Facebook. Precisamos pensar o que fazer a respeito dessas enormes infraestruturas digitais que empresas privadas estão vendendo de volta às instituições públicas e aos cidadãos”, disse em entrevista à Folha de S.Paulo. Fala reiterada também em suas conversas entre uma caminhada pela Barra Funda (“não conheço nada dessa região, ele é pobre?’, perguntou, no que respondemos que ela está mais para “popular”) e um almoço pesado com Baião de Dois num boteco nordestino simples e gostoso da região.

Sala retrofuturista projetada para a Cybersin no Chile de Salvador Allende nos anos 1970. Fonte: Wikipedia

Por conta de lembrar dos novos imaginários para a internet é que ele recupera a história do Cybersin no Chile de Allende. O projeto, que nunca chegou a funcionar de fato, era ambicioso e revelador da forma como o executivo de Allende encarava o potencial tecnológico. A ideia passava por criar um sistema que permitisse ligar as dezenas de fábricas do estado chileno a um sistema central de controle — na sala retrofuturista da imagem logo acima— permitindo a coleta e o tratamento de dados em tempo real e tomadas de decisão apoiadas por um sofisticado software. Mas as questões que o podcast nos apresenta vão muito para além desta dimensão:

“Como sistema excêntrico de gestão cibernética, é louvável e interessante. Mas como uma forma de potenciar uma abordagem completamente diferente ao desenvolvimento industrial — feita de forma socialista, mas com a democracia presente — poderia ter-nos dado um equivalente à Coreia do Sul ou a Taiwan, ou a qualquer um destes países do Sudeste Asiático, que celebramos nos anos 70 e 80 como os centros de desenvolvimento tecnológico, só que com um modelo muito diferente, sem o autoritarismo militar de direita que o acompanhou”, comenta Morozov em entrevista à publicação portuguesa Shifter.

Morozov acredita que é necessário propor outras narrativas e mitos para se opor aqueles já bem conhecidos ligados ao empreendedorismo startupeiro do Vale do Silício. Daí também a escolha do podcast como produto final de sua investigação, mais palatável a audiências maiores do que um livro ou artigos em publicações jornalísticas, e também as negociações para transformar The Santiago Boys em filme.

Magaly Prado, jornalista e pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados da USP, presente no encontro com acadêmicos já citado, recuperou um pouco de sua fala neste tema: “Eles [neoliberais startupeiros do Vale do Silício] também conseguiram produzir uma mitologia muito poderosa. Existe uma mitologia de que os ‘Chicago Boys’ fazem milagres econômicos e as pessoas continuam acreditando que isso é realmente um milagre de algum tipo”. Para Morozov, é uma questão de exercitar uma contramitologia de forma que as pessoas comuns possam se identificar, motivadas pela lógica do drama, com personagens envolventes. Desse modo, as pessoas podem “se identificar com o drama e a tragédia de uma forma com que você não consegue se relacionar com alvos abstratos”.

Em The Santiago Boys, ele quis contar a história de forma diferente. “Fui movido, enquanto intelectual público, por um conjunto de preocupações com o futuro e não apenas com o passado. E isso, claro, influencia a forma como leio o passado, porque leio o passado com a visão do presente e do futuro”, disse. O mapeamento deste universo durou mais de 2 anos, o primeiro dos quais numa investigação livre, muito antes de surgir o título que une todas as pontas. Morozov descreveu este processo ao Shifter como uma espécie de malabarismo, e nomeia alguns dos objetos principais deste truque: “Queria juntar a cibernética, a teoria da dependência, e a Guerra Fria, e daí fazer emergir uma história, sem perder de vista o Fernando Flores e o Stafford Beer como dois protagonistas principais deste tema coletivo.”

