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A F@lha de S. Paulo & outros casos afins

Muitos blogs e sites já noticiaram sobre o proce$$o que o grupo da Folha da Manhã S/A está a mover contra dois irmãos desde setembro de 2010. O motivo da perseguição jurídica foi a produção de um mísero blog, o FAlha de S. Paulo, que parodiava a linha editorial do jornalão. Os responsáveis, Lino e Mario Bocchini, foram obrigados a remover todo o conteúdo através de uma liminar da Justiça do estado de São Paulo, e caso desrespeitassem essa decisão, teriam que pagar R$ 10 mil (depois baixado a 1 mil pelo juiz) por dia.

Outra liminar tambem barrou qualquer tentativa de criarem algum domínio .br com conteúdo semelhante ao já produzido.  Toda a explicação foi compilada no site Desculpe a nossa FAlha, que os Bocchini abriram para continuar a luta, e no tumblr falhadespaulo, que, segundo os responsáveis,  não tem nada a ver com os irmãos. Apesar do grupo Folha alegar o uso indevido da marca do intocável jornal – e não é a primeira vez que faz isso, como mostrou o blog da Maria Fro – é difícil fazer crer que não há um viés de censor por trás disso.

A marca que foi copiada no antigo FAlha de S. Paulo (acima) era igual a da versão impressa do jornal, e não a da versão online. Além de outras diferenças, como mostrada nas imagens, seria de uma inocência infantil grandes audiências se confundirem com a versão oficial. Igualmente infantil é a atitude da Folha, ao se ofender com críticas irônicas ao seu serviço e tentar emudecer essa forma de expressão. Chega a lembrar uma frase que o execrável Diogo Mainardi disse em entrevista ao velho Nova Corja: “Só jornalistas maricas processam outros jornalistas. Um jornalista que se preze responde a um artigo com outro artigo”.

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O caso da F@lha alerta algumas outras produções similares disponíveis na web e que (até agora) não foram processadas por suas inspirações. O mais conhecido é o “The i-piauí Herald“, que desde dezembro de 2007 avacalha com todo tipo de político, esportista e/ou celebridade. Imaginem se alguém decidir que as pessoas podem acreditar nas piadas dali e nos privar de textos como “Ronaldinho diz que vai para o PSDB“? É bom nem dar ideia, mas é melhor protestar contra o absurdo antes dele acontecer.

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O Bairrista é outro que até poderia ser alvo de ataques. Fundado agora na virada do ano 2010/2011, o periódico, que se maximizou do twitter, claramente tira sarro da linha editorial do jornal Zero Hora – acostumado a noticiar e hipervalorizar todo fato que há algum gaúcho envolvido – e do subsequente egocentrismo cultural do Rio Grande. Nesse caso, como foi criado uma marca própria e não são todos que identificam diretamente a sátira do site à Zero Hora, é mais difícil de acontecer alguma batalha judicial, embora haja coisas bastante explícitas, como o blog Kutuka, que se arria no jornal teen Kzuka, também ligado à RBS.

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Há ainda o carioca Sensacionalista, que inclusive foi adotado/incorporado pela globo.com – mostrando que talvez os cariocas saibam lidar melhor com o humor do que os sisudos paulistanos. O periódico, aliás, só se diferencia da chinelagem do Meia Hora, Diarinho e outros herdeiros da tradição escrachada do Notícias Populares porque é, segundo o próprio slogan, “um jornal isento de verdade”  – mas que já teve vários textos copiados por jornalistas como se fossem verdade.

O maior perigo do aparato judicial montado pela Folha contra os irmãos Bocchini é, justamente, de contagiar e ameaçar essas outras iniciativas. Buscar cerceá-las torna mais ridícula a situação, pois atenta contra a liberdade da crítica construtiva e da paródia, que o próprio jornal usa diariamente em suas charges, como bem notou Lino nesse texto publicado no Desculpe a Nossa FAlha. Fora isso, há de se lembrar que a justificativa de que o Falha poderia estar “confundindo” os leitores habituais da Folha, por conta do uso da mesma marca do jornal, entra nos anais das mais surreais e desproporcionais justificativas para a censura já proferidas em solo tupiniquim.

Outra ação que o caso Falha de São Paulo lembra é a do Facebook, que teve a petulância de abrir processo ano passado contra dois sites e um aplicativo que utilizavam das palavras “face” e “book”. No caso do site “Teachbook” (imagem acima), uma simpática rede social voltada para professores profissionais, a justificativa beira o ridículo do extremo pensamento monetário: “o sufixo ‘book’ não deve ser usado livremente para redes sociais, pois pode se tornar um termo genérico para comunidades on-line, o que diluiria a singularidade da marca Facebook“.

A atitude do Facebook (e também da Folha) traz a necessária lembrança dessa citação que usamos neste post sobre o plágio:

Pegue suas próprias palavras ou as palavras a serem ditas para serem ‘as próprias palavras’ de qualquer outra pessoa morta ou viva. Você logo verá que as palavras não pertencem a ninguém. As palavras tem uma vitalidade própria. Supõem-se que os poetas libertam as palavras – e não que as acorrentam em frases. Os poetas não têm “suas próprias palavras”. Os escritores não são os donos de suas palavras. Desde quando as palavras pertencem a alguém?”Suas próprias palavras”, ora bolas! E quem é você?”

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[Marcelo De Franceschi. Leonardo Foletto]

Comments:

  • Silvana

    Ótimo post e exemplos. É lamentável isso que a Folha está fazendo. Surreal, infantil, ridículo; é tudo isso mesmo. O triste também é ver o comportamento da Justiça brasileira que concede este tipo de liminar, usando argumentos retrógrados anacrônicos, e aceitando as justificativas insanas da Folha. Indigno-me muito com estas situações.

  • Fabreu

    E agora tem também a PÉSSIMA, revista que escracha com a ÓTIMAs de Sâo Luis-MA, metida a classuda toda. Por enquanto está só no twitter, mas tá bombando geral e não demora a ir prum site ou blogue. Ambas são divertidísimas, por razões opostas.

  • baixacul

    Silvana,
    A Folha é do tipo que, se não pode brincar tb, rouba a bola e ninguém brinca. Pecado comum de quem se leva muito a sério, e quer de alguma forma pressionar o mundo a ter um comportamento “sério” que nem o deles. O pior é que muita gente embarca nela – mas menos mal que é cada vez menos gente.

    Fabreu,
    Legal esse PÉSSIMA, bom nome. (Aliás, existe uma revista que se chama ÓTIMA? Que mau gosto, putamerda.) Nos passa o link de ambas?

  • Silvana

    Com esta Péssima aí, eu me lembrei da Bundas, hahaha, que brincou com a Caras. Uma pena que tenha tido tão poucas edições…

  • Eduardo

    Lamentávelmente na Argentina tivemos um caso similar com o blog:

    “Qué te pasa Clarín” aonde analisabam artigos do jornal Clarín…E , também , postabam informação sobre os filhos adotivos da dona de Clarín.

    Aqui algo mais sobre o site que foi apagado por uma decisão judicial.

    O mais triste outro jornal “Crítica de Argentina” falava sobre a censura ao blog “Qué te pasa Clarín” e ao pouco tempo apagou o artigo.

    Mais alguma coisa aqui.

    São os custos da livre imprensa ….Isso é cuidar pela liberdade de expresão..

    Eduardo.

  • Eduardo

    Outro site que ironiza a um jornal é “Diseccionando al País” sobre o jornal “El Páis” de Espanha, por enquanto não tem feito nada contra ele…

    Não sei porque o site está caido, Aquí o que está na memória caché de Google.

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