criação – BaixaCultura https://baixacultura.org Cultura livre & (contra) cultura digital Wed, 06 Mar 2024 15:15:31 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.9 https://baixacultura.org/wp-content/uploads/2022/09/cropped-adesivo1-32x32.jpeg criação – BaixaCultura https://baixacultura.org 32 32 Criação e cultura livre na era da inteligência artificial generativa https://baixacultura.org/2023/12/29/criacao-e-cultura-livre-na-era-da-inteligencia-artificial-generativa/ https://baixacultura.org/2023/12/29/criacao-e-cultura-livre-na-era-da-inteligencia-artificial-generativa/#respond Fri, 29 Dec 2023 14:57:05 +0000 https://baixacultura.org/?p=15609  

No final do 2023, publiquei um artigo chamado “Criação e cultura livre na era da inteligência artificial generativa” na revista acadêmica Aurora, da PUC-SP, no Dossiê “Inteligência Artificial: questões éticas e estéticas”[ parte 1; parte 2]. É um primeiro texto mais filosófico, em que faço uma revisão de bibliografia (acadêmica, mas também jornalística) sobre implicações estéticas e filosóficas na criação e na cultura a partir da popularização de sistemas de Inteligência Artificial (IA) generativa em 2023 como o ChatGPT. Parte do debate em torno do conhecimento e  da  cultura  livre  e  do  status  remix  da  criação  com  a  ascensão  das  tecnologias  digitais e da internet nos anos 2000 para, então, problematizar consequências do uso massivo dos sistemas de IA generativas para a criação artística hoje.

Por fim, em tempos de disputa acirrada sobre direitos autorais nas IAs generativas, busco pontuar que a exploração privada do conhecimento não necessariamente precisa ser um motivo para restringir seu amplo acesso, mas disputá-lo enquanto um comum. Aponto também para a construção de uma agenda para discutir a criação em tempos híbridos, que busque afirmar as tecnologias a partir de sua característica protética, termo usado pelo Yuk Hui num texto lançado ano passado (a imagem acima vem da versão em mandarim desse texto), já que desde os primórdios da humanidade o acesso à verdade sempre dependeu da invenção e do uso de instrumentos. Qual o tipo de criatividade que emana de um paradigma de abundância de informação, e não escassez? E qual seria um modelo jurídico que daria conta de substituir o paradigma da propriedade intelectual, baseado na escassez e na propriedade privada, por um mais baseado no amplo acesso? Nesse sentido, valeria entender a centralidade da cópia no processo de aprendizado humano para, então, compreender de que forma o ChatGPT e outras IAs generativas estão a potencializar o modo remix de criação. Se, de fato, geram pastiches a-históricos que apenas repaginam o “velho” e potencializam um “modo nostalgia” que só consegue atentar ao presente e ao passado e não ao futuro. Ou se observamos isto porque não estamos acostumados a olhar a criação sem o humano no centro e no comando do processo, o que remete novamente à necessidade de buscar respostas para a pergunta de Simondon: qual o papel que o humano pode desempenhar quando ele deixa de ser o organizador da informação?

Embora publicado numa revista acadêmica, busquei fugir do academiquês na hora da escrita. Acesso livre.

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Mais do mesmo, mas diferente https://baixacultura.org/2022/03/11/mais-do-mesmo-mas-diferente/ https://baixacultura.org/2022/03/11/mais-do-mesmo-mas-diferente/#respond Fri, 11 Mar 2022 15:32:26 +0000 https://baixacultura.org/?p=13922

De Nova York, o diretor canadense Kirby Ferguson tem revelado desde 2010 os segredos criativos da cultura pop através de uma série de vídeos chamada “Everything is a Remix” (Tudo é Remix). Muito popular na internet (ou em uma certa parte da internet) dos anos 2010, os vídeos ganharam em 2015 uma versão remasterizada e, ano passado, uma nova versão em quatro capítulos – não por acaso, remixada das anteriores.

