Argentina – BaixaCultura https://baixacultura.org Cultura livre & (contra) cultura digital Mon, 26 Sep 2022 14:01:15 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.9 https://baixacultura.org/wp-content/uploads/2022/09/cropped-adesivo1-32x32.jpeg Argentina – BaixaCultura https://baixacultura.org 32 32 Formas distribuídas de propriedade e autoria culturais na América Latina https://baixacultura.org/2022/09/26/formas-distribuidas-de-propriedade-e-autoria-culturais-na-america-latina/ https://baixacultura.org/2022/09/26/formas-distribuidas-de-propriedade-e-autoria-culturais-na-america-latina/#respond Mon, 26 Sep 2022 13:38:56 +0000 https://baixacultura.org/?p=14941 Na última semana, de quinta a sábado (22 a 24/9) aconteceu o “Digitalizar en común: formas distribuidas de propiedad y autoría culturales“, seminário organizado por Creative Commons Mexico, Wikimedia Mexico e Red en Defensa de los Derechos Digitales (R3D), a partir do Centro Cultural de Espanha do México. A programação teve a participação de vários ativistas e pesquisadores da cultura livre no continente e tratou de temas como copyleft, gestão dos direitos digitais e de bens culturais, acesso aberto e diversidade em perspectiva crítica, reformas de leis de direito autor no continente, entre outros.

Participei da mesa “Formas distribuidas de propiedad y autoría: los esfuerzos y particularidades en Latinoamérica”, com Jorge Gemetto (Artica Online, Uruguay), Viviana Rangel (Fundación Karisma, Colômbia), Franco Giandana (Fundación Vía Libre, Argentina) e moderação de Salvador Alcántar (México), Universidad de Guadalajara. Todos nós algo veteranos no tema, com pelo menos 5 (no meu caso, 14) anos participando do debate em torno da cultura livre na América Latina. Tentamos responder às (muitas) questões trazidas a partir desta ementa e destas questões:

En tiempos de privatización del conocimiento los países de Latinoamérica se ven particularmente afectados. Fenómenos como el colonialismo de datos, las leyes maximalistas de derechos de autor, el desentendimiento de los Estados hacia el fenómeno de la privatización de los bienes generados en las universidades públicas, las prácticas leoninas de editoriales académicas y un largo etcétera; parecen debilitar otros modelos de distribución más justos y equitativos. ¿Cuáles son los esfuerzos que se han hecho desde los países del Sur Global?; y, ¿cuál es el futuro de los bienes comunes digitales en este contexto? ¿Cuáles son las particularidades del contexto de los países del sur en cuanto a la compartición del conocimiento y qué estrategias podríamos seguir frente a otros esfuerzos de otras latitudes y geopolíticas?

_ ¿Qué papel juega la piratería digital dentro del contexto latinoamericano?

_ ¿Cuál es el rol de las bibliotecas (en cualquier formato) en el futuro de la accesibilidad del conocimiento en LA?

_ ¿Cuál es su prospección para los siguientes años sobre la propiedad intelectual en la región?

_ ¿Cuáles son las propuestas de la sociedad civil sobre propiedad intelectual y autoría en la región?

O vídeo onde a gente tenta (e nem sempre consegue) responder a estas questões pode ser visto na íntegra (até 1h40) aqui. E a íntegra do evento, com todas as outras mesas, podem ser vistas aqui (primeiro dia; segundo dia).

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Fazendo a internet das pessoas https://baixacultura.org/2020/09/09/fazendo-a-internet-das-pessoas/ https://baixacultura.org/2020/09/09/fazendo-a-internet-das-pessoas/#respond Wed, 09 Sep 2020 13:22:47 +0000 https://baixacultura.org/?p=13241

Primeira Cumbre Argentina de Redes Comunitárias, em Córdoba (AR). Martin Bayo CC BY SA / Wikimedia

Levamos meses escutando sobre a construção de uma normalidade pós-pandemia. Quem a está definindo? Estamos sendo parte dessa construção? O que tem de nova? É o futuro que desejamos?

Desde alguns anos – décadas em alguns casos – , diversos coletivos, ativistas e militantes estamos debatendo, resistindo, propondo e construindo a largo prazo um caminho de soberania e autonomia tecnológica. As discussões vão desde o acesso à internet, neutralidade da rede, como cuidar da tão desdenhada privacidade e por mais atenção no valor de nossos dados; passando também pela necessidade de refletir sobre as tecnologias que usamos e as possbilidades de cocriá-las; e pelo acesso, a cópia, o remix e a difusão de todo tipo de obras culturais (filmes, livros, músicas e um grande etc). De tudo isso que tem sido falado, discutido e consensuado em certos nichos ou círculos, quando chegou a pandemia esses problemas se tornaram mais urgentes – e as inquietudes tomaram maior escala.

Assim, frente a velhos problemas, aparecem as mesmas lógicas tecnológicas vestidas de soluções inovadoras que só reforçam ou aprofundam as desigualdades estruturais existentes. Toda nossa capacidade de nos comunicarmos à distância, de nos educarmos, de nos entreter e socializar e de trabalhar caíram nas mãos de poucas empresas. Desta forma, a esperança de chegar a uma “nova normalidade” pós-pandemia parece depender de quão hábeis vamos conseguir nos mover em certas plataformas digitais – sejam as que já conhecemos, as que recém estão sendo instaladas ou aquelas que buscam se tornar o padrão da indústria.

Timidamente se escutam algumas vozes debatendo que, por trás dessa “adaptação”, também está a renúncia de direitos de todos os tipos: de nossa intimidade e privacidade, de condições de trabalho e de possibilidades de lazer, acesso à informação e a bens culturais.

Os grandes valentões da internet

Alguns dias atrás, em junho, o Financial Times noticiou o Top 100 de empresas que cresceram em valor de merdado desde o início da pandemia, em março, incluindo também o crescimento patrimonial de seus fundadores, donos ou principais acionistas (veja aqui a tabela completa, baseado nos números do ranking de milionários da Forbes). É importante ver como o ranking está encabeçado por aquelas empresas (e pessoas) ligadas à tecnologias, um setor altamente concentrado.

Há, em primeiro lugar, a Amazon; a Microsoft (#2) cresceu em US$ 269.000 milhões, enquanto Bill Gates aumentou seu patrimônio aproximadamente em 12%. Algo parecido ocorreu com a Apple (#3), com um salto de US$219.000 milhões desde o início da pandemia, enquanto Laurene Powell Jobs, viúva de Steve Jobs, viu sua fortuna cresce em 26%.

Um pouco atrás, outras startups do Vale do Silício também ocupam um lugar privilegiado no ranking. Facebook (#6) cresceu US$85 milhões e, como espelho, a fortuna de Mark Zuckerberg aumentou quase 60%. Alfabeth, a ex-Google, está em #8 com a soma de US$68.000 milhões,; tanto Larry Page quanto Sergey Brin, seus criadores, engordaram seu caixa ao redor de 29%. Netflix (#12) subiu US$55.000 milhões em seu valor nesse período – e a fortuna de Reed hastings, seu fundador e diretor-executivo, subiu em 30%.  A grande “novidade” desta pandemia foi o Zoom (#15), que com sua plataforma de videochamadas aumentou sua cotação no mercado em US$48.000 milhões. Seu criador e principal acionista, Eric Yuan, viu sua conta bancária quase dobrar, crescimento de 98%. Entre os “jogadores locais” do Continente, o Mercado Libre (#37) cresceu U$$ 18.000 milhões e o valor do partimônio do argentino Marcos Galperin, seu presidente e co-fundador, dobrou, chegando a U$$4100 milhões.

Tom Grillo / NY Times

Os mecanismos pelos quais algumas dessas empresas aumentaram seus valores são, em alguns casos, mais “transparentes” (nem por isso menos ferozes), caso de Netflix, Amazon ou Mercado Livre, que exigem assinaturas pagas ou cobram taxas pelos seus serviços. Em outros casos, a suposta gratuidade das plataformas oculta a opacidade das diretrizes publicitárias mediante a extração e a comercialização abusiva dos dados dos usuários – e, por sua vez, a manipulação dos conteúdos publicados nas plataformas segundo algoritmos que privilegiam os interesses políticos e econômicos destas corporações e de seus aliados. Os casos mais emblemáticos aqui são, claro, Facebook e Google.

De qualquer maneira, a “chave do êxito” é um gigante de duas pernas que, como dizíamos no início, desde algum tempo coletivos e espaços ativistas estamos tentando derrubar. Duas pernas porquê, por um lado, nos mostram uma vida onde a tecnologia é imprescindível. O advento sem aviso prévio – e, em princípio, provisório – de uma virtualização forçada abriu caminho para que essas corporações corroborassem a hipótese que elas mesmas haviam instalado: precisamos de tecnologia para cada uma das tarefas de nossa vida. Esse argumento cai em pedaços quando nos afastamos um pouco dos grandes centros urbanos ou quando nos aproximamos de setores que, inclusive nas grandes cidades, não tem acesso às tecnologias digitais ou à conexão de qualidade desde antes da pandemia.

Por outro lado, e com muito mais força, não só não podemos viver sem tecnologia, mas precisamos exclusivamente dessas tecnologias dos grandes monopólios. Já não podemos lembrar de datas de aniversários sem que o Facebook nos recorde; não podemos lançar um tema para o debate sem uma hashtag no Twitter; não podemos difundir uma comvocatória sem espalhar em grupos de WhatsApp; não podemos estudantes e docentes sustentar o vínculo pedagógico sem o Google Classroom; não podemos ter uma reunião, conversa ou conferência sem utilizar o Zoom.