 

Stafford Beer em Santiago, Chile, em 1972. Crédito : Gui Bonsiepe, 2006

 

A CIBERNÉTICA E A COMPLEXIDADE DE STAFFORD BEER

Stafford Beer e a cibernética merecem um destaque a parte. Nas palavras do bielorusso, “na cultura popular a cibernética tornou-se I.A. Houve um esforço deliberado de pessoas como Marvin Minsky, e outros, para pegar na herança da cibernética e criar um paradigma completamente diferente em torno desta. E o que Minsky estava fazendo era uma continuação do trabalho de McCulloch, um neurofisiologista muito interessado no cérebro e que basicamente foi co-autor de um paper fundacional das redes neuronais”. Mas nessa época, havia também Stafford Beer. Figura excêntrica, de família nobre inglesa, adorador de empanadas e carrões, como lembra Morozov com alguma frequência no podcast, ele também era um grande teórico cibernético na época quando foi convidado por Fernando Flores, o outro dos principais “Santiago Boys” da história, para ir ao Chile. Beer tivera uma longa e ocupada carreira nos anos 1950 e 1960 na teorização e na aplicação dos métodos de gestão oriundos da cibernética. “Ele tinha uma ideia de como gerir uma fábrica de aço perfeita e trouxe-a para o Chile. Ali viu que podiam gerir, com o mesmo modelo, uma fábrica de fruta ou uma fábrica têxtil”, afirma Morozov em entrevista ao Shifter. 

Beer desafiou os limites da cibernética ao ponto de criar a sua própria disciplina, chamada Gestão Cibernética, “uma mistura estranha de investigação operacional, cibernética e controle estatístico de processos”. O nobre inglês via na estatística não só uma forma de olhar para o passado para informar decisões, mas como uma campo de simulação para possíveis futuros: “Não precisamos de reduzir a complexidade, podemos utilizar os computadores para a gerir”, dizia Beer, que deixou suas ideias em muitos livros, entre eles o excelente “Designing Freedom” (1974).

O cientista inglês acreditava que nem a complexidade tinha de ser rejeitada, nem o mercado tinha de ditar as regras e moldar a tecnologia. Em vez disso, a tecnologia poderia ser moldada de forma que a complexidade pudesse gerar para todos os envolvidos— e criar infraestruturas para fazer essa transição devia ser uma das prioridades.

Stafford Beer esquematizou assim, em 1973, algo próximo do que hoje conhecemos como Capitalismo de Vigilância. Fonte: Shifter

A TEORIA DA DEPENDÊNCIA E OS “VILÕES” DA HISTÓRIA

Em sua pesquisa sobre o Cybersin, Morozov voltou seu olhar para os anos 1960 e 1970 da América Latina e reconheceu a importância da Teoria da Dependência. Gestada na América Latina e popular nesse período, a partir de autores como André Gunder Frank, Rui Mauro Marini e Fernando Henrique Cardoso, a teoria entende que a caracterização de países como “atrasados” decorre da relação do capitalismo mundial de dependência entre países “centrais” e países “periféricos – algo que, agora, se dá também a partir das empresas do Vale do Silício, que assumiram um papel-chave em um novo jogo de relações de poder econômico, político e internacional, onde os governos se encontram cada vez mais reféns de suas soluções.

Uma das mensagens principais da teoria da dependência, segundo Morozov, é a de que o progresso tecnológico pode conter elementos reacionários. Que podemos ter tecnologias cada vez mais recentes, mais rápidas e mais brilhantes, mas que, no entanto, atrasarão o desenvolvimento económico de um determinado país e resultarão em problemas políticos e econômicos maiores – pelo menos para algumas regiões do mundo.

Trecho da reportagem do Shifter: 

“Os teóricos da dependência diziam que a industrialização, se for feita nos termos do norte global, acaba por criar dependências. Por criar a necessidade de comprar patentes, de pagar por direitos de autor e marcas registadas para que as fábricas funcionem” continua a sua reflexão, ilustrando como hoje os termos podem ser diferentes. “Se não construirmos a nossa própria tecnologia, vamos ter sempre tecnologia estrangeira. E isso foi essencialmente o que aconteceu antes e está a acontecer agora, com a Inteligência Artificial, a computação em nuvem, o 5G e todas essas infraestruturas dominadas por um punhado de players.”

Em The Santiago Boys, também há um “vilão” na história – ou a original big tech, como chamou Morozov: a ITT (International Telephone & Telegraph). Para além do conluio com as forças de inteligência dos Estados Unidos, Morozov relata as táticas de subversão usadas pela ITT ao apoiar os opositores de Allende. “Houve uma série de ataques terroristas. Por isso, as pessoas que agora pensam que estamos a viver a era do techlash, porque as pessoas estão a escrever tweets furiosos, ainda não viram nada sobre o techlash. O verdadeiro techlash é muito mais forte”, disse ao Shifter.

