cópia – BaixaCultura https://baixacultura.org Cultura livre & (contra) cultura digital Fri, 25 Oct 2024 18:55:07 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.9 https://baixacultura.org/wp-content/uploads/2022/09/cropped-adesivo1-32x32.jpeg cópia – BaixaCultura https://baixacultura.org 32 32 Cópia & Desvio – parte I https://baixacultura.org/2024/10/25/copia-desvio-parte-i/ https://baixacultura.org/2024/10/25/copia-desvio-parte-i/#respond Fri, 25 Oct 2024 18:52:24 +0000 https://baixacultura.org/?p=15740  

A proliferação mundial dos sistemas de inteligências artificiais generativas quebrou um paradigma ao tornar a cópia ainda mais base para a criação. Tudo que está na internet e foi raspado – sem consentimento, aliás – por estes sistemas está sendo a base para a criação de inúmeras coisas, de cards de redes sociais a ilustrações de livros, passando por e-mails, artigos, filmes, textos e músicas. Se já no início do século XX a reprodução técnica, especialmente na fotografia e no cinema, tornava a cópia e o “original” não facilmente distinguíveis, o que dirá a partir de 2023, quando as IAs ampliam a reprodução digital e, cada vez mais, a separam de sua materialidade original, que passa a se transformar em mero dado, padrões de números a alimentarem grandes bancos onde não existe mais singularidade, apenas cópia.

Diante disso, qual é o papel da cópia na era da IA Generativa? O projeto Cópia & Desvio é uma série de conferências experimentais/performances sobre o direito para copiar e reutilizar o conhecimento humano. Organizado em atos, o objetivo é apresentar uma narrativa crítica sobre a cópia e sua relação com a política e a sociedade ao longo do tempo.

A primeira parte se chama “A cópia na era de sua proliferação técnica” e ocorreu ao vivo em 24 de outubro, às 19h (UTC-3). Nela, Rafael Bresciani e Leonardo Foletto remixaram artefatos sonoros e visuais em live-coding (no sistema Hydra, com a interface do Flok) para compor a narração da conferência, centrada nesta primeira parte nas práticas e reflexões de cópia no início do século XX. Teve participação nas vozes (e textos) de Walter Benjamin, Marcel Duchamp, Conde de Lautréamont e Tommaso Marinetti. Na música, Neu!, Talking Heads e Kaisoku Tokyo. Nas imagens, Pablo Picasso, Okumura Masanobu, Kunisada, J Borges, Louis Daguerre, Hugo Ball, Kurt Schwitters, Man Ray, Niepce, Abraham Salm, Marinetti, entre outros. As vozes de Duchamp, Benjamin e Lautréamont foram criadas a partir do treinamento do sistema de IA Generativa chamado Eleven Labs

O vídeo é parte de uma investigação que estamos fazendo desde 2023 sobre o papel da cópia ao longo dos últimos séculos na história da arte, o que passa pela questão histórica do desvio. Como se sabe, a arte é marcada pelo plágio, o roubo, o desvio, a cópia e apropriação. A segunda parte irá centrar na sgunda metade do século XX, período essencial da proliferação técnica das cópias a partir dos gravadores, samplers, fitas, fotocopiadoras, televisão, vídeos, computadores.

Assista abaixo. Após, um trecho do texto falado por Benjamin no vídeo:

 

“Tanto a poesia sonora, as colagens e o cinema são artes que foram potencializadas nessa primeira metade do século XX com a expansão da reprodução técnica. Os aparatos técnicos são protagonistas tanto como método de produção (caso das collages) quanto de gravação e apresentação ao público (poesia sonora e o cinema).

Eu não vou explicar hoje o que é Inteligência Artificial Generativa pois, como falei para vocês, ainda não sei bem. Intuo que elas ampliam a reprodução digital e, cada vez mais, a separam de sua materialidade original, que passa a se transformar em mero dado, padrões de números a alimentarem grandes bancos onde não existe mais singularidade.

Eu intuo também que as tecnologias digitais de reprodução tornam mais difícil a negação e a escolha. É como um loop da desintegração: o meio é abstraído na hiperconexão do e e e e e e e e e e e e e e, com menos possibilidade de ou ou ou ou. Às máquinas de reprodução técnica digital não é facultado a possibilidade de fim, mas sim a reprodução contínua e infinita de presente. Tudo passa a ser conectado ao propósito da reprodução contínua de cópias. Nada mais é criado, tudo passa a ser apenas repetição sem diferença. Todas as obras já existentes remixam as anteriores: tudo é cópia.” 

Walter Benjamin (Benja), remixado no vídeo

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A cópia na era de sua proliferação técnica https://baixacultura.org/2024/10/11/a-copia-na-era-de-sua-proliferacao-tecnica/ https://baixacultura.org/2024/10/11/a-copia-na-era-de-sua-proliferacao-tecnica/#respond Fri, 11 Oct 2024 20:16:34 +0000 https://baixacultura.org/?p=15723 Muito já se falou sobre as mudanças que a internet e as tecnologias digitais trouxeram para o compartilhamento de informação: a era da “liberação do polo emissor da informação” propiciou o acesso fácil a maior quantidade de informação disponível na história da humanidade, para o maior número de pessoas já existentes no planeta até aqui. 

É normal que o debate tenha o foco na recepção das informações digitalizadas. As práticas de consumo e circulação de informação dizem respeito a toda a sociedade, enquanto que as práticas criativas dizem respeito a um grupo mais seleto de pessoas que, de forma assumida, afirma que cria – embora saibamos que a criação está em muito mais lugares do que imaginamos. As mesmas tecnologias que nos levam a conversar sobre novos modos de consumir e compartilhar informação colocam, também, em relevo práticas criativas ligadas ao roubo. Identificamos um sampler em menos de 3 s, uma imagem através de uma busca simples de comparação num buscador da web; usamos qualquer obra para criar outras.

As práticas de (re) criação ligadas à abundância de informação potencializada nos últimos 30 anos por objetos técnicos não fazem outra coisa que não coletar, armazenar, processar e difundir dados. Estes objetos, que você reconhece em todos os hábitos cotidianos de uma pessoa do século XXI, tem por essência a cópia. Isso significa dizer que eles só existem porque copiam; não há ação no uso da internet e de objetos digitais que não seja, em essência, uma combinação gigantesca de números copiados. São os 0 e 1 recombinados a exaustão que fazem brotar, às vezes como mágica, imagens, sons, textos, que vão ser captados pelos nossos sentidos e fruídos como arte, jornalismo, entretenimento – ou simplesmente mentira.

A proliferação mundial dos sistemas de inteligências artificiais generativas (ChatGPT, MidJourney, Stable Diffusion, Gemini, etc) em 2023 quebra um paradigma ao tornar a cópia ainda mais base para a criação. Tudo que está na internet e foi raspado – sem consentimento, aliás – por estes sistemas está sendo a base para a criação de inúmeras coisas, de cards de redes sociais a ilustrações de livros, passando por e-mails, artigos, filmes, textos e músicas. Se já no início do século XX a reprodução técnica, especialmente na fotografia e no cinema, tornava a cópia e o “original” não facilmente distinguíveis, o que dirá a partir de 2023, quando as IAs ampliam a reprodução digital e, cada vez mais, a separam de sua materialidade original, que passa a se transformar em mero dado, padrões de números a alimentarem grandes bancos onde não existe mais singularidade, apenas cópia – a hiperconexão do E E E E E em vez do OU OU, já que às máquinas não é facultado a possibilidade de fim, mas sim a reprodução contínua e infinita de presente. 

