Giuseppe Cocco – BaixaCultura https://baixacultura.org Cultura livre & (contra) cultura digital Fri, 09 Mar 2012 15:28:40 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.9 https://baixacultura.org/wp-content/uploads/2022/09/cropped-adesivo1-32x32.jpeg Giuseppe Cocco – BaixaCultura https://baixacultura.org 32 32 A biblioteca rizomática de Ricardo Rosas https://baixacultura.org/2012/03/09/a-biblioteca-rizomatica-de-ricardo-rosas/ https://baixacultura.org/2012/03/09/a-biblioteca-rizomatica-de-ricardo-rosas/#comments Fri, 09 Mar 2012 15:28:40 +0000 https://baixacultura.org/?p=6375

Ricardo Rosas foi uma das figuras mais proeminentes do ciberativismo brasileiro pré-popularização das redes sociais. Em 2002, quando Mark Zuckerberg recém entrava em Harvard e o Twitter não era nem ideia, o cearense de Fortaleza criou o Rizoma.net, um site que, ao longo de sete anos de existência, abrigou o melhor acervo nacional de artigos sobre hackativismo, contracultura e intervenção urbana.

Em 2003, Rosas fincaria de vez sua importância na cultura digital brasileira ao ser um dos organizadores do Mídia Tática Brasil, histórico encontro inspirado no holandês Next5Minutes, realizado na Casa das Rosas e no SESC, em plena Av. Paulista, entre 13 e 16 de março, que reuniu Gilberto Gil, John Perry Barlow, Richard Barbrook, Peter Pál PebartGiuseppe Cocco, André Lemos, Beá Tibiriçá, Gilson Schwartz, Hernani Dimantas, Lucas Bambozzi, Suely Rolnik, dentre outras tantas figuras e coletivos interessantes e representantivos da cultura digital da época. Foi um dos primeiros encontros no país a aproximar artistas, hackers, aficcionados por tecnologia e ativistas políticos.

Capa do site do Mídia Tática 2003

Além disso, o Mídia tática de 2003 é considerado por muitos o berço das políticas de cultura digital no MinC brasileiro. Foi ali que, segundo conta Claudio Prado, ele e Gilberto Gil – que mediou a mesa de abertura com John Perry Barlow, Richard Barbrook, Danilo Santos de Miranda (diretor regional do SESC), Beá Tibiriçá (na época, coordenadora do Governo Eletrônica da Prefeitura de SP) e Ricardo Rosas – tiveram o primeiro papo acertando os pontos para o trabalho com cultura digital no mistério. Gil já estava antenado no assunto, muito alimentado pelo antropólogo Hermano Vianna.

A mesa de abertura do Mídia Tática foi uma faísca só. Dizem aqueles que lá estiveram que foi um momento histórico: Barbrook,  professor da universidade de Westminster nos EUA (e que é comunista) detonou Barlow, vice-presidente da Electronic Freedom Foundation (e que já foi do partido Republicano); ambos tinham (ainda tem?) visões diferentes de mundo e, também, de cultura digital.

[Para os que ficaram curiosos, os arquivos desse debate podem ser baixados, parte 1 e parte 2; agradeço ao Felipe Fonseca pelos links].

A partir do Mídia Tática, Claudio Prado encontraria José Murilo Jr,  que ate hoje é o coordenador de cultura digital do MinC, Uirá Porã, Sérgio Amadeu e outras figuras que seriam alguma das principais responsáveis por colocar na cabeça do governo, via Gil, os conceitos de software livre, inclusão digital e copyleft – ideias que, hoje, sabemos que andam amplamente esquecidas pela ministra Ana de Hollanda.

Capa de Anarquitextura, do Rizoma

Ricardo faleceu em 11 de abril de 2007, em sua cidade natal, Fortaleza, por problemas de saúde. A relevância de seu trabalho também fez com que fosse homenageado em Fortaleza dando nome ao prêmio de arte e cultura digital da cidade.