Durante toda a estada de Morozov pelo Brasil, algo pareceu evidente: não há soluções prontas, ou mágicas, para resolver a soberania digital, a dependência tecnológica e o desafio que às Big Techs trazem para o planeta hoje. Há alguns exemplos do passado, que trazidos ao contexto do presente podem dar alguma luz nos caminhos a seguir. O certo é que a capacidade que o bielorusso demonstrou nestes dias para ouvir e articular diferentes movimentos, pessoas e organizações nos lembra de elementos (soberania, autonomia, liberdade) que são importantes e inspiradores para tentar construir um futuro digital menos injusto e apocalíptico. 

Como nós (e ele) já escrevemos por aqui:uma política “pós-solucionista deveria começar acabando com o binário artificial entre a ágil startup e o ineficiente governo que limita nossos horizontes políticos. Se escolher um modo de vida (?) digital entre a versão neoliberal Made in Syllicon Valley ou a tecno-autoritária do Extremo Oriente são nossos únicos caminhos hoje, taí um sinal urgente de que precisamos ampliar nossos horizontes”.

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PARA CONHECER MAIS SOBRE O CYBERSIN, vale ler também este texto na Jacobin escrita por Eden Medina, além do livro já citado “Cybernetic Revolutionaries: Technology and Politics in Allende’s Chile” (vai no link lá em cima para baixar o livro, mas não espalha).

 

Encontro de pesquisadores acadêmicos com Morozov, 30/8/23, na USP. Crédito: Agência de Comunicação, ECA-USP.

 

Morozov em reunião organizada pela Coalizão Direitos na Rede, com mediação de Ana Mielke, do Intervozes, e Leonardo Foletto. Crédito: Daniel Santini

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14 anos de BaixaCultura https://baixacultura.org/2022/09/15/14-anos-de-baixacultura/ https://baixacultura.org/2022/09/15/14-anos-de-baixacultura/#comments Thu, 15 Sep 2022 18:00:11 +0000 https://baixacultura.org/?p=14899 Acredita se quiser: setembro de 2022 é o mês em que completamos 14 (!) anos

Em 15 de setembro de 2008, o post que inaugurava esse espaço usava o documentário “Good Copy, Bad Copy” para fazer uma espécie de manifesto do que pensávamos sobre toda a questão da livre circulação de cultura na rede. Um trecho:

Os argumentos falaciosos [da Indústria Cultural que criminaliza o download] mascaram o problema do acesso com a histeria em torno da violação de direitos e do lucro indevido, sem nenhuma vergonha do anacronismo ademais antidemocrático (afinal, o acesso à cultura diz muito da qualidade de uma democracia) do tratamento dispensado a questões como a da cópia livre ou o sampler, essa técnica já secular.

Secular, pois é. Praticada na literatura desde Lautrèamont e, décadas depois, adotada por surrealistas, situacionistas, e uma pá de outros doidos defensores de que numa sociedade entupida de informação, a utilização de materiais pré-existentes pode ser bem mais subversiva do que produzir a partir dum vago princípio de originalidade.

Depois vieram dub, rap, hip hop, os soundsystems, respostas da periferia (econômica, mas também geográfica) ao caráter unidirecional da cultura pop. Respostas mais e mais ameaçadoras para a indústria à medida que a tecnologia digital se torna largamente acessível para qualquer um que queira produzir e compartilhar cultura. Nesse ponto, não apenas os modos de produção, mas também os de distribuição e consumo de produtos culturais necessitam de revisão.

A lógica industrial da cultura [a lógica cultural dominante ao longo do século 20] se baseia num esquema feroz de controle autoral (o copyright), mais ou menos feroz a depender do volume de grana envolvido [no Brasil, pelo menos, os contratos de edição de livro são bastante flexíveis se comparados aos acordos abusivos da indústria fonográfica]. Quando a tecnologia digital torna impossível esse controle, e aos lucros cada vez menores da indústria se equipara uma produção cultural descentralizada, diversificada e auto-gerenciada; quando a reação da indústria é uma dispendiosa campanha “contra a pirataria” por vezes redundando em leis ignorantes, é aí que o toque dado por Ronaldo Lemos em seu depoimento ao filme serve como uma luva: a sociedade é a grande concorrente da indústria.