O primeiro episódio dessa “nova temporada” (pode ser visto acima) foi lançado em setembro de 2021 e foca justamente no conceito de remix, com destaque para a música.

O segundo, apresentado no Youtube em dezembro de 2021, trata do principal símbolo da vitória do remix na produção e circulação cultural massiva hoje: os memes, estas bombas semióticas recombinantes que captam nossa atenção, nos fazem rir, sofrer, chorar. Em uma edição ágil, cheia de referências pop e uma narração informativa em off, Ferguson argumenta que tudo o que você faz e compartilha com o mundo na internet hoje é meme: roupas, tweets, sons, vídeos, tiktokers, gamers. No início do vídeo, a voz em off comenta: “mesmo que não se entenda exatamente o que se quer dizer com um meme, ele são profundos”, para logo contar a conhecida origem da popularização do termo no livro “The Selfish Gene” (“O Gene Egoísta”, 1976), do biólogo Richard Dawkins.

 

[Meme é uma palavra que designa “coisas imitadas”, originária do grego “mīmēma (μίμημα), por sua vez vinda de “mimeisthai” (μιμεῖσθαι, ‘imitar’), que foi usada por Dawkins para conceituar meme como a unidade básica da memória ou do conhecimento, aquilo que o ser humano transfere conscientemente para os seus descendentes – o equivalente cultural do gene da biologia, um segmento de uma molécula de DNA responsável pelas características herdadas de um ser humano.]


Depois, o vídeo fala de como hoje o cinema hollywoodiano está tomado de remakes, boa parte delas baseada na consagrada “jornada do Herói”, por sua vez inspirada pelas narrativas mitológicas antigas e recontadas para o século XX principalmente a partir de “O Poder do Mito”, de Joseph Campbell, influência na narrativa de 10 entre os 10 filmes mais vistos hoje. Afinal, por que isso ocorre? No fim das contas, porque buscamos o familiar, personagens e histórias que de algum modo já conhecemos; usamos elementos “velhos” para entender os “novos” – a começar pelas próprias palavras, tradicionalmente formadas a partir de outras já existentes (entender a origem a história das palavras ajuda a entender o mundo, sério). Copiamos, depois criamos; a imitação precede a criação, como há milênios os povos do extremo oriente (especialmente os chineses) sabem com mais clareza do que os ocidentais, como contei em detalhes no último capítulo de “A Cultura é Livre” ao falar da influência do confucionismo na cultura chinesa. Um trecho do livro:

“Nessa filosofia, desde muito pequenas as crianças eram ensinadas a pensar a partir da memorização e da cópia dos clássicos, procedimento que, segundo seus mestres, incutiria nos jovens valores familiares, piedade filial e respeito ancestral (…). Quando essas crianças cresciam, elas se tornavam mais compiladores que compositores. Memorizavam tantas histórias clássicas que passavam a construir suas narrativas a partir de um extenso processo de copiar e colar (cut-and-paste) frases, trechos e passagens desses textos antigos. Se aos olhos de um ocidental, especialmente do século XX e XXI, isso seria visto como plágio, para os chineses da época era visto como um traço distintivo de intelectualidade e conhecimento cultural. “Quando autores chineses tradicionais tomam emprestado trechos de um texto preexistente e, principalmente, de um clássico, espera-se que o leitor reconheça a fonte do material emprestado instantaneamente. Se um leitor é infeliz o suficiente para deixar de reconhecer esse material citado, é culpa dele, não do autor”. (..). O pensamento de Confúcio manifestaria uma visão de que “a capacidade de fazer uso transformador de obras preexistentes pode demonstrar a compreensão e a devoção ao núcleo da cultura chinesa, bem como a capacidade de distinguir o presente do passado através de pensamentos originais” (p.209-210, “A Cultura é Livre”)

 

Vale a pena assistir a série, mesmo pra quem já viu muitas vezes a primeira versão de “Tudo é remix” como eu (escrevemos sobre ela aqui no BaixaCultura, lá em 2011, e usei inúmeras vezes em sala de aula para falar de remix e criação). Assim como o assunto que trata, essa segunda versão do filme também não tem nada de “original”, mas a nova combinação de referências faz com que ele seja fresh e educativo para todos aqueles que querem entender os mecanismos da criação – ou simplesmente criar. Mostra novamente, agora para a Geração Tik Tok, que desde sempre novas ideias só surgem ao se copiar de antigas. O terceiro episódio dessa nova série está prometido para março de 2022.