De 2002 a 2009, o Rizoma.net abrigou um acervo significativo de artigos, traduções, entrevistas sobre hackativismo, contracultura e intervenção urbana. Parte desse acervo saiu do ar com o site, mas foi recuperado pelo coletivo CCR (Centro de Criação de Ruídos), que se dispôs a editorar em PDF os textos das seções do site. Num esforço conjunto com o Vírgula-imagem e com Jesus – assim se identificou o voluntário que enviou as últimas contribuições por email, segundo conta a Select – criou-se uma página onde estão disponíveis todos os PDFs e links.

Tem muita coisa boa. São 18 PDFs disponibilizados para download e visualização no Issuu, em edições intituladas “Neuropolítica“, “Lisergia Visual“, “Hierografia“, “Desbunde“, “Anarquitextura“, “Recombinação“, dentre outros. Todos são documentos importantes da contracultura, digital ou não, brasileira, e interessarão muito aos curiosos sobre o assunto.

Capa de "Recombinação"

Para se ater aquele tema que gostamos mais de falar por aqui, destacamos a edição sobre “Recombinação“. São 153 páginas de artigos, entrevistas e traduções em 37 textos que todos, sem excessão, poderiam ser abordados em posts diferentes por aqui. Tem Critical Art Ensemble com “Plágio Utópico, Hipertextualidade e Produção Cultural Eletrônica“, que re-plagiamos nos posts “Revalorizar o Plágio na Criação“; “Copyright e Maremoto“, dos italianos do Wu Ming, ambos textos do coletivo Baderna.org, que organizou a maravilhosa coleção Baderna da Conrad.

Brasil?  Tem “Manifesto da Poesia Sampler“, do Círculo de Poetas Sampler de São Paulo. “Por que somos contra a propriedade intelectual“, de Pablo Ortellado; “O que é arte xerox“, de Hugo Pontes”. “Entrevista o coletivo Re:Combo“, por Giselle Beiguelman. “A Cultura da Reciclagem“, por Marcus Bastos.

Traduções de textos clássicos? Tem “Montagem“, de Sergei Einsenstein. “Um Guia para o usuário do Detournament“, de Gil Wolman e Guy Debord (que já comentamos por aqui). “O método do cut-up“, de William Burroughs.

E muito mais coisas legais, que não vamos citar mais para não ficar cansativo. Melhor: vamos, nos próximos meses, republicar algum desses textos, com uma apresentação e/ou ensaio crítico – ou, caso precise, de alguma atualização. É uma forma de divulgá-los mais amplamente e, também, homenagear o belo legado que o Rizoma e Ricardo Rosas deixaram.

Capa de "Afrofuturismo", do Rizoma

Pra encerrar este post, vai uma compilação de textos que Rosas deixou, organizado por Marcelo Terça-Nada, do Vírgula-Imagem:

 Táticas de Aglomeração – Publicação do Reverberações 2006
Gambiarra: alguns pontos para se pensar uma tecnologia recombinante (PDF) – Caderno VideoBrasil
Nome: coletivos | Senha: colaboração – FILE / Sabotagem
Notas sobre o coletivismo artístico no Brasi – Trópico/UOL
Hibridismo Coletivo no Brasil: Transversalidade ou Cooptação? – Fórum Permanente/Fapesp
Alguns comentários sobre Arte e Política – Canal Contemporâneo
Hacklabs, do digital ao analógico (tradução) – Suburbia
The Revenge of Lowtech : Autolabs, Telecentros and Tactical Media in Sao Paulo (PDF) – Sarai.net

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Ativismo (digital) em Conexão Global https://baixacultura.org/2012/01/24/ativismo-digital-em-conexao-global/ https://baixacultura.org/2012/01/24/ativismo-digital-em-conexao-global/#comments Tue, 24 Jan 2012 14:08:18 +0000 https://baixacultura.org/?p=6220

O ano é 1999.

O mundo pop assiste ao momentâneo desaparecimento do rock das paradas, que são tomadas por boy e girls band insossas. O planeta econômico vive um de seus auges do livre-comércio, mercado regulando a tudo e a todos e “só” desfavorecendo quem não pode entrar nesse jogo – 99% da população global.