De lá pra cá, tudo mudou na internet. Quase desnecessário dizer, mas gostamos da repetição: “Navegar na internet”, uma frase tão comum na época quanto a famigerada expressão “internauta”, era o hábito cotidiano de entrar em um site e, dele, pular para outro, e outro, e outro, até se perder, horas depois, em uma página em que não se sabia bem como se havia entrado. Flanêur digital era outra expressão utilizada para identificar esse caminhante sem rumo pela rede, que se perdia nas esquinas dos blogs como um andarilho pelas ruas das grandes cidades.

As plataformas digitais, e o Facebook em especial, mudaram esse movimento; trouxe a cidade inteira para o caminhante andar sem sair do lugar. Uma cidade construída por uma (ou poucas) empresa privada que, em cada movimento feito pelo seus habitantes, produz um dado, o qual, recombinado a outros milhares, torna-se extremamente rentável, preciso, invasor, gerando o que atualmente se define como “capitalismo de vigilância”, o modo de viver e ganhar dinheiro predominante na internet hoje – e o resto é história (parcialmente documentada aqui, aliás).

Para celebrar essa efeméride, estamos lançando este site novo. A proposta foi atualizar o visual, que desde 2012 era o mesmo, e facilitar o acesso ao que produzimos. O trabalho, que modéstia a parte achamos lindo, ficou a cargo do designer Gustavo Alencar. Ainda estamos fazendo ajustes e logo teremos novidades (A VOLTA DO BLOGROLL!). Se tiver alguma sugestão, crítica ou comentário só deixar aqui, falar no info@baixacultura.org e onde mais você quiser.

 

 

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BaixaCharla ao vivo #1: A Ideologia Californiana https://baixacultura.org/2019/07/26/baixacharla-ao-vivo-1-a-ideologia-californiana/ https://baixacultura.org/2019/07/26/baixacharla-ao-vivo-1-a-ideologia-californiana/#respond Fri, 26 Jul 2019 12:14:51 +0000 https://baixacultura.org/?p=12875

Depois de um tempo organizando, planejando e refletindo. voltamos com as BaixaCharlas, nosso “programa” de conversas sobre tecnopolítica, contracultura e cultura livre. Dessa vez, diferente das outras até aqui seis já realizadas (chega mais em nosso canal no Youtube), fizemos ao vivo, via YouTube e nosso perfil no Instagram. e no Youtube.

A primeira dessa nova fase foi realizada na quarta-feira, 24/7 e tratou de encerrar um ciclo sobre o “A Ideologia Californiana“, obra seminal da crítica à um pensamento (hoje dominante) sobre a internet, de Richard Barbrook e Andy Cameron, primeira publicação da nossa coleção Tecnopolítica junto com a Monstro dos Mares. Tivemos Leonardo Foletto, editor do BaixaCultura, sistematizando alguns apontamentos sobre o texto colhido nos recentes lançamentos e debates sobre a obra em São Paulo, durante a CryptoRave 2019, em Salvador, no simpósio da Lavits, e em Recife, junto à grupos, pessoas e coletivos locais. A ideia foi destrinchar alguns aspectos do texto, detalhando os 10 tópicos com que os autores dividiram o texto, e a partir daí falamos sobre o que ele ainda tem de relevante nesse distópico mundo internético de hoje para refletir sobre o futuro da rede.

Aqui está o roteiro completo que nos baseamos para fazer a transmissão, com trechos do texto. E aqui abaixo o vídeo, no Youtube.

 

 

 

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BaixaCultura 10 anos – História Aberta https://baixacultura.org/2018/09/24/baixacultura-10-anos-historia-aberta/ https://baixacultura.org/2018/09/24/baixacultura-10-anos-historia-aberta/#comments Mon, 24 Sep 2018 22:40:24 +0000 https://baixacultura.org/?p=12555

“A lógica industrial da cultura [dominante ao longo do século 20] se baseia num esquema feroz de controle autoral (o copyright), mais ou menos feroz a depender do volume de grana envolvido. Quando a tecnologia digital torna impossível esse controle, e aos lucros cada vez menores da indústria se equipara uma produção cultural descentralizada, diversificada e auto-gerenciada; quando a reação da indústria é uma dispendiosa campanha “contra a pirataria” por vezes redundando em leis ignorantes, é aí que é possível perceber: a sociedade é a grande concorrente da indústria.