Diante disso, qual será o papel da cópia na criação artística na era da Inteligência Artificial Generativa? Estamos em uma investigação, desde 2023, para entendermos o papel da cópia ao longo dos últimos séculos na história da arte, o que passa pela questão histórica do desvio: como se sabe – e nós já tratamos um pouco aqui, nos “momentos da história da recombinação” – a arte é marcada pelo plágio, o roubo, o desvio, a cópia e apropriação. Estamos nos encaminhando para o encerramento desse processo, que vai resultar num livro a ser publicado pela SobInfluencia em 2025.

Em paralelo e complementar ao processo de produção do livro, nasceu o projeto Cópia & Desvio. É uma série de conferências experimentais/performances/lives sobre o direito para copiar e reutilizar o conhecimento humano. Organizado em quatro atos, o objetivo é apresentar uma narrativa crítica sobre a cópia e sua relação com a política e a sociedade ao longo do tempo. Em diálogo com o processo de escrita do livro, as quatro sessões vão abordar temas, pessoas, grupos e movimentos históricos onde a cópia ganhou destaque, sempre em diálogo com a história das tecnologias que permitiram transformações na reprodução técnica. 

Vamos examinar momentos como a criação do rádio e da arte sonora do surrealismo e do dadaísmo; o détournement situacionista e o cut-up dos 1960; a arte xerox e a mail art dos anos 1970 e 1980; os samplers e a cultura hip-hop, os remixes e os memes potencializados na internet; até chegar, por fim, a criação na era da IAs generativas.

As conferências/performances se desenvolvem em um formato experimental, ao vivo, como lives, em que a narração irá acompanhar um live coding com elementos visuais e sonoros, além de outras intervenções ao vivo. Serão gravadas e transmitidas, via canal do Youtube do BaixaCultura.

A primeira destas conferências será chamada de “A cópia na era de sua proliferação técnica” e vai ocorrer no 24 de outubro, às 19h (Brasil, UTC-3). Rafael Bresciani e Leonardo Foletto vão criar artefatos sonoros e visuais para compor a narração da conferência, centrada nas práticas e reflexões de cópia no século XX, de Walter Benjamin a Lev Manovich, passando por Marcel Duchamp, Guy Debord, William Burroughs, Hugo Pontes, Paulo Bruczky, Moholy-Nagy, Rosalind Krauss, Yoko Ono, Andy Warhol, Sherrie Levine, Devo, Talking Heads, Neu!, entre outros.

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Arte/desvio – colagens, samples e ressignificações contra a propriedade intelectual https://baixacultura.org/2023/05/11/arte-desvio-colagens-samples-e-ressignificacoes-contra-a-propriedade-intelectual/ https://baixacultura.org/2023/05/11/arte-desvio-colagens-samples-e-ressignificacoes-contra-a-propriedade-intelectual/#respond Thu, 11 May 2023 19:20:57 +0000 https://baixacultura.org/?p=15246 **
UPDATE 23/5: Aqui um roteiro aberto da fala, que transitou por isso e outros papos, sobretudo música, sampler, DJs, torrent, pirataria, Soulseek, IA…

O próximo encontro do Processo de Pesquisa, projeto da editora/livraria/espaço cultural SobInfluência na Galeria Metrópole (centro de SP), será o “Arte/Desvio – colagens, samples e ressignificações contra a propriedade intelectual”, com a participação minha (Leonardo) e de Tiago Frúgoli para apresentar nossas respectivas pesquisas e a pertinência do uso das técnicas de recombinação, sampling e colagem em um mundo cada vez mais vigiado e pautado por condições algorítmicas.

Um trecho do texto de divulgação:

A arte, em sua história, é marcada pelo plágio, o roubo, o desvio, a cópia e apropriação. Alguns movimentos históricos, artísticos e musicais, deram conta de elaborar essas práticas, que ocorrem a partir de resíduos visuais e sonoros já existentes, para desenvolver e criar algo novo. O Dadaísmo, o Surrealismo, os Situacionistas, com o desvio de símbolos e reutilização de imagens e textos, a música eletrônica e o hip hop, com uso de samples, são expressões que nos colocam para pensar sobre o que significa lidar com a arte, o insconsciente, seus desvios simbólicos e a propriedade privada que envolve esses territórios.

Leonardo Foletto é jornalista, pesquisador e doutor em comunicação (UFRGS). Desde 2008 edita o BaixaCultura, laboratório online de cultura livre e (contra) cultura digital. Seu último livro é “A Cultura é Livre: uma história da resistência antipropriedade”, de 2021.

Tiago Frúgoli é músico e educador de São Paulo. No seu trabalho, transita entre os beats, jazz, experimentalismo e música brasileira. Seu álbum “Casa” foi lançado pela YB Music, Fresh Selects (EUA) e King Records (Japão). É responsável pela curadoria do selo Ukiyo Beat Tapes.

O evento é gratuito e, se possível, inscreva-se pelo formulário. Os eventos da Sobinfluencia são gratuitos, mas para que eles continuem com a realização desse trabalho, apoiar mensalmente é muito importante.
Dia 17/05, às 19 horas, na Galeria Metrópole – Rua São Luis, 187 – sala 12, primeiro andar – República, São Paulo

LEMBRANDO QUE: desde 2018 buscamos recursos para seguirmos nosso trabalho de discussão, propagação e documentação em cultura livre, (contra) cultura digital e tecnopolítica no BaixaCultura, que em setembro de 2023 completa 15 anos de vida.

Não temos patrocinadores; o pouco que recebemos vem de pessoas que acreditam no nosso trabalho e querem que ele continue. Você pode ser um deles fácil, basta apoiar a partir de R$5 mensais em https://apoia.se/baixacultura ou doar qualquer quantia via PIX: info@baixacultura.org. O dinheiro que recebemos vai para custear nosso servidor (site e e-mail), pagar gastos com impressões do selo editorial e remunerar algumas (das muitas) horas necessárias para fazer o BaixaCultura seguir adiante.