[Leonado Foletto]

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A arte do roubo criativo https://baixacultura.org/2012/11/20/a-arte-do-roubo-criativo/ https://baixacultura.org/2012/11/20/a-arte-do-roubo-criativo/#comments Tue, 20 Nov 2012 18:46:23 +0000 https://baixacultura.org/?p=6536

Copiar, você sabe, também é uma forma de criar.

Um bom roubo dá créditos. Honra o trabalho original. Não imita; transforma. É o que diz o escritor americano Austin Kleon no livro Steal like an artist (Roube como um Artista, ainda sem tradução para o português), em que lista 10 coisas que ninguém te contou sobre ser criativo.

Saca só a lista:

_ Steal like an artist (roube como um artista)

_ Don’t wait until you know who you are to get started (Não espere até você saber quem é você para começar)

_ Write the book you want to read (Escreva o livro que você quer ler)

_ Use your hands (Use suas mãos)

_ Side projects and hobbies are important (Projetos paralelos e hobbies são importantes)

_ The secret: do good work and share it with people. (O segredo: faça um bom trabalho e compartilhe com as pessoas

_ Geography is no longer our master. (Geografia não é mais o nosso mestre)

_Be nice. (The world is a small town.) (Seja legal: o mundo é uma cidade pequena)

_ Be boring. (It’s the only way to get work done.) (Seja chato: é a única forma de começar o trabalho já feito.)

_ Creativity is subtraction. (criatividade é subtração)

O livro é uma ampliação, com ilustrações e mais textos, destas 10 coisas que “ninguém te contou como ser criativo”. Vejamos como ele funciona roubando/traduzindo daqui o ítem 7:

Eu cresci no meio de um milharal no sul de Ohio. Quando eu era criança, tudo que eu queria fazer era sair com artistas. Tudo o que eu queria fazer era cair fora do sul de Ohio e chegar a algum lugar onde algo foi acontecendo.

Agora vivo em Austin, Texas. Um lugar bonito. Toneladas de artistas e profissionais criativos em toda parte.

E você sabe o que? Eu diria que 90% dos meus mentores e colegas não vivem em Austin, Texas. Eles vivem na internet.

O que quer dizer que a maioria do meu pensamento e da minha fala em arte é online.

Em vez de uma cena de arte geográfica, tenho amigos no Twitter e o Google Reader.

A vida é estranha.”

*

A lista/livro surgiu de uma palestra dada pelo autor (“um escritor que desenha, diz na apresentação“), com o nome de “Rocked the creative world”, que foi pra rede, virou um post e tornou-se viral. Com os milhões de cliques e leituras de sucesso, Austin ampliou sua discussão para o formato de livro, e assim saiu “Roube como um Artista” em fevereiro de 2012, publicado pela editora Workman.

Na página do trabalho, diversas críticas positivas, como essa da Forbes: “Equal parts manifesto and how-to, Steal Like An Artist aims to introduce readers to the idea that all creative work is iterative, no idea is original and all creators and their output are a sum of inspirations and heroes…”

Mas aqui vai uma construtiva: cadê o livro pra download grátis?

(Ok, tem quase todo ele disponível aqui)

Veja mais imagens do livro. Pra comprar, vá no site oficial. E pra ver os desdobramentos, vá no Tumbrl.

(indicação do livro veio daqui).

Créditos imagens: Flickr Austin Kleon.
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