Assim, estas empresas vencem a pandemia não só em termos econômicos – embora seja evidente que essas cifras milionárias não façam mais do que ampliar as brechas e aumentar a concentração de poder. Ganham também, e de modo fundamental, ao se instalarem como as únicas soluções, exclusivas e excludentes, em um cenário que parece não deixar lugar ao colaborativo, ao comunitário, a construção horizontal, solidária, autônoma e comprometida.

Re-imaginando horizontes tecnológicos

Em um cenário de total dependência e de um destino incontornável como o que estas empresas hoje nos apresentam, as pessoas – como indivíduos e como coletivo – passam a não ter o direito de conhecer e controlar todos os processos vinculados às tecnologias que regulam nossas próprias vidas. Mesmo assim, é possível vislumbrar outros horizontes quando começamos a imaginar e construir outra relação com outras tecnologias.

Há quem, em vez de propor fugas das tecnologias corporativas, de maneira individual ou setorial, buscam estratégias que sejam coletivas. E é aqui onde “comunidade” e “colaborativo” deixam de ser um slogan marqueteiro para recuperar uma mirada política onde o saber é compartilhado, o conhecimento se constrói em uma rede de pares, as experiências se valorizam em sua diversidade, e a autonomia e a autogestão impulsionam práticas coletivas. É assim que emergem propostas de organizações e comunidades que compartilham tecnologias, conhecimentos e conteúdos livres.

Acampe Feminista 2019 Santa Fe Argentina. Gabriela Carvalho CC BY SA / Wikimedia

Um primeiro exemplo a considerar tanto estrratégia de disputa e construção de sentido em territórios digitais, no caso da Argentina, são as Coberturas Colaborativas. São movidas impulsionadas por um grupo de midiativistas das cidades de Paraná e Santa Fe que se concentraram na Wikipedia e no repositório da Wikimedia Commons como ferrametnas colaborativas para disseminar e tornar as lutas visíveis. É um espaço onde as fotografias “liberadas” ficam disponíveis para ilustrar artigos da enciclopédia livre, mas também permitem construir uma memória digital comum, livre, aberta e com possibilidades de seguir crescendo.

Este banco de imagens inclui material das mobilizações de um passado recente em Paraná e Santa Fe – por exemplo, a inundação de 2003, a Escola Pública Itinerante, o conflito universitário de 2018 e os últimos 24 de Março. Também de expressões festivas populares como os Carnabarriales realizados no Centro Social e Cultural El Birri.

Carnabarriales em Santa Fé, AR. TitiNicola / Wikipedia CC BY SA

Mas, sem dúvida, a principal mostra está nos registros fotográficos colaborativos em relação às lutas feministas nas duas capitais da província (Paraná e Santa Fe) – “pañuelazos” pelo aborto legal, convocatórias de coletivos LGBT, 8M ou a Greve Internacional da Mulheres. Essa dinâmica foi gerada a partir de encontros em que fotógrafos – com maior ou menor nível de formação técnica – debateram porquê e como dar visibilidade a essas lutas de maneira coletiva. Especificamente em Santa Fe, a proposta coincidiu com a necessidade da Mesa Ni una Menos de cobrir as movidas e recuperar materiais de anos anteriores que estavam espalhados pelas redes, com a ideia de gerar novas peças comunicacionais para difundir as atividades.

No repositório é possível acessar a mais de 4300 imagens feitas na maioria por fotógrafas mulheres, um número que pode crescer com base nas contribuições futuras que o projeto receber.

Docentes da Tecnicatura Universitaria en Software Libre (UNL) durante el taller de redes libres, armado de antenas y experimentación en el Bachillerato Popular de la Vuelta del Paraguayo (Santa Fe). Nianfulli CC BY SA / Wikimedia

Em termos de infraestrutura técnica, exemplos mais significativos de re-imaginação de cenários tecnológicos são as diversas comunidades que integram a Cumbre Argentina de Redes Comunitarias, que autogerem a forma com que se conectam à internet. Este movimento começou alguns anos atrás em diversos pueblos da Província de Córdoba como uma possibilidade de conexão para quem vive em lugares que não são rentáveis para as empresas de internet [NT: de modo parecido ao que é feito, no Brasil, pela Coolab.] Depois, as redes foram ampliadas, compartilhando metodologias com comunidades indígenas, bairros e assentamentos populares rurais e urbanos em Jujuy, Salta, Província de Santa Fé e na grande Buenos Aires. O processo tem promovido aprendizado e apropriação tecnológica em colaboração com pares e com software livre. Implica, também, em perder o temor para desarmar e adaptar artefatos – os modens, por exemplo – e intervir sobre seu software de funcionamento. 

As redes livres comunitárias emergem com o duplo propósito de garantir o direito ao acesso à internet e, ao mesmo tempo, que as comunidades sejam criadores de seu próprio “pedacinho de internet” de maneira autogestionada, colaborativa e de acordo com suas tradições. Algumas experiências estão com a tarefa de conseguir espaços de confluência com bases já organizadas em torno de problemas e discussões comuns. Por exemplo, com movimentos camponeses que lutam pelo direito à terra e pela soberania alimentar, e com rádios comunitárias com histórico de militância no direito à comunicação. Essas organizações muitas vezes habitam e compartilham territórios de conflito, onde, além de terem seus direitos violados, não tem acesso à internet em casa ou via redes móveis de celular. o que limita as possibilidades de construir suas próprias narrativas, ou uma documentação coletiva de seus conhecimentos, ou ainda uma memória de suas lutas.

Em relação às plataformas de comunicação, há um amplo universo de redes sociais livres que promovem as práticas de cuidado e anonimato, a soberania tecnológica e a auto-gestão: Mastodon (microblogging), Diáspora e Friendica (redes sociais descentralizadas), FunkWhale (redes de áudio e músicas), WriteFreely (plataforma de blog), PeerTube (plataforma de vídeos), PixelFed (rede federada de compartilhamento de fotos), además da GNU Social, uma das mais antigas. [NT: para mais informações sobre o que é uma rede livre, veja na Wikipédia (em espanhol). Tambérm vale conferir esta charla sobre o tema]. jTodas elas se apresentam como ambientes férteis para construir e ressignificar as tecnologias a partir do ativismo. Partem de uma crítica às redes sociais corporativas e convidam a habitar espaços digitais construídos sobre pilares mais próximos com os valores e propósitos sociais, políticos e comunitários de nossas organizações e coletivos.

É certo que o desligamento das ‘big techs” ou dos serviços corporativos pode não ser um movimento simples. Em algum momento, diante da necessidade “inevitável” de uso dessas plataformas massivamente utilizadas, o mal menor costuma ser priorizado: qual era a menos insegura? Qual violou menos nossos direitos? Talvez este momento histórico seja o oportuno para virar a equação: se a proposta é a “internet das coisas”, vamos consolidar, ampliar, replicar e interconectar a pequena internet das pessoas.

Berna Gaitán Otarán e Cecilia Ortmann, de Radar Libre Argentina.
(Original em espanhol. Adaptação: BaixaCultura)
Sobre como funciona e se gestiona as redes sociais livres, veja: abicivoladora.wordpress.com/vivas-libres-y-federadas/

Para conhecer experiências com tecnologias livres e comunicação, acesse: www.radarlibre.com.ar.

 

 

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Mesa 4: como nos inserimos em um movimento global? https://baixacultura.org/2018/11/19/cultura-livre-como-nos-inserimos-em-um-movimento-global/ https://baixacultura.org/2018/11/19/cultura-livre-como-nos-inserimos-em-um-movimento-global/#respond Mon, 19 Nov 2018 14:21:47 +0000 https://baixacultura.org/?p=12621

Nascido enquanto movimento *mais ou menos* organizado a partir da pauta anticopyright, a cultura livre é, para a maior parte da população do sul (e do norte também) global, uma incógnita. Cultura livre é compartilhar cultura nas redes para todes? É acesso livre e gratuito à bens culturais? Se é isso, como se sobrevive disponibilizando obras de formas gratuitas? Como fica a remuneração dos autores? Se cultura livre é buscar práticas alternativas de remuneração à autorxs e produtorxs de conteúdo, quais são estas práticas? quem sobrevive disponibilizando suas obras gratuitamente? Se cultura livre implica uma crítica à propriedade intelectual que restringe e criminaliza o intercâmbio de cultura, qual a alternativa que propõe? Se é um movimento social “digital”, como se organiza? quais são as pautas? quem são os principais atores nessa história? Se é uma cultura feita de forma “livre”, sem amarras com movimentos, organizações e quaisquer outros fatores que tornam a cultura presa e fechada, como ela se manifesta na sociedade? quem produz essa cultura livre?

Para discutir como o *movimento* de cultura livre se organiza no sul global é que propusemos esta mesa. Se a cultura livre é tudo isso falado acima – acesso livre e gratuito, formas alternativas de remuneração e disponibilização de bens culturais, movimento social digital, uma forma de fazer cultura mais “livre” – como que ela vem se organizando no nosso sul global? Quem são nossos parceiros institucionais ao redor do mundo e, principalmente, no sul global? quais as principais redes que lutam no dia a dia pela cultura livre e o conhecimento aberto? Quem são os principais instituições, coletivos, pessoas e redes que tomam parte nas disputas travadas sobre os nossos princípios de atuação?

Por quê, se ainda não está claro, deveria: para fazer e propagar a cultura livre, precisamos colaborar e tecer redes. Se a cultura livre é um movimento que se diz contra o status quo dos monopólios do copyright capitalista patriarcal, de que forma podemos nos unir e tentar pequenos “hackeamentos” nesse sistema? Como fazemos para juntarmos forças e cuidarmos de nossas redes, nossos trabalhos, esforços e vidas? A provocação que fazemos para a discussão nessa mesa é: quais os desafios para tecer e sustentar redes locais e globais e quem podemos contar como parceiros, institucionais e pessoais, no para nossa atuação no sul global?

