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Roubo de Leonardo o título pra seguir falando sobre os links à direita. Aquilo que de cara soa como clichê: logo em seguida ao lançamento de In Rainbows, certo DJ e produtor californiano aparece com a idéia que qualquer um de nós esperaria dum DJ — remixar as faixas do disco.

Aquilo que poderia ser um pouco mais. Amplive imaginou lançar o disco [arquivo zipado, 08 faixas, duas a menos que o original, em 320kbp] pela W.A.S.T.E, a loja virtual do Radiohead, e somente pra quem houvesse baixado a versão da banda [eu gosto mesmo de viver num tempo em que dá pra chamar o original de versão da banda.].

Aquilo que não deu certo. Antes do lançamento oficial de Rainydayz [mas não antes da circulação de faixas avulsas na rede], Amplive recebeu uma notificação da Warner/Chappell informando sobre, tu sabe, a ilegalidade do projeto, o quão desinteressante seria para a empresa a vinculação oficial do Radiohead ao trabalho do DJ [através da disponibilização do disco na loja da própria banda] e a impossibilidade de continuá-lo sem nefastas consequências.

[Nada se disse sobre a posição da banda sobre o caso. Ou vai ver foi a banda quem não disse nada.]

Pra encurtar a história, quando já tinha mesmo desistido de lançar o disco, Amplive conseguiu autorização pra disponibilizar Rainydayz para download gratuito aqui.

Acredito que faço parte de uma maioria de pessoas que ouviram o disco sem a menor pista de quem sejam Too $hort, MC Zumbi, Chali2na, Codany Holiday ou Del The Funky Homosapien, familiarizadas que estamos com a música do Radiohead e razoavelmente ignorantes que somos sobre o que se passa no rap. Vergonhoso, no caso daqueles que como eu se interessam por essa fértil cultura de reciclagem que é o remix.

Também acredito, provavelmente com os mesmos colegas de maioria, tratar-se de um disco pouco ousado para a proposta, sobretudo no que se refere às batidas — a monotonia ritmica do rap fica em geral bastante evidente e prejudica canções originalmente desafiadoras até para o Radiohead [como 15 Steps, agora 15 Stepz].

Mas talvez isto que eu e a maioria encaramos como perda seja só a inserção do pós-rock (ou indie, nem sei mais, nem ligo) numa outra lógica musical, e represente aquilo que a apropriação da tecnologia por culturas economicamente subalternas [como o rap ainda é, apesar dos rappers de MTV] significa de melhor: que eu e tu vamos ter que engolir sim o outro, e que esse mesmo outro não pensará duas vezes antes de transformar o que bem quiser em seu.

O que aliás me remete ao que escapa à lógica econômica da Warner: essa disposição de apropriar-se é a mais comprometida das homenagens.

[Reuben da Cunha Rocha.]

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