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Comunicação, cultura livre e cópia na era da Inteligência Artificial https://baixacultura.org/2023/04/03/comunicacao-cultura-livre-e-copia-na-era-da-inteligencia-artificial/ https://baixacultura.org/2023/04/03/comunicacao-cultura-livre-e-copia-na-era-da-inteligencia-artificial/#comments Mon, 03 Apr 2023 18:16:26 +0000 https://baixacultura.org/?p=15202  

“Olá pessoal, uma alegria estar aqui com vocês*, exatos 6 anos depois de ter defendido minha tese, neste mesmo PPGCOM, especialmente com Alê Primo, que acompanhou meu doutorado e fez parte da minha banca de qualificação e defesa, e Laura Wöttrich, amiga e colega de comunicação há mais de uma década. A tese, a princípio, não tem muito a ver com o que vou falar hoje: trata de uma pesquisa sobre a mediação na Mídia Ninja, especialmente a partir da cobertura das manifestações de junho (julho, agosto) de 2013. Estudei, a partir de uma pesquisa etnográfica, como os actantes, humanos e não humanos (naquela época, sobretudo o software Twittcasting) agiram nas transmissões ao vivo, quem fez o outro fazer o quê, como e o que essa ação influenciou no resultado final dos vídeos e o que isso significou para o midiativismo, o jornalismo e as próprias jornadas de junho de 2013. Digo que a princípio a tese (disponível aqui) não tem a ver com o que vou falar hoje porque sempre há algo de inexplicável que permanece nos interesses de nossas pesquisas durante anos. Se há uma conexão mais visível da tese pra aula de hoje, ela diz respeito ao interesse na ação das tecnologias e nos “híbridos” que elas formam com a ação humana em algumas situações.

Há dois anos atrás, eu lançava, durante a pandemia, o livro “A Cultura é Livre: uma história da resistência antipropriedade”, fruto de um trabalho de quase 10 anos de pesquisa junto ao BaixaCultura – laboratório online, coletivo, blog. O livro nasceu como uma tentativa de conceituar, situar e contextualizar a cultura livre, uma ideia que se propagou a partir do software livre, nos anos 1990, e ganhou destaque com as discussões em torno do livre compartilhamento de arquivos (“pirataria”) na internet dos anos 2000. Para isso, o trabalho realizado foi o de uma genealogia que resgata uma parte da circulação dos bens culturais na Antiguidade, a grande transformação da invenção da Imprensa de Gutemberg na Idade Média e a posterior ascensão do Capitalismo com o modo de produção, tendo a propriedade como sua base. Daí se originou a noção de propriedade intelectual, que resultou na consolidação dos bens culturais como mercadoria e do direito autoral como o sistema a regular estes bens, a partir do século XIX. Também daí nasceram algumas das resistências a este sistema, sobretudo no campo artístico e político de vanguarda do século XX, primeiro em termos mais conceituais, como os trabalhos do Dada, dos situacionistas franceses da década de 1950 e 60, depois também em termos práticos, sobretudo no punk rock e na cultura do fanzine e da arte postal nos anos 1970. O que seria do hip-hop e do rap se não fosse o desrespeito à propriedade intelectual na criação dos samplers? Esses movimentos do século XX também acompanharam a notável proliferação de meios tecnológicos de reprodução – da fotocopiadora ao videocassete, das vitrolas às fitas-cassetes – e ascensão dos chamados meios de Comunicação de massa, com o cinema, o rádio e a TV passando a fazer parte no cotidiano de bilhões de pessoas. Retrato um pouco desse período e das tecnologias de reprodução do início do século XX até o computador no capítulo 4 do livro, não por acaso chamado de “Cultura Recombinante”.

Próximo da metade, o livro enfim chega aos anos 1970, à criação do computador pessoal, do software livre, e duas décadas depois, da internet. A partir daí, foca nas discussões em torno da cultura livre a partir do conceito de copyleft, um dos grandes hacks no sistema de propriedade intelectual criado no século XIX. Escrevi na página 149: “Como trocadilho ou de forma literal, o copyleft foi o conceito, expresso na licença GPL e outras ligadas ao Projeto GNU que a seguem até hoje, de requerer a posse legal para, na prática, renunciar a esta ao autorizar que todos façam o uso que desejarem da obra, desde que transmitam suas mesmas liberdades a outros. A exigência formal da posse significa que nenhuma outra pessoa poderá colocar um copyright em cima de uma obra copyleft e tentar limitar o seu uso”.

Do copyleft se origina, no início dos anos 2000, os Creative Commons, conjunto de licenças (e depois uma ONG) que vai ajudar a expandir a ideia da cultura e do conhecimento livre para o mundo inteiro, dando também origem aos movimentos da Educação Aberta (aqui no Brasil chamado de REA, Recursos Educacionais Abertos), Ciência Aberta e OpenGlam (“galerias, bibliotecas, arquivos e museus abertos”), ainda hoje ativos. À discussão (e também às críticas) sobre cultura livre se segue as transformações na internet e na comunicação digital, em que a curadoria “humana” – aleatória e solta, exemplificadas pelo hábito de flanar pelos blogs e sites, prática comum dos usuários da internet dos anos 2000 – passa a ser gradativamente substituída pela curadoria algorítmica. O que pode ser visto principalmente a partir da consolidação das redes sociais – sobretudo com o modelo “Timeline” do Facebook (que vai influenciar as outras redes a partir dos anos 2010), como conta o Willian Araújo na tese de doutorado defendida neste mesmo programa – e do streaming como sistemas algorítmicos de seleção e recomendação de informação e conteúdo de predomínio na internet.

[Lembrando: sistemas algorítmicos de recomendação, por exemplo, são IAs?]

 

 

Ao final, “A Cultura é Livre” traz a perspectiva sobre a questão da cultura e do conhecimento livre para outros modos de existência que não o hegemônico ocidental, vendo como os ameríndios e povos do extremo oriente (como os chineses) têm até hoje noções historicamente muito distintas sobre o que é propriedade intelectual, cópia e original, conhecimento aberto e coletivo. Com estas perspectivas tento lembrar que existem modos de ver o mundo, presentes em muitos lugares e comunidades tradicionais, que entram em conflito com certas ideias e modos de agir ocidentais noção de propriedade intelectual se erigiu.

Por exemplo, na China, eu falo no livro do “Shanzai”, um neologismo chinês criado nos anos 2000 para dizer o que é falso, fake. Abarca de literatura a prêmios Nobel, deputados, parques de diversões, tênis, músicas, filmes, histórias das mais diversas. No princípio, o termo se referia só aos telefones (smartphones) ou à falsificação de produtos de marcas como Nokia ou Samsung e que se comercializam com o nome de Nokir, Samsing ou Anycat. Logo, porém, se expandiram para todas as áreas, em jogos que, à maneira do Dada, usavam da criatividade e de efeitos paródicos e subversivos com as marcas “originais” para criar outros nomes – Adidas, por exemplo, se converte em Adidos, Adadas, Adis, Dasida… São, porém, mais que meras falsificações: seus desenhos e funcionalidades não devem nada aos originais e as modificações técnicas ou estéticas realizadas lhes conferem uma identidade própria.

Uma parte desse modo de ver o processo de criação como algo mais coletivo que individual, que também origina o shanzai, remete ao confucionismo, um conjunto de ideias que foi dominante na China durante mais de 1000 anos, só perdendo força no início do século XX. A influência do confucionismo na cultura chinesa fez a perspectiva do direito autoral na região ser voltada, durante muito tempo, mais à defesa de uma base de informação pública, de livre acesso e reuso – o que no Ocidente foi chamado de domínio público. Como escrevi na p.220 do livro, “a demora da China em assinar tratados internacionais de propriedade intelectual (a partir da década de 1980, quando também o país passa a ser parte da World Intellectual Property Organization) tem relação com uma cultura coletiva e de defesa do domínio público enraizada desde muito tempo em sua sociedade. E também se associa com a propagação da cultura shanzai já citada, que tem a cópia como base para a recriação de diferentes produtos e marcas a partir de uma prática criativa compiladora enraizada no dia a dia do povo da região”.