Nos Estados Unidos, a OMC (Organização Mundial do Comércio), todo poderoso orgão do livre-mercado, escolhe Seattle como mais uma de suas reuniões anuais. Em 30 novembro de 1999, data da reunião, um inesperado levante de pessoas – entre 40 e 100 mil, estudantes, anarquistas, trabalhadores, pacifistas, dentre outros tantos – paralizam as ruas da cidade berço do grunge. Os manifestantes bloquearam os cruzamentos de Seattle de modo a não deixar os delegados dos governos chegaram ao local de encontro da OMC. A polícia responde com violência e o encontro é cancelado.

Quem imaginaria que, exatamente no momento em que o tal “poder” estava mais certo de que vencera a tudo e todos, eles apareceriam? Seattle se torna a vitrine de um movimento subversivo – anticapitalismo, anti-globalização, ou o nome que se queira dar – que, nas palavras do sociólogo francês Edgar Morin, inaugura o século XXI.

Corta para 2011. A primavera árabe, Occupy WallStreet e os ocupes que se espalharam pelo mundo, os Indignados da #spanishrevolution. “Cadê aquela juventude de tão saudável apatia?” Nós somos os 99%. De novo: quem imaginaria que, exatamente no momento em que o “poder” estava mais certo de que vencera a tudo e todos, eles apareceriam?

Apareceram. E com uma arma que, lá em 1999, ainda engatinhava em suas potencialidade de uso: a internet.

Conexões Globais, que começa amanhã (25/01) na Casa de Cultura Mário Quintana em Porto Alegre, tenta fazer uma ponte entre estas duas datas (e realidades) importantes. O Conexões está dentro da programação do Fórum Social Temático, versão 2012 para o Fórum Social Mundial criado em 2001, tendo por sede inicial Porto Alegre – e, por uma das inspirações, os movimentos do 30N de 1999 em Seattle.

[O Fórum e o Adbusters, movimento anti-consumo que esteve nas manifestações de Seattle em 1999 e convocou o Occupy Wall Street em 2011, são os possíveis elos perdidos entre os dois períodos.]

Mesmo que fazer a tal ponte não seja o objetivo declarado do evento, o paralelo é inevitável: as movimentações de Seattle em 1999 trouxeram novamente para a pauta do dia (e da “grande mídia”) a revolta contra um sistema (político, econômico) que tinha como principal produto a desigualdade (social, econômica).

O mundo de 2012 é outro. O ano passado trouxe novamente para a pauta do dia a movimentação e a revolta contra um sistema (econômico, social, político) que, como dizem os indignados espanhóis, “não nos representa”. Mas agora há a diferença de que a “grande mídia” não é mais aquela que escolhia sobre o quê todos deveriam falar. Com a rede e os computadores, todos nós, descontentes ou não com a imprensa, podemos noticiar e divulgar o que quisermos – e, tão importante quanto, temos a infinita possibilidade de escolher o que ver.

A internet taí, a diluir as barreiras do on e offline e a favorecer a diferença. É, enfim, a mais poderosa arma para realmente fazer crer o slogan do Fórum: um outro mundo é possível.

O Conexões Globais traz, em sua programação, palestras, desconferências, oficinas, shows e diálogos sobre ativismo, comunicação e cultura digital. Os Diálogos Globais (quarta a sábado, das 16 e 18h15), estabelecerão conexões diretas entre os presentes em Porto Alegre e participantes de movimentos ativistas em voga hoje, como a Primavera Árabe, os Indignados da Espanha, o Occupy em Nova York e Londres.

Além da presença de ativistas que participaram dos movimentos acima, alguns dos destaques da programação são Javier de la Cueva – advogado espanhol, especialista em direitos digitais, defensor do Ladinamo (primeira sentença que reconheceu o Copyleft), na quarta, às 16h15; Gilberto Gil, às 18h15 da mesma quarta, num painel com Olga Rodríguez, jornalista que acompanhou a movimentação da Primavera Árabe;  Stéphane M. Grueso, diretor do doc “¡Copiad, malditos!”, primeiro ducumentário exibido pela TVE (Televisão Espanhola) com licenças Creative Commons, na quinta às 18h15; Domenico de Siena, urbanista italiano que pesquisa o urbanismo e as cidades open codes, dos mais ativos atores no 15 M na Espanha; dentre outros participantes nacionais conhecidos na área da cultura digital, como Sérgio Amadeu, Ivana Bentes, Rodrigo Savazoni, Claudio Prado, Giuseppe Cocco, dentre outros.