Na produção cinematográfica nigeriana, ou na contra-indústria tecnobrega de Belém do Pará, ou no trabalho criativo e criminoso [viva!] do dj Danger Mouse, ou em centenas de experiências que o BaixaCultura pretende cobrir, o que está em jogo é um tipo de organização que segundo os critérios de avaliação das velhas leis e dos homens-de-preto da indústria já nasceu pirata, e o incrível apego que esses mesmos homens nutrem por um modelo de indústria que existe há apenas um século, contra um monte de outros séculos de produção artística.”

Assim começávamos o BaixaCultura, em setembro de 2008, então como um blog, tocado por Leonardo e Reuben da Cunha Rocha. 10 anos e muita coisa depois, cá estamos, vivo, como uma laboratório online de cultura livre, ainda com textos, ensaios e reportagens, mas também com oficinas, cursos, zines/livros, ciclos de filmes (copy, right?) e uma tentativa de buscar sustentabilidade através do financiamento recorrente. Dá pra dizer: resistimos.

Na era em que tudo é registrado, onde parece tão fácil documentar, muito tem se perdido. Um paradoxo, ainda mais visível e paradoxal nos projetos, pessoas e instituições de cultura livre, remix, artivismo, hackers, contracultura, software livre, etc. Com alguma dose de sem-noçãozisse e outra de teimosia, cá estamos como um dos poucos projetos vivos que ainda documenta, (in)forma e produz cultura livre (e contra) cultura digital nesse distópico 2018. Celebremos?


Pois sim, vamos celebrar! De um jeito tímido e pequeno, porque é o possível do momento. Para isso vamos fazer dessa semana, a última de setembro de 2018, dias atípicos de resgate da memória e de celebração da existência. A partir da ideia de Sheila Uberti, nossa parceira de muitos projetos, organizamos três frentes:

_ HISTÓRIA ABERTA: ao longo da semana, todos os dias destacaremos em nossas redes alguns dos 480 (!) posts produzidos desde 2008, sob a hashtag #baixacultura10anos. É uma forma de revisitar estes textos, dá-los a conhecer por algumas pessoas que não os conhecem e, também, compartilhar uma memória da cultura livre e (contra) cultura digital ao longo destes últimos 10 anos de intensas transformações no mundo digital.

_ HISTÓRIA COLETIVA: Queremos também convidar vocês – leitor@s, alun@s, apoiador@s, colaborador@s, simpatizantes – a compartilhar algum momento, texto, depoimento, imagem, declaração de amor ou ódio, sobre a cultura livre destes últimos 10 anos, ligados ou não ao baixacultura. Quem usar a hashtag #baixacultura10anos no twitter/facebook/instagram e outra redes vai nos ajudar a agregar depois o conteúdo em uma página e mostrar todas as postagens na…

_ PEQUEÑA JUNÇÃO BAIXACULTURAL: sexta-feira, dia 28/9, às 18h, vamos fazer uma celebraçãozinha desses 10 ano numa videoconferência transmitida no nosso canal do YouTube, mostrando os momentos compartilhados pela tag #baixacultura10anos, tocando músicas livres, falando um pouco da cultura digital brasileira, da ressaca da internet, com alguns convidad@s presenciais em carbono (num lugar de Porto Alegre que logo anunciamos) e em silício (de outros lugares do Brasil e mundo, online). Tod@s estão convidados a participar, seja vindo no local, papear, tomar uma cerveja conosco e participar da transmissão, ou online, perguntando no chat ou entrando ao vivo para dar um salve & comentar algo. Nos próximos dias te passamos as coordenadas. Salve data/hora: 28/9, 18h em diante.

UPDATE: local presencial confirmado: Jardin’s do Chopp, gastrobar da cidade baixa com pizzas (veganas/vegetarianas e com carne) excelentes e as maravilhosas Cervejas Babilônia, uma das melhores artesanais do Estado (a Helles com Butiá e a Oatmeal Stout são imbatíveis), a preço justo. A partir das 18h30.

O vídeo ficará, como sempre, disponível aqui abaixo. Na íntegra, depois vamos editar melhor. Adelante!