O sistema da mercadoria conhecido no Ocidente é, como se sabe, diferente para as perspectivas dos povos tradicionais – não é por acaso que Davi Kopenawa chama nós, os brancos, do “povo da mercadoria”, no monumental “A Queda do Céu”. Nas palavras da antropóloga Marilyn Strathern (1984), é a oposição da economia da commodity, na qual as pessoas e coisas assumem a forma social de coisas, com a economia da dádiva (gift), na qual pessoas e coisas assumem a forma social das pessoas. Como escrevi na p.216 do livro, “É nesse sentido que, em sociedades originárias de diversos locais do mundo, o modelo de propriedade (particularmente o de propriedade intelectual), calcado na relação da obra de arte como mercadoria de consumo, se torna insuficiente para lidar com uma relação mais duradoura e complexa da circulação de objetos. No sistema cultural das sociedades originárias, é perceptível, por exemplo, a centralidade dos valores coletivos, ligados à pluralidade e à sobrevivência da comunidade, em relação aos valores individuais, de uso exclusivo e escolha individual. O que, por sua vez, faz com que os bens culturais e de conhecimento nesse contexto sejam mais difíceis de se tornar apenas mais uma commodity vendida como mercadoria, pois há princípios e responsabilidades de reciprocidade e solidariedade que buscam valorizar a substância moral própria – que poderíamos também nomear como “alma” – dos objetos em suas relações com as pessoas e o mundo”.

A partir desse breve panorama, enfim podemos nos perguntar: como podemos falar em original e cópia se uma cultura de dois milênios do Extremo Oriente incentiva a reprodução e trata como mais importante do que a origem de uma ideia o seu conteúdo e a sua permanência, mesmo que modificada e reinventada a cada contexto? Ou como dizer que há um único humano dono de ideias quando para muitos povos originários, entre eles alguns ameríndios, não existe a separação entre sujeito e objeto como conhecemos no Ocidente, e a subjetividade criadora, a quem se deveria atribuir a “autoria” ou a “posse” dos bens, é distribuída em uma vasta rede que inclui pessoas e objetos, natureza e sociedade de modo praticamente simétrico?

Imagem criada por Giselle Beiguelman a partir dos processos text-to-image e image-to-image, como ela detalha em Ensaio Máquinas Companheiras, 2023.

 

CHEGAMOS ENFIM ÀS IAS

É na discussão sobre cópia e original que, enfim, chegamos à discussão mais quente do momento, as inteligências artificiais. Com a crescente popularização dos sistemas de Inteligência Artificial GENERATIVAS (que são capazes de gerar textos e imagens de forma autônoma), como o ChatGPT e o MidJourney, parece que estamos nos encaminhando para um outro momento histórico para discutir tanto a comunicação digital quanto a cultura e o conhecimento livre, o direito autoral e a propriedade intelectual. Alguns pesquisadores da área computacional indicam que, em breve, a quantidade de texto/imagem gerada por IAs tende a superar toda produção humana. Não é difícil de imaginar: baseado no aprendizado de máquina, o potencial é tendencialmente infinito de criação de obras. Mas dado que estes sistemas funcionam principalmente com novas apresentações de ideias que já foram geradas (e registradas em computadores), será possível reconhecer as fontes e identificar a autoria de uma informação trazida por estas IAs? Os sistemas “artificiais” – e também os “humanos”, ou seria melhor dizer para ambos “híbridos”? – de controle da informação poderão impor limites a esta proliferação e checar a veracidade daquilo que é informado? Como poderemos falar de cópia e original num mundo cada vez mais dominado por múltiplas cópias reproduzidas ad infinitum por sistemas algorítmicos “inteligentes”?

Proponho, claro, mais perguntas do que dou respostas. Tanto porque ainda é uma pesquisa inicial, que está começando enquanto, digamos, pesquisa formal acadêmica, estruturada a partir da FGV ECMI, onde hoje trabalho como pesquisador e professor. Mas principalmente porque ninguém sabe ainda responder estas e outras questões sobre IAs; as próprias empresas que estão na ponta de lança dessa discussão em 2023, como a Open IA, estão aprendendo sobre os impactos dos sistemas que criam com o feedback dos milhões de usuários. As respostas e os diferentes usos inventados pelas pessoas trazem novas respostas e novas “alucinações” dos sistemas, que estão tendo que ser corrigidos em tempo quase real.

Há, claro, um risco muito grande em experimentar ao vivo com uma tecnologia de impacto tão transformador na produção de informação, e não à toa a discussão sobre ética em IA é um dos grandes temas em debate já faz alguns anos (ou décadas). A ONU já deu recomendações, em 2021, para a suspensão do uso de IAs em sistemas de reconhecimento facial até que haja regulação sobre a utilização da tecnologia, assim como recentemente saiu uma carta assinada por mais de mil especialistas e personalidades, como Steve Wozniak, co-criador da Apple, Yuval Noah Harari, famoso historiador, além do bilionário sem escrúpulos Elon Musk, pedindo uma moratória, uma “parada obrigatória pra pensar” sobre as consequências do desenvolvimento desenfreado das IAs, especialmente as generativas como o ChatGPT.

Para entender um pouco sobre o que falamos quando tratamos de IAs generativas como o ChatGPT, gosto da imagem criada por um dos melhores textos dos muitos que publicados sobre o tema entre janeiro de 2023 pra cá. Ele se chama “ChatGPT is a blurry JPEG of the Web” e foi escrito por Ted Chiang para a New Yorker de fevereiro de 2023.

“Pense no ChatGPT como um jpeg borrado de todo o texto na Web. Ele retém grande parte das informações da Web, da mesma forma que um jpeg retém grande parte das informações de uma imagem de alta resolução. Mas se você estiver procurando por uma sequência exata de bits, não a encontrará; tudo o que você obterá é uma aproximação. Mas, como a aproximação é apresentada na forma de texto gramatical, que o ChatGPT se destaca na criação, geralmente é aceitável. Você ainda está olhando para um jpeg embaçado, mas o desfoque ocorre de uma forma que não torna a imagem como um todo menos nítida”.

A imagem do JPEG borrado nos ajuda a entender que o sistema criado pela Open IA “engole” (quase) toda a internet e regurgita reformulando o que engoliu, não palavra por palavra. Que apesar de inventar referências e outras informações erradas (quem usou certamente já foi surpreendido com um livro, um artigo inexistente), ele não “mente”, mas escreve respostas “prováveis” – ou “borradas”, seguindo na metáfora – baseada nos pesos e cálculos feitos a partir de cada token (entrada) gerado, como mostra esse infográfico produzido pela Super Interessante. São milhares de recombinações de ideias que já foram geradas pela mente humana, mostradas a partir de uma análise estatística de uma gigantesca base de dados. Base que, gigante que já é (e não sabemos bem o quão gigante é, outro grande problema ocasionado pela falta de transparência), tende a crescer cada vez mais, alimentadas por informações coletadas na rede sem autorização. Será que precisam ter autorização para isso? Será que a coleta de dados não reforça ainda mais o datacolonialismo, a extração (e a exploração) de dados de maneira desigual do sul global?

