BaixaCultura

Como documentar um projeto cultural?

* Esta postagem foi feita em dois momentos: antes e depois do curso. Na primeira parte, está a parte de divulgação do curso; na segunda parte, o relato feito depois de finalizado a oficina.

Entre 2016 e 2017, quando fizemos Enfrenta! na Espanha, um dos desafios que tivemos foi a documentação dos projetos. Como relatar, gravar e registrar entrevistas  mais de 20 coletivos de diversos lugares e com várias diferenças (e semelhanças)? Optamos por um blog, e de alguns aprendizados desse processo, seja no documentar em si quanto no que os coletivos falaram sobre o processo de documentar, é que nasceu uma metodologia recombinante (de outras várias) e essa oficina.

Como podemos deixar um registro significativo dos projetos e das ações que realizamos? Ou como compartilhar o processo de criação antes, durante e depois de uma atividade? Aprender com os erros, refletir sobre o já feito e ativar a memória para que nossos projetos persistam, mesmo que como documentos que vão ajudar outrxs a fazer melhor, são alguns dos proveitos de realizar uma boa documentação de projetos. É certo que a internet e a tecnologia digital facilitam a produção de registros, porém documentar bem vai muito além de publicar uma foto em redes sociais: envolve sistematização de informação, trabalho com a memória e cuidado com o modo de arquivar o conteúdo. É também contar uma história, deixar registrada uma versão dos fatos.

A proposta da oficina, que vai ser realizada no CPF Sesc, em São Paulo, 13, 14 e 15 de março, das 10h30 às 13h30, é mostrar como proceder para garantir uma documentação de projetos, do nível mínimo ao qualificado. Vamos (eu, Leonardo Foletto, editor do Baixa; e Sheila Uberti, colaboradora do projeto) trabalhar sobre tópicos como questões introdutórias da importância da documentação e da memória, como selecionar e organizar o que será relatado das ações, o uso de ferramentas de registro e de arquivo (de preferência as livres), a organização das competências de cada pessoa para produzir bons registros e a publicação dos materiais nas redes digitais (mas também em nossos arquivos internos). O pré-requisito é que xs participantes façam parte de algum projeto cultural, ativista, social, de cuidados, comunicação, inovação e que tragam (ou que tenham acesso para buscar) informações de seus projetos, assim permitindo a realização da atividade prática de documentar.

Inscrições e mais detalhes aqui. Depois do curso, como não poderia deixar de ser, documentamos aqui e trazemos referências e o material utilizado na oficina.

EDIÇÃO PÓS-REALIZAÇÃO: RELATO

Como prometemos, segue um relato e o material (em PDF) que utilizamos na oficina.
Ela foi realizada durante três dias, no quarto andar do prédio da Fecomércio, em São Paulo, onde fica o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc, uma unidade (das mais de 20 na Grande São Paulo) focada em oficinas, cursos e palestras muito interessantes.

Ao chegar na sala destinada à oficina, propusemos uma organização diferente das classes: em vez do tradicional formato sala de aula, em linhas, montamos um círculo, encaixando as mesas quebra-cabeças do espaço. O formato de roda permite que todos se vejam e proporciona maior proximidade, física e subjetiva, entre as pessoas.

Depois da apresentação de cada um (nome, como chegou no curso, o que faz, o que você entende por documentar?), apresentamos o roteiro, esboçado antes mas ajustado a cada momento, de acordo com os interesses e a quantidade dos participantes (fomos entre 12 e 15, nos três dias, além dos dois oficineiros). Para o primeiro dia, trouxemos um pouco de conteúdo sobre documentar, espaços de documentação, porquê documentar, processos de arquivo no meio digital. Ao final do primeiro dia, fizemos um exercício simples de documentação a partir do modelo do CTA, que adaptamos conforme as imagens abaixo do FlipChart. A proposta era organizar o que é mais importante de cada projeto para, ao longo dos dias, ir aprofundando esse relato. Dividimos a turma em duplas e trios e cada grupo escreveu sobre projetos que trouxeram, seja os que já trabalham como os que estão para realizar.

No segundo dia, iniciamos retomando alguns tópicos trabalhado na véspera e logo iniciamos a leitura dos relatos dos projetos feitos a partir do modelo. Comentamos brevemente cada um, de forma a alinhar e organizar a estrutura dos textos. Depois disso seguimos para a apresentação dos três eixos que escolhemos para guiar a documentação: formato, plataformas e ferramentas. Apresentamos formatos, ferramentas e plataformas para publicação na internet, dando preferência àquelas de código aberto. Explicamos também, a partir de um vídeo (tudo está na apresentação em PPT), como funciona um domínio e um servidor na rede – questões que são básicas para a autonomia em nossos projetos e assim não depender de “nuvens” (lembremos o meme: não são “nuvens”, mas sim computadores de outros) que não sabemos bem como funcionam. Por fim, nesse dia encerramos com o licenciamento, etapa que segue a de publicação da documentação na rede.

No terceiro dia, voltamos a algumas ferramentas e plataformas do dia anterior (falamos de muitas!), detalhamos mais alguns tópicos (como o de cultura hacker e as licenças livres) e, então, fizemos um segundo exercício MãonaMassa. Com os relatos simples construídos no primeiro dia, a proposta era detalhar, mesmo que no papel (não tínhamos computadores para todes), quais vão seriam os formatos, plataformas e ferramentas utilizados na construção da documentação de cada projeto. A partir daí, encerramos a oficina com dicas da última etapa do processo de documentação digital, a circulação nas redes. Falamos um pouco das redes sociais, de como empatizar com o nosso público, de SEO, do planejamento dos conteúdos e da importância de dar prioridade para nossos blogs, sites e plataformas na hora de publicar, e, a partir deles, espalhar nas redes sociais. Assim valorizamos as ferramentas e plataformas nas quais temos maior autonomia, e não redes como facebook e Twitter, que, para além das questões tecnopolíticas implicadas, dificultam a recuperação posterior do material.
A experiência de realizar essa oficina foi bastante interessante para nós, que trabalhamos documentando projetos alguns bons anos. Nos ajudou a organizar um processo que, muitas vezes, encaramos como “natural” e, por isso, não paramos para refletir com profundidade sobre suas etapas. Assim criamos um material e uma metodologia que ajuda a potencializar a criação de relatos consistentes e que possam permancer nessa grande biblioteca aparentemente infinita que é a internet. Criar uma memória significativa de projetos culturais ajuda tanto na contação das histórias como na recuperação desses processos para a criação de novos projetos além de ser um requisito indispensável na prestação de contas de qualquer tipo de projeto.

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