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Salve a (contra) cultura digital brasileira! https://baixacultura.org/2012/02/15/salve-a-contra-cultura-digital-brasileira/ https://baixacultura.org/2012/02/15/salve-a-contra-cultura-digital-brasileira/#comments Wed, 15 Feb 2012 22:14:00 +0000 https://baixacultura.org/?p=6301

Alguns dizem que a internet é um dos frutos da contracultura norte-americana – do Do It Yourself e da livre expressão/circulação/piração de mentes & informações que os beats, o existencialismo de Sartre, Timothy Leary e o LSD, primeiramente, os Provos, Beatles, happenings, Bob Dylan, o maio de 1968 e os hippies, para citar alguns poucos num 2º momento, trouxeram para as cabeças jovens mundo afora – e da parceria improvável dessa contracultura com as redes fechadas militares e de universidades é que a internet nasceu e se propagou, já nos 1990.

A questão de que a internet surgiu como um desdobramento da contracultura me traz uma questão anterior: a contracultura nasceu mesmo na década de 1960? Aliás, o que é contracultura? seria todos aqueles que contestam, de maneira articulada e reflexiva, a cultura dominante? Se for isso, a contracultura não seria anterior a 1960?

O que dizer da cultura em torno do grande pensador grego Sócrates, do ocultismo dos árabes Sufis a partir do século VIII (de quem o contemporâneo Hakim Bey bebeu – e estudou – muito), dos trovadores heréticos da Idade Média, dos trancendentalistas americanos (Ralph Waldo Emerson, H. D. Thoureau), como aponta o livro Contracultura através dos Tempos, de Ken Gofman e Dan Joy, importante referência para quem quer entender o assunto?

Não seriam os hippies e o que convencionou chamar de contracultura sessentista o berço da contracultura jovem? E o Tropicalismo, ícone nacional da cultura dos 1960, seria o pai dessa expressão da contracultura brasileira?

Divagações à parte, estas são questões para guardar e responder (se quiser) algum dia. O fato é que inevitavelmente lembrei dessa conversa ao saber de um dos bons projetos que surgiram ano passado, motivados pela bolsa da Funarte Reflexão Crítica em Mídias Digitais  (a mesma com que fizemos o Efêmero Revisitado), e que tentou dar um caldo brasileiro ao unir a indomável contracultura com a efervescente cultura digital.

ContraCultura Digital” é  um site e uma publicação coordenada por Thaís Brito, jornalista e mestre em Ciências Sociais pela UFBA. O projeto aprovado na Bolsa da Funarte propunha “analisar o contexto contemporâneo de apropriação de tecnologias livres” e constava, como produto final, a produção de uma revista com textos sobre a nascente contracultura digital brasileira, de relatos de experiências a ensaios filosóficos, passando por manifestos, ficções, traduções e outras coisinhas que o guarda-chuva do projeto entendia como pertinente.

O site Contra Cultura Digital surgiu antes da publicação, dentro da plataforma CulturaDigital.br, para documentar e ampliar a pesquisa, com materiais que vão desde vídeos relacionados ao tema até as referências utilizadas no trabalho, passando por textos complementares que valem uma fuçada na Home do projeto. No final de 2011, foi publicada a revista (ou seria um livro?), somente no meio digital – que pode ser livremente baixada e acessada aqui.

Ela contém 19 textos (muito) heterogêneos, dividos em três grandes guarda-chuvas: Experiências, que busca uma conexão com a realidade de pessoas/projetos e grupos da cultura digital; Poéticas, que, bem, trata-se de experiências póeticas envolvendo de algum modo o digital, seja através de relatos de viagem até poesia/desenho em linguagem de programação; e Filosofias, manifestos e ensaios mais teóricos/viajandões sobre temas como o Psico-Ativismo Neodarwinista e a Cultura Dialegital do Contra.

Seria a cultura copyleft uma contracultura?

Ademais do hermetismo de certos textos, de alguns descuidos na revisão (especialmente nas referências) e da edição bruta, quase tosca, a revista é um belo incentivo à deriva pela nascente contracultura digital. Deriva aqui entendida na acepção que os situacionistas nos despertaram nos 1960: andar sem rumo, para, assim, ser “estranhado” pelos passeios e atuar crítica e conscientemente no aprofundamento/revolução de um cotidiano específico.

Neste caso, a publicação estimula passeios por questões, (não) lugares e ideias não tão comentadas na cultura digital para, a partir daí, o leitor aprofundar (ou não) o seu interesse pelos assuntos abordados – e então criar seus próprios “mapas” de interesses/conexões com os temas discutidos.

