Comentários sobre: Isso não é um manifesto: aberto e livre em reflexão https://baixacultura.org/2021/03/02/isso-nao-e-um-manifesto-aberto-e-livre-em-reflexao/ Cultura livre & (contra) cultura digital Thu, 18 Mar 2021 00:19:53 +0000 hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.9 Por: bacia branca https://baixacultura.org/2021/03/02/isso-nao-e-um-manifesto-aberto-e-livre-em-reflexao/#comment-1098 Thu, 18 Mar 2021 00:19:53 +0000 https://baixacultura.org/?p=13432#comment-1098 obrigado pela sua informação. Eu quero mais.

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Por: Ale Abdo https://baixacultura.org/2021/03/02/isso-nao-e-um-manifesto-aberto-e-livre-em-reflexao/#comment-1097 Tue, 16 Mar 2021 19:37:22 +0000 https://baixacultura.org/?p=13432#comment-1097 Ni! Concordando com o espírito geral do texto, comento alguns pontos:

– O Software Livre já é fundado sobre a liberdade na sua conotação solidária. A ideia de “ajudar seu vizinho” é central no argumento do Stallman. A gente não deve fazer um discurso como se isso não tivesse sido levado em consideração até agora. As licenças, em especial as licenças GNU, são um instrumento para avançar esse objetivo. Elas já foram pensadas considerando essas questões mais amplas. Em particular, a escolha de não incluir outras dimensões, sociais ou culturais, nas licenças foi muito bem pensada e, ao meu ver, se mostra sistematicamente correta. O sentido da implicação no título do livro “Free Software, Free Society” é que uma sociedade livre depende de (i.e., implica) software livre, não o contrário. Apesar do texto não falar nisso, ele acaba lembrando o argumento meio modinha de pensar em usar licenças para resolver problemas externos ao seu objeto, que é um baita tiro no pé. Problemas políticos se resolvem com política, não com malandragens jurídicas ou técnicas. Uma sociedade livre se constrói com software livre, mas ele é só uma consequência do princípio de liberdade solidária que o fundamenta. Isso está na raiz do movimento.

– Eu não compro nem por um segundo essa ideia de que dados abertos – outros que dados de vida privada – podem ser perigosos e deve ser escondidos. Eu acho aliás que é tudo ao contrário. Se alguém acha que uma grande empreiteira não tem acesso a dados urbanos “secretos” ou que uma grande farmacêutica não tem acesso a dados de biodiversiade “seguros”, esse alguém está vivendo no mundo da lua. O mercado negro para dados é MUITO maior do que a gente imagina. Se o valor for alto, tudo está disponível. A dinâmica real de esconder dados é que os poderosos vão ter acesso a eles, enquanto o resto vai se iludir achando que estão seguros. O resultado é que a destruição vai ser ainda mais massiva, pois ninguém vai estar ciente do perigo. Abrir os dados joga na cara os perigos que são reais e não dá para serem escondidos, e permite assim mobilização política para remediá-los, seja com mais fiscalização, com compensações, ou até mesmo com a escolha de não produzí-los. Mas uma vez que um dado foi produzido, vale o princípio: não se esconde informação dos poderosos. Só para completar, sim, dados da vida privada são diferentes – não cabe expandir aqui, mas não é tão difícil entender que eles operam de outra forma.

– Também não concordo que as tecnologias abertas sejam particularmente reativas. No caso de software, grande parte das “inovações” proprietárias são inspiradas de inovações abertas, assim como vice-versa. Me parece uma questão transversal. Em dimensões que não da abertura do código também se vê muitos casos, por exemplo o AirBnB – plataforma de capitalismo digital – não é nada além de Couchsurfing – plataforma de solidariedade digital – com um botão de pagamento. Falar em falta de criatividade de tecnologias livres é vestir um falso estigma. O que tem que ser apontado é a falta de ações e regulações favoráveis da parte de governos que montam imensas estruturas para subvencionar sistemas de “propriedade intelectual”, a falta de prioridade em contratos públicos para produção de bens públicos, a falta de apoio institucional via incubadoras tecnológicas e nas universidades etc.

– Dito isso, uma questão fundamental levantada no final do texto é a de não se reduzir inovação a automação. O mundo da inovação hypercapitalista, ou capitalista digital, está bem ciente dessa diferença, manifestada no culto da “inovação disruptiva”. No caso do mundo livre e aberto a dimensão altermundista, mesmo estando na sua raiz, parece não ganhar tanto destaque. Talvez por medo de estigma e pelo fato de que o fazer livre em si, ainda que discreto, já contribui para ela. Então é preciso sim levantar a bola e espalhar a clareza de que o Software Livre é apenas uma parte da escolha de substituir a maneira como organizamos a sociedade por uma outra fundada em liberdade com solidariedade.

Valeu pelo texto muito legal! Abreijos,

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