Outras perguntas que trago aqui hoje dão uma amostra das potencialidades transformadoras, para “bem ou mal”, das IAs generativas também para a discussão em comunicação e circulação de informação e bens culturais:

_ Se por um lado o crescente uso de sistemas de IA em trabalhos cotidianos favorece os usuários (inclusive na criação de novas “ocupações”, como design ou engenheiro de prompt), de outro é um problema concorrencial para os criadores intelectuais, especialmente para aqueles tipos de criação ditas instrumentais, como um cartaz de um evento, um “card” de rede social, uma trilha para um vídeo, uma ilustração para um trabalho qualquer;

_ O problema da concentração de mercado, tal qual as big techs hoje. Empresas de IA necessitam um investimento inicial alto, mas um custo de manutenção baixo para continuar produzindo obras e aumentando a oferta, o que é feito sem ser acompanhado por um aumento proporcional de demanda (esta questão trago do livro de Pedro Lana, advogado e doutorando em Direito na UFPR, chamado: “Inteligência Artificial e Autoria: Questões de Direito de Autor e Domínio Público”, lançado neste 2023).

_ A “apropriação” do espaço comum (domínio público) das ideias. Um número muito grande de obras produzidas pode exaurir a quantidade de expressões possíveis de uma ideia em um certo meio – música, por exemplo, onde já há casos de IAs, como a do Google Assistente, que reconhece os samplers de uma música, trechos de até menos de 1s. Identificar pode significar também controlar e restringir; quem já subiu um vídeo com uma música protegida por copyright no Youtube, Instagram ou outra plataforma sabe como, pela justificativa de “defender a propriedade”, as empresas de tecnologia já identificam e barram rapidamente a circulação de informações. Teria nascido o hip hop se todos os samplers usados fossem identificados, controlados e restringidos? O rapper brasileiro DOn L sacou esse perigo e escreveu assim no Twitter: “o capitalismo vai acabar com a arte do sample. sou totalmente contra ter que pagar por samples irreconhecíveis por um humano. se for por essa lógica, deveria ter direito autoral pros instrumentos. pagar pra yamaha, korg etc em toda musica kk”.

_ Os vieses, as alucinações; e as fontes? Novamente: cadê a transparência?

Aqui talvez estejam alguns dos maiores problemas hoje. Envolvem, por exemplo, os vieses, “alucinações”, erros cometidos pelo ChatGPT e exploração de trabalhadores para “corrigir” manualmente as IAs, que nos fazem vislumbrar um cenário cada vez mais próximo de uma “Dark Digital Age”.O histórico de alucinação de cunho fascista das últimas IAs não é dos melhores; será diferente agora? Se sim, como? Quais as medidas regulatórias possíveis para que estas máquinas não virem monstros racistas, misóginos e propagadores de fake news? Há muita discussão no tema, especialmente sobre legislações possíveis – algumas delas trouxe nesse texto do BaixaCultura. Vale acompanhar o trabalho da Coalizão Direitos na Rede, que está nessa e em outras pautas importantes em defesa dos direitos digitais.

No aspecto jurídico, vale lembrar também do fair use, o uso justo e suas limitações e exceções que tornaram-se um dos pilares legais dos quais os aplicativos de IA dependem. Sua defesa e ampliação, como diz Lukas Ruthes Gonçalves nesse texto, “são primordiais para que criadores e inventores possam continuar a recombinar conhecimentos existentes para criar novas e excitantes possibilidades, como faziam anteriormente com a câmera e programas de edição de imagens como o photoshop”.

Por fim, lembro Benjamin para remixar uma questão já clássica: como se identifica uma obra de arte na era de sua “reprodutibilidade algorítmica”? Se, como disse Hal Foster em “O que vem depois da Farsa?”, a força negativa da automação é menos a perda da “aura”, como acreditava Benjamin, e mais a perda do “risco individual” e da “participação comunal”, o que diríamos de processos não só automatizados quanto autônomos? Aliás, quão autônomos são estes sistemas? Outra questão: será que a obra de arte é fruto apenas do espírito humano?, como se pergunta o advogado e professor de Direito Guilherme Carboni.  Teria chegado a hora de, como os indígenas fazem a muito tempo, rever o antropocentrismo, dando status de criadores a seres não-humanos, “artificiais” ou “naturais”?

São muitas perguntas, deixo para vocês trazerem mais outras. Obrigado!”

[Leonardo Foletto]

* Esse texto parte da aula do dia 24/3, com o intuito de registrar algumas das conversas do dia. Foi elaborado antes e editado, com alguns acréscimos, até a publicação. A apresentação utilizada na aula está disponível aqui.

 

Fotos: Laura Wöttrich, professora do PPGCOM-UFRGS

Laura, Alê e Leonardo. Foto: Augusto Paim

 

 

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A vertiginosa ascensão das IAs e do ChatGPT em 2023 https://baixacultura.org/2023/03/10/a-vertiginosa-ascensao-das-ias-e-do-chatgpt-em-2023/ https://baixacultura.org/2023/03/10/a-vertiginosa-ascensao-das-ias-e-do-chatgpt-em-2023/#comments Fri, 10 Mar 2023 13:17:32 +0000 https://baixacultura.org/?p=15196  

Faz umas quatro semanas que parei para começar a escrever sobre os diversos links que todo dia chegavam (e continuam chegando) pra mim sobre IAs e o ChatGPT. Quando parava pra ler um chegava outro texto, e outro, outro, cada um mais “definitivo” do que outro, apocalípticos e desdenhosos, otimistas e proféticos, de perspectivas diferentes . Enquanto o tempo necessário para acompanhar as discussões diminuía, a coleção de links só aumentava. Passou o carnaval e fevereiro e nada de conseguir ler tudo ou escrever sobre.

Mas eis que chegou março e, bem, os links vão continuar aumentando, como sugere o meme logo acima. Mas pelo menos aqui está um pequeno resumo/panorama do que consegui parar e ler. Até o final do ano teremos muitas mudanças nesse tópico, mas neste início de março de 2023 creio ser um bom panorama.

[Leonardo Foletto]

*

O que é o Chat GPT? Esbocei, junto com duas colegas de trabalho, uma pequena definição neste texto: ele é, tecnicamente, um chatbot, um programa que tenta simular a conversação de um ser humano a partir de um modelo de Processamento de Linguagem Natural (PLN). Esse modelo é um conjunto de técnicas e princípios que permitem que uma máquina se comunique com um humano do modo mais “natural” possível. As assistentes de voz Alexa (Amazon) e Siri (Apple), por exemplo, também funcionam a partir do PLN. Contudo, o ChatGPT traz uma capacidade de simular a comunicação humana de uma forma MUITO mais sofisticada do que às encontradas nas assistentes virtuais, e aí é que começa a discussão – e as “espetaculares promessas”, como diz esse texto na Discourse Magazine, um dos primeiros de uma leva cotidiana que está debruçado a entender as promessas, transformações e revoluções possíveis a partir do sistema da OpenIA.