[A programação completa do evento, que vai ser transmitido por streaming, você vê aqui].

O Conexões acontece numa hora movimentada para o ativismo digital planetário, principalmente pelos acontecimentos da semana passada. Só um pequeno balanço dos principais fatos da semana passada já rendem alguns parágrafos. Vejamos:

_Blecaute ao SOPA: Um grande número de sites aderiu ao bleucate, nos Estados Unidos e no Brasil. Nos país de Obama, o protesto não contou com os grandões da NetCoalition, Facebook e Google [que chegou a colocar uma tarja preta na homepage de seu site americano e, depois, postou, abaixo da linha de busca, o link “Diga ao Congresso: Por favor, não censure a internet!“], mas foi liderado pela Wikipedia, que em sua versão em inglês mostrava apenas a página acima quando se realizava alguma busca.

Os protestos conseguiram um primeiro objetivo: adiar a votação. O  deputado republicano Lamar Smith, autor da lei, decidiu adiar a votação do projeto até que “haja amplo acordo sobre uma solução”, segundo informações do Terra. O Protect IP Act (PIPA), projeto semelhante em andamento no Senado que seria votado hoje (24/01), também não foi votado. O senador Harry Reid afirmou que adiou em virtude dos “recentes acontecimentos”.

Mas não se engane: o lado de lá está se reorganizando. E vai voltar à carga em breve, “pois o que se conseguiu até aqui foi parar o trator, mas não impedir –de uma vez por todas- a demolição das bases sobre as quais usamos a rede”, como escreveu o professor Sílvio Meira em sua coluna no Terra.

Fechamento do Megaupload: um dos maiores sites de compartilhamento online do mundo, o Mega foi desativado pelo FBI na última quinta-feira (19/01). O fundador do site, o gigante alemão Kim DotCom, e três executivos da empresa foram presos na Nova Zelândia a pedido das autoridades norte-americanas. A acusação diz que o site lesou proprietários de direitos autorais em mais de US$ 500 milhões [Queríamos entender como o cálculo que chega a este número é feito] ao abrigar conteúdo pirateado, particularmente filmes e músicas.

A ação aconteceu um dia depois do blecaute contra o SOPA e PIPA, que estavam em discussão no Congresso dos Estados Unidos

Reação do Anonymous: Em retaliação ao fechamento do MegaUpload, o Anonymous pegou os discos e filmes da Sony/Universal – um dos principais conglomerados de entretenimento que apoia o SOPA – e disponibilizou tudo para download neste site, em torrents ou em outros sites que hospedam arquivos na rede, como o Deposit Files.

Além de uma bela jogada política, a ação do Anonymous facilitou e muito o acesso ao belo acervo da Universal, organizando-o todo em ordem alfabética. Ali tem desde toda a discografia do Pink Floyd a do Michael Jackson, para ficar só em dois nomes clássicos do rock/pop, até diversos filmes recentes do braço de cinema da Universal, divididos por ano de lançamento (de 2001 a 2011; corra até o fim da página para ver os links).

Não foi só isso que o Anonymous andou aprontando: no mesmo dia 19/1, quinta-feira passada, eles derrubaram temporariamente sites de grupos como a Warner até órgãos ligados ao governo norte-americano, como o FBI e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e da França, como o site do Hadopi, nefasta lei que pode cortar o acesso a rede para quem baixar conteúdo supostamente protegido por copyright no país do Asterix.

Sites que o Anonymous “derrubou” em 19/01

Será o início de uma guerra digital global?

A ver.

P.S: Nas próximas semanas, iniciaremos uma série sobre os protestos em Seattle 1999 e os que vieram a ocorrer inspirados por este. 

Créditos fotos: 1 (André Ryoki, Estamos Vencendo!); 2 (OccupyWallStreet); 4 (Wikipedia Blackout); 5 (Anonymous) e 6 (sites derrubados pelo Anonymous)

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