Para isso, teremos como participantes:

_ Constanza Belén Verón, que ocupa a função de “Encargada de comunidad” da Wikimedia Argentina, espaço local de uma das principais instituições que defende a cultura livre e o conhecimento aberto, responsável pela Wikipedia, este monumento à colaboração e a cultura livre na rede;
_ Juliana Guerra, ativista e participante de espaços coletivos feministas da América Latina;
_ Leonardo Sehn, colaborador do Centro de Tecnologia Acadêmica do Intituto de Física da UFRGS (CTA IF/UFRGS), espaço voltado ao desenvolvimento de tecnologias livres e para a integração de novos paradigmas de produção e disseminação do conhecimento, como tecnologias livres, recursos educacionais abertos e ciência aberta; responsável pela EITCHA!, Escola Itinerante de Tecnologia Cidadã Hacker que foi beneficiária do primeiro Mozilla Science Mini-Grants, e participante da comunidade do GOSH, Hardware para Ciência Aberta Global;
_ Marcela Basch, periodista, editora de El Plan C, portal de economia colaborativa e cultura libre da argentina e uma das organizadoras de Comunes, encontro de de cultura libre y economia colaborativa anual em sua 3º edição, realizado em Buenos Aires;
_ Rodrigo Savazoni; escritor, pesquisador e diretor executivo do Instituto Procomum, responsável pelo LabxSantista, laboratório de inovação cidadã situado em Santos, São Paulo.

Como mediadores, relatores e co-participantes da charla, teremos:
_ Leonardo Foletto jornalista, pesquisador e professor, doutor em comunicação UFRGS, editor do BaixaCultura e integrante da CCD POA, coletivo de direitos digitais baseados em Porto Alegre;
_Janaína Spode, produtora cultural e ciberativista na CCD POA;

A transmissão da mesa será realizada via streaming no canal do BaixaCultura, às 19h GMT – 16h em Uruguay/Argentina, 17h no Brasil e 20h na Espanha.

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Nacido como movimiento * más o menos * organizado a partir de la pauta anticopyright, la cultura libre es, para la mayor parte de la población del sur (y del norte también) global, una incógnita. ¿La cultura libre es compartir cultura en las redes para todos? ¿Es el acceso libre y gratuito a los bienes culturales? Si es así, ¿cómo se sobrevive ofreciendo obras de formas gratuitas? ¿Cómo queda la remuneración de los autores? Si la cultura libre es buscar prácticas alternativas de remuneración a autorxs y productores de contenido, cuáles son estas prácticas? ¿quién sobrevive ofreciendo sus obras gratuitamente? Si la cultura libre implica una crítica a la propiedad intelectual que restringe y criminaliza el intercambio de cultura, ¿cuál es la alternativa que propone? Si es un movimiento social “digital”, cómo se organiza? ¿Cuáles son las pautas? ¿quiénes son los principales actores en esa historia? Si es una cultura hecha de forma “libre”, sin amarras con movimientos, organizaciones y cualesquiera otros factores que hacen la cultura presa y cerrada, como ella se manifiesta en la sociedad? ¿quién produce esa cultura libre?

Para discutir cómo el *movimiento* de cultura libre se organiza en el sur global es que propusimos esta mesa. Si la cultura libre es todo esto hablado arriba – acceso libre y gratuito, formas alternativas de remuneración y disponibilización de bienes culturales, movimiento social digital, una forma de hacer cultura más “libre” – cómo se viene organizando en nuestro sur global? ¿Quiénes son nuestros socios institucionales alrededor del mundo y, principalmente, en el sur global? ¿Cuáles son las principales redes que luchan día a día por la cultura libre y el conocimiento abierto? ¿Quiénes son las principales instituciones, colectivos, personas y redes que toman parte en las disputas trabadas sobre nuestros principios de actuación?

Por qué, si aún no está claro, debería: para hacer y propagar la cultura libre, necesitamos colaborar y tejer redes. Si la cultura libre es un movimiento que se dice contra el status quo de los monopolios del copyright capitalista patriarcal, ¿de qué forma podemos unirnos e intentar pequeños “hackeamientos” en ese sistema? ¿Cómo hacemos para juntar fuerzas y cuidar de nuestras redes, nuestros trabajos, esfuerzos y vidas? La provocación que hacemos para la discusión en esta mesa es: ¿cuáles son los desafíos para tejer y sostener redes locales y globales y quién podemos contar como socios, institucionales y personales, para nuestra actuación en el sur global?

Para ello, tendremos como participantes:

_ Constanza Belén Verón, encargada de comunidad de Wikimedia Argentina, espacio local de una de las principales instituciones que defiende la cultura libre y el conocimiento abierto, responsable de Wikipedia, este monumento a la colaboración y la cultura libre en la red ;
_ Juliana Guerra, activista y participante en espacios colectivos feministas en América Latina;
_ Leonardo Shen, colaborador del Centro de Tecnología Académica del Instituto de Física de la UFRGS (CTA IF/UFRGS), espacio orientado al desarrollo de tecnologías libres y para la integración de nuevos paradigmas de producción y diseminación del conocimiento, como tecnologías libres, recursos educativos abiertos y ciencia abierta; responsable por EITCHA!, Escuela Itinerante de Tecnología Ciudadana Hacker que se ha beneficiado de la primera Mozilla Science Mini-Grants, y participante de la comunidad del GOSH, Hardware para Ciencia Abierta Global;
_ Marcela Basch, periodista, editora de El Plan C, portal de economía colaborativa y cultura libre desde Argentina y una de las organizadoras de Comunes, encuentro de cultura libre y economía colaborativa anual en su 3º edición, realizado en Buenos Aires;
_ Rodrigo Savazoni; escritor, investigador y director executivo de Instituto Procomum, responsable por LabxSantista, laboratorio de inovación ciudadana em Santos, São Paulo.

Como mediadores y co-participantes de la charla, tenemos:
_ Leonardo Foletto, periodista, investigador y profesor, doctor en comunicación UFRGS, editor del BaixaCultura e integrante de la CCD POA, colectivo de derechos digitales basados ​​en Porto Alegre
_ Janaína Spode, productora cultural y ciberativista en la CCD POA;

La transmisión de la mesa será realizada vía streaming en el canal del BaixaCultura, a las 19:00 GMT – 16h en Uruguay / Argentina, 17h en Brasil y 20h en España.

 

 

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Percorrendo um LAB.Irinto https://baixacultura.org/2016/06/29/percorrendo-um-lab-irinto/ https://baixacultura.org/2016/06/29/percorrendo-um-lab-irinto/#respond Wed, 29 Jun 2016 12:30:42 +0000 https://baixacultura.org/?p=10781 13131195_800969423368027_3003901014216679001_o

1. Laboratório é um espaço de experimentação de qualquer coisa, inclusive de sociedades. Inovação social é o processo de criação de metodologias, tecnologias, projetos e ações que têm como objetivo transformar a realidade a fim de alcançar maior inclusão social, por meio da redução da desigualdade e da defesa dos bens comuns. Cultura livre é uma perspectiva da cultura baseada nos princípios de liberdade do software livre que, principal de tudo, é a favor do compartilhar e não do restringir. Guarde bem a definição dessas três ideias e retome mentalmente quando precisar ao ler este relato.

2. Muita coisa aconteceu nestes dias, tantas ideias piscaram, desapareceram, foram anotadas e se perderam no inconsciente pra quem sabe voltarem mais adiante. Segue abaixo um relato recortado e resumido disso tudo.

3. Estamos falando de um Encontro de Inovação Cidadã e Cultura Livre, um “processo de debates, trocas de experiências e articulação internacional entre criadores da Baixada Santista, do Brasil e do mundo”, como diz o site do evento, que tem ocorrido desde abril de 2016 e teve na semana passada o seu encerramento, com dois dias de trocas de experiência, cocriação e um seminário internacional que subsidiou a criação do LABxS (Lab Santista), um laboratório de cultura livre e inovação cidadã. Quem organizou o evento foi o Instituto Procomum, por enquanto uma associação, também recém iniciada a partir do projeto Tecnologias e Alternativas, com a intenção de investigar as condições de desenvolver novas institucionalidades e uma interface para viabilizar ações de uma plataforma de pessoas que a ele queiram se associar.  O financiamento do evento veio da Fundação Ford, da Prefeitura de Santos, por meio da Secretaria de Desenvolvimento e Inovação, e da Secretaria Geral Ibero-Americana (SEGIB).

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4. Antes do seminário teve dois dias (manhãs e tardes) de reuniões, conversas e compartilhamento de experiências entre os mais de 40 convidados de diferentes países. Houve divisões em GTs (Modelo de Negócio e Sustentabilidade, Programação e Conteúdo, Articulação e Rede, Gestão Institucional e Metodologias e Laboratórios e o Território de Atuação) e “conversas infinitas” que tinham entre os objetivos questionar a ideia do lab, subsidiar a concepção do LABxS e avançar na articulação internacional em torno da agenda de bens comuns. “Um jogo de colaboração e partilha, baseado nos conhecimentos que carregamos” escreveu Rodrigo Savazoni, articulador do evento e do LABxS junto a uma equipe grande (veja aqui) que não por acaso traz muitos participantes da experiência da Casa da Cultura Digital em São Paulo, um laboratório de vivências embrião/propulsor do Lab Santista (e de tantas outras coisas, como até este site/coletivo que vos escreve; este vídeo creio que talvez seja o melhor registro feito da CCD)

Entre os convidados, pessoas muito atuantes em labs ou em suas comunidades/redes/cultura digital do Brasil e do mundo, um foco especial em iniciativas da ibero-américa (Dardo Ceballos, do SANTALAB, ligado ao governo do estado de Santa Fé, Argentina; Paola Ricarte Quijano, OpenLabs, México; Raul Olivan, Zaragoza Activa, Espanha; Camilo Cantor, Colaboratório, Colômbia; Marcos García, MediaLab Prado, Espanha) e África (Muhammad Radwan, IceCairo, Egito e Nanjira Sambuli, Ihub, Nairóbi, Quênia). Não por acaso: estes LatinLabers, como Savazoni e outros (se) nomeiam, são partes também da Global Innovation Gathering, rede que tem forte presença africana e asiática e propõe a construção de uma rede de tecnologias desde o sul.