Aliás, começamos nessa linha: promessas, revoluções e transformações no mundo a partir do ChatGPT. Ana Busch, na Exame, faz um resgate da internet (saudosa) de outros tempos para dizer que “não adianta criticar, dizer que o bot erra, que está desatualizado, que ainda precisa caminhar muito (tudo verdade). O futuro vai se impondo dessa forma, e você tem que mergulhar antes de tomar um caldo”. Jesús Díaz, no El Confidencial da Espanha, faz uma boa análise na mesma linha: “Los analistas del Bank of America afirman que la inteligencia artificial es una revolución comparable a la electricidad. Energía, armas, medicinas o naves espaciales, todas las industrias están ya siendo transformadas por una tecnología, aseguran, que en sólo siete años aportará 15,7 billones de dólares a la economía mundial, más que el producto interior bruto anual de toda la zona euro en 2022”. Seria exagero? O tempo dirá. Porém, Jesús não deixa de apontar problemas: “En algún momento del futuro cercano, perderemos nuestra capacidad para distinguir entre los hechos y la ficción creada por las máquinas, sin importar cuántas herramientas forenses podamos idear. Resulta que, después de hablar con algunos de los principales expertos en el campo, ese “futuro cercano” ocurrirá en los próximos 10 años”.

Aqui entra um alerta para uma discussão que particularmente nos interessa: o que é cópia e original na era das IAs? Alguns pesquisadores da área computacional indicam que, em breve, a quantidade de texto/imagem gerada por IAs tende a superar toda produção humana. Dado que estes sistemas funcionam principalmente com novas apresentações de ideias que já foram geradas (e registradas em computadores), será possível reconhecer as fontes e identificar a autoria de uma informação trazida por estas IAs? Os sistemas “artificiais” – e também os “humanos”, ou seria melhor dizer para ambos “híbridos”? – de controle da informação poderão impor limites a esta proliferação e checar a veracidade daquilo que é informado? Já há casos de IAs, como a do Google Assistente, que reconhece os samplers de uma música, trechos de até menos de 1s, e essa tecnologia está apenas em sua infância. Como poderemos falar de cópia e original num mundo cada vez mais dominado por múltiplas cópias reproduzidas ad infinitum por sistemas algorítmicos “inteligentes”? Quais os riscos da reprodução e do aumento de vieses (racistas, machistas, liberais, xenofóbicos) presentes na sociedade no transporte para estes sistemas de processamento de linguagem natural (PLN) como o GPT-3?

A discussão em torno da cópia, plágio e direito autoral a partir do ChatGPT e outros sistemas de IA é uma das que mais tem rendido debate. Neste ótimo texto, Lukas Ruthes Gonçalves, doutorando pela UFPR e membro do Grupo de Estudos em Direito Autoral e Industrial (GEDAI/UFPR), retrata os casos em que artistas processaram IAs por infringir copyrights, caso dos apps Stability.ai e Midjourney, e do como outros casos ainda estão surgindo – caso da Getty Images, que está processando a Stability.ai por supostamente usar imagens da empresa. Ele afirma que a doutrina de uso justo (fair use) e suas limitações e exceções tornaram-se um dos pilares legais dos quais os aplicativos de IA dependem. E que sua “defesa e ampliação são primordiais para que criadores e inventores possam continuar a recombinar conhecimentos existentes para criar novas e excitantes possibilidades, como faziam anteriormente com a câmera e programas de edição de imagens como o photoshop”.

Sobre usos possíveis, há também bastante gente falando. Márcio Telles, pesquisador e professor de comunicação da Tuiuti do Paraná, fez um compilado de usos possíveis (e comentários sobre) dentro da criação e edição de um texto acadêmico. “Tenho a impressão de que a IA democratiza a figura do “assistente de pesquisa” para o “Sul Global” e fura o entrave erguido entre Norte/Sul pela barreira da língua”, escreve Márcio, que vem experimentando com o sistema e postando em suas redes com alguma frequência. O que também vem fazendo o pesquisador Mushtaq Bilal em seu Twitter, em inglês, mas com uma abertura ao ptbr em uma boa thread de “Como usar o ChatGPT em dois tipos de abordagem, minimalista e maximalista”.  O pessoal do Núcleo.Jor também deu boas dicas (24 usos). Nessa editoria, mas com abertura para decorrências do uso do sistema, também entra o cientista cognitivo, pesquisador e professor brasileiro Diogo Cortiz. Dele, destaco dois posts: um sobre um primeiro artigo estruturado (segundo ele) sobre impacto do ChatGPT em tarefas de escrita, em que os pesquisadores fizeram um experimento com profissionais de qualificação média e encontraram aumento da produtividade, da qualidade da entrega e da satisfação dos profissionais. E outro sobre como o ChatGPT pode literalmente alucinar – alucinação maquínica é um termo usado na área técnica para indicar quando a máquina dá uma resposta confiante, mas sem qualquer justificativa nos dados de treinamentos. Quem já usou o ChatGPT sabe que ele inventa informações e sobretudo referências bibliográficas; mente convicto de que está certo.

No tema “problematização do uso no ensino”, vale conferir as colunas de Ronaldo Lemos na Folha de S.Paulo, especialmente esta. “Na minha aula no Schwarzman College o uso do ChatGPT é obrigatório. Todos os trabalhos DEVEM ser feitos por ele. No entanto, a nota vai ser dada pela qualidade dos “prompts” que os alunos fizeram para chegar no resultado. Em outras palavras, vou dar a nota pela qualidade das perguntas, e não da resposta”. Em contrapartida, escolas públicas de Nova York proibiram o uso do ChatGPT. Escolas e Universidades dos Estados Unidos estão começando a repensar por completo seus métodos de ensino. “Antony Aumann, professor de filosofia na Universidade Northern Michigan, pensa em talvez abrir mão de redações em semestres subsequentes. Também pretende incluir o ChatGPT em suas aulas, pedindo aos estudantes que avaliem as respostas dadas pelo chatbot. “O que vai acontecer em sala de aula não será mais ‘aqui estão algumas perguntas –vamos discutir isso entre nós, seres humanos’”, disse ele, mas “alguma coisa como ‘e o que esse robô alienígena pensa sobre a questão?'”, como conta nesse texto do NY Times traduzido pela Folha de S.Paulo. No Brasil, o professor Márcio Carneiro, do LabCom da UFMA, está fazendo vários testes com o ChatGPT – um livro, gerado de modo experimental com o apoio do sistema da Open IA, chamado “Inteligência Artificial Generativa”, disponível pra download; e um curso, o primeiro do Brasil, de “Introdução ao Prompt Design”, onde se ensina do zero a gerar textos para várias finalidades e imagens usando ferramentas de IA, sobretudo MidJourney e o ChatGPT. Engenheiro de Prompt é a nova profissão do futuro – até que o futuro mude outra vez.

O Sciences Po, renomada universidade e centro de pesquisa francês, que teve Bruno Latour como criador de seu MediaLab, baniu o uso do ChatGPT sem evidenciar as fontes. Disse o comunicado da Instituição: “Sem referenciar de modo transparente, os alunos estão proibidos de usar o software para a produção de qualquer trabalho escrito ou apresentações, exceto para fins específicos do curso, com a supervisão de um líder do curso”. Mais do que banir, porém, o Sciences Po abriu a discussão sobre o Chat e outros sistemas de IA e determinou regras para seus usos baseados em três princípios:

_ Repensar com os professores os critérios de avaliação em prol da avaliação de competências – perante uma situação complexa, desenvolvendo um trabalho reflexivo pessoal e uma análise crítica aprofundada – em vez de uma verificação de conhecimentos.