Destaco aqui seis textos da publicação (com o respectivo link para ver direto no site, quando há esta opção):

_ “SISTEMA FORTUITO (DES)ENCONTRO: Estratégia Hacker De Um Sistema Telemático“, de Leonardo Galvão, um relato detalhado sobre o projeto que dá nome ao título, uma aplicação de estratégias de hackeamento de um site de relacionamento via webcam e sua retransmissão por projeção no espaço arquitetônico da cidade – arte digital pura.

_ “Azucrina Records : Relatos de uma experiência com selos virtuais (netlabels)“, uma investigação sobre comunidades online e sites de música eletrônica não-comercial que disponibilizam downloads gratuitos. Ao final, há uma compilação de sites de netlabels realizada pelo Azucrina, um circuito de experimentação eletrônica e sonora.

_ “Uma chamada ao Exército do Amor e ao Exército do Software“, tradução coletiva de um texto de Franco Berardi e Geert Lovink de 2011 (original aqui) que finaliza com a profética frase: “O intelecto geral e o corpo social erótico devem se encontrar nas ruas e nas praças, e unidos irão quebrar as cadeias do Finazismo.” Finazismo, entenda-se, é o nazismo financeiro.

_ “A-própria-ação dos conceitos“, escrito pela organizadora da revista Thaís Brito, uma espécie de editoral às avessas (escrita no final da revista);

_ “Carta aos novos navegantes – breve itinerário de uma Viagem“, uma bela retrospectiva poética da cultura lado brasileira lado B, de Oswald de Andrade às saudosas e finadas editoras Ciência do Acidente e Livros do Mal, escrita por Leonardo Barbosa Rossato, do Massa Coletiva, de São Carlos. Curti o fim: Oswald hoje faria mixtapes:`Tudo que não é meu me pertence’ e estaria fazendo passeatas pelo matriarcado livre & a favor do ócio junto a Lautreamont, num free-style beleza: ‘A poesia deveria ser escritos por todos’.


_ “Cotidiano Sensitivo, incluído na seção Poéticas. O projeto dos cientistas da computação Ricardo Ruiz e Ricardo Brasileiro, também apresentado no Festival CulturaDigital.br ano passado, prevê 1) captação de dados sinestéticos (luminosidade, temperatura, freqüência de sinais) de alguns ambientes do nordeste brasileiro por hardwares e softwares, 2) a catalogação desses dados abstratos, 3) e a transformação desses dados em formas de visualização na plataforma web do projeto.

Na revista, Cotidiano Sensitivo está apresentado em 24 páginas de muitos códigos em linguagem de programação. No meio deles, alguns textos em “português”, que provocam o leitor que desconhece os termos usados a entender que diabos é esse monte de coisa (aparentemente) sem sentido. No final, ao observar todo o grande encadeamento de códigos-fonte, tu pode ver alguns desenhos formados – uma aranha, uma árvore, uma barata. Como diz o WordPressCode is Poetry? 

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ContraCultura Digital (org. Thaís Brito)
Disponível para Download 

[Leonardo Foletto]

Créditos imagens: Seja Marginal,  Cara y Señal e o restante screeshot das páginas
 
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https://baixacultura.org/2012/02/15/salve-a-contra-cultura-digital-brasileira/feed/ 1
Os livros da UNESP para download. Mas só pra isso. [Ou não, a gente dá um jeito] https://baixacultura.org/2011/05/06/os-livros-da-unesp-para-download-mas-so-pra-isso-ou-nao-a-gente-da-um-jeito/ https://baixacultura.org/2011/05/06/os-livros-da-unesp-para-download-mas-so-pra-isso-ou-nao-a-gente-da-um-jeito/#respond Fri, 06 May 2011 22:06:34 +0000 https://baixacultura.org/?p=4748
Semanas atrás foi muito divulgado e prometido que a Universidade Estadual Paulista (UNESP) disponibilizaria, no dia 27 de abril, 50 livros para download totalmente de grátis. Cumpriram. Os títulos integram o selo Cultura Acadêmica (criado em 1987) e dão continuidade à Coleção Propg Digital, que oferece obras inéditas para baixar. A primeira fase do programa foi em 2010, quando lançaram 46 obras.