Tatiana Bazzicheli (Disruption Lab, de Berlin) é uma exceção do norte nessa rede. Curadora do Transmediale, um dos principais festivais de arte, cultura e inovação da Europa, pesquisadora e ativista, a italiana tem um trabalho importante na aproximação da arte com o hacktivismo e o mundo da inovação, como o livro “Networked Disruption: Rethinking Oppositions in Art, Hacktivism and the Business of Social Networking” (baixe aqui). E, no Disruption Lab, realiza eventos como o Deep Cables, uma série de conferências e rodas de conversa onde hackers, engenheiros, jornalistas investigativos, escritores, entre outros, buscaram entender como a Internet funciona e o papel preponderante que os cabos submarinos tem nessa infraestrutura física nem tão falada da rede. Temos que confessar: um laboratório de hacktivismo e arte com eventos tão interessantes como os que o Disruption organiza é o motivo de Tatiana ter ganho um parágrafo inteiro aqui.

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5. O que é um lab? Raul Olivan, do La Colaboradorar e do Zaragoza Activa (um lab y rede social criado junto a prefeitura da cidade espanhola) resume no texto “Um lab é para a cidade o que poesia é para linguagem“: resolver o problema das pessoas. “Gerir o caos. Podemos tecer arquipélagos para começar, mas o objetivo deve ser o continente. É o não-modelo que se impõe, não por necessidade ou ausência de certezas, senão por desejo e como uma estratégia consciente. É o conjunto de valores, afetos, cuidados da rede que tece e compromete um LAB: TRANSWARE (imagem acima). A pulsão é transformar a sociedade (o ethos) com uma soma de ética hacker, sonho de riqueza generalizada e materialismo da 4º revolução industrial. Necessitamos dos hackers inside que abram a lata desde dentro do sistema, como faz o Hacklab da Câmara dos Deputados. Um LAB não pode ser uma abstração: ideologia não fertiliza a terra. A transparência é, provavelmente, mais importante que a horizontalidade”.

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6. O último dia do evento foi dedicado ao Seminário Internacional de Inovação Cidadã, realizado no amplo (750 lugares) teatro do Sesc Santos. Foram três mesas com convidados internacionais e um brasileiro mediando ou comentando ou relacionando o global com o local (glocal). A primeira mesa trouxe para o debate a questão do que é inovação cidadã a partir de quatro experiências, três internacionais e uma brasileira (Cíntia Mendonça, da Nuvem, que mediou). Marcos García apresentou o MediaLab Prado, referência mundial (e de muitos dos participantes) de laboratório de inovação cidadã e cultura digital. É um espaço alocado dentro de uma institucionalidade (Prefeitura de Madrid), mas que mesmo assim consegue promover inovação social para a comunidade e driblar algumas das dificuldades que uma instituição costuma ter para fomentar novidades. O amplo espaço do MediaLab Prado, localizado num antigo prédio de uma serraria belga no bairro de Las Letras, região central de Madrid, abriga e fomenta dehortas urbanas monitoradas por sensores a base da arduínos a makerspace colaborativo, de encontros de visualização de dados a produção de conhecimento colaborativo, passando por inúmeros seminários, cursos, exposições [este vídeo traduz em 1 minuto o que es o MediaLab Prado; vale assistir]. Qualquer pessoa pode propor uma ideia e tentar desenvolver ela (sempre em grupo) por lá, ainda que são as ferramentas que constroem (e fortalecem) comunidades as que ganham maior acolhida.

Paola Ricaurte Quijano trouxe uma outra configuração de laboratório, o OpenLabs, ligado a Universidade Tecnológica de Monterrey. Diferente em sua articulação, mas inspirado no modelo do MediaLab Prado e, sobretudo, na ideia de ser um espaço de transformação e de reconhecimento da inteligência distribuída, o OpenLabs é uma plataforma que quer abordar a complexidade do social a partir de princípios como abertura, experimentação, inclusão, participação e colaboração. Parece algo complexo ou carregado de um discurso pouco prático, mas saiba que tanto o OpenLabs como todos os outros labs presentes no evento são totalmente baseados na prática, no fazer do dia a dia com a comunidade onde estão inseridos. Dê uma olhada na convocatória deste ano do OpenLabs, “Ciudades que Aprenden“, e veja como funciona a sua metodologia.

A terceira experiência trazida foi o IceCairo, de Cairo, apresentado por Muhammad Radwan. O lab egípcio é parte de uma rede (que tem outros pontos na Etiópia e na Alemanha) que tem um enfoque na chamada “green tech innovation”, fomentando negócios sustentáveis. Mantém um espaço físico que funciona como co-working (característica comum de muitos labs, aliás) e, entre muitos projetos legais, destacamos o Hub in Box, um mergulho realizado em conjunto com outros Africa Labs e Impact Hubs de vários lugares do mundo na busca de identificar desafios e criar soluções sustentáveis para suas comunidades. Antes que você pergunte “mas qual a inovação que eles estão produzindo ao se reunir e discutir seus projetos?”, fazemos um alerta óbvio: assim como no LAB.Irinto, o processo é tão (ou mais) importante que o produto “inovador” criado. Encontros são essenciais, compartilhar é fundamental; o crescimento é coletivo. [Todas as três mesas do dia foram transmitidas e podem ser assistidas aqui].

7. As experiências brasileiras presentes no LAB.Irinto foram apresentadas no dia anterior ao seminário internacional. Lembramos de algumas de cabeça: a Produtora Colaborativa.PE e a rede das produtoras colaborativas (sobre a qual já falamos aqui) e o Laboratório Hacker da Câmara dos Deputados (que também já falamos aqui). A Nuvem, um hacklab rural rural voltado ara experimentação, pesquisa e criação vinculada à tecnologia (arquitetura, comunicação, geração sustentável de energia) e sustentabilidade (corpo, ecologias, alimentação, cultivos) no interior do Rio de Janeiro. O Bela Lab, localizado junto ao Galpão Bela Maré, no Rio de Janeiro, fruto do projeto Gambiarra Favela Tech, residência artística-tecnológica realizada ano passado em parceria com o Observatório de Favelas e Olabi. Laboratório de Cidades Sensitivas (LabCEUs), projeto que promoveu ocupações de inovação social e tecnológica em laboratórios multimídias em cidades do interior brasileiro, realizado pela UFPE, por meio do InCiti – Pesquisa e Inovação para as Cidades, em parceria com o Ministério da Cultura. O Ponto de Cultura Caiçaras, em Cananéia, litoral sul de São Paulo, que promove o resgate do fandango caiçara, entre outras ações com a comunidade local. Karenin Branco, do makerspace Crie Aqui, de Santos. Casa Rizoma, ocupação cultural localizada em Santos.

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8. Um dos projetos brasileiros na noite do dia 23 de junho, no Museu Pelé, foi o Transformatéria, uma pesquisa sobre possíveis pontos de contato entre, de um lado, a cultura maker e o universo da fabricação digital, e de outro a longa herança da produção artesanal e dos ofícios manuais. Criado por Felipe Fonseca (que toca o Ubalab e o Tropixel, entre outras cousas, e que já quase perfilado por aqui) e sua esposa, Carolina Striemer, ele se relaciona com uma rede que deu seus primeiros passos no evento: Trasformatório. A ideia desta rede é articular projetos que tem em comum o costume de transformar coisas em outras coisas – com ferramentas, métodos, equipamentos, ou mesmo com as próprias mãos. Algo que não é makerspace nem fablab, “um espaço ou momento de encontro de corpos e mentes com a intenção de mexer, mudar, manipular coisas”. A conversa foi registrada em áudio, foto e GIF e está disponível nessa wiki do Ubalab. Aos interessados, há um grupo de emails.

Participamos do Transformatório também com o interesse manifestado a partir do apoio na realização do Café Reparo em Porto Alegre. Já havia (com licença plural, quem fala agora é Leonardo) participado de um encontro dos 6 realizados em São Paulo, inclusive relatado aqui, mas dessa vez ajudei a organizar um aqui na cidade onde vivo atualmente. Foi tão interessante que teremos outros. Um detalhe pessoal: diferente da maioria, cheguei ao reparo a partir da teoria e não da prática “fuçadora”: abrir as “caixas-pretas” e entender as redes que ali percorrem, nos termos da Teoria Ator-Rede capitaneada por Bruno Latour, Michel Callon, John Law e que tem sido a base da minha tese de doutorado, me fez ver o quão importante (e divertido!) é a gente entender minimamente os objetos que nos rodeiam. E pra isso nada melhor que fuçar, reparar, consertar, desmontar, montar e errar de novo.