_ Incluir ferramentas de IA nos exercícios propostos. Por exemplo, pedindo aos alunos que testem os limites da ferramenta corrigindo seus erros, verificando sua bibliografia ou examinando criticamente sua contribuição.

_ Oferecer cursos dedicados a estas ferramentas, para que os alunos tenham consciência das suas potencialidades e limitações.

Há também a discussão, claro, de mercado e concorrência. Diante da ameaça do ChatGPT, e dos testes que a Microsoft vem fazendo com o chat acoplado ao seu buscador (o Bing), o Google acelerou suas pesquisas na área e apresentou o Bard em Janeiro. A iniciativa  veio de uma diretriz geral do Google em focar seus investimentos em IA para concorrer com a Open IA e a Microsoft. O Bard é basicamente um chatbot alimentado por IA que foi projetado para ser usado em pesquisas – uma cópia do ChatGPT + Bing, portanto. Ou pelo menos era: diante dos erros em sua apresentação, que dizem especialistas custou R$100 bilhões de prejuízo em valor de mercado, a empresa tratou de desmentir que seria um buscador, mas na verdade uma outra coisa – que ninguém sabe bem o quê.

Rodrigo Ghedin, em sua coluna de 3 de março no Manual do Usuário: “O ChatGPT pode até se provar apenas uma moda passageira daqui a alguns meses, mas hoje é tido como o futuro, o que torna ameaça bastante real: trata-se do produto digital que mais rápido atingiu 100 milhões de usuários (em apenas dois meses) e, em paralelo, está chegando às pessoas de outras formas, em produtos de parceiros diversos, alguns de peso como a Microsoft e a Snap. Age como toda boa disrupção: mudando o campo de batalha. É difícil superar o Google no ato de devolver dez links relevantes e alguns anúncios numa página web após uma pesquisa. O ChatGPT troca esse paradigma por uma conversa, uma espécie de WhatsApp em que seu interlocutor é uma inteligência artificial em overdose após consumir boa parte do conhecimento já produzido pela humanidade — até meados de 2021, pelo menos”.

Há, por fim (e por hora), as questões mais problemáticas envolvendo as IAs. Elas envolvem, por exemplo, os vieses, “alucinações”, erros cometidos pelo ChatGPT e exploração de trabalhadores para “corrigir” manualmente as IAs, que nos fazem vislumbrar um cenário cada vez mais próximo de uma “Dark Digital Age”.O histórico de alucinação de cunho fascista das últimas IAs não é dos melhores; será diferente agora? Se sim, como? Quais as medidas regulatórias possíveis para que estas máquinas não virem monstros racistas, misóginos e propagadores de fake news? Há muita discussão no tema, especialmente sobre legislações possíveis. Na Europa está em discussão um projeto de lei de regulação dos sistemas de inteligência artificial (“AI Act”), proposto pela Comissão Europeia. Nos EUA, o governo Biden publicou o “Blueprint for an AI Bill of Rights”, um conjunto de princípios éticos sobre inteligência artificial. Há também um projeto de lei em andamento no Congresso americano, que busca regular as decisões automatizadas tomadas por meio de algoritmos. No Brasil, houve a aprovação do Projeto de Lei 21/20 e a criação de uma comissão de Juristas para discutir o tema e propor subsídios para um substitutivo, o que ocorreu após 9 meses de trabalho, em que foram ouvidos mais de 50 especialistas em audiências públicas multisetoriais e seminários internacionais. O resultado é um robusto relatório de 900 páginas pouco lido – mas que mereceria mais atenção. Laura Schertel Mendes, professora de Direito na UNB, comenta sobre ele e o processo de regulação nesse bom texto em O Globo.

Encaminho mais alguns links soltos de bons textos, revistas, que saíram nesses últimos meses sobre o tema:

_ Dossiê  Comunicação na Era da Inteligência Artificial: da ideologia neoliberal ao colonialismo de dados. Revista Fronteiras, Unisinos.

_ Nem Humanas Nem Artificiais: 10 pontos para entender a Chat GPT e as qualidades conectivas das hiper Inteligências Castells, Massimo De Felice.

_ André Lemos em sua newsletter no Substack: “O que fazemos, nos processos educativos é sugerir livros acadêmicos, artigos, romances para ler e pedir que se produza juízo crítico, reflexão, debate. Devemos fazer o mesmo com os sistemas de IA. Ninguém pensa hoje em banir os livros por poderem ser copiados, ou pela possibilidade de uma biblioteca substituir um professor. (…) Você conhece algum professor no seu dia-a-dia que não use o dispositivo informacional livro?”

_ Matéria de capa de fevereiro da Super Interessante: O futuro da Inteligência Artificial e o que vem depois do ChatGPT (com paywall).

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14 anos de BaixaCultura https://baixacultura.org/2022/09/15/14-anos-de-baixacultura/ https://baixacultura.org/2022/09/15/14-anos-de-baixacultura/#comments Thu, 15 Sep 2022 18:00:11 +0000 https://baixacultura.org/?p=14899 Acredita se quiser: setembro de 2022 é o mês em que completamos 14 (!) anos

Em 15 de setembro de 2008, o post que inaugurava esse espaço usava o documentário “Good Copy, Bad Copy” para fazer uma espécie de manifesto do que pensávamos sobre toda a questão da livre circulação de cultura na rede. Um trecho:

Os argumentos falaciosos [da Indústria Cultural que criminaliza o download] mascaram o problema do acesso com a histeria em torno da violação de direitos e do lucro indevido, sem nenhuma vergonha do anacronismo ademais antidemocrático (afinal, o acesso à cultura diz muito da qualidade de uma democracia) do tratamento dispensado a questões como a da cópia livre ou o sampler, essa técnica já secular.

Secular, pois é. Praticada na literatura desde Lautrèamont e, décadas depois, adotada por surrealistas, situacionistas, e uma pá de outros doidos defensores de que numa sociedade entupida de informação, a utilização de materiais pré-existentes pode ser bem mais subversiva do que produzir a partir dum vago princípio de originalidade.

Depois vieram dub, rap, hip hop, os soundsystems, respostas da periferia (econômica, mas também geográfica) ao caráter unidirecional da cultura pop. Respostas mais e mais ameaçadoras para a indústria à medida que a tecnologia digital se torna largamente acessível para qualquer um que queira produzir e compartilhar cultura. Nesse ponto, não apenas os modos de produção, mas também os de distribuição e consumo de produtos culturais necessitam de revisão.