Vale mencionar como foi o lançamento dos livros em que havia uma “Degustação Literária”, oferecendo aos presentes a oportunidade de acessar, em 49 iPads, cada uma das obras lançadas. O objetivo era aproximar o público do real propósito do projeto, além de exibir a versão digital dos textos. A meta é publicar mil títulos em 10 anos, permitindo maior acesso à produção acadêmica da universidade. Ou seja, é uma ação exemplar para todas as universidades públicas (e privadas também). Mas nem tanto.

É possível baixar os livros, mas não imprimir e nem selecionar o conteúdo das páginas. E assim é com todos os livros da Coleção. Todos estão protegidos com senha. Tentamos subir um dos livros (do qual falamos abaixo) para o Scribd e não conseguimos. Mas calma. Demos um jeitinho de quebrar isso. A solução foi baixar esse programinha bem leve aqui ó, o “Portable PDF Password Remover 3.0”. Depois, abrir com o programa o livro baixado da Unesp e salvar de novo. Pronto, já pode imprimir e fazer o que quiser.

Para baixar os livros do site oficial, é preciso realizar um cadastro, com Nome, E-mail, Cidade e Estado como campos obrigatórios. Nas páginas das obras há até audio de entrevistas com os autores. Mas fazendo uma busca no Google com o nome dos livros, os arquivos aparecem diretamente. O cardápio é bem rico, tem de muitos sabores: agronomia, antropologia, arquitetura, comunicação, design, direito, economia, educação, geografia, filosofia, história, literatura, matemática, medicina, meteorologia, música, política, entre outras áreas mais específicas.

O livro que nos interessou, e que tiramos a senha de proteção, foi Criação, proteção e uso legal da informação em ambientes da World Wide Web. A obra resulta da dissertação de mestrado de Elizabeth Roxana Mass Araya, orientada por Silvana Aparecida Borsetti Gregório Vidotti e defendida em 2009. As 147 páginas são divididas em três capítulos, que fazem uma boa contextualização de como as leis dos direitos autorais não estão adaptadas aos meios de informação digitais – algo que, tu sabe, temos falado aqui quase que semanalmente.

No primeiro capítulo do documento, “Ambientes informacionais digitais“, é feita uma revisão histórica da internet como Tecnologia da Comunicação e Informação, do desenvolvimento da Arpanet, das redes BBS, até a Web, chegando na chamada Web 2.0 e na ainda-mais-promessa-do-que-realidade Web semântica. Da Web Colaborativa, como Elizabeth denomina a web 2.0, surgem os problemas com arte, autoria, e propriedade, devido principalmente a constante modificação na forma de criar e recriar conteúdos informacionais e à desatualização da legislação sobre propriedade intelectual, que é anterior à esse cenário.

Em “Autoria e Legislação de Conteúdo Intelectual“, o capítulo 2, há uma revisão não só histórica mas conceitual sobre direitos autorais. São relatadas noções de propriedade antes da escrita, passando pela invenção da imprensa e pelo primeiro privilégio de copyright, em 1557 – do qual, aliás, também já andamos comentando por aqui.

Após a oficialização da lei, 1710, os princípios ingleses são levados para os Estados Unidos, que acabam se tornando a base para muitas legislações sobre direitos autorais no planeta – inclusive a repressiva e limitada lei brasileira de 1998 que está em vias de ser reformulada hoje. O funcionamento da Lei dos Direitos Autorais (LDA) brasileira e do nitidamente falho Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (do que mesmo?), o ECAD,  é contado, juntamente a algumas normas internacionais.

O terceiro capítulo apresenta ações da sociedade na Web que entram em conflito com a antiquada lei. A Campus Party, com seus usuários baixando e subindo arquivos à todo instante, é citada, ao lado das frequentes retiradas de videos, colocados por usuários, do Youtube. Como alternativas de flexibilização dos direitos autorais na internet,  o conceito de copyleft e o projeto Creative Commons, além do subprojeto Science Commons, são mostrados.

Cabe destacar também o subcapítulo “Acesso livre ao conhecimento científico”, responsável por um apanhado das publicações livres digitais e que ainda traz um relato dos (ex)esforços do Ministério da Cultura para a discussão sobre cultura livre. Aquele papo da Reforma da Lei dos Direitos Autorais sabe? Que era aberta e pública. Como deveria ser a coleção também.

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Créditos: 1, 2.

[Marcelo De Franceschi]

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