9. Como sobrevive um Lab? Não há uma regra, porque não há um único modelo (sustentável). Experimentar um lab é uma meta experiência que pode valer pelo caminho percorrido mais do chegar a algum destino. Como na ciência, não se sabe se vai ter alguma utilidade, mas é importante fazer. Mas há conselhos: começar devagar, com um espaço pequeno. Ter autonomia e não abrir mão dela ao buscar a sustentabilidade. Criar laços e uma comunidade forte para sobreviver a intempéries como a troca de governos ou o esgotamento do tesão em continuar. Documentar em ferramentas livres, que permitem a replicação. Nenhum lab sobrevive muito tempo como ilha.

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10. Uma questão final pra sair do LAB.Irinto, que pode estar pairando em vocês, assim como por aqui também esteve: por quê Santos e Baixada Santista? Com a palavra, Savazoni: “Nessa apresentação eu postulo o ponto de partida, antes de começar o LAB.IRINTO e aqui eu enumero um pouco as razões de ser Santos: é uma região de 2 milhões de habitantes, um arquipélago, e Santos está em uma ilha, junto com São Vicente, uma das primeiras cidades do Brasil. Foi importante no Brasil Colônia, na industrialização, com o ciclo do Café, porta de entrada do mundo para o Brasil e ao mesmo tempo se deteriorou por conta das transformações todas, se tornando uma cidade de serviços, com uma população envelhecida – mais de 30% dos habitantes com mais de 55 anos podendo chegar à metade da população em dez anos. Tem também o fato de que pelas previsões, boa parte da cidade estará em baixo d’água devido ao aquecimento global. Inclusive onde eu moro.

É próxima de São Paulo, no sentido que facilita essa troca global, e eu pude comprovar isso produzindo o evento agora. Agora depois do LAB.IRINTO, eu somaria a essas razões todas o fato de ter encontrado uma rede subterrânea muito interessante, pessoas que querem fazer há muito tempo, outras que estão chegando agora, mas que começam a desenhar uma outra geografia, clandestina, fronteiriça, para a região. O LAB pode ser um impulsionador desse processo e isso me interessa sobretudo.

[Mais infos em ciudadania.org/entramosaolabirintocomrodrigosavazoni; Revista Fórum]

Fotos: Encontro Internacional de Cultura Livre e Inovação Cidadã (1, 4), Julinho Bittencourt (2), Raul Olivan (3), Transformatório (5), Rodrigo Savazoni (6)

]]> https://baixacultura.org/2016/06/29/percorrendo-um-lab-irinto/feed/ 0 O mundo velho como um vovô com alzheimer https://baixacultura.org/2012/07/02/o-mundo-velho-como-um-vovo-com-alzheimer/ https://baixacultura.org/2012/07/02/o-mundo-velho-como-um-vovo-com-alzheimer/#comments Mon, 02 Jul 2012 11:09:59 +0000 https://baixacultura.org/?p=6801

Hernán Casciari é um escritor argentino radicado em Barcelona desde 2000. Ganhador do prêmio Juan Rulfo de 1998 com o livro “Subir de espaldas la vida“, Casciari se tornou conhecido por remixar um gênero conhecido – o folhetim – para os blogs, no que se convencionou chamar de “blogonovela”.

Nesse (novo ?) “gênero”, o escritor encarna um personagem e passa a soltar pílulas rotineiras em um blog como se fosse o diário da personagem – interage com os leitores através de comentários, inclusive, sempre sem revelar sua “verdadeira identidade”. Sua primeira “blogonovela”, “Mais Respeito que Sou Tua Mãe“, foi vencedor do Best of Blogs da Deustche Welle em 2008, virou livro e até peça montada até no Brasil.

Casciari se fez conhecido com o gênero e escreveu mais três blogonovelas: “El diario de Leticia Ortiz“, “Juan Dámaso, Vidente” e “Yo y mi garrote, historia de Xavi L” – esta, publicada em um blog no El País espanhol.

Mas essa breve introdução sobre Casciari (foto acima) não é pra falar de suas blogonovelas e do trabalho literário do argentino, que, ademais, tem 6 livros publicados. É para falar da revista que criou e é editor, a Orsai, de onde vem a maioria das imagens desse post.

É uma revista de literatura, entrevistas, historietas, contos e outras cousas más que Casciari explica no vídeo logo abaixo. Criada em janeiro de 2011, tem periodicidade bimestral, não conta com publicidade e tem todas as suas edições disponíveis para download grátis. A assinatura da revista impressa é (bem) paga: no Brasil, onde há um único ponto de distribuição, localizado no Rio de Janeiro, custa U$ 138 (U$ 21 por edição, mais U$2 por “ganância do distribuidor”, segundo a revista).

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=_VEYn3bXz34]

A partir da experiência da Orsai, Casciari escreveu um texto sobre os novos modelos de negócio na rede que circulou bastante aqui no Brasil na semana passada. O argentino usa o caso Lucía Etxbarría, escritora espanhola que deixou de publicar porque estavam baixando mais do que comprando seus livros (?), para fazer um sincero depoimento de que, sim, uma revista (literária) pode sobreviver na era digital colocando seus PDFs para baixa de graça.

Mais do que isso, o texto faz uma criativa descrição do “velho mundo” que tanto falamos por aqui: aquele mundo das gravadoras, estúdios de cinema, Anas de Hollanda e ECADs da vida que acha que o mundo cultural deve ser baseado “em controle, contrato, exclusividade, confidencialidade, trava, representação e dividendo“.

A estes velho mundo, Casciari dá a receita: “não temos de lutar contra o velho mundo, nem sequer temos que debater com ele. Temos que deixá-lo morrer em paz, sem incomodá-lo. Não temos que enxergar o mundo velho como aquele pai castrador que foi nos seus bons tempos, mas sim como um vovô com alzheimer“.

A tradução do texto para  português saiu no site da Revista Fórum, mas infelizmente não conseguimos achá-lo mais para linkar aqui. A versão em espanhol tá aqui, escrita no final de 2011; a em português tá aqui abaixo.

Piratas e Tubarões

Não temos que enxergar o mundo velho como aquele pai castrador que foi nos seus bons tempos, mas sim como um vovô com alzheimer.

Por Hernán Casciari

O contador de assinaturas anuais da nova revista Orsai acaba de chegar a mil. Em nove dias, e sem notícias sobre o conteúdo ou a quantidade de páginas, mil leitores já compraram as seis revistas do próximo ano. E isso que todos sabem que sairá uma versão em pdf, gratuita, no mesmo dia em que a revista chegue às casas deles. Repito: acabamos de vender seis mil revistas. Seiscentas e sessenta e cinco por dia. Vinte e oito por hora.

Ao mesmo tempo, uma escritora espanhola acaba de anunciar que deixará de publicar. “Visto que foram feitos mais downloads ilegais do meu romance do que foram comprados exemplares, anuncio que não publicarei mais livros”, disse ontem Lucía Etxebarría. A impressa tradicional fez eco a essas palavras e a indústria editorial complementou: “Pobrezinha, olhem o que a internet está fazendo com os autores”.

Acontece o mesmo com a gente. Durante 2011 editamos quatro revistas Orsai. Vendemos uma média de sete mil exemplares de cada uma, e com esse dinheiro pagamos (extremamente bem) todos os autores. Os pdf’s gratuitos dessas quatro edições alcançaram seiscentos mil downloads ou visualizações na internet.

Vendemos sete mil, baixaram seiscentos mil.

Se os casos de Lucía Etxebarría e da Orsai são idênticos, e ocorrem no mesmo mercado cultural, por que nos causam alegria e a ela só causam desânimo?

A resposta talvez esteja em que se trata do mesmo mercado mas não do mesmo mundo.

Existe cada vez mais um mundo efervescente em que o número de downloads e o número de vendas físicas se complementam; seus autores dizem: “que bom, quanta gente me lê”. Mas ainda existe um mundo velho onde um número se subtrai ao outro; seus autores dizem: “que espantoso, quanta gente não me compra”.

O velho mundo se baseia em controle, contrato, exclusividade, confidencialidade, trava, representação e dividendo. Tudo o que acontecer fora de seus padrões é cultura ilegal.

O novo mundo se baseia em confiança, liberdade de ação, criatividade, paixão e entrega. Tudo o que acontecer dentro e fora de seus parâmetros é bom, contanto que as pessoas aproveitem a cultura, pagando ou sem pagar.

Dizendo de outra maneira: Lucía ser pobre não é culpa dos leitores que não pagam, e sim do modo como seus editores repartem os lucros vindos dos leitores que pagam. Mundo velho, mundo novo. Há algumas semanas vivi um caso que deixa muito claro o que ocorre quando esses dois mundos se cruzam. Vou contar para a Lucía e para vocês porque é divertido: Uma editora da Alfaguara (Grupo Santillana, Madri) me liga e me diz que estão preparando uma Antologia da Crônica Latinoamericana Atual. E que querem um conto meu que aparece no meu último livro, “um conto que se chama tal e tal, de que a gente gosta muito”.

Respondo que lógico, que pegue o conto que quiser. Ela me responde que me enviará um e-mail para solicitar autorização formal. Digo que tudo bem.

“Caro Hernán, lhe explico o que adiantei por telefone: a Alfaguara editará em breve uma antologia de bla bla bla cuja seleção e prólogo ficou a cargo de Fulaninho de Tal. Ele deseja incluir o teu conto Xis. Se você está de acordo com o contrato que anexei, envie duas cópias com todas as páginas assinadas ao seguinte endereço” (e inclui o endereço de Prisa Ediciones, Alfaguara).

Abro o arquivo em anexo, leio o contrato. Me fascina a leitura de contratos do mundo velho. Não se preocupam nem um pouco em disfarçar suas gravatas.