A lógica industrial da cultura [a lógica cultural dominante ao longo do século 20] se baseia num esquema feroz de controle autoral (o copyright), mais ou menos feroz a depender do volume de grana envolvido [no Brasil, pelo menos, os contratos de edição de livro são bastante flexíveis se comparados aos acordos abusivos da indústria fonográfica]. Quando a tecnologia digital torna impossível esse controle, e aos lucros cada vez menores da indústria se equipara uma produção cultural descentralizada, diversificada e auto-gerenciada; quando a reação da indústria é uma dispendiosa campanha “contra a pirataria” por vezes redundando em leis ignorantes, é aí que o toque dado por Ronaldo Lemos em seu depoimento ao filme serve como uma luva: a sociedade é a grande concorrente da indústria.

De lá pra cá, tudo mudou na internet. Quase desnecessário dizer, mas gostamos da repetição: “Navegar na internet”, uma frase tão comum na época quanto a famigerada expressão “internauta”, era o hábito cotidiano de entrar em um site e, dele, pular para outro, e outro, e outro, até se perder, horas depois, em uma página em que não se sabia bem como se havia entrado. Flanêur digital era outra expressão utilizada para identificar esse caminhante sem rumo pela rede, que se perdia nas esquinas dos blogs como um andarilho pelas ruas das grandes cidades.

As plataformas digitais, e o Facebook em especial, mudaram esse movimento; trouxe a cidade inteira para o caminhante andar sem sair do lugar. Uma cidade construída por uma (ou poucas) empresa privada que, em cada movimento feito pelo seus habitantes, produz um dado, o qual, recombinado a outros milhares, torna-se extremamente rentável, preciso, invasor, gerando o que atualmente se define como “capitalismo de vigilância”, o modo de viver e ganhar dinheiro predominante na internet hoje – e o resto é história (parcialmente documentada aqui, aliás).

Para celebrar essa efeméride, estamos lançando este site novo. A proposta foi atualizar o visual, que desde 2012 era o mesmo, e facilitar o acesso ao que produzimos. O trabalho, que modéstia a parte achamos lindo, ficou a cargo do designer Gustavo Alencar. Ainda estamos fazendo ajustes e logo teremos novidades (A VOLTA DO BLOGROLL!). Se tiver alguma sugestão, crítica ou comentário só deixar aqui, falar no info@baixacultura.org e onde mais você quiser.

 

 

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Mais do mesmo, mas diferente https://baixacultura.org/2022/03/11/mais-do-mesmo-mas-diferente/ https://baixacultura.org/2022/03/11/mais-do-mesmo-mas-diferente/#respond Fri, 11 Mar 2022 15:32:26 +0000 https://baixacultura.org/?p=13922

De Nova York, o diretor canadense Kirby Ferguson tem revelado desde 2010 os segredos criativos da cultura pop através de uma série de vídeos chamada “Everything is a Remix” (Tudo é Remix). Muito popular na internet (ou em uma certa parte da internet) dos anos 2010, os vídeos ganharam em 2015 uma versão remasterizada e, ano passado, uma nova versão em quatro capítulos – não por acaso, remixada das anteriores.

O primeiro episódio dessa “nova temporada” (pode ser visto acima) foi lançado em setembro de 2021 e foca justamente no conceito de remix, com destaque para a música.

O segundo, apresentado no Youtube em dezembro de 2021, trata do principal símbolo da vitória do remix na produção e circulação cultural massiva hoje: os memes, estas bombas semióticas recombinantes que captam nossa atenção, nos fazem rir, sofrer, chorar. Em uma edição ágil, cheia de referências pop e uma narração informativa em off, Ferguson argumenta que tudo o que você faz e compartilha com o mundo na internet hoje é meme: roupas, tweets, sons, vídeos, tiktokers, gamers. No início do vídeo, a voz em off comenta: “mesmo que não se entenda exatamente o que se quer dizer com um meme, ele são profundos”, para logo contar a conhecida origem da popularização do termo no livro “The Selfish Gene” (“O Gene Egoísta”, 1976), do biólogo Richard Dawkins.

 

[Meme é uma palavra que designa “coisas imitadas”, originária do grego “mīmēma (μίμημα), por sua vez vinda de “mimeisthai” (μιμεῖσθαι, ‘imitar’), que foi usada por Dawkins para conceituar meme como a unidade básica da memória ou do conhecimento, aquilo que o ser humano transfere conscientemente para os seus descendentes – o equivalente cultural do gene da biologia, um segmento de uma molécula de DNA responsável pelas características herdadas de um ser humano.]


Depois, o vídeo fala de como hoje o cinema hollywoodiano está tomado de remakes, boa parte delas baseada na consagrada “jornada do Herói”, por sua vez inspirada pelas narrativas mitológicas antigas e recontadas para o século XX principalmente a partir de “O Poder do Mito”, de Joseph Campbell, influência na narrativa de 10 entre os 10 filmes mais vistos hoje. Afinal, por que isso ocorre? No fim das contas, porque buscamos o familiar, personagens e histórias que de algum modo já conhecemos; usamos elementos “velhos” para entender os “novos” – a começar pelas próprias palavras, tradicionalmente formadas a partir de outras já existentes (entender a origem a história das palavras ajuda a entender o mundo, sério). Copiamos, depois criamos; a imitação precede a criação, como há milênios os povos do extremo oriente (especialmente os chineses) sabem com mais clareza do que os ocidentais, como contei em detalhes no último capítulo de “A Cultura é Livre” ao falar da influência do confucionismo na cultura chinesa. Um trecho do livro:

“Nessa filosofia, desde muito pequenas as crianças eram ensinadas a pensar a partir da memorização e da cópia dos clássicos, procedimento que, segundo seus mestres, incutiria nos jovens valores familiares, piedade filial e respeito ancestral (…). Quando essas crianças cresciam, elas se tornavam mais compiladores que compositores. Memorizavam tantas histórias clássicas que passavam a construir suas narrativas a partir de um extenso processo de copiar e colar (cut-and-paste) frases, trechos e passagens desses textos antigos. Se aos olhos de um ocidental, especialmente do século XX e XXI, isso seria visto como plágio, para os chineses da época era visto como um traço distintivo de intelectualidade e conhecimento cultural. “Quando autores chineses tradicionais tomam emprestado trechos de um texto preexistente e, principalmente, de um clássico, espera-se que o leitor reconheça a fonte do material emprestado instantaneamente. Se um leitor é infeliz o suficiente para deixar de reconhecer esse material citado, é culpa dele, não do autor”. (..). O pensamento de Confúcio manifestaria uma visão de que “a capacidade de fazer uso transformador de obras preexistentes pode demonstrar a compreensão e a devoção ao núcleo da cultura chinesa, bem como a capacidade de distinguir o presente do passado através de pensamentos originais” (p.209-210, “A Cultura é Livre”)

 

Vale a pena assistir a série, mesmo pra quem já viu muitas vezes a primeira versão de “Tudo é remix” como eu (escrevemos sobre ela aqui no BaixaCultura, lá em 2011, e usei inúmeras vezes em sala de aula para falar de remix e criação). Assim como o assunto que trata, essa segunda versão do filme também não tem nada de “original”, mas a nova combinação de referências faz com que ele seja fresh e educativo para todos aqueles que querem entender os mecanismos da criação – ou simplesmente criar. Mostra novamente, agora para a Geração Tik Tok, que desde sempre novas ideias só surgem ao se copiar de antigas. O terceiro episódio dessa nova série está prometido para março de 2022.

[Leonado Foletto]

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