Me pedem um conto que chamam de “La Aportación”. A cláusula 4 diz que “o editor poderá efetuar quantas edições julgue convenientes até um máximo de cem mil (100.000)”. A cláusula 5 diz: “Como remuneração pela cessão de direitos de “La Aportación”, o editor pagará ao autor cem euros (100?) brutos, valor sobre o qual incidirão os impostos e se praticarão as deduções cabíveis”.

Pensei nos outros autores que compõem a antologia, nos que com certeza assinam contratos assim. Cem euros menos impostos e deduções são sessenta e três euros, e disso ainda se retiram os quinze por cento do agente ou representante (todos têm um), ou seja, o autor fica com cinquenta e três euros na mão. Não importa se a editora vende dois mil livros ou cem mil livros. O autor sempre leva cinquenta e três euros. Será que Lucía Etxebarría assina contratos assim?

Nessa mesma tarde respondi o e-mail à editora da Alfaguara:

“Oi Laura, o conto que vocês querem aparece no meu último livro, que é distribuído sob licença Creative Commons Reconhecimento 3.0 Unported, que é a mais generosa. Isso significa que vocês podem compartilhar, copiar, distribuir, executar, realizar obras derivadas e inclusive fazer uso comercial de qualquer um dos contos, desde que vocês digam quem é o autor. Te dou o texto de presente para você fazer com ele o que quiser, e que este e-mail sirva de comprovante. Mas eu não posso assinar essa porcaria legal assombrosa. Um beijo.”

A resposta chegou alguns dias depois; já não era ela que escrevia, senão outra pessoa:

“Hernán: entendemos isso, mas o departamento legal precisa que você assine o contrato para não termos problemas no futuro. Saudações!”

E aí eu não respondi mais. Para que continuar a corrente de e-mails?

A historinha é essa, não é grande coisa. Mas eu quero dizer, ao contá-la, que não temos de lutar contra o velho mundo, nem sequer temos que debater com ele. Temos que deixá-lo morrer em paz, sem incomodá-lo. Não temos que enxergar o mundo velho como aquele pai castrador que foi nos seus bons tempos, mas sim como um vovô com alzheimer.

– Me dá isso? – diz o vovô.
– Sim, vovô, toma.

– Não, assim não. Assina pra mim esse papel onde você diz que me dá isso e em troca eu cuspo em você.

– Não precisa disso, vovô, eu te dou. É de graça.

– Eu preciso que você assine esse papel, não posso aceitar de graça!

– Mas por quê, vovô?

– Porque se eu não te ferro de alguma maneira, eu não sou feliz.

– Bom, vovô, outro dia a gente se fala… Te amo muito.

E amamos muitos esse vovô de verdade. Há vinte, trinta anos, esse homem que agora está gagá nos ensinou a ler, pôs livros formidáveis nas nossas mãos.

Não temos que discutir com ele, porque gastaríamos energia no lugar errado. Temos que usar essa energia para fazer livros e revistas de outra maneira; temos que voltar a nos apaixonar por ler e escrever, temos que defender até a morte a cultura para que ela não esteja nas mãos de avôs gagás. Mas não temos que perder tempo lutando contra o avô. Temos que falar exclusivamente com nossos leitores.

Lucía: você tem um monte de leitores. Você é uma escritora de sorte. O demônio não são seus leitores; nem os que compram seus romances os que baixam as suas histórias na internet.

Não há demônios, na verdade. O que há são dois mundos. Duas maneiras diferente de fazer as coisas.

Está em você, em nós, em cada autor, continuar assinando


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Dale cultura digital argentina! https://baixacultura.org/2012/04/18/dale-cultura-digital-argentina/ https://baixacultura.org/2012/04/18/dale-cultura-digital-argentina/#respond Wed, 18 Apr 2012 12:53:34 +0000 https://baixacultura.org/?p=5788

Nós, brasileiros, em geral não costumamos olhar com a devida atenção o que acontece nos vizinhos latino-americanos. Seja pela barreira da língua, por bairrismo, pelo gigantismo do nosso país ou por preguiça mesmo, a impressão é que sabemos muito menos do que acontece na Argentina e no Uruguai, por exemplo, do que eles sabem daqui.

Dito isso, vamos ao fato: uma algo recente (setembro de 2011) publicação argentina sobre cultura digital está disponível para download grátis.

Trata-se da revista de rock “Dale!”, que fez uma edição especial sobre cultura digital com título de capa “Generación Download” e a sugestiva chamada: “Levam a livre reprodução em seu DNA e não pensam em renunciar a sua filosofia de compartilhar músicas, códigos e conhecimentos“. Yeah!

A pauta da revista é ótima e recomendamos baixá-la em PDF e ler com calma. Ela traz diversas referências (especialmente nomes) da cultura digital do país vizinho que podem nos inspirar – ou pelo menos nos mostrar que sim, os argentinos estão muito vivos quando se fala em cultura livre, downloads, pirataria, etc.

Então aí vamos nós, guiado pela Dale!, ajudar você num primeiro esforço para entender um pouco mais dessa Argentina livre e digital.

Rock.com.ar, um dos principais sites de rock dos vizinhos

*

Baixe música argentina

O primeiro texto da revista, “Cultura Download“, é meio que o introdutório do tema da revista. Saca dois trechos:

“Vivimos entre dos mundos enfrentados: el que agoniza, dominado por las empresas multinacionales, y el que llega, en el cual  predominan las voluntades indiciduales”.
“La piratería es imparable. El pensamiento tendría que ser cómo sumarse comercialmente a esa corriente, en vez de tratar de penarla o restringirla”.

Depois, na mesma matéria, há uma lista de alguns artistas (argentinos, por supuesto) que oferecem música gratuita. É uma boa pedida:

Lache – www.tomelache.com.ar
Los Sucesores de la Bestia – www.sucesoresdelabestia.com.ar
Pez – www.pezdebuenosaires.com.ar
Adrián Barilari – www.barilariadrian.com.ar
La Peña Pop – www.facebook.com/lapeniapop
Goy Ogalde – www.soundcloud.com/goykaramelo
Acorazado Potemkin – www.acorazadopotemkin.com.ar
Falsos Conejos – www.falsosconejos.com.ar
GradoCero  www.gradocero.com.ar
Xámpari – www.xampari.com.ar
Auto  www.autoinmovil.com
Sebastián Escofet – www.sebastianescofet.asterisco.org
Sancamaleón – www.sancamaleon.com.ar
Compañero Asma – www.compasma.bandcamp.com
Septi3mbre – www.septi3mbre.com
107 faunos – www.107faunos.com.ar
Hyperknox – www.hyperknox.com.ar
Pels – www.pels.com.ar
Reggae Rockers – www.reggaerockers.com.ar
Superfluo – www.superfluoweb.com.ar

Site do selo Mamushka Dogs, que distribui e promove discos de graça

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Mamushka Dogs, um selo virtual

Mamushka Dogs Records é um selo/gravadora que edita e promove os discos de seu casting online e gratuitamente. Luciano Banchero e Leandro Pereiro, criadores do selo, explicam em entrevista na revista. Alguns trechos:

“No tienen contrato con los artistas, “lo cual es bueno por un lado, pero no tan bueno por el otro”, dice Luciano. “Le da a la
banda libertad, pero parte de esa libertad es que se te piante en cualquier momento”.

“Las tareas del sello son claras: “siempre hacemos lo mismo, como por reflejo; mandamos gacetillas de todo, nos contactamos con los medios, organizamos cierta cantidad de shows durante el año”.

¿Ganan plata? 
Luciano: Parte de esa relación no contractual tiene que ver con que no cobramos ningún tipo de servicio. Esto está hecho en cierta forma por el entusiasmo que nos genera decir “nos gusta ésto, estaría bueno que lo conociera más gente”. Nosotros podemos hacerlo. 

Leandro: Yo soy un tipo que consume muchísima música y no pongo un peso por eso. Entonces, cómo voy a pretender sacar plata!

¿Cuál es el objetivo principal, entonces?
Leandro: Hacer algo que esté bueno. Nos parece que tiene que existir y no vemos que lo hagan los demás. No puedo entender que no haya miles de sellos como nosotros. Tampoco es tanto laburo. Hay que ponerle un poco de onda, cuidar la estética… no es tanto. Me cuesta entenderlo.

Cypher, criador do Taringa!, herói da cultura livre argentina

*

Um herói da cultura livre local – Cypher, do Taringa!

Cypher é “um dos grandes mitos da internet criolla”, como abre o texto da revista. Muito por conta de ter sido o criador do Taringa! – “uma espécie de Orkut direcionado ao compartilhamento de arquivos”, como os chamamos o site em post de maio do ano passado, mas poderíamos chamar hoje de “O Pirate Bay Argentino”, também por sua representatividade na luta contra a policia do copyright. É, segundo a Dale!, um dos sites mais importantes da história da comunicação alternativa argentina. Em 2011, era visitado por 8 milhões de pessoas diariamente e hoje tem até uma versão em português.

Em uma charla via chat (e realizada em vários dias), a revista captou um pouco do pensamento de Fernando, figura interessantíssima que tu deveria conhecer um pouco mais. Trechos:

¿Por qué es importante que la información sea de libre acceso?

En la actualidad tenemos la infraestructura que otorga a la población un enorme poder de proceso descentralizado de información que es aún mayor que la capacidad del establishment. Ésto deposita mucho poder en la población y está volviéndose más notable en los “acontecimientos en pleno desarrollo”. Pero así también el medio permite a dicho establishment cierto control y manipulación. Sólo siendo libre (o pública y abierta), la información puede protegerse de la manipulación y distorsión unilateral.

La información es una herramienta que, junto al medio, debe ser libre, ya que es el sustrato para una “democracia real”, directa y efectiva (lo mejor que hay en vista).

¿Qué información actualmente bajo protección de derechos debiera ser liberada acá en Argentina?

Éste es un tema de larguísima data y algo extenso. Creo que lo urgente es exceptuar del copyright todo material que se considere de estudio o necesario para el desarrollo y bienestar de la sociedad (¿suena fácil?). Hay que comprender que la gente no desea hacerse de la autoría de una obra, sino más bien utilizarla y compartirla a su  antojo, simplemente porque se puede.

¿Cómo evaluás el nivel del debate sobre copyright y otras formas de derecho de autor en Argentina?

Sin contar a los que argumentan con analogías (odio eso), el nivel de debate es en general de muy buena calidad. El problema es que los beneficiados por el copyright no quieren oír, porque no necesitan debatir. La piratería no mata a nadie y el copyright tampoco. La misma culpa que puede sentir una señora que mira Dexter por Cuevana es la que deben sentir los “copyright holders” cuando reciben su cheque de regalías. 

Por ejemplo, un concepto muy utilizado en el debate es que las compañías deben adaptarse y lo cierto es que lo han hecho. Y justamente, regalar las cosas no es una opción porque ya no tendría sentido su propia existencia, la cual claramente puede coexistir con la piratería hogareña. Lo que hacen es totalmente razonable, tienen que sostener el modelo hasta el final y embarrar la cancha con cánones basados en la “presunción de culpabilidad”, demandas e intentos de invasión de privacidad. El debate debería centrarse en limitar el alcance de los derechos de propiedad inte lectual, no el de las libertades de los individuos.

Berro coleciona discos fora de catálogo e blogs censurados pelo copyright

*

Freddy Berro, colecionador de links

Freddy criou “La Confradía“, um blog para compartir música argentina fora de catálogo que tem sofrido com a pressão da polícia do copyright – e, infelizmente, foi sacado do ar. Mas outros dois projetos de Berro estão on-line e valem a visita.

O primeiro é a “Fonoteca Nacional Argentina“, blog criado om o objetivo de criar essa Fonoteca, que tem o corajoso projeto de preservar o patrimônio sonoro nacional. Tu pode ajudá-lo a formalizar o projeto manifestando seu apoio/assinatura aqui.

O segundo é o sensacional projeto “La Expreso Imaginario“, que está digitalizando todo o acervo da revista “Expreso Imaginario”, 78 exemplares de uma das mais importantes revistas de música da argentina (que durou de 1976  a 1983).

A Dale! entrevisou Berro. A seguir, alguns trechos:

¿Cómo nació la idea de armar un blog en donde se rescatan joyas del rock nacional?

Hace poco más de cinco años le pregunté a mi hija qué iba a hacer. Con mis discos cuando yo no esté más. Me respondió: “Lo que es posterior a Soda Stereo, me lo quedo. Lo otro, lo vendo”. Se me pusieron los pelos de punta. Llegué a la conclusión que me dijo eso porque no conocía lo anterior, sino sólo lo que ella había vivido. Entonces, pensé: “voy a compartir gratis la música que tengo, para que todo aquel que no pudo acceder a eso, la pueda bajar”.

Siempre con la idea de no joder a nadie, mucho menos a los músicos. La consigna fue subir LP’s descatalogados, no editados en CD y recitales que no estén a la venta legítimamente, para hilar la historia del género a través de archivos musicales y recomendar o difundir canciones. Además, casi no había blogs de discos de rock nacional, sino extranjero.

En un principio, empezó siendo un juego. Pero a los dos meses tenía más de 400.000 descargas y mensajes que llegaban de todos lados”.

 ¿Qué política debería implementar el Estado para ayudar a revalorizar la música?

Soy amigo del periodista Miguel Grinberg y le dije: “En la Biblioteca Nacional, si buscás un libro, lo pedís y lo tenés a tu disposición. Lo mismo debería pasar con la música”. No puede ser que los registros fonográficos dependan de empresas o de personas que tienen los derechos para editarlos cuando se les da la gana. No existe nadie que se dedique a resguardarlos.

Asíque se nos ocurrió hacer una Fonoteca Nacional. Hay muchas intenciones similares: habría que unificar proyectos. Sería bueno entrar a la fonoteca, escuchar un álbum, ver el arte de tapa digitalizado… aunque el placer de tener un disco se disfruta como nada.

 Créditos: 1, 4, 5 (Dale), 2 (rock.com.ar) e 3 (Mamushka).
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https://baixacultura.org/2012/04/18/dale-cultura-digital-argentina/feed/ 0
SOPA dos EUA quer censurar a internet https://baixacultura.org/2011/11/24/mafalda-y-los-argentinos-tentam-explicar-a-sopa-dos-eua/ https://baixacultura.org/2011/11/24/mafalda-y-los-argentinos-tentam-explicar-a-sopa-dos-eua/#comments Thu, 24 Nov 2011 09:29:49 +0000 https://baixacultura.org/?p=5826

Nas últimas semanas, a ofensiva anti “pirataria” ganhou mais um capítulo na sua já longa história – e se tu acompanha esse blog no Twitter ou Facebook já deve saber disso.

A novidade sobre o assunto vem em forma de um nebuloso projeto de lei no país onde nasceu a internet, os Estados Unidos. Trata-se do SOPA (Stop Online Piracy Act), que, dentre outras coisas, pretende dar aos provedores de acesso o poder de tirar do ar, sem ordem judicial, sites que violem a legislação dos EUA, assim como também permite a criação de listas negras para suspender determinados IPs ou domínios.

Outro absurdo do projeto é o poder dado aos sites de publicidade (como o Google Ad Sense, por exemplo) de cortar um serviço sem notificar os usuários. Para isso, basta que o site em questão esteja envolvido em alguma infração de copyright (disponibilizar uma música para download sem autorização expressa do autor, por exemplo) e seja denunciado pelo SOPA – assim que receberem o comunicado, os provedores de acesso dos EUA podem bloquear em até 5 dias o DNS do site.

Ou seja: em questão de 5 dias, um site pode sair do ar, ter todos seus contratos de publicidade encerrados, tudo através de uma simples denúncia do SOPA.

O telefone é também arma política para proteger a internet

O projeto vem conseguindo angariar apoio entre os dois pólos da política norte-americana, Democratas e Republicanos. De outro lado, de tão descabido, o SOPA uniu Mozilla, Creative Commons, Google, Facebook, Twitter, Linkdin e Zynga contra o projeto, que, segundo o senador  Zoe Lofgren, da Califórnia, pode significar o “fim da internet como a conhecemos”.

A esperança (ou não) é que tanto o Senado quanto a sociedade estadunidense estão discutindo amplamente o projeto. Mais de 1 milhão de e-mails contrários ao SOPA e  87,834 chamadas telefônicas chegaram ao Congresso de lá, dentre outras ações que o gráfico acima mostra. [As ligações se deram através da organização de um Tumbrl chamado Protect the Net].

Mesmo na mídia, muita coisa tem sido produzida para alertar a sociedade da gravidade da coisa; em especial, dê uma olhada nesse infográfico, da Mashable, nessa matéria do site MainStreet e nesta análise da Wired.

[vimeo http://vimeo.com/32637506]

A organização Fight for the Future, assim como a Eletronic Frontier Foundation (EFF) e outras tantas que defendem a liberdade na rede nos EUA, estão preparando várias formas de barrar o projeto. Vale dar uma olhada no vídeo produzido pela Fight for the Future (acima) para entender a gravidade do “Protect IP”, um projeto de lei semelhante ao SOPA e tão nefasto quanto.

Tu pode estar se perguntando “mas o que eu tenho a ver com isso?”. Os argentinos do Derecho a Leer fizeram um belo infográfico (aqui abaixo) com a querida Mafalda para explicar que, sim, mesmo nós latino-americanos temos muito que ver com o SOPA.

 

P.s: Vale acompanhar os posts da parceira Faconti sobre o SOPA aqui.

Créditos: 1, 2. Agradecimentos ao Jefferson Jota, Iuri Lammel  e Sergio Amadeu pelas referências do Derecho a Leer, Fight for the future e outros links citados no texto.
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https://baixacultura.org/2011/11/24/mafalda-y-los-argentinos-tentam-explicar-a-sopa-dos-eua/feed/ 6
O processo contra o Taringa! – Ou quando a rede não deve ser social https://baixacultura.org/2011/05/23/o-processo-contra-o-taringa-ou-quando-a-rede-nao-deve-ser-social/ https://baixacultura.org/2011/05/23/o-processo-contra-o-taringa-ou-quando-a-rede-nao-deve-ser-social/#comments Mon, 23 May 2011 13:50:54 +0000 https://baixacultura.org/?p=4854

Quem faz muitos downloads, cerca de 100% dos leitores desse site, já deve conhecer o fórum Taringa!. Criado na Argentina em 2004, o site funciona como uma espécie de Orkut direcionado ao compartilhamento de arquivos. É um dos endereços mais visitados da Argentina, com cerca de 8 milhões de usuários e 20 mil novas postagens por dia, no serviço de lá e também no da versão brasileira.

Por serem espaços de troca, as comunidades, os tópicos e os posts do Taringa! possuem links para servidores de arquivos subidos pelos participantes do Taringa! – algo absolutamente normal para um site de rede social com um sistema de avaliação de mensagens e comentários, que é diferente de ser um simples repositório de arquivos. Infelizmente, a Cámara de Apelaciones en lo Criminal y Correccional entende a coisa de uma forma estranha.

Dia 6 de maio, foi publicada a confirmação de um processo judicial contra os proprietários do site, que foram considerados “partícipes necesarios” para a violação de propriedade intelectual em 29 mensagens do site, segundo o documento [.pdf] da confirmação. A perseguição começou ainda em 2009 com uma denúncia igual das editoras Astrea, La Ley, Rubinsal y Asociados, Ediciones de la Flor S.R.L., Ediciones La Rocca S.R.L., Editorial Universidad S.R.L., Gradi S.A..

A responsável pelo processo de agora é a velha conhecida Camara Argentina do Livro, a mesma requerente do processo contra Horacio Potel. Os atuais donos do Taringa! – Alberto Nakayama e os irmãos Matías e Hernán Botbol adquiriram o site em 2006 – argumentaram que é impossível fiscalizar todas as mensagens publicadas diariamente no site. [Dá uma olhada no movimento do site, ao vivo]. Se forem eles condenados, os administradores terão que pagar uma salgada multa de 200.000 pesos (mais ou menos 49 mil dólares ou 80 mil reais), além de retirarem as 29 mensagens infratoras.

Os atuais donos do Taringa!: Hernán Botbol, Alberto Nakayama, e Matias Botbol

O Partido Pirata Argentino tem coberto quase que diariamente o caso, a partir da publicações de videos e analises. Uma delas foi a da professora da Universidad de Buenos Aires, Beatriz Busaniche, que chamou atenção para um detalhe do artigo 72 da lei 11.723, datada de 1933, em que é baseado o processo: Que taringa gane o no plata no es el tema: Esto aplica a vos y a cualquiera que tenga un link para compartir un archivo sin autorización, con o sin fin de lucro. Ou seja, o artigo se fundamenta apenas na reprodução não autorizada, e não menciona que esta reprodução poderia não ter como intenção o lucro.

Busaniche desenvolve melhor no site da Fundación Via Libre:

Está claro que toda persona que tenga en sus manos un dispositivo digital, cualquiera sea, un celular, una tableta, una netbook o una notebook o una computadora de escritorio, al reproducir obras, viola o ha violado alguna vez este artículo incluido en una ley que data del año 1933 y requiere urgente modificación.

Com toda a semelhança com o caso de Potel, o site Derecho a Leer também foi um dos primeiros a se pronunciar sobre o do Taringa!, com dois posts, afirmando que a ação resume as interpretações extravagantes do copyright, com a meta de transformar práticas sociais em delitos. Os donos do fórum publicaram uma nota explicativa sobre o funcionamento da rede, criticando a forma como a Internet é tratada pela lei, mas confiando na justiça: Lo que aquí se resuelva será de suma importancia para todos los que formamos parte de Internet.

No Brasil, um caso semelhante ao do Taringa! foi o fim do fórum F.A.R.R.A. em 2010, e que continuou como A.R.R.A.F. mas proibindo o compartilhamento de links. De fato, se o processo for aprovado e servir de exemplo, sobram  entre outras questões como: a filial tupiniquim também será processada? E se editoras/gravadoras/produtoras aproveitarem o gancho e resolverem processar outros espaços, como o Orkut e o Facebook? Os intermediários vão perder os processos, como já aconteceu no exemplo do Youtube/Google?

O que se sabe é que o caso não para aí. E já está provocando um bom debate nas terras vizinhas, como mostra esse vídeo aqui abaixo, que Eduardo, do Partido Pirata da Argentina, gentilmente tratou de legendar para o português e nós revisamos e subimos no YouTube (e também na BaixaTV, que está também atualizada com as íntegras do Mod MTV, programa que falamos no último post).

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=weTTmjCtc84]

Crédito das imagens: 2.

[Marcelo De Franceschi]

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https://baixacultura.org/2011/05/23/o-processo-contra-o-taringa-ou-quando-a-rede-nao-deve-ser-social/feed/ 2
O estranho processo de Horacio Potel – ou quando a filosofia não é para todos https://baixacultura.org/2009/09/29/o-estranho-processo-de-horacio-potel-ou-quando-a-filosofia-nao-e-para-todos/ https://baixacultura.org/2009/09/29/o-estranho-processo-de-horacio-potel-ou-quando-a-filosofia-nao-e-para-todos/#comments Tue, 29 Sep 2009 19:53:25 +0000 https://baixacultura.org/?p=2275 .

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Horacio Potel é professor de filosofia da Universidade de Lañus, em Buenos Aires. Em 1999, decidiu criar três diferentes páginas pessoais para disponibilizar ensaios traduzidos para o espanhol dos filósofos alemães Nietzche e Heidegger e do argelino Jaques Derrida.  Além dos textos, as páginas continham fóruns de discussão, biografia, imagens e outros tipos de materiais comuns à sites como estes. A ideia de Horácio era disserminar o material para todos aquele que tivessem interesse, num tipo de função exercidas por professores já há muitos séculos: ajudar seus estudantes a terem acesso ao conhecimento.

Boa parte do material disponibilizado pelo professor é bastante difícil de ser encontrado na Argentina. Em Buenos Aires, por exemplo, apenas duas livrarias tinham alguns dos escritos de Derrida que poderiam ser lidos gratuitamente na página de Horácio. Outros quantos textos, que deixaram de ser editados em livro na Argentina, poderiam ser encontrados em jaquesderrida.com.ar porque foram garimpados em livrarias durante décadas por Horácio, segundo o próprio afirmou em matéria da P2P Foundation.

Como não encontrava os textos de Derrida em seu país, o professor chegou a entrar em contato com duas companhias do México que editavam a obra de filósofo, Porrúa e Cal y Arena. Uma edição com a obra do filósofo argelino – 80 páginas, letras míudas – custaria em torno de U$42 dólares, aproximadamente 162 pesos argentinos. Se para um professor como Horácio – que alega ter recebido em seu último contra-cheque $1350 pesos – o valor já é quase mais que 10% de seu salário, imagina para seus alunos.

Por conta destes e de outros fatores, Horácio manteve suas páginas durante 10 anos, até abril de 2009, quando começaram os embates com a justiça argentina. Neste tempo, ambas tiveram mais de 4 milhões de acessos, e até então estavam sempre entre os três primeiros resultados quando se fazia uma busca pelos nomes dos autores no Google da Argentina.

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Li a nota do jornal argentino Página 12 um pouco mais de uma semana atrás, quase ao mesmo tempo em que também foi publicada no  Trezentos e difundida por diversas blogs e listas de e-mails Brasil (e mundo) afora. Uma operação envolvendo a editora Les Editions de Minuit, Câmara Argentina do Livro e a Embaixada Francesa na Argentina conseguiu processar o professor por tornar disponíveis gratuitamente textos dos filósofos Heidegger e Derrida nas páginas heideggeriana.com.ar e jaquesderrida.com.ar, respectivamente – textos estes que ainda se encontram protegidos pela lei de direitos autorais, já que tanto Heidegger como Derrida morreram há menos de setenta anos, prazo necessário para que a obra passe a ser de domínio público. Horácio pode pagar uma multa de 40 mil pesos, além de já ter recebido o singelo aviso de que sua correspondência e sua casa poderão ser violadas ao longo do processo.

Segundo nos conta o repórter Facundo García, autor da matéria do jornal argentino, a história toda começou quando a Les Editions de Minuit – editora que tem os direitos autorais de sete obras de Jaques Derrida –  entrou com uma queixa contra Horácio, com o apoio da Embaixada Francesa na Argentina e da Câmara Argentina do Livro.  A queixa enquadrava a disponibilização dos textos gratuitamente dos filósofos na lei argentina 11.723, que trata de propriedade intelectual – espantosamente criada em 1933 e só modificada em 1998, ainda que somente para incluir o software no mesmo rol de produção científica/artística/cultural/didática supostamente protegidos pela lei.

O professor Horácio logicamente que estranhou muito a situação. Em um de seus comunicados sobre o assunto, publicado  aqui, Horácio disse que:

“Al parecer, mantener bibliotecas públicas de filosofía en Argentina es ilegal porque viola la ley 11.723. Si las cosas se guiaran por la razón, se debería revisar esa ley de 1933, que está provocando que se criminalice a las bibliotecas públicas y a sus bibliotecarios. Eso, claro, si se sigue pensando que éstas son instituciones útiles y necesarias, como me enseñaron en la escuela primaria, donde me decían que entre las principales funciones del Estado está la difusión de la cultura, en la convicción ilustrada de que sólo el conocimiento nos hace libres”.

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Logo quando as duas páginas foram retiradas do ar, no início de abril deste ano, surgiram diversas manifestações de apoio a  Horácio, inclusive do Partido Pirata da Argentina. No Brasil, o blog Catatau emcampou a ideia e tratou de publicar uma boa parte do material que estava em heideggeriana.com.ar, assim como diversos apoiadores disponibilizaram outro tanto do material para download no easy-share – além do fato de que uma considerável parte dos arquivos da página estão disponíveis no Wayback Machine, um imenso arquivo que conta com mais de 1,6 bilhão de páginas criadas desde 1996.  Idelber Avelar, do recém-finado blog O Biscoito Fino e a Massa, enviou uma carta à Horácio, além de ter feito um post onde o defende de forma bastante contundente e afirmar coisas como “elas não eram simplesmente duas páginas dedicadas a Heidegger e Derrida. Eram, de longe, os melhores recursos existentes sobre os dois pensadores em toda a internet, em qualquer língua.”

A decisão da Justiça Argentina cabe recurso, mas como diz a matéria do jornal Página 12, “los fantasmas de una condena injusta siguen rondando“.

[Leonardo Foletto.]

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P.S: A terceira página com textos de filósofos mantida por Horácio continua em atividade: trata-se da www.nietzscheana.com.ar, dedicado à Nietzsche. Ficou livre da decisão da justiça por conta de que o alemão morreu  ainda em 1900.

Créditos: